Democratas ganham espaço na disputa pelo Cinturão do Sol


Mudanças demográficas em Estados como Texas, Arizona e Geórgia equilibraram a disputa eleitoral em antigos redutos republicano

Por Jenna Johnson e Arelis Hernandez
Atualização:

SAN ANTONIO - Muitos democratas do Texas imaginavam que 2024 seria o ano em que um objetivo há muito almejado finalmente seria alcançado: o crescente eleitorado, cada vez mais diversificado, tornaria o partido deles realmente capaz de disputar as eleições no estado.

Mas esse cronograma parece ter se acelerado, não apenas em função de mudanças demográficas, mas também pela repulsa causada pelo presidente Donald Trump e pelo surto de ativismo liberal inspirado por ele.

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Nos quatro anos desde a mais recente eleição presidencial, pelo menos 2 milhões de pessoas se mudaram para o Texas, muitas delas democratas vindas de lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Illinois. Estima-se que 800.000 jovens americanos de origem latina tenham completado 18 anos, e uma onda de imigrantes foi naturalizada como cidadã. Mais de 3 milhões de texanos se inscreveram para votar.

A estudante Kiara Daniels da Texas State University se registra para votar no condado de Hays durante um evento do Dia Nacional de Registro de Eleitores no campus de San Marcos, Texas. Foto: The Washington Post by Tamir Kalifa.

A polarizadora presidência de Trump motivou muitos democratas a agirem, levando alguns eleitores independentes e republicanos - especialmente nas áreas urbanas e suburbanas - a protestarem contra a divisão semeada pela retórica e as ações do presidente, incluindo seu tratamento dos imigrantes, a falta de preocupação com a violência policial e sua resposta a uma pandemia que matou mais de 17.500 texanos.

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Desde o início da votação antecipada, duas semanas atrás, mais de 7,2 milhões de texanos já deixaram seus votos, o equivalente a 80% do número total de votos no estado em 2016 - uma proporção impressionantes, especialmente em um estado que costuma apresentar um dos mais baixos índices de participação eleitoral do país. Diferentemente de outros estados, o Texas não registra o partido político de quem vota antecipadamente.

Esse surto de entusiasmo nas urnas, que acompanha uma expansão dramática na organização dos democratas em todo o estado, joga cada vez mais pressão em Joe Biden para que o candidato invista no Texas na semana que vem, com as pesquisas de intenção de voto mostrando quase um empate entre ele e Trump. Sua colega de chapa, a senadora democrata Kamala Harris, da Califórnia, planeja visitar o Texas na sexta feira, como informado pelo Houston Chronicle, uma jogada rara para um candidato à vice-presidência com a data da eleição tão próxima.

Kirsten Iyare, de 21 anos, faz parte da vanguarda dos democratas que votavam pela primeira vez na quinta feira em San Antonio, no AT&T Center, por insistência de uma colega de faculdade da Universidade Trinity e depois de ver muitos amigos publicando vídeos no Snapchat mostrando os adesivos confirmando que votaram. A jovem negra cresceu em uma comunidade de baixa renda de Houston e disse que Trump prejudicou comunidades não brancas como a dela. Ela não se disse entusiasmada com o voto em Biden. Mas, por insistência da colega, acabou votando nele.

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"Todos nós estamos nos convertendo em agentes da mudança", disse Kirsten. "Agora cabe a nós manter a tocha acesa."

A mesma dinâmica que está abrindo o Texas para uma disputa mais equilibrada na eleição presidencial, com chances para o candidato democrata ao senado americano, pode ser observada no Arizona e na Geórgia, estados há muito dominados pelos republicanos. Isso ocorre na esteira de um renascimento semelhante dos democratas na Virgínia e no Colorado, tendência que antecedeu Trump; ambos esses estados podem agora ser considerados democratas, com sua composição demográfica redesenhada pelos recém-chegados. Pelas mesmas razões, os democratas passaram a ter mais chances na Carolina do Norte e, esse ano, até na Carolina do Sul.

Estudantes da Texas State University se registram para votar. Foto: Tamir Kalifa/ The Washington Post
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“O que estamos observando no nosso estado é uma metamorfose", disse Julián Castro, ex-prefeito de San Antonio e secretário da habitação que disputou a nomeação democrata à presidência. “Temos a oportunidade de redesenhar o mapa eleitoral."

Em todos os estados que passam por transformações, o impacto vai além da corrida presidencial. Vários estrategistas republicanos do Texas se dizem cada vez mais preocupados com a possibilidade de conservarem o controle do legislativo texano - faltam nove assentos para os democratas chegarem à maioria em um momento em que a câmara se prepara para redesenhar os distritos eleitorais, que pode resultar em um quadro eleitoral alterado pelos próximos 10 anos. Eles também temem perder pelo menos quatro assentos do congresso para os quais o Comitê Democrata de Campanha para o Congresso direcionou agressivamente seus recursos. Na semana passada, um super PAC (Comitê de Ação Política) democrata começou a gastar milhões de dólares em publicidade defendendo Biden e a candidata democrata ao senado americano pelo Texas, MJ Hegar, um esforço que os republicanos dizem ser quase impossível de acompanhar nos dias finais da campanha.

O presidente do Partido Republicano no Texas, Allen B. West, disse que o comparecimento do eleitorado republicano na votação antecipada tinha sido expressivo e, apesar das pesquisas recentes, ele espera que o partido obtenha mais assentos no legislativo texano e no congresso americano. “Ficaremos bem", disse ele.

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Os democratas têm menos chance de formar maiorias nos legislativos do Arizona e da Geórgia, mas esperam ampliar suas bancadas e participar do processo de redistribuição dos distritos eleitorais. Biden tem pequena vantagem nas pesquisas eleitorais de ambos os estados, e os democratas nutrem a esperança de ficar com assentos no senado que atualmente pertencem ao partido adversário.

A campanha de Trump fez pouco da ideia segundo a qual estados como o Texas teriam uma disputa mais acirrada, mas o presidente se deu o trabalho de mencionar o estado duas vezes no debate de quinta feira, o último.

“A campanha de Joe Biden recorre à fabricação de narrativas de ao desperdício de dinheiro em estados que ele não pode conquistar, como o Texas", disse Samantha Zager, vice-assessora de imprensa nacional da campanha Trump. Ela fez pouco dos outros democratas que acreditam equivocadamente na possibilidade de apostarem em uma vitória graças ao novo eleitorado texano: “Ainda que Biden e os democratas tenham liberdade de gastar o quanto quiserem no Texas, talvez queiram consultar as campanhas de Wendy Davis (governo), Beto O'Rourke (senado) e Hillary Clinton (presidência) para saber como essa estratégia funcionou".

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Alguns estrategistas democratas insistiram a Biden que não se distraia com o Texas e mantenha o foco nos estados onde a campanha presidencial anterior foi decidida por pequena margem: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Flórida. Por enquanto, ele está seguindo o conselho: não visitou o Texas desde pouco antes da primária democrata no estado, que ele venceu, conferindo forte embalo à sua pré-candidatura.

Mas a campanha enviou representantes de peso: no início de outubro, o marido de Kamala Harris, Doug Emhoff, visitou o Sul do Texas e San Antonio, regiões que preocupam os democratas. Jill Biden visitou El Paso, Dallas e Houston no primeiro dia da votação antecipada. No dia anterior, esteve na Geórgia, onde Biden fará campanha na terça feira.

Os apelos de muitos democratas do Texas por mais atenção se tornaram mais intensos com as mais recentes pesquisas de intenção de voto mostrando Trump com uma vantagem de apenas três pontos percentuais em relação a Biden em um estado onde o presidente venceu por margem de nove pontos quatro anos atrás.

“Eles não gastaram quase nada fazendo campanha no Texas, mas seu resultado já é considerado ótimo", disse O'Rourke, que quase venceu o senador republicano Ted Cruz na disputa pelo assento correspondente ao Texas, em 2018, iniciou sem sucesso uma pré-candidatura à presidência e depois fundou o grupo Powered by People, que fez 6 milhões de telefonemas e disparou mais de 40 milhões de mensagens de texto a eleitores inscritos. "Imagine como seria se eles tivessem gasto de verdade."

A campanha de Biden destaca que tem mais de 60 funcionários no estado - uma alta substancial em relação à campanha de Hillary Clinton, em 2016 - e abriu 18 centros de fornecimento de material. A campanha de Biden gastou mais de US$ 7,3 milhões em publicidade no Texas desde maio, enquanto a campanha de Trump gastou mais de US$ 7,7 milhões, de acordo com análise da Advertising Analytics.

Com o apoio a Trump em queda no Texas, o senador republicano John Cornyn, a quem a democrata Hegar busca substituir, se afastou do presidente. Pesquisas recentes de intenção de voto mostram Cornyn perdendo por sete pontos, em média, o que indica que seu resultado individual no estado é melhor que o de Trump.

A complicada dinâmica da divulgação democrata pôde ser observada em uma coletiva virtual de imprensa realizada na semana passada, organizada pelos democratas do Texas e a campanha de Biden para destacar alguns republicanos que pensavam em votar em Biden por causa do desprezo que sentem por Trump. Mas, quando foi feita uma pergunta a respeito de Cornyn, o ex-congressista Steve Bartlett disse que ainda é um republicano, mesmo votando em Biden dessa vez.

"Defendemos os demais republicanos que estão na disputa eleitoral, especialmente John Cornyn. Posso afirmar que ele tem sido uma discreta fonte de força no senado e no Partido Republicano, além de fortalecer também o presidente Donald Trump", disse Bartlett enquanto vários dos democratas presentes demonstravam seu desconforto em suas janelas do Zoom windows. "Acredito que John Cornyn . . . será como uma voz da razão, uma voz de união e reconstrução do Partido Republicano tradicional."

Mike Collier, importante assessor de Biden no Texas, contribuiu dizendo esperar que a adversária democrata de Cornyn vença.

Nos meses mais recentes, organizadores democratas destinaram seus esforços aos moradores que se mudaram recentemente para o Texas e talvez ainda não tenham se inscrito, eleitores jovens que nunca votaram antes, comunidades de imigrantes que há muito são ignoradas por ambos os partidos e os republicanos que mudaram de lado em 2018.

Uma de suas metas é o 22.º distrito do congresso, que engloba os subúrbios de Houston, um dos distritos que mais crescem no país e que há muito é representado pelos republicanos. O representante atual, o congressista republicano Pete Olson, vai se aposentar depois de quase ser derrotado em 2018 pelo democrata Sri Preston Kulkarni, ex-funcionário do Foreign Service que disputará novamente esse ano.

Ainda que nacionalmente os democratas não acreditassem na possibilidade de conquistar o distrito em 2018, Kulkarni se dizia otimista porque aproximadamente 60% dos moradores do distrito são pessoas de cor, e um quarto é de imigrantes.

"Eu disse, 'Por que não estamos conversando com os imigrantes daqui?' E a resposta foi: 'Não perca tempo com eles, imigrantes não votam. Em especial, não perca tempo com a comunidade asiática, pois a melhor maneira de perder uma eleição é conversar com quem não vota'", disse Kulkarni, cuja campanha teve como alvo eleitores de mais de uma dúzia de idiomas, dos quais seis ele fala.

Depois de derrotado, Kulkarni viajou para os subúrbios de Atlanta para conhecer os esforços do New Georgia Project no sentido de inscrever eleitores.

"Os paralelos entre Geórgia e Texas indicam que ambos os estados estão avançando na mesma direção. A diferença é que o Texas é maior", disse ele.

Kulkarni também tem circulado entre moradores suburbanos que costumavam votar nos republicanos, mas ficaram frustrados principalmente pela resposta à pandemia. Mais da metade dos moradores do distrito têm diploma do ensino superior, disse ele, e a zona apresenta também a maior concentração de médicos em todo o estado. Seu adversário republicano, Troy Nehls, xerife do condado de Fort Bend, disse que a recomendação do uso de máscaras é "uma interferência sem precedentes que lembra mais uma ditadura comunista do que uma república livre".

"Aqui, as pessoas entendem como funciona a ciência", disse Kulkarni.

Nos lugares onde a disputa pelo congresso e o legislativo estadual é acirrada - especialmente nas regiões de Houston e Dallas-Fort Worth - o número de eleitores que votou antecipadamente este ano é recorde. Mas os democratas estão preocupados com o Vale do Rio Grande, acompanhando a fronteira no Sul do Texas, região de eleitorado hispânico e democrata onde os números da votação antecipada estão acima do observado em 2016, mas não muito. Faz meses que o partido faz campanha no vale.

O Vale do Rio Grande viveu um surto de entusiasmo republicano durante o mandato de Trump. Os defensores dele se reuniram com frequência nas cidades da fronteira para organizar carreatas conhecidas como "Trump Trains", com centenas de veículos, muitos deles decorados com bandeiras e cartazes de Trump.

Uma caravana recente organizada em Laredo, Texas, passou perto de membros da No Border Wall Coalition, que retocavam a mensagem "Defund the wall" [Acabem com o orçamento para o muro] pintada em amarelo na rua. Os defensores de Trump buzinaram e manifestaram seu apoio ao presidente, e as tensões chegaram às redes sociais, onde vizinhos trocaram farpas.

Agora, policiais foram designados a uma zona de votação antecipada em Laredo após denúncias de assédio e um incidente na semana passada em que um grupo de eleitores de Trump ouvindo música alta cercou voluntários do partido democrata em um estacionamento perto da zona eleitoral.

"Eles vieram com o objetivo de nos intimidar e assustar", disse Sylvia Bruni, presidente do Partido Democrata de Webb County. "Somos uma comunidade democrata, mas há um pequeno percentual de republicanos que sempre foram discretos, concentrados principalmente nos bairros ricos ao norte de Laredo. Mas agora esses bairros estão repletos de cartazes de Trump, algo que nunca vimos antes."

Faz tempo que os democratas organizam suas próprias carreatas em defesa de Biden, distribuindo informações a respeito do seu candidato na porta das residências de algumas comunidades de baixa renda que acompanham o rio, onde Trump está construindo seu muro da discórdia.

Aron Peña, ex-democrata e presidente local do Partido Republicano de Hidalgo County, situado mais abaixo no Rio Grande, disse que o recado de Trump ecoa entre muitos moradores da fronteira, incluindo alguns dos empregados de salário mais alto na região: policiais federais. O governo federal é um dos principais empregadores na área.

"Os filhos dos guardas da patrulha de fronteira, as mulheres dos oficiais federais e suas famílias assistem enquanto seus entes queridos são demonizados. Em algum momento, vão reagir", disse Peña. "São moradores locais, e manifestam suas opiniões nas redes sociais."

A tensão com a agora estridente direita em Laredo inspirou eleitores democratas mais discretos a exercerem seus direitos, disse Sylvia. Depois que as carreatas de Trump tiveram início em setembro, cerca de 3.000 moradores compareceram à central do Partido Democrata querendo verificar sua inscrição para votar na próxima eleição. Antes, as inscrições ocorriam esporadicamente, disse ela.

"Foi um choque que levou as pessoas à ação", said Sylvia, descrevendo diferentes idades e circunstâncias dos novos inscritos para votar. Um homem estava tão preocupado com a possibilidade de ser impedido de votar que pediu a Sylvia que telefonasse para o escritório eleitoral, mesmo tendo seu título de eleitor nas mãos.

"Chequele", disse o homem a Sylvia, misturando espanhol e inglês enquanto pedia a ela que conferisse novamente. "Tenho que ter certeza." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

SAN ANTONIO - Muitos democratas do Texas imaginavam que 2024 seria o ano em que um objetivo há muito almejado finalmente seria alcançado: o crescente eleitorado, cada vez mais diversificado, tornaria o partido deles realmente capaz de disputar as eleições no estado.

Mas esse cronograma parece ter se acelerado, não apenas em função de mudanças demográficas, mas também pela repulsa causada pelo presidente Donald Trump e pelo surto de ativismo liberal inspirado por ele.

Nos quatro anos desde a mais recente eleição presidencial, pelo menos 2 milhões de pessoas se mudaram para o Texas, muitas delas democratas vindas de lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Illinois. Estima-se que 800.000 jovens americanos de origem latina tenham completado 18 anos, e uma onda de imigrantes foi naturalizada como cidadã. Mais de 3 milhões de texanos se inscreveram para votar.

A estudante Kiara Daniels da Texas State University se registra para votar no condado de Hays durante um evento do Dia Nacional de Registro de Eleitores no campus de San Marcos, Texas. Foto: The Washington Post by Tamir Kalifa.

A polarizadora presidência de Trump motivou muitos democratas a agirem, levando alguns eleitores independentes e republicanos - especialmente nas áreas urbanas e suburbanas - a protestarem contra a divisão semeada pela retórica e as ações do presidente, incluindo seu tratamento dos imigrantes, a falta de preocupação com a violência policial e sua resposta a uma pandemia que matou mais de 17.500 texanos.

Desde o início da votação antecipada, duas semanas atrás, mais de 7,2 milhões de texanos já deixaram seus votos, o equivalente a 80% do número total de votos no estado em 2016 - uma proporção impressionantes, especialmente em um estado que costuma apresentar um dos mais baixos índices de participação eleitoral do país. Diferentemente de outros estados, o Texas não registra o partido político de quem vota antecipadamente.

Esse surto de entusiasmo nas urnas, que acompanha uma expansão dramática na organização dos democratas em todo o estado, joga cada vez mais pressão em Joe Biden para que o candidato invista no Texas na semana que vem, com as pesquisas de intenção de voto mostrando quase um empate entre ele e Trump. Sua colega de chapa, a senadora democrata Kamala Harris, da Califórnia, planeja visitar o Texas na sexta feira, como informado pelo Houston Chronicle, uma jogada rara para um candidato à vice-presidência com a data da eleição tão próxima.

Kirsten Iyare, de 21 anos, faz parte da vanguarda dos democratas que votavam pela primeira vez na quinta feira em San Antonio, no AT&T Center, por insistência de uma colega de faculdade da Universidade Trinity e depois de ver muitos amigos publicando vídeos no Snapchat mostrando os adesivos confirmando que votaram. A jovem negra cresceu em uma comunidade de baixa renda de Houston e disse que Trump prejudicou comunidades não brancas como a dela. Ela não se disse entusiasmada com o voto em Biden. Mas, por insistência da colega, acabou votando nele.

"Todos nós estamos nos convertendo em agentes da mudança", disse Kirsten. "Agora cabe a nós manter a tocha acesa."

A mesma dinâmica que está abrindo o Texas para uma disputa mais equilibrada na eleição presidencial, com chances para o candidato democrata ao senado americano, pode ser observada no Arizona e na Geórgia, estados há muito dominados pelos republicanos. Isso ocorre na esteira de um renascimento semelhante dos democratas na Virgínia e no Colorado, tendência que antecedeu Trump; ambos esses estados podem agora ser considerados democratas, com sua composição demográfica redesenhada pelos recém-chegados. Pelas mesmas razões, os democratas passaram a ter mais chances na Carolina do Norte e, esse ano, até na Carolina do Sul.

Estudantes da Texas State University se registram para votar. Foto: Tamir Kalifa/ The Washington Post

“O que estamos observando no nosso estado é uma metamorfose", disse Julián Castro, ex-prefeito de San Antonio e secretário da habitação que disputou a nomeação democrata à presidência. “Temos a oportunidade de redesenhar o mapa eleitoral."

Em todos os estados que passam por transformações, o impacto vai além da corrida presidencial. Vários estrategistas republicanos do Texas se dizem cada vez mais preocupados com a possibilidade de conservarem o controle do legislativo texano - faltam nove assentos para os democratas chegarem à maioria em um momento em que a câmara se prepara para redesenhar os distritos eleitorais, que pode resultar em um quadro eleitoral alterado pelos próximos 10 anos. Eles também temem perder pelo menos quatro assentos do congresso para os quais o Comitê Democrata de Campanha para o Congresso direcionou agressivamente seus recursos. Na semana passada, um super PAC (Comitê de Ação Política) democrata começou a gastar milhões de dólares em publicidade defendendo Biden e a candidata democrata ao senado americano pelo Texas, MJ Hegar, um esforço que os republicanos dizem ser quase impossível de acompanhar nos dias finais da campanha.

O presidente do Partido Republicano no Texas, Allen B. West, disse que o comparecimento do eleitorado republicano na votação antecipada tinha sido expressivo e, apesar das pesquisas recentes, ele espera que o partido obtenha mais assentos no legislativo texano e no congresso americano. “Ficaremos bem", disse ele.

Os democratas têm menos chance de formar maiorias nos legislativos do Arizona e da Geórgia, mas esperam ampliar suas bancadas e participar do processo de redistribuição dos distritos eleitorais. Biden tem pequena vantagem nas pesquisas eleitorais de ambos os estados, e os democratas nutrem a esperança de ficar com assentos no senado que atualmente pertencem ao partido adversário.

A campanha de Trump fez pouco da ideia segundo a qual estados como o Texas teriam uma disputa mais acirrada, mas o presidente se deu o trabalho de mencionar o estado duas vezes no debate de quinta feira, o último.

“A campanha de Joe Biden recorre à fabricação de narrativas de ao desperdício de dinheiro em estados que ele não pode conquistar, como o Texas", disse Samantha Zager, vice-assessora de imprensa nacional da campanha Trump. Ela fez pouco dos outros democratas que acreditam equivocadamente na possibilidade de apostarem em uma vitória graças ao novo eleitorado texano: “Ainda que Biden e os democratas tenham liberdade de gastar o quanto quiserem no Texas, talvez queiram consultar as campanhas de Wendy Davis (governo), Beto O'Rourke (senado) e Hillary Clinton (presidência) para saber como essa estratégia funcionou".

Alguns estrategistas democratas insistiram a Biden que não se distraia com o Texas e mantenha o foco nos estados onde a campanha presidencial anterior foi decidida por pequena margem: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Flórida. Por enquanto, ele está seguindo o conselho: não visitou o Texas desde pouco antes da primária democrata no estado, que ele venceu, conferindo forte embalo à sua pré-candidatura.

Mas a campanha enviou representantes de peso: no início de outubro, o marido de Kamala Harris, Doug Emhoff, visitou o Sul do Texas e San Antonio, regiões que preocupam os democratas. Jill Biden visitou El Paso, Dallas e Houston no primeiro dia da votação antecipada. No dia anterior, esteve na Geórgia, onde Biden fará campanha na terça feira.

Os apelos de muitos democratas do Texas por mais atenção se tornaram mais intensos com as mais recentes pesquisas de intenção de voto mostrando Trump com uma vantagem de apenas três pontos percentuais em relação a Biden em um estado onde o presidente venceu por margem de nove pontos quatro anos atrás.

“Eles não gastaram quase nada fazendo campanha no Texas, mas seu resultado já é considerado ótimo", disse O'Rourke, que quase venceu o senador republicano Ted Cruz na disputa pelo assento correspondente ao Texas, em 2018, iniciou sem sucesso uma pré-candidatura à presidência e depois fundou o grupo Powered by People, que fez 6 milhões de telefonemas e disparou mais de 40 milhões de mensagens de texto a eleitores inscritos. "Imagine como seria se eles tivessem gasto de verdade."

A campanha de Biden destaca que tem mais de 60 funcionários no estado - uma alta substancial em relação à campanha de Hillary Clinton, em 2016 - e abriu 18 centros de fornecimento de material. A campanha de Biden gastou mais de US$ 7,3 milhões em publicidade no Texas desde maio, enquanto a campanha de Trump gastou mais de US$ 7,7 milhões, de acordo com análise da Advertising Analytics.

Com o apoio a Trump em queda no Texas, o senador republicano John Cornyn, a quem a democrata Hegar busca substituir, se afastou do presidente. Pesquisas recentes de intenção de voto mostram Cornyn perdendo por sete pontos, em média, o que indica que seu resultado individual no estado é melhor que o de Trump.

A complicada dinâmica da divulgação democrata pôde ser observada em uma coletiva virtual de imprensa realizada na semana passada, organizada pelos democratas do Texas e a campanha de Biden para destacar alguns republicanos que pensavam em votar em Biden por causa do desprezo que sentem por Trump. Mas, quando foi feita uma pergunta a respeito de Cornyn, o ex-congressista Steve Bartlett disse que ainda é um republicano, mesmo votando em Biden dessa vez.

"Defendemos os demais republicanos que estão na disputa eleitoral, especialmente John Cornyn. Posso afirmar que ele tem sido uma discreta fonte de força no senado e no Partido Republicano, além de fortalecer também o presidente Donald Trump", disse Bartlett enquanto vários dos democratas presentes demonstravam seu desconforto em suas janelas do Zoom windows. "Acredito que John Cornyn . . . será como uma voz da razão, uma voz de união e reconstrução do Partido Republicano tradicional."

Mike Collier, importante assessor de Biden no Texas, contribuiu dizendo esperar que a adversária democrata de Cornyn vença.

Nos meses mais recentes, organizadores democratas destinaram seus esforços aos moradores que se mudaram recentemente para o Texas e talvez ainda não tenham se inscrito, eleitores jovens que nunca votaram antes, comunidades de imigrantes que há muito são ignoradas por ambos os partidos e os republicanos que mudaram de lado em 2018.

Uma de suas metas é o 22.º distrito do congresso, que engloba os subúrbios de Houston, um dos distritos que mais crescem no país e que há muito é representado pelos republicanos. O representante atual, o congressista republicano Pete Olson, vai se aposentar depois de quase ser derrotado em 2018 pelo democrata Sri Preston Kulkarni, ex-funcionário do Foreign Service que disputará novamente esse ano.

Ainda que nacionalmente os democratas não acreditassem na possibilidade de conquistar o distrito em 2018, Kulkarni se dizia otimista porque aproximadamente 60% dos moradores do distrito são pessoas de cor, e um quarto é de imigrantes.

"Eu disse, 'Por que não estamos conversando com os imigrantes daqui?' E a resposta foi: 'Não perca tempo com eles, imigrantes não votam. Em especial, não perca tempo com a comunidade asiática, pois a melhor maneira de perder uma eleição é conversar com quem não vota'", disse Kulkarni, cuja campanha teve como alvo eleitores de mais de uma dúzia de idiomas, dos quais seis ele fala.

Depois de derrotado, Kulkarni viajou para os subúrbios de Atlanta para conhecer os esforços do New Georgia Project no sentido de inscrever eleitores.

"Os paralelos entre Geórgia e Texas indicam que ambos os estados estão avançando na mesma direção. A diferença é que o Texas é maior", disse ele.

Kulkarni também tem circulado entre moradores suburbanos que costumavam votar nos republicanos, mas ficaram frustrados principalmente pela resposta à pandemia. Mais da metade dos moradores do distrito têm diploma do ensino superior, disse ele, e a zona apresenta também a maior concentração de médicos em todo o estado. Seu adversário republicano, Troy Nehls, xerife do condado de Fort Bend, disse que a recomendação do uso de máscaras é "uma interferência sem precedentes que lembra mais uma ditadura comunista do que uma república livre".

"Aqui, as pessoas entendem como funciona a ciência", disse Kulkarni.

Nos lugares onde a disputa pelo congresso e o legislativo estadual é acirrada - especialmente nas regiões de Houston e Dallas-Fort Worth - o número de eleitores que votou antecipadamente este ano é recorde. Mas os democratas estão preocupados com o Vale do Rio Grande, acompanhando a fronteira no Sul do Texas, região de eleitorado hispânico e democrata onde os números da votação antecipada estão acima do observado em 2016, mas não muito. Faz meses que o partido faz campanha no vale.

O Vale do Rio Grande viveu um surto de entusiasmo republicano durante o mandato de Trump. Os defensores dele se reuniram com frequência nas cidades da fronteira para organizar carreatas conhecidas como "Trump Trains", com centenas de veículos, muitos deles decorados com bandeiras e cartazes de Trump.

Uma caravana recente organizada em Laredo, Texas, passou perto de membros da No Border Wall Coalition, que retocavam a mensagem "Defund the wall" [Acabem com o orçamento para o muro] pintada em amarelo na rua. Os defensores de Trump buzinaram e manifestaram seu apoio ao presidente, e as tensões chegaram às redes sociais, onde vizinhos trocaram farpas.

Agora, policiais foram designados a uma zona de votação antecipada em Laredo após denúncias de assédio e um incidente na semana passada em que um grupo de eleitores de Trump ouvindo música alta cercou voluntários do partido democrata em um estacionamento perto da zona eleitoral.

"Eles vieram com o objetivo de nos intimidar e assustar", disse Sylvia Bruni, presidente do Partido Democrata de Webb County. "Somos uma comunidade democrata, mas há um pequeno percentual de republicanos que sempre foram discretos, concentrados principalmente nos bairros ricos ao norte de Laredo. Mas agora esses bairros estão repletos de cartazes de Trump, algo que nunca vimos antes."

Faz tempo que os democratas organizam suas próprias carreatas em defesa de Biden, distribuindo informações a respeito do seu candidato na porta das residências de algumas comunidades de baixa renda que acompanham o rio, onde Trump está construindo seu muro da discórdia.

Aron Peña, ex-democrata e presidente local do Partido Republicano de Hidalgo County, situado mais abaixo no Rio Grande, disse que o recado de Trump ecoa entre muitos moradores da fronteira, incluindo alguns dos empregados de salário mais alto na região: policiais federais. O governo federal é um dos principais empregadores na área.

"Os filhos dos guardas da patrulha de fronteira, as mulheres dos oficiais federais e suas famílias assistem enquanto seus entes queridos são demonizados. Em algum momento, vão reagir", disse Peña. "São moradores locais, e manifestam suas opiniões nas redes sociais."

A tensão com a agora estridente direita em Laredo inspirou eleitores democratas mais discretos a exercerem seus direitos, disse Sylvia. Depois que as carreatas de Trump tiveram início em setembro, cerca de 3.000 moradores compareceram à central do Partido Democrata querendo verificar sua inscrição para votar na próxima eleição. Antes, as inscrições ocorriam esporadicamente, disse ela.

"Foi um choque que levou as pessoas à ação", said Sylvia, descrevendo diferentes idades e circunstâncias dos novos inscritos para votar. Um homem estava tão preocupado com a possibilidade de ser impedido de votar que pediu a Sylvia que telefonasse para o escritório eleitoral, mesmo tendo seu título de eleitor nas mãos.

"Chequele", disse o homem a Sylvia, misturando espanhol e inglês enquanto pedia a ela que conferisse novamente. "Tenho que ter certeza." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

SAN ANTONIO - Muitos democratas do Texas imaginavam que 2024 seria o ano em que um objetivo há muito almejado finalmente seria alcançado: o crescente eleitorado, cada vez mais diversificado, tornaria o partido deles realmente capaz de disputar as eleições no estado.

Mas esse cronograma parece ter se acelerado, não apenas em função de mudanças demográficas, mas também pela repulsa causada pelo presidente Donald Trump e pelo surto de ativismo liberal inspirado por ele.

Nos quatro anos desde a mais recente eleição presidencial, pelo menos 2 milhões de pessoas se mudaram para o Texas, muitas delas democratas vindas de lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Illinois. Estima-se que 800.000 jovens americanos de origem latina tenham completado 18 anos, e uma onda de imigrantes foi naturalizada como cidadã. Mais de 3 milhões de texanos se inscreveram para votar.

A estudante Kiara Daniels da Texas State University se registra para votar no condado de Hays durante um evento do Dia Nacional de Registro de Eleitores no campus de San Marcos, Texas. Foto: The Washington Post by Tamir Kalifa.

A polarizadora presidência de Trump motivou muitos democratas a agirem, levando alguns eleitores independentes e republicanos - especialmente nas áreas urbanas e suburbanas - a protestarem contra a divisão semeada pela retórica e as ações do presidente, incluindo seu tratamento dos imigrantes, a falta de preocupação com a violência policial e sua resposta a uma pandemia que matou mais de 17.500 texanos.

Desde o início da votação antecipada, duas semanas atrás, mais de 7,2 milhões de texanos já deixaram seus votos, o equivalente a 80% do número total de votos no estado em 2016 - uma proporção impressionantes, especialmente em um estado que costuma apresentar um dos mais baixos índices de participação eleitoral do país. Diferentemente de outros estados, o Texas não registra o partido político de quem vota antecipadamente.

Esse surto de entusiasmo nas urnas, que acompanha uma expansão dramática na organização dos democratas em todo o estado, joga cada vez mais pressão em Joe Biden para que o candidato invista no Texas na semana que vem, com as pesquisas de intenção de voto mostrando quase um empate entre ele e Trump. Sua colega de chapa, a senadora democrata Kamala Harris, da Califórnia, planeja visitar o Texas na sexta feira, como informado pelo Houston Chronicle, uma jogada rara para um candidato à vice-presidência com a data da eleição tão próxima.

Kirsten Iyare, de 21 anos, faz parte da vanguarda dos democratas que votavam pela primeira vez na quinta feira em San Antonio, no AT&T Center, por insistência de uma colega de faculdade da Universidade Trinity e depois de ver muitos amigos publicando vídeos no Snapchat mostrando os adesivos confirmando que votaram. A jovem negra cresceu em uma comunidade de baixa renda de Houston e disse que Trump prejudicou comunidades não brancas como a dela. Ela não se disse entusiasmada com o voto em Biden. Mas, por insistência da colega, acabou votando nele.

"Todos nós estamos nos convertendo em agentes da mudança", disse Kirsten. "Agora cabe a nós manter a tocha acesa."

A mesma dinâmica que está abrindo o Texas para uma disputa mais equilibrada na eleição presidencial, com chances para o candidato democrata ao senado americano, pode ser observada no Arizona e na Geórgia, estados há muito dominados pelos republicanos. Isso ocorre na esteira de um renascimento semelhante dos democratas na Virgínia e no Colorado, tendência que antecedeu Trump; ambos esses estados podem agora ser considerados democratas, com sua composição demográfica redesenhada pelos recém-chegados. Pelas mesmas razões, os democratas passaram a ter mais chances na Carolina do Norte e, esse ano, até na Carolina do Sul.

Estudantes da Texas State University se registram para votar. Foto: Tamir Kalifa/ The Washington Post

“O que estamos observando no nosso estado é uma metamorfose", disse Julián Castro, ex-prefeito de San Antonio e secretário da habitação que disputou a nomeação democrata à presidência. “Temos a oportunidade de redesenhar o mapa eleitoral."

Em todos os estados que passam por transformações, o impacto vai além da corrida presidencial. Vários estrategistas republicanos do Texas se dizem cada vez mais preocupados com a possibilidade de conservarem o controle do legislativo texano - faltam nove assentos para os democratas chegarem à maioria em um momento em que a câmara se prepara para redesenhar os distritos eleitorais, que pode resultar em um quadro eleitoral alterado pelos próximos 10 anos. Eles também temem perder pelo menos quatro assentos do congresso para os quais o Comitê Democrata de Campanha para o Congresso direcionou agressivamente seus recursos. Na semana passada, um super PAC (Comitê de Ação Política) democrata começou a gastar milhões de dólares em publicidade defendendo Biden e a candidata democrata ao senado americano pelo Texas, MJ Hegar, um esforço que os republicanos dizem ser quase impossível de acompanhar nos dias finais da campanha.

O presidente do Partido Republicano no Texas, Allen B. West, disse que o comparecimento do eleitorado republicano na votação antecipada tinha sido expressivo e, apesar das pesquisas recentes, ele espera que o partido obtenha mais assentos no legislativo texano e no congresso americano. “Ficaremos bem", disse ele.

Os democratas têm menos chance de formar maiorias nos legislativos do Arizona e da Geórgia, mas esperam ampliar suas bancadas e participar do processo de redistribuição dos distritos eleitorais. Biden tem pequena vantagem nas pesquisas eleitorais de ambos os estados, e os democratas nutrem a esperança de ficar com assentos no senado que atualmente pertencem ao partido adversário.

A campanha de Trump fez pouco da ideia segundo a qual estados como o Texas teriam uma disputa mais acirrada, mas o presidente se deu o trabalho de mencionar o estado duas vezes no debate de quinta feira, o último.

“A campanha de Joe Biden recorre à fabricação de narrativas de ao desperdício de dinheiro em estados que ele não pode conquistar, como o Texas", disse Samantha Zager, vice-assessora de imprensa nacional da campanha Trump. Ela fez pouco dos outros democratas que acreditam equivocadamente na possibilidade de apostarem em uma vitória graças ao novo eleitorado texano: “Ainda que Biden e os democratas tenham liberdade de gastar o quanto quiserem no Texas, talvez queiram consultar as campanhas de Wendy Davis (governo), Beto O'Rourke (senado) e Hillary Clinton (presidência) para saber como essa estratégia funcionou".

Alguns estrategistas democratas insistiram a Biden que não se distraia com o Texas e mantenha o foco nos estados onde a campanha presidencial anterior foi decidida por pequena margem: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Flórida. Por enquanto, ele está seguindo o conselho: não visitou o Texas desde pouco antes da primária democrata no estado, que ele venceu, conferindo forte embalo à sua pré-candidatura.

Mas a campanha enviou representantes de peso: no início de outubro, o marido de Kamala Harris, Doug Emhoff, visitou o Sul do Texas e San Antonio, regiões que preocupam os democratas. Jill Biden visitou El Paso, Dallas e Houston no primeiro dia da votação antecipada. No dia anterior, esteve na Geórgia, onde Biden fará campanha na terça feira.

Os apelos de muitos democratas do Texas por mais atenção se tornaram mais intensos com as mais recentes pesquisas de intenção de voto mostrando Trump com uma vantagem de apenas três pontos percentuais em relação a Biden em um estado onde o presidente venceu por margem de nove pontos quatro anos atrás.

“Eles não gastaram quase nada fazendo campanha no Texas, mas seu resultado já é considerado ótimo", disse O'Rourke, que quase venceu o senador republicano Ted Cruz na disputa pelo assento correspondente ao Texas, em 2018, iniciou sem sucesso uma pré-candidatura à presidência e depois fundou o grupo Powered by People, que fez 6 milhões de telefonemas e disparou mais de 40 milhões de mensagens de texto a eleitores inscritos. "Imagine como seria se eles tivessem gasto de verdade."

A campanha de Biden destaca que tem mais de 60 funcionários no estado - uma alta substancial em relação à campanha de Hillary Clinton, em 2016 - e abriu 18 centros de fornecimento de material. A campanha de Biden gastou mais de US$ 7,3 milhões em publicidade no Texas desde maio, enquanto a campanha de Trump gastou mais de US$ 7,7 milhões, de acordo com análise da Advertising Analytics.

Com o apoio a Trump em queda no Texas, o senador republicano John Cornyn, a quem a democrata Hegar busca substituir, se afastou do presidente. Pesquisas recentes de intenção de voto mostram Cornyn perdendo por sete pontos, em média, o que indica que seu resultado individual no estado é melhor que o de Trump.

A complicada dinâmica da divulgação democrata pôde ser observada em uma coletiva virtual de imprensa realizada na semana passada, organizada pelos democratas do Texas e a campanha de Biden para destacar alguns republicanos que pensavam em votar em Biden por causa do desprezo que sentem por Trump. Mas, quando foi feita uma pergunta a respeito de Cornyn, o ex-congressista Steve Bartlett disse que ainda é um republicano, mesmo votando em Biden dessa vez.

"Defendemos os demais republicanos que estão na disputa eleitoral, especialmente John Cornyn. Posso afirmar que ele tem sido uma discreta fonte de força no senado e no Partido Republicano, além de fortalecer também o presidente Donald Trump", disse Bartlett enquanto vários dos democratas presentes demonstravam seu desconforto em suas janelas do Zoom windows. "Acredito que John Cornyn . . . será como uma voz da razão, uma voz de união e reconstrução do Partido Republicano tradicional."

Mike Collier, importante assessor de Biden no Texas, contribuiu dizendo esperar que a adversária democrata de Cornyn vença.

Nos meses mais recentes, organizadores democratas destinaram seus esforços aos moradores que se mudaram recentemente para o Texas e talvez ainda não tenham se inscrito, eleitores jovens que nunca votaram antes, comunidades de imigrantes que há muito são ignoradas por ambos os partidos e os republicanos que mudaram de lado em 2018.

Uma de suas metas é o 22.º distrito do congresso, que engloba os subúrbios de Houston, um dos distritos que mais crescem no país e que há muito é representado pelos republicanos. O representante atual, o congressista republicano Pete Olson, vai se aposentar depois de quase ser derrotado em 2018 pelo democrata Sri Preston Kulkarni, ex-funcionário do Foreign Service que disputará novamente esse ano.

Ainda que nacionalmente os democratas não acreditassem na possibilidade de conquistar o distrito em 2018, Kulkarni se dizia otimista porque aproximadamente 60% dos moradores do distrito são pessoas de cor, e um quarto é de imigrantes.

"Eu disse, 'Por que não estamos conversando com os imigrantes daqui?' E a resposta foi: 'Não perca tempo com eles, imigrantes não votam. Em especial, não perca tempo com a comunidade asiática, pois a melhor maneira de perder uma eleição é conversar com quem não vota'", disse Kulkarni, cuja campanha teve como alvo eleitores de mais de uma dúzia de idiomas, dos quais seis ele fala.

Depois de derrotado, Kulkarni viajou para os subúrbios de Atlanta para conhecer os esforços do New Georgia Project no sentido de inscrever eleitores.

"Os paralelos entre Geórgia e Texas indicam que ambos os estados estão avançando na mesma direção. A diferença é que o Texas é maior", disse ele.

Kulkarni também tem circulado entre moradores suburbanos que costumavam votar nos republicanos, mas ficaram frustrados principalmente pela resposta à pandemia. Mais da metade dos moradores do distrito têm diploma do ensino superior, disse ele, e a zona apresenta também a maior concentração de médicos em todo o estado. Seu adversário republicano, Troy Nehls, xerife do condado de Fort Bend, disse que a recomendação do uso de máscaras é "uma interferência sem precedentes que lembra mais uma ditadura comunista do que uma república livre".

"Aqui, as pessoas entendem como funciona a ciência", disse Kulkarni.

Nos lugares onde a disputa pelo congresso e o legislativo estadual é acirrada - especialmente nas regiões de Houston e Dallas-Fort Worth - o número de eleitores que votou antecipadamente este ano é recorde. Mas os democratas estão preocupados com o Vale do Rio Grande, acompanhando a fronteira no Sul do Texas, região de eleitorado hispânico e democrata onde os números da votação antecipada estão acima do observado em 2016, mas não muito. Faz meses que o partido faz campanha no vale.

O Vale do Rio Grande viveu um surto de entusiasmo republicano durante o mandato de Trump. Os defensores dele se reuniram com frequência nas cidades da fronteira para organizar carreatas conhecidas como "Trump Trains", com centenas de veículos, muitos deles decorados com bandeiras e cartazes de Trump.

Uma caravana recente organizada em Laredo, Texas, passou perto de membros da No Border Wall Coalition, que retocavam a mensagem "Defund the wall" [Acabem com o orçamento para o muro] pintada em amarelo na rua. Os defensores de Trump buzinaram e manifestaram seu apoio ao presidente, e as tensões chegaram às redes sociais, onde vizinhos trocaram farpas.

Agora, policiais foram designados a uma zona de votação antecipada em Laredo após denúncias de assédio e um incidente na semana passada em que um grupo de eleitores de Trump ouvindo música alta cercou voluntários do partido democrata em um estacionamento perto da zona eleitoral.

"Eles vieram com o objetivo de nos intimidar e assustar", disse Sylvia Bruni, presidente do Partido Democrata de Webb County. "Somos uma comunidade democrata, mas há um pequeno percentual de republicanos que sempre foram discretos, concentrados principalmente nos bairros ricos ao norte de Laredo. Mas agora esses bairros estão repletos de cartazes de Trump, algo que nunca vimos antes."

Faz tempo que os democratas organizam suas próprias carreatas em defesa de Biden, distribuindo informações a respeito do seu candidato na porta das residências de algumas comunidades de baixa renda que acompanham o rio, onde Trump está construindo seu muro da discórdia.

Aron Peña, ex-democrata e presidente local do Partido Republicano de Hidalgo County, situado mais abaixo no Rio Grande, disse que o recado de Trump ecoa entre muitos moradores da fronteira, incluindo alguns dos empregados de salário mais alto na região: policiais federais. O governo federal é um dos principais empregadores na área.

"Os filhos dos guardas da patrulha de fronteira, as mulheres dos oficiais federais e suas famílias assistem enquanto seus entes queridos são demonizados. Em algum momento, vão reagir", disse Peña. "São moradores locais, e manifestam suas opiniões nas redes sociais."

A tensão com a agora estridente direita em Laredo inspirou eleitores democratas mais discretos a exercerem seus direitos, disse Sylvia. Depois que as carreatas de Trump tiveram início em setembro, cerca de 3.000 moradores compareceram à central do Partido Democrata querendo verificar sua inscrição para votar na próxima eleição. Antes, as inscrições ocorriam esporadicamente, disse ela.

"Foi um choque que levou as pessoas à ação", said Sylvia, descrevendo diferentes idades e circunstâncias dos novos inscritos para votar. Um homem estava tão preocupado com a possibilidade de ser impedido de votar que pediu a Sylvia que telefonasse para o escritório eleitoral, mesmo tendo seu título de eleitor nas mãos.

"Chequele", disse o homem a Sylvia, misturando espanhol e inglês enquanto pedia a ela que conferisse novamente. "Tenho que ter certeza." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

SAN ANTONIO - Muitos democratas do Texas imaginavam que 2024 seria o ano em que um objetivo há muito almejado finalmente seria alcançado: o crescente eleitorado, cada vez mais diversificado, tornaria o partido deles realmente capaz de disputar as eleições no estado.

Mas esse cronograma parece ter se acelerado, não apenas em função de mudanças demográficas, mas também pela repulsa causada pelo presidente Donald Trump e pelo surto de ativismo liberal inspirado por ele.

Nos quatro anos desde a mais recente eleição presidencial, pelo menos 2 milhões de pessoas se mudaram para o Texas, muitas delas democratas vindas de lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Illinois. Estima-se que 800.000 jovens americanos de origem latina tenham completado 18 anos, e uma onda de imigrantes foi naturalizada como cidadã. Mais de 3 milhões de texanos se inscreveram para votar.

A estudante Kiara Daniels da Texas State University se registra para votar no condado de Hays durante um evento do Dia Nacional de Registro de Eleitores no campus de San Marcos, Texas. Foto: The Washington Post by Tamir Kalifa.

A polarizadora presidência de Trump motivou muitos democratas a agirem, levando alguns eleitores independentes e republicanos - especialmente nas áreas urbanas e suburbanas - a protestarem contra a divisão semeada pela retórica e as ações do presidente, incluindo seu tratamento dos imigrantes, a falta de preocupação com a violência policial e sua resposta a uma pandemia que matou mais de 17.500 texanos.

Desde o início da votação antecipada, duas semanas atrás, mais de 7,2 milhões de texanos já deixaram seus votos, o equivalente a 80% do número total de votos no estado em 2016 - uma proporção impressionantes, especialmente em um estado que costuma apresentar um dos mais baixos índices de participação eleitoral do país. Diferentemente de outros estados, o Texas não registra o partido político de quem vota antecipadamente.

Esse surto de entusiasmo nas urnas, que acompanha uma expansão dramática na organização dos democratas em todo o estado, joga cada vez mais pressão em Joe Biden para que o candidato invista no Texas na semana que vem, com as pesquisas de intenção de voto mostrando quase um empate entre ele e Trump. Sua colega de chapa, a senadora democrata Kamala Harris, da Califórnia, planeja visitar o Texas na sexta feira, como informado pelo Houston Chronicle, uma jogada rara para um candidato à vice-presidência com a data da eleição tão próxima.

Kirsten Iyare, de 21 anos, faz parte da vanguarda dos democratas que votavam pela primeira vez na quinta feira em San Antonio, no AT&T Center, por insistência de uma colega de faculdade da Universidade Trinity e depois de ver muitos amigos publicando vídeos no Snapchat mostrando os adesivos confirmando que votaram. A jovem negra cresceu em uma comunidade de baixa renda de Houston e disse que Trump prejudicou comunidades não brancas como a dela. Ela não se disse entusiasmada com o voto em Biden. Mas, por insistência da colega, acabou votando nele.

"Todos nós estamos nos convertendo em agentes da mudança", disse Kirsten. "Agora cabe a nós manter a tocha acesa."

A mesma dinâmica que está abrindo o Texas para uma disputa mais equilibrada na eleição presidencial, com chances para o candidato democrata ao senado americano, pode ser observada no Arizona e na Geórgia, estados há muito dominados pelos republicanos. Isso ocorre na esteira de um renascimento semelhante dos democratas na Virgínia e no Colorado, tendência que antecedeu Trump; ambos esses estados podem agora ser considerados democratas, com sua composição demográfica redesenhada pelos recém-chegados. Pelas mesmas razões, os democratas passaram a ter mais chances na Carolina do Norte e, esse ano, até na Carolina do Sul.

Estudantes da Texas State University se registram para votar. Foto: Tamir Kalifa/ The Washington Post

“O que estamos observando no nosso estado é uma metamorfose", disse Julián Castro, ex-prefeito de San Antonio e secretário da habitação que disputou a nomeação democrata à presidência. “Temos a oportunidade de redesenhar o mapa eleitoral."

Em todos os estados que passam por transformações, o impacto vai além da corrida presidencial. Vários estrategistas republicanos do Texas se dizem cada vez mais preocupados com a possibilidade de conservarem o controle do legislativo texano - faltam nove assentos para os democratas chegarem à maioria em um momento em que a câmara se prepara para redesenhar os distritos eleitorais, que pode resultar em um quadro eleitoral alterado pelos próximos 10 anos. Eles também temem perder pelo menos quatro assentos do congresso para os quais o Comitê Democrata de Campanha para o Congresso direcionou agressivamente seus recursos. Na semana passada, um super PAC (Comitê de Ação Política) democrata começou a gastar milhões de dólares em publicidade defendendo Biden e a candidata democrata ao senado americano pelo Texas, MJ Hegar, um esforço que os republicanos dizem ser quase impossível de acompanhar nos dias finais da campanha.

O presidente do Partido Republicano no Texas, Allen B. West, disse que o comparecimento do eleitorado republicano na votação antecipada tinha sido expressivo e, apesar das pesquisas recentes, ele espera que o partido obtenha mais assentos no legislativo texano e no congresso americano. “Ficaremos bem", disse ele.

Os democratas têm menos chance de formar maiorias nos legislativos do Arizona e da Geórgia, mas esperam ampliar suas bancadas e participar do processo de redistribuição dos distritos eleitorais. Biden tem pequena vantagem nas pesquisas eleitorais de ambos os estados, e os democratas nutrem a esperança de ficar com assentos no senado que atualmente pertencem ao partido adversário.

A campanha de Trump fez pouco da ideia segundo a qual estados como o Texas teriam uma disputa mais acirrada, mas o presidente se deu o trabalho de mencionar o estado duas vezes no debate de quinta feira, o último.

“A campanha de Joe Biden recorre à fabricação de narrativas de ao desperdício de dinheiro em estados que ele não pode conquistar, como o Texas", disse Samantha Zager, vice-assessora de imprensa nacional da campanha Trump. Ela fez pouco dos outros democratas que acreditam equivocadamente na possibilidade de apostarem em uma vitória graças ao novo eleitorado texano: “Ainda que Biden e os democratas tenham liberdade de gastar o quanto quiserem no Texas, talvez queiram consultar as campanhas de Wendy Davis (governo), Beto O'Rourke (senado) e Hillary Clinton (presidência) para saber como essa estratégia funcionou".

Alguns estrategistas democratas insistiram a Biden que não se distraia com o Texas e mantenha o foco nos estados onde a campanha presidencial anterior foi decidida por pequena margem: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Flórida. Por enquanto, ele está seguindo o conselho: não visitou o Texas desde pouco antes da primária democrata no estado, que ele venceu, conferindo forte embalo à sua pré-candidatura.

Mas a campanha enviou representantes de peso: no início de outubro, o marido de Kamala Harris, Doug Emhoff, visitou o Sul do Texas e San Antonio, regiões que preocupam os democratas. Jill Biden visitou El Paso, Dallas e Houston no primeiro dia da votação antecipada. No dia anterior, esteve na Geórgia, onde Biden fará campanha na terça feira.

Os apelos de muitos democratas do Texas por mais atenção se tornaram mais intensos com as mais recentes pesquisas de intenção de voto mostrando Trump com uma vantagem de apenas três pontos percentuais em relação a Biden em um estado onde o presidente venceu por margem de nove pontos quatro anos atrás.

“Eles não gastaram quase nada fazendo campanha no Texas, mas seu resultado já é considerado ótimo", disse O'Rourke, que quase venceu o senador republicano Ted Cruz na disputa pelo assento correspondente ao Texas, em 2018, iniciou sem sucesso uma pré-candidatura à presidência e depois fundou o grupo Powered by People, que fez 6 milhões de telefonemas e disparou mais de 40 milhões de mensagens de texto a eleitores inscritos. "Imagine como seria se eles tivessem gasto de verdade."

A campanha de Biden destaca que tem mais de 60 funcionários no estado - uma alta substancial em relação à campanha de Hillary Clinton, em 2016 - e abriu 18 centros de fornecimento de material. A campanha de Biden gastou mais de US$ 7,3 milhões em publicidade no Texas desde maio, enquanto a campanha de Trump gastou mais de US$ 7,7 milhões, de acordo com análise da Advertising Analytics.

Com o apoio a Trump em queda no Texas, o senador republicano John Cornyn, a quem a democrata Hegar busca substituir, se afastou do presidente. Pesquisas recentes de intenção de voto mostram Cornyn perdendo por sete pontos, em média, o que indica que seu resultado individual no estado é melhor que o de Trump.

A complicada dinâmica da divulgação democrata pôde ser observada em uma coletiva virtual de imprensa realizada na semana passada, organizada pelos democratas do Texas e a campanha de Biden para destacar alguns republicanos que pensavam em votar em Biden por causa do desprezo que sentem por Trump. Mas, quando foi feita uma pergunta a respeito de Cornyn, o ex-congressista Steve Bartlett disse que ainda é um republicano, mesmo votando em Biden dessa vez.

"Defendemos os demais republicanos que estão na disputa eleitoral, especialmente John Cornyn. Posso afirmar que ele tem sido uma discreta fonte de força no senado e no Partido Republicano, além de fortalecer também o presidente Donald Trump", disse Bartlett enquanto vários dos democratas presentes demonstravam seu desconforto em suas janelas do Zoom windows. "Acredito que John Cornyn . . . será como uma voz da razão, uma voz de união e reconstrução do Partido Republicano tradicional."

Mike Collier, importante assessor de Biden no Texas, contribuiu dizendo esperar que a adversária democrata de Cornyn vença.

Nos meses mais recentes, organizadores democratas destinaram seus esforços aos moradores que se mudaram recentemente para o Texas e talvez ainda não tenham se inscrito, eleitores jovens que nunca votaram antes, comunidades de imigrantes que há muito são ignoradas por ambos os partidos e os republicanos que mudaram de lado em 2018.

Uma de suas metas é o 22.º distrito do congresso, que engloba os subúrbios de Houston, um dos distritos que mais crescem no país e que há muito é representado pelos republicanos. O representante atual, o congressista republicano Pete Olson, vai se aposentar depois de quase ser derrotado em 2018 pelo democrata Sri Preston Kulkarni, ex-funcionário do Foreign Service que disputará novamente esse ano.

Ainda que nacionalmente os democratas não acreditassem na possibilidade de conquistar o distrito em 2018, Kulkarni se dizia otimista porque aproximadamente 60% dos moradores do distrito são pessoas de cor, e um quarto é de imigrantes.

"Eu disse, 'Por que não estamos conversando com os imigrantes daqui?' E a resposta foi: 'Não perca tempo com eles, imigrantes não votam. Em especial, não perca tempo com a comunidade asiática, pois a melhor maneira de perder uma eleição é conversar com quem não vota'", disse Kulkarni, cuja campanha teve como alvo eleitores de mais de uma dúzia de idiomas, dos quais seis ele fala.

Depois de derrotado, Kulkarni viajou para os subúrbios de Atlanta para conhecer os esforços do New Georgia Project no sentido de inscrever eleitores.

"Os paralelos entre Geórgia e Texas indicam que ambos os estados estão avançando na mesma direção. A diferença é que o Texas é maior", disse ele.

Kulkarni também tem circulado entre moradores suburbanos que costumavam votar nos republicanos, mas ficaram frustrados principalmente pela resposta à pandemia. Mais da metade dos moradores do distrito têm diploma do ensino superior, disse ele, e a zona apresenta também a maior concentração de médicos em todo o estado. Seu adversário republicano, Troy Nehls, xerife do condado de Fort Bend, disse que a recomendação do uso de máscaras é "uma interferência sem precedentes que lembra mais uma ditadura comunista do que uma república livre".

"Aqui, as pessoas entendem como funciona a ciência", disse Kulkarni.

Nos lugares onde a disputa pelo congresso e o legislativo estadual é acirrada - especialmente nas regiões de Houston e Dallas-Fort Worth - o número de eleitores que votou antecipadamente este ano é recorde. Mas os democratas estão preocupados com o Vale do Rio Grande, acompanhando a fronteira no Sul do Texas, região de eleitorado hispânico e democrata onde os números da votação antecipada estão acima do observado em 2016, mas não muito. Faz meses que o partido faz campanha no vale.

O Vale do Rio Grande viveu um surto de entusiasmo republicano durante o mandato de Trump. Os defensores dele se reuniram com frequência nas cidades da fronteira para organizar carreatas conhecidas como "Trump Trains", com centenas de veículos, muitos deles decorados com bandeiras e cartazes de Trump.

Uma caravana recente organizada em Laredo, Texas, passou perto de membros da No Border Wall Coalition, que retocavam a mensagem "Defund the wall" [Acabem com o orçamento para o muro] pintada em amarelo na rua. Os defensores de Trump buzinaram e manifestaram seu apoio ao presidente, e as tensões chegaram às redes sociais, onde vizinhos trocaram farpas.

Agora, policiais foram designados a uma zona de votação antecipada em Laredo após denúncias de assédio e um incidente na semana passada em que um grupo de eleitores de Trump ouvindo música alta cercou voluntários do partido democrata em um estacionamento perto da zona eleitoral.

"Eles vieram com o objetivo de nos intimidar e assustar", disse Sylvia Bruni, presidente do Partido Democrata de Webb County. "Somos uma comunidade democrata, mas há um pequeno percentual de republicanos que sempre foram discretos, concentrados principalmente nos bairros ricos ao norte de Laredo. Mas agora esses bairros estão repletos de cartazes de Trump, algo que nunca vimos antes."

Faz tempo que os democratas organizam suas próprias carreatas em defesa de Biden, distribuindo informações a respeito do seu candidato na porta das residências de algumas comunidades de baixa renda que acompanham o rio, onde Trump está construindo seu muro da discórdia.

Aron Peña, ex-democrata e presidente local do Partido Republicano de Hidalgo County, situado mais abaixo no Rio Grande, disse que o recado de Trump ecoa entre muitos moradores da fronteira, incluindo alguns dos empregados de salário mais alto na região: policiais federais. O governo federal é um dos principais empregadores na área.

"Os filhos dos guardas da patrulha de fronteira, as mulheres dos oficiais federais e suas famílias assistem enquanto seus entes queridos são demonizados. Em algum momento, vão reagir", disse Peña. "São moradores locais, e manifestam suas opiniões nas redes sociais."

A tensão com a agora estridente direita em Laredo inspirou eleitores democratas mais discretos a exercerem seus direitos, disse Sylvia. Depois que as carreatas de Trump tiveram início em setembro, cerca de 3.000 moradores compareceram à central do Partido Democrata querendo verificar sua inscrição para votar na próxima eleição. Antes, as inscrições ocorriam esporadicamente, disse ela.

"Foi um choque que levou as pessoas à ação", said Sylvia, descrevendo diferentes idades e circunstâncias dos novos inscritos para votar. Um homem estava tão preocupado com a possibilidade de ser impedido de votar que pediu a Sylvia que telefonasse para o escritório eleitoral, mesmo tendo seu título de eleitor nas mãos.

"Chequele", disse o homem a Sylvia, misturando espanhol e inglês enquanto pedia a ela que conferisse novamente. "Tenho que ter certeza." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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