WASHINGTON - Com as disputas nas eleições legislativas da próxima terça-feira, 8, apertadas em estados considerados chaves para a eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos, Democratas correm para mobilizar suas bases a fim de impedir uma derrota amarga na Câmara - já dada como certa - e tentar manter a maioria no Senado. Já do lado Republicano, o ex-presidente Donald Trump prepara o anúncio de sua campanha para retornar à Casa Branca nos dias seguintes às eleições.
Já nos últimos dias da campanha, os democratas de todo o país correm para apoiar candidatos em lugares onde o presidente Joe Biden venceu com segurança em 2020, o mais recente sinal de pânico de que eles podem enfrentar grandes perdas nas eleições de meio de mandato. Barack Obama, Kamala Harris, Hillary Clinton e Jill Biden viajam para apoiar seus candidatos locais, enquanto poucos querem ser vistos ao lado de Biden, que amarga uma taxa de desaprovação de 53%.
À medida que os republicanos se concentram em atacar a inflação e criminalidade para competir em territórios tradicionalmente democratas - como Califórnia, Oregon, Nova York, Illinois e outros –, há uma sensação crescente entre os democratas de que há pouco que eles possam fazer neste momento de reta final.
“Há um mal-estar geral que paira sobre o país”, disse Joel Payne, estrategista democrata. “O que estamos vendo é um eleitorado furioso que continua chutando aqueles que veem como responsáveis. Eles fizeram isso em 2016, em 2018, em 2020. E, se as coisas se mantiverem como está, eles provavelmente farão isso novamente em 2022.”
Minoria na Câmara
Muitos democratas se conformaram há meses de que os republicanos tomarão a Câmara. Porém, o temor é que essa vitória dos adversários seja maior do que gostariam, dando uma maioria significativa ao Partido Republicano. Atualmente os democratas detém uma maioria apertada na casa, com 220 das 218 cadeiras necessárias.
Tradicionalmente, desde Bill Clinton, os partidos que conquistam a presidência tendem a perder a maioria na Câmara nas midterms seguintes, em uma eleição que serve de termômetro para a avaliação do presidente. No entanto, perder a maioria em ambas as casas e com uma diferença tão grande, pode travar muitos projetos democratas, o que ameaça a popularidade do partido para as eleições presidenciais de daqui dois anos.
O temor dos estrategistas é de que, frente a esta conformidade do partido em perder a câmara baixa e focando na disputa pelo senado, os democratas possam estar “cedendo” assentos pelos quais competiu no passado, o que pode gerar uma “onda vermelha” (a cor republicana) em territórios tradicionalmente democratas.
Um estrategista democrata da Câmara disse que, se os democratas detiverem de 200 a 205 cadeiras, eles considerarão uma boa noite. Se o partido terminar com 190 cadeiras ou menos – uma perda de 30 cadeiras que exigiria a derrota em vários distritos que Biden venceu com conforto –, refletiria uma grande onda vermelha, disse o estrategista, que falou sob condição de anonimato para discutir deliberações internas.
Os aliados de Biden estão se preparando para transformar até mesmo uma derrota em uma vitória para o presidente, já que Barack Obama perdeu 63 assentos em 2010 e Donald Trump perdeu 40 em 2018, e Biden não deve perder tantos. Mas como Biden começou sua presidência com uma maioria muito menor do que seus antecessores, mesmo perdas modestas podem deixar os democratas com menos cadeiras do que as 193 que tinham em 2011.
Disputa pelo Senado
Enquanto isso, a batalha pelo Senado segue incerta. No momento, democratas e republicanos estão em mesmo número na casa - com dois independentes apoiando democratas -, mas os azuis (cor democrata) tem a vantagem de ter o “voto de minerva” da vice-presidente Kamala Harris. Ambos os partidos estão investindo milhões em diversos estados-chave na disputa pelos 34 assentos disponíveis de 100 do Senado.
O partido Democrata continuou a expressar confiança em manter o Senado, onde as eleições são historicamente menos dependentes do ambiente político nacional do que as eleições na Câmara. Ainda assim, várias disputas competitivas ficaram mais apertadas nos últimos dias, já que os candidatos republicanos vincularam continuamente seus oponentes a Biden, que enfrenta índices de aprovação muito baixos.
Por essa batalha, a agenda de democratas proeminentes está cheia neste fim de semana. A Casa Branca anunciou na quinta-feira, 3, que a primeira-dama Jill Biden viajará para o Arizona, onde o senador Mark Kelly enfrenta um duro desafio com o republicano Blake Masters. Nos últimos dias, ela viajou para Rhode Island e New Hampshire para aparecer ao lado de candidatos democratas em áreas que seu marido venceu em 2020.
Alguns candidatos preferem fazer campanha ao lado da primeira-dama, enquanto evitam aparecer publicamente com seu marido. O presidente evitou fazer campanha no Arizona, onde seus índices de aprovação são mínimo.
Biden e Obama planejam aparecer juntos na Pensilvânia no sábado, em um esforço para impulsionar o candidato ao Senado John Fetterman, cuja recuperação de um derrame em maio se tornou uma questão central na corrida. Os republicanos argumentam que seu candidato, Mehmet Oz, é o favorito nessa disputa depois de um debate no mês passado em que Fetterman tropeçou em suas palavras e teve dificuldades com o formato de perguntas e respostas. Republicanos despejaram dinheiro no Estado, veiculando anúncios destacando o desempenho de Fetterman no debate.
A vice-presidente Harris e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton realizaram uma participação conjunta Nova York em um esforço para resgatar a governadora Kathy Hochul, que enfrenta uma disputa acirrada em um estado que os republicanos não vencem há duas décadas. Mas os eleitores se mostravam desanimados com as perspectivas do partido ali.
Trump em 2024
Enquanto democratas e republicanos se concentram nas eleições de agora, o ex-presidente Donald Trump já dá sinais dos seus planos futuros. Ele deve anunciar uma terceira campanha para a Casa Branca logo após o fim dessas eleições, possivelmente em 14 de novembro, segundo pessoas familiarizadas com o planejamento. Assessores alertaram que nenhuma decisão final foi tomada e que o ex-presidente pode mudar de ideia sobre os detalhes. A data do suposto anúncio foi relatada pela Axios.
Na noite de quinta-feira, Trump abriu uma série de quatro comícios nos últimos cinco dias das eleições de meio de mandato em Iowa, onde se juntou ao senador Chuck Grassley, um republicano que busca um oitavo mandato consecutivo de seis anos.
Sua parada em Iowa destaca tanto o poder quanto as limitações de sua marca política. Mesmo que ele não esteja nas urnas este ano, Trump ainda atraiu milhares em uma noite quando as temperaturas caíram abaixo de 4 ºC. Mas o fato de ele estar em campanha em um estado que permanece bem abaixo na lista de campos de batalha de médio prazo foi um reflexo da bagagem política de Trump.
Nos cinco estados com disputas no Senado, de acordo com o Cook Political Report, Trump não realizou comícios em dois - Geórgia ou Wisconsin - desde que a temporada primária terminou. Ele visitará apenas um desses estados, Pensilvânia, em seus quatro comícios finais, e está programado para fazer campanha na Flórida e Ohio neste fim de semana.
Ainda assim, Trump está preparando seus apoiadores para uma terceira candidatura presidencial consecutiva.
“Para tornar nosso país bem-sucedido, seguro e glorioso, muito, muito, muito provavelmente farei isso de novo”, disse ele sobre outra candidatura presidencial. “Muito, muito, muito, provavelmente”. A multidão irrompeu em aplausos e gritos de “Trump! Trump! Trump!”
“Prepare-se – é tudo o que estou lhe dizendo”, disse Trump. “Muito em breve.”/W.POST e NYT