SAN SALVADOR - Logo após o governo Trump ter deportado centenas de venezuelanos para El Salvador no fim de semana, o presidente Nayib Bukele postou um vídeo de três minutos nas redes sociais. Ele mostrava homens algemados sendo conduzidos para fora de um avião, ao som de uma trilha sonora eletrônica dramática, e entrando na prisão, onde tiveram as cabeças raspadas.
Bukele também provocou o juiz dos EUA que, sem sucesso, ordenou que os voos retornassem, postando no X: “Opa. Tarde demais”, com um emoji de sorriso. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, compartilhou o vídeo, assim como Elon Musk. Trump agradeceu a Bukele nas redes sociais: “Não esqueceremos!”. Uma porta-voz da Casa Branca disse que El Salvador receberia US$ 6 milhões (cerca de R$ 34 milhões) pelos deportados venezuelanos.
O papel de El Salvador na estratégia de deportação de Trump sinaliza um novo nível de poder e visibilidade global para Bukele, que se tornou presidente aos 37 anos em 2019 e foi reeleito por uma grande margem no ano passado.

Ele se tornou o líder mais popular da América Latina por sua repressão às gangues, mesmo tendo suspendido liberdades civis fundamentais. Agora, ele está se posicionando como um aliado regional crucial para o presidente americano.
Bukele usa as mídias sociais para projetar uma imagem descolada e casual – frequentemente usando um boné de beisebol ao contrário e óculos de aviador – e para responder às críticas de sua abordagem autoritária ao crime.
Em 2022, após um aumento na violência de gangues abalar El Salvador, o governo impôs um estado de emergência que está em vigor até hoje. Bukele autorizou a polícia e as forças militares a realizar prisões em massa, o que, segundo grupos de direitos humanos, tem aprisionado sem devido processo legal pessoas sem qualquer ligação com gangues.
Muitos dos 85 mil salvadorenhos detidos desapareceram no sistema prisional, mantidos por anos sem julgamento e sem que suas famílias saibam se estão vivos.
Bukele também foi acusado de minar instituições democráticas. Ele aceitou a crítica, referindo-se a si mesmo como o “ditador mais legal” do mundo.
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O governo alimenta sua imagem com vídeos e fotos altamente produzidos. Eles mostram homens sem camisa algemados ou prisioneiros trabalhando em condições similares às de fábricas. Muitas vezes incluem filmagens do temido Centro de Confinamento de Terrorismo, CECOT, um local imponente que pode abrigar até 40 mil detentos.
A adesão de Bukele aos poderes de segurança emergenciais e sua promoção da criptomoeda Bitcoin lhe renderam elogios entre membros do grupo mais próximo de Trump.
Ele foi ovacionado de pé no evento conservador CPAC no ano passado e recentemente encontrou-se com Musk em uma planta da Tesla no Texas.
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No mês passado, Bukele levou Rubio em um passeio ensolarado pela residência presidencial fora de San Salvador. Depois disso, Rubio anunciou que Bukele havia oferecido receber deportados de qualquer nacionalidade, incluindo americanos, e abrigá-los no CECOT – mediante uma taxa.
A deportação criou pânico entre famílias venezuelanas, que temiam que seus parentes estivessem entre aqueles entregues às autoridades salvadorenhas./NYT