O procurador-geral da Líbia, Al Seddik Al Sour, ordenou a prisão provisória de oito funcionários do governo, incluindo o prefeito Derna, no âmbito de uma investigação sobre o rompimento das duas barragens que intensificaram as inundações fatais que afetaram o leste do país neste mês.
No grupo estão sete pessoas que ocupam ou ocuparam cargos de responsabilidade no departamento de recursos hídricos ou na administração das barragens na Líbia, todas suspeitas, entre outras acusações, de “má gestão e negligência”, informa o gabinete do procurador em um comunicado.
Abdulmonem Al Ghaithi, o prefeito de Derna, a cidade mais afetada pela tragédia, que havia sido afastado do cargo ao lado do restante do conselho municipal após a tragédia, também está no grupo de pessoas afetadas pela detenção provisória.
Pelo menos 11,3 mil pessoas morreram nas inundações provocadas pela tempestade Daniel, segundo um relatório da ONU. O número contrasta com os 3,8 mil mortos divulgados pelo Ministério da Saúde, que inclui apenas os corpos enterrados e registrados pelo governo. Até o momento não foram contabilizados os corpos que os moradores sepultaram. As autoridades locais e as organizações humanitárias internacionais calculam que mais de 10 mil pessoas estão desaparecidas.
Afetada pelas divisões desde a queda e assassinato do ditador Muamar Kadhafi em 2011, a Líbia tem dois governos rivais: um com sede em Trípoli, no oeste, reconhecido pela ONU e liderado por Abdelhamid Dbeibah, e outro com sede no leste, que tem um Parlamento e é liderado pelo influente marechal Khalifa Haftar.
O procurador-geral Al Sour anunciou em 15 de setembro a abertura de uma investigação sobre as circunstâncias das inundações. Ele afirma que a administração das barragens na Líbia apontava fissuras desde 1998 nas duas construções afetadas, mas nenhuma medida foi adotada para reparar os locais.
O comunicado publicado nesta segunda-feira, 25, afirma que a investigação afeta 16 pessoas, todas envolvidas em diversos níveis com a gestão das barragens na Líbia. As oito pessoas colocadas em prisão provisória foram ouvidas no domingo, 24, por uma comissão de investigação sobre o rompimento das barragens.
Leia mais sobre a tragédia na Líbia
Sete delas, incluindo o atual secretário do Departamento de Recursos Hídricos, seu antecessor e o chefe do gabinete local de Derna, assim como diretor do Departamento de Administração de Represas e seu antecessor, “não foram capazes de refutar sua responsabilidade na má gestão das missões administrativas e financeiras que estavam sob sua responsabilidade”, segundo o comunicado.
“As falhas que cometeram e sua negligência em termos de prevenção de desastres contribuíram para a catástrofe e seu balanço humano e econômico”, afirma o texto. O prefeito de Derna é suspeito de “abuso de poder e má gestão dos recursos destinados ao desenvolvimento da cidade”.
A investigação se concentra, em particular, um contrato assinado entre o Departamento Hídrico da Líbia e uma empresa turca para a manutenção das duas barragens e a transferência, em 2014, para esta última de “valores desproporcionais”, apesar de “ter violado os compromissos estipulados” no acordo, segundo um comunicado divulgado pelo procurador.
Um estudo de novembro de 2022 do engenheiro líbio Abdel-Wanis Ashour alertou sobre a possibilidade de “catástrofe” em Derna caso as autoridades não trabalhassem na manutenção das duas barragens./AFP