‘Desafio de Milei será garantir estabilidade na transição de governo’, diz sociólogo


Para Carlos de Angelis, a transição de governo será um processo bastante difícil na Argentina, e o novo presidente encontrará barreiras em cada passo do processo

Por Jorge C. Carrasco
Foto: Carlos de Angelis/Arquivo Pessoal
Entrevista comCarlos De AngelisSociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires

Na noite deste domingo, 19, a Argentina votou pela mudança e elegeu Javier Milei, o candidato libertário “outsider” que deve liderar o país pelos próximos 4 anos e navegar os grandes desafios de um país imerso em uma profunda crise econômica.

Para Carlos De Angelis, sociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires, os próximos meses serão críticos para Milei, que terá que ganhar também o apoio concreto de um Congresso fragmentado e negociar com uma oposição mais experiente e preparada, para garantir estabilidade durante a transição de governo e evitar uma piora na situação do país.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

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O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, acompanhado de sua irmã Karina Milei, no segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 19 de novembro de 2023.  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Como é possível interpretar a vitória de Milei?

A vitória de Milei pode ser vista em dois níveis: O primeiro é puramente eleitoral, onde Javier Milei ganha praticamente em todo o país e retorna ao que tinha conseguido nas primárias.

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A segunda leitura é sociológica, e portanto mais invisível. Há um profundo esgotamento tanto com o formato quanto com a proposta peronista. Há um desencanto e uma raiva bastante profundos em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não encontrar-se uma solução. E também há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram uma discussão aberta na sociedade, mas que impacta fundamentalmente no voto jovem — uma parte importante do eleitorado que votou a Milei massivamente.

Com a vitória de Milei, o que espera-se para os próximos meses na Argentina?

Os próximos meses vão ser críticos. Teremos uma transição de um governo peronista — que para bem ou para mal tem uma forte inserção territorial, maiorias no Congresso, governadores, etc — para uma força política que iniciou suas atividades faz dois anos e que somente havia-se apresentado na cidade de Buenos Aires. Houve uma diferença entre as eleições gerais e este segundo turno, que é o apoio de uma parte de Juntos por el Cambio de Macri e Patricia Bullrich, e ali abriu-se um pouco a discussão sobre qual poderia ser o formato do próximo governo. Já sabemos duas coisas: as propostas econômicas vão ser de choque, vão ser fortes. Temos que ver a profundidade em que vai acontecer esse choque.

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O candidato presidencial argentino da aliança La Libertad Avanza, Javier Milei, comemora com seus apoiadores após vencer o segundo turno das eleições presidenciais do lado de fora da sede de seu partido em Buenos Aires, em 19 de novembro de 2023. Foto: EMILIANO LASALVIA / AFP

As propostas de Milei eram muito radicais, uma reforma estatal que implica em um apequenamento do Estado a 1/3 do que é o Estado atual, com a eliminação de muitos ministérios e com uma estruturas que em muitos casos não funcionam bem (embora outras funcionem). Mas esta é uma proposta completamente reformista, privatizante, de dolarização, com a eliminação do Banco Central. Não consigo imaginar que essa transição aconteça em paz ou de forma tranquila no sentido econômico. Falou-se muito sobre a possibilidade deste processo modificar ou incrementar os níveis de inflação (que são altos). Agora, como se fala no futebol, a bola está com Milei e com quaisquer que forem sua trajetória e suas propostas de transição.

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Nas eleições gerais, o Congresso da Argentina ficou fragmentado. Você acredita que o novo presidente será capaz de fazer as reformas necessárias para tirar o país da crise?

Quando a gente vê Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza, ou seja, as forças de Macri e Milei, a gente consegue encontrar diferenças, sobretudo na Câmara de Deputados, onde Milei poderia ter apoio parlamentar para muitas das decisões. Algo que é minimizado é que ele vai ter que apresentar uma lei de ministérios, ou seja, a proposta de qual seria sua equipe de gabinete.

Mas isso requer uma lei, que habitualmente é uma lei que não se discute muito, porque se considera que cada presidente tem o direito de escolher seu formato de governo, mas isso já implica, per se, uma reforma de Estado em que muitas áreas vão desaparecer e outras vão ser integradas. Todas essas questões precisam um acordo com o Congresso, e imaginando que ele não consiga esse acordo, isto geraria uma situação de completa instabilidade política.

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Como esta eleição pode impactar a democracia argentina?

Apesar de algumas denúncias prévias à votação, em relação a supostas fraudes, as eleições na Argentina foram limpas e Milei é o legítimo vencedor. No entanto, conhecendo a cultura política argentina, é possível imaginar que muitas das propostas vão encontrar resistência nos setores de esquerda, nos setores kirchneristas, de movimentos sociais, e quiçá dos sindicatos que se oponham. Isto é um elemento que é difícil de predizer, mas ele vai ter que encontrar ferramentas para negociar também com a oposição.

Na noite deste domingo, 19, a Argentina votou pela mudança e elegeu Javier Milei, o candidato libertário “outsider” que deve liderar o país pelos próximos 4 anos e navegar os grandes desafios de um país imerso em uma profunda crise econômica.

Para Carlos De Angelis, sociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires, os próximos meses serão críticos para Milei, que terá que ganhar também o apoio concreto de um Congresso fragmentado e negociar com uma oposição mais experiente e preparada, para garantir estabilidade durante a transição de governo e evitar uma piora na situação do país.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, acompanhado de sua irmã Karina Milei, no segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 19 de novembro de 2023.  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Como é possível interpretar a vitória de Milei?

A vitória de Milei pode ser vista em dois níveis: O primeiro é puramente eleitoral, onde Javier Milei ganha praticamente em todo o país e retorna ao que tinha conseguido nas primárias.

A segunda leitura é sociológica, e portanto mais invisível. Há um profundo esgotamento tanto com o formato quanto com a proposta peronista. Há um desencanto e uma raiva bastante profundos em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não encontrar-se uma solução. E também há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram uma discussão aberta na sociedade, mas que impacta fundamentalmente no voto jovem — uma parte importante do eleitorado que votou a Milei massivamente.

Com a vitória de Milei, o que espera-se para os próximos meses na Argentina?

Os próximos meses vão ser críticos. Teremos uma transição de um governo peronista — que para bem ou para mal tem uma forte inserção territorial, maiorias no Congresso, governadores, etc — para uma força política que iniciou suas atividades faz dois anos e que somente havia-se apresentado na cidade de Buenos Aires. Houve uma diferença entre as eleições gerais e este segundo turno, que é o apoio de uma parte de Juntos por el Cambio de Macri e Patricia Bullrich, e ali abriu-se um pouco a discussão sobre qual poderia ser o formato do próximo governo. Já sabemos duas coisas: as propostas econômicas vão ser de choque, vão ser fortes. Temos que ver a profundidade em que vai acontecer esse choque.

O candidato presidencial argentino da aliança La Libertad Avanza, Javier Milei, comemora com seus apoiadores após vencer o segundo turno das eleições presidenciais do lado de fora da sede de seu partido em Buenos Aires, em 19 de novembro de 2023. Foto: EMILIANO LASALVIA / AFP

As propostas de Milei eram muito radicais, uma reforma estatal que implica em um apequenamento do Estado a 1/3 do que é o Estado atual, com a eliminação de muitos ministérios e com uma estruturas que em muitos casos não funcionam bem (embora outras funcionem). Mas esta é uma proposta completamente reformista, privatizante, de dolarização, com a eliminação do Banco Central. Não consigo imaginar que essa transição aconteça em paz ou de forma tranquila no sentido econômico. Falou-se muito sobre a possibilidade deste processo modificar ou incrementar os níveis de inflação (que são altos). Agora, como se fala no futebol, a bola está com Milei e com quaisquer que forem sua trajetória e suas propostas de transição.

Nas eleições gerais, o Congresso da Argentina ficou fragmentado. Você acredita que o novo presidente será capaz de fazer as reformas necessárias para tirar o país da crise?

Quando a gente vê Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza, ou seja, as forças de Macri e Milei, a gente consegue encontrar diferenças, sobretudo na Câmara de Deputados, onde Milei poderia ter apoio parlamentar para muitas das decisões. Algo que é minimizado é que ele vai ter que apresentar uma lei de ministérios, ou seja, a proposta de qual seria sua equipe de gabinete.

Mas isso requer uma lei, que habitualmente é uma lei que não se discute muito, porque se considera que cada presidente tem o direito de escolher seu formato de governo, mas isso já implica, per se, uma reforma de Estado em que muitas áreas vão desaparecer e outras vão ser integradas. Todas essas questões precisam um acordo com o Congresso, e imaginando que ele não consiga esse acordo, isto geraria uma situação de completa instabilidade política.

Como esta eleição pode impactar a democracia argentina?

Apesar de algumas denúncias prévias à votação, em relação a supostas fraudes, as eleições na Argentina foram limpas e Milei é o legítimo vencedor. No entanto, conhecendo a cultura política argentina, é possível imaginar que muitas das propostas vão encontrar resistência nos setores de esquerda, nos setores kirchneristas, de movimentos sociais, e quiçá dos sindicatos que se oponham. Isto é um elemento que é difícil de predizer, mas ele vai ter que encontrar ferramentas para negociar também com a oposição.

Na noite deste domingo, 19, a Argentina votou pela mudança e elegeu Javier Milei, o candidato libertário “outsider” que deve liderar o país pelos próximos 4 anos e navegar os grandes desafios de um país imerso em uma profunda crise econômica.

Para Carlos De Angelis, sociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires, os próximos meses serão críticos para Milei, que terá que ganhar também o apoio concreto de um Congresso fragmentado e negociar com uma oposição mais experiente e preparada, para garantir estabilidade durante a transição de governo e evitar uma piora na situação do país.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, acompanhado de sua irmã Karina Milei, no segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 19 de novembro de 2023.  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Como é possível interpretar a vitória de Milei?

A vitória de Milei pode ser vista em dois níveis: O primeiro é puramente eleitoral, onde Javier Milei ganha praticamente em todo o país e retorna ao que tinha conseguido nas primárias.

A segunda leitura é sociológica, e portanto mais invisível. Há um profundo esgotamento tanto com o formato quanto com a proposta peronista. Há um desencanto e uma raiva bastante profundos em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não encontrar-se uma solução. E também há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram uma discussão aberta na sociedade, mas que impacta fundamentalmente no voto jovem — uma parte importante do eleitorado que votou a Milei massivamente.

Com a vitória de Milei, o que espera-se para os próximos meses na Argentina?

Os próximos meses vão ser críticos. Teremos uma transição de um governo peronista — que para bem ou para mal tem uma forte inserção territorial, maiorias no Congresso, governadores, etc — para uma força política que iniciou suas atividades faz dois anos e que somente havia-se apresentado na cidade de Buenos Aires. Houve uma diferença entre as eleições gerais e este segundo turno, que é o apoio de uma parte de Juntos por el Cambio de Macri e Patricia Bullrich, e ali abriu-se um pouco a discussão sobre qual poderia ser o formato do próximo governo. Já sabemos duas coisas: as propostas econômicas vão ser de choque, vão ser fortes. Temos que ver a profundidade em que vai acontecer esse choque.

O candidato presidencial argentino da aliança La Libertad Avanza, Javier Milei, comemora com seus apoiadores após vencer o segundo turno das eleições presidenciais do lado de fora da sede de seu partido em Buenos Aires, em 19 de novembro de 2023. Foto: EMILIANO LASALVIA / AFP

As propostas de Milei eram muito radicais, uma reforma estatal que implica em um apequenamento do Estado a 1/3 do que é o Estado atual, com a eliminação de muitos ministérios e com uma estruturas que em muitos casos não funcionam bem (embora outras funcionem). Mas esta é uma proposta completamente reformista, privatizante, de dolarização, com a eliminação do Banco Central. Não consigo imaginar que essa transição aconteça em paz ou de forma tranquila no sentido econômico. Falou-se muito sobre a possibilidade deste processo modificar ou incrementar os níveis de inflação (que são altos). Agora, como se fala no futebol, a bola está com Milei e com quaisquer que forem sua trajetória e suas propostas de transição.

Nas eleições gerais, o Congresso da Argentina ficou fragmentado. Você acredita que o novo presidente será capaz de fazer as reformas necessárias para tirar o país da crise?

Quando a gente vê Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza, ou seja, as forças de Macri e Milei, a gente consegue encontrar diferenças, sobretudo na Câmara de Deputados, onde Milei poderia ter apoio parlamentar para muitas das decisões. Algo que é minimizado é que ele vai ter que apresentar uma lei de ministérios, ou seja, a proposta de qual seria sua equipe de gabinete.

Mas isso requer uma lei, que habitualmente é uma lei que não se discute muito, porque se considera que cada presidente tem o direito de escolher seu formato de governo, mas isso já implica, per se, uma reforma de Estado em que muitas áreas vão desaparecer e outras vão ser integradas. Todas essas questões precisam um acordo com o Congresso, e imaginando que ele não consiga esse acordo, isto geraria uma situação de completa instabilidade política.

Como esta eleição pode impactar a democracia argentina?

Apesar de algumas denúncias prévias à votação, em relação a supostas fraudes, as eleições na Argentina foram limpas e Milei é o legítimo vencedor. No entanto, conhecendo a cultura política argentina, é possível imaginar que muitas das propostas vão encontrar resistência nos setores de esquerda, nos setores kirchneristas, de movimentos sociais, e quiçá dos sindicatos que se oponham. Isto é um elemento que é difícil de predizer, mas ele vai ter que encontrar ferramentas para negociar também com a oposição.

Na noite deste domingo, 19, a Argentina votou pela mudança e elegeu Javier Milei, o candidato libertário “outsider” que deve liderar o país pelos próximos 4 anos e navegar os grandes desafios de um país imerso em uma profunda crise econômica.

Para Carlos De Angelis, sociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires, os próximos meses serão críticos para Milei, que terá que ganhar também o apoio concreto de um Congresso fragmentado e negociar com uma oposição mais experiente e preparada, para garantir estabilidade durante a transição de governo e evitar uma piora na situação do país.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, acompanhado de sua irmã Karina Milei, no segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 19 de novembro de 2023.  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Como é possível interpretar a vitória de Milei?

A vitória de Milei pode ser vista em dois níveis: O primeiro é puramente eleitoral, onde Javier Milei ganha praticamente em todo o país e retorna ao que tinha conseguido nas primárias.

A segunda leitura é sociológica, e portanto mais invisível. Há um profundo esgotamento tanto com o formato quanto com a proposta peronista. Há um desencanto e uma raiva bastante profundos em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não encontrar-se uma solução. E também há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram uma discussão aberta na sociedade, mas que impacta fundamentalmente no voto jovem — uma parte importante do eleitorado que votou a Milei massivamente.

Com a vitória de Milei, o que espera-se para os próximos meses na Argentina?

Os próximos meses vão ser críticos. Teremos uma transição de um governo peronista — que para bem ou para mal tem uma forte inserção territorial, maiorias no Congresso, governadores, etc — para uma força política que iniciou suas atividades faz dois anos e que somente havia-se apresentado na cidade de Buenos Aires. Houve uma diferença entre as eleições gerais e este segundo turno, que é o apoio de uma parte de Juntos por el Cambio de Macri e Patricia Bullrich, e ali abriu-se um pouco a discussão sobre qual poderia ser o formato do próximo governo. Já sabemos duas coisas: as propostas econômicas vão ser de choque, vão ser fortes. Temos que ver a profundidade em que vai acontecer esse choque.

O candidato presidencial argentino da aliança La Libertad Avanza, Javier Milei, comemora com seus apoiadores após vencer o segundo turno das eleições presidenciais do lado de fora da sede de seu partido em Buenos Aires, em 19 de novembro de 2023. Foto: EMILIANO LASALVIA / AFP

As propostas de Milei eram muito radicais, uma reforma estatal que implica em um apequenamento do Estado a 1/3 do que é o Estado atual, com a eliminação de muitos ministérios e com uma estruturas que em muitos casos não funcionam bem (embora outras funcionem). Mas esta é uma proposta completamente reformista, privatizante, de dolarização, com a eliminação do Banco Central. Não consigo imaginar que essa transição aconteça em paz ou de forma tranquila no sentido econômico. Falou-se muito sobre a possibilidade deste processo modificar ou incrementar os níveis de inflação (que são altos). Agora, como se fala no futebol, a bola está com Milei e com quaisquer que forem sua trajetória e suas propostas de transição.

Nas eleições gerais, o Congresso da Argentina ficou fragmentado. Você acredita que o novo presidente será capaz de fazer as reformas necessárias para tirar o país da crise?

Quando a gente vê Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza, ou seja, as forças de Macri e Milei, a gente consegue encontrar diferenças, sobretudo na Câmara de Deputados, onde Milei poderia ter apoio parlamentar para muitas das decisões. Algo que é minimizado é que ele vai ter que apresentar uma lei de ministérios, ou seja, a proposta de qual seria sua equipe de gabinete.

Mas isso requer uma lei, que habitualmente é uma lei que não se discute muito, porque se considera que cada presidente tem o direito de escolher seu formato de governo, mas isso já implica, per se, uma reforma de Estado em que muitas áreas vão desaparecer e outras vão ser integradas. Todas essas questões precisam um acordo com o Congresso, e imaginando que ele não consiga esse acordo, isto geraria uma situação de completa instabilidade política.

Como esta eleição pode impactar a democracia argentina?

Apesar de algumas denúncias prévias à votação, em relação a supostas fraudes, as eleições na Argentina foram limpas e Milei é o legítimo vencedor. No entanto, conhecendo a cultura política argentina, é possível imaginar que muitas das propostas vão encontrar resistência nos setores de esquerda, nos setores kirchneristas, de movimentos sociais, e quiçá dos sindicatos que se oponham. Isto é um elemento que é difícil de predizer, mas ele vai ter que encontrar ferramentas para negociar também com a oposição.

Na noite deste domingo, 19, a Argentina votou pela mudança e elegeu Javier Milei, o candidato libertário “outsider” que deve liderar o país pelos próximos 4 anos e navegar os grandes desafios de um país imerso em uma profunda crise econômica.

Para Carlos De Angelis, sociólogo e professor de Opinião Pública da Universidade de Buenos Aires, os próximos meses serão críticos para Milei, que terá que ganhar também o apoio concreto de um Congresso fragmentado e negociar com uma oposição mais experiente e preparada, para garantir estabilidade durante a transição de governo e evitar uma piora na situação do país.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, acompanhado de sua irmã Karina Milei, no segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 19 de novembro de 2023.  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Como é possível interpretar a vitória de Milei?

A vitória de Milei pode ser vista em dois níveis: O primeiro é puramente eleitoral, onde Javier Milei ganha praticamente em todo o país e retorna ao que tinha conseguido nas primárias.

A segunda leitura é sociológica, e portanto mais invisível. Há um profundo esgotamento tanto com o formato quanto com a proposta peronista. Há um desencanto e uma raiva bastante profundos em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não encontrar-se uma solução. E também há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram uma discussão aberta na sociedade, mas que impacta fundamentalmente no voto jovem — uma parte importante do eleitorado que votou a Milei massivamente.

Com a vitória de Milei, o que espera-se para os próximos meses na Argentina?

Os próximos meses vão ser críticos. Teremos uma transição de um governo peronista — que para bem ou para mal tem uma forte inserção territorial, maiorias no Congresso, governadores, etc — para uma força política que iniciou suas atividades faz dois anos e que somente havia-se apresentado na cidade de Buenos Aires. Houve uma diferença entre as eleições gerais e este segundo turno, que é o apoio de uma parte de Juntos por el Cambio de Macri e Patricia Bullrich, e ali abriu-se um pouco a discussão sobre qual poderia ser o formato do próximo governo. Já sabemos duas coisas: as propostas econômicas vão ser de choque, vão ser fortes. Temos que ver a profundidade em que vai acontecer esse choque.

O candidato presidencial argentino da aliança La Libertad Avanza, Javier Milei, comemora com seus apoiadores após vencer o segundo turno das eleições presidenciais do lado de fora da sede de seu partido em Buenos Aires, em 19 de novembro de 2023. Foto: EMILIANO LASALVIA / AFP

As propostas de Milei eram muito radicais, uma reforma estatal que implica em um apequenamento do Estado a 1/3 do que é o Estado atual, com a eliminação de muitos ministérios e com uma estruturas que em muitos casos não funcionam bem (embora outras funcionem). Mas esta é uma proposta completamente reformista, privatizante, de dolarização, com a eliminação do Banco Central. Não consigo imaginar que essa transição aconteça em paz ou de forma tranquila no sentido econômico. Falou-se muito sobre a possibilidade deste processo modificar ou incrementar os níveis de inflação (que são altos). Agora, como se fala no futebol, a bola está com Milei e com quaisquer que forem sua trajetória e suas propostas de transição.

Nas eleições gerais, o Congresso da Argentina ficou fragmentado. Você acredita que o novo presidente será capaz de fazer as reformas necessárias para tirar o país da crise?

Quando a gente vê Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza, ou seja, as forças de Macri e Milei, a gente consegue encontrar diferenças, sobretudo na Câmara de Deputados, onde Milei poderia ter apoio parlamentar para muitas das decisões. Algo que é minimizado é que ele vai ter que apresentar uma lei de ministérios, ou seja, a proposta de qual seria sua equipe de gabinete.

Mas isso requer uma lei, que habitualmente é uma lei que não se discute muito, porque se considera que cada presidente tem o direito de escolher seu formato de governo, mas isso já implica, per se, uma reforma de Estado em que muitas áreas vão desaparecer e outras vão ser integradas. Todas essas questões precisam um acordo com o Congresso, e imaginando que ele não consiga esse acordo, isto geraria uma situação de completa instabilidade política.

Como esta eleição pode impactar a democracia argentina?

Apesar de algumas denúncias prévias à votação, em relação a supostas fraudes, as eleições na Argentina foram limpas e Milei é o legítimo vencedor. No entanto, conhecendo a cultura política argentina, é possível imaginar que muitas das propostas vão encontrar resistência nos setores de esquerda, nos setores kirchneristas, de movimentos sociais, e quiçá dos sindicatos que se oponham. Isto é um elemento que é difícil de predizer, mas ele vai ter que encontrar ferramentas para negociar também com a oposição.

Entrevista por Jorge C. Carrasco

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