WASHINGTON - Os democratas aumentaram ontem a pressão para a divulgação de uma denúncia feita contra Donald Trump e intensificaram os pedidos de impeachment contra o presidente. Trump voltou a dizer que não fez nada de errado ao ligar para o líder ucraniano, Volodmir Zelenski, e conversar sobre o filho de Joe Biden, um possível rival na eleição de 2020.
Segundo o jornal The New York Times, no entanto, Trump mandou congelar US$ 391 milhões em ajuda à Ucrânia dias antes de falar por telefone com o presidente ucraniano sobre Joe Biden.
O impeachment do presidente divide os próprios democratas. A líder do partido na Câmara, Nancy Pelosi, não pretende iniciar um processo, segundo ela, "a menos que os americanos queiram". No domingo, porém, ela mudou o discurso e afirmou, em carta aos seus colegas democratas, que a situação mudará se o governo seguir barrando o acesso do Congresso à denúncia contra Trump.
"Se o governo persistir no bloqueio da denúncia de um funcionário ao Congresso, seria uma quebra séria dos deveres constitucionais do presidente. Entraremos em um novo e grave capítulo de ilegalidade que nos levará a um novo estágio de investigação", alertou Pelosi – sem citar a palavra "impeachment".
Na quinta-feira, a Comissão de Inteligência da Câmara tem mais uma audiência – a segunda – sobre a possibilidade de abrir um processo de impeachment contra o presidente. Mais da metade dos deputados democratas diz apoiar o processo e há a expectativa de que outros também se manifestem a favor.
A outra parte do partido, porém, acredita que a questão ainda divide os americanos e tomar uma atitude precipitada apenas alienaria mais eleitores centristas na véspera de um ano eleitoral. Além disso, uma disputa no Congresso sobre a destituição do presidente poderia inflamar a base do Partido Republicano e ajudar Trump a obter um apoio que ele hoje não tem.
Para efetivamente destituir o presidente, porém, seria ainda mais complicado, porque exigiria o apoio de boa parte da bancada republicana no Senado – um núcleo duro do governo Trump.
A maioria dos congressistas republicanos se manteve em silêncio sobre os relatos de que o presidente teria pressionado o líder ucraniano a investigar Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente.
Nesta segunda-feira, 23, no primeiro dia da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Trump demonstrou confusão. Primeiro, reconheceu a ligação e disse que não enviaria nenhuma ajuda à Ucrânia. “Por que você daria dinheiro a um país que você acha que é corrupto?”, disse. Questionado mais tarde se o presidente ucraniano receberia o dinheiro em troca da investigação, ele negou. “Eu não fiz isso. Se você vir a ligação (transcrição), ficará muito surpreso”, disse Trump.
Seus comentários deram margem a questionamentos sobre se houve ou não pressão para obter ajuda da Ucrânia. Trump tem buscado implicar Biden e seu filho em um esquema de corrupção. Hunter integrou a diretoria de uma companhia de gás ucraniana quando seu pai era vice-presidente dos EUA sob o governo de Obama. Apesar das denúncias, segundo o governo ucraniano, não há evidências de crime cometido por Biden ou pelo filho.
Denúncia
O assunto ganhou peso depois que um funcionário do governo protocolou uma denúncia anônima que relatava uma conversa suspeita entre Trump e Zelenski, em 25 de julho. Os democratas exigem acesso à transcrição do telefonema, mas o Diretório de Inteligência Nacional nega a liberação do conteúdo. Ainda ontem, os presidentes de três comissões da Câmara enviaram uma carta ao secretário de Estado, Mike Pompeo, ameaçando intimá-lo se ele não apresentar o material sobre a denúncia do funcionário do governo americano. / AP, NYT e W. POST