Eleição na Colômbia: Direita amplia apoio a populista contra ex-guerrilheiro no 2º turno


Para conservadores moderados o único que pode salvar o país da esquerda é Hernández, que publicamente rejeitou qualquer respaldo como estratégia para se manter antissistema

Por Carolina Marins
Atualização:

Grande derrotado da eleição de domingo, 29, o establishment político colombiano será decisivo no segundo turno entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista radical Rodolfo Hernández em 19 de junho. Ainda na noite da eleição, o terceiro colocado, Federico “Fico” Gutiérrez, de centro-direita, declarou apoio ao candidato populista, que o superou na reta final da campanha e o tirou da disputa. Ao longo desta segunda-feira, 30, os dois candidatos começaram a articular alianças.

Candidatos de partidos menores se somaram a Fico no respaldo ao ex-prefeito de Bucaramanga. Além deles, vários representantes do Centro Democrático, o partido no poder, se alinharam a Hernández. A Coalizão Centro Esperança, cujo candidato presidencial, Sergio Fajardo, foi um dos derrotados nas eleições de domingo na Colômbia, liberou seus membros para decidir quem apoiar no segundo turno. Ex-prefeito de Medellín e considerado um moderado, Fajardo, que obteve 4,2% dos votos, conversou com Hernández sobre um possível apoio.

Mas em um vídeo divulgado a seus seguidores, Hernández disse que não pretende fazer alianças, aparentemente tentando manter os votos dos que estão dispostos a apoiá-lo, sem perder os daqueles que não querem que ele se alie a ninguém. “Zero alianças, zero Uribe, zero Petro, zero tudo. Vamos trabalhar com os colombianos. Jurei ser independente e continuo sendo independente”, afirmou.

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O presidenciável Federico 'Fico' Gutiérrez assumiu a derrota em um discurso na noite de domingo, 29, e declarou apoio ao populista Rodolfo Hernández. Foto: Carlos Ortega/ EFE 

Em terceiro lugar nas pesquisas na maior parte da campanha, Hernández contou com um crescimento surpreendente na reta final do 1° turno para superar Gutiérrez, até então apontado como favorito da direita colombiana para chegar ao 2° turno. No discurso em que reconheceu sua derrota, Gutiérrez declarou apoio ao rival, afirmando que queria salvar a Colômbia do “perigo” que representa, em sua avaliação, Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19.

“Não vamos pôr em risco o futuro da Colômbia, de nossas famílias e de nossos filhos”, disse Gutiérrez, ao confirmar seu apoio e o de seu vice, Rodrigo Lara Sánchez, ao magnata -- uma manifestação entendida como um convite a seus eleitores para aderirem à candidatura de Hernández.

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Declarações de apoio à candidatura de Hernández começaram a surgir antes mesmo do dia da votação do 1° turno. A então candidata Ingrid Betancourt, retirou seu nome da disputa na semana passada, pedindo votos para “apoiar o único candidato que hoje pode derrotar o sistema”.

“O que vem pela frente vai ser justamente uma soma de apoios, a maior parte indo para a candidatura de Rodolfo Hernández”, explica Patricia Muñoz Yi, professora na Faculdade de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Pontificia Universidad Javeriana. “Não se prevê que um eventual apoio a Gustavo Petro possa sair da candidatura de Federico Gutiérrez.”

Discurso antiestablishment ganha votos

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Tanto Hernández quanto Petro se apresentam aos eleitores como candidatos antissistema, prometendo mudanças em relação ao governo do atual presidente Iván Duque. No entanto, enquanto Petro propõe uma abordagem à esquerda, pautada na “democratização” dos recursos e no aumento de impostos às elites, Hernández diz ser contra o aumento de impostos e fez uma campanha quase monotemática mirando o combate à corrupção.

Os candidatos do Pacto Histórico, Gustavo Petro e Francia Márquez à presidência e vice-presidência da Colômbia Foto: Santiago Arcos/Reuters

Magnata de 77 anos, Hernández concorreu sem um programa de governo claro, decidiu não participar dos últimos debates e provocou espanto no passado por dizer em uma entrevista ser admirador de Adolf Hitler – que anos mais tarde ele disse ter confundido com Albert Einstein.

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O grande questionamento agora é como Hernández vai manter esta imagem de independente e antissistema ao receber apoio das elites políticas, incluindo de políticos uribistas, movimento conservador, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que controla a política colombiana há décadas e foi o grande derrotado nestas eleições.

“Rodolfo Hernández tem sido um crítico deste governo, do Congresso e da classe política em geral, e neste momento recebe o apoio desses políticos. Como vai transformar essa imagem que vem construindo? Vai romper com esse princípio que o caracterizou ao longo de sua campanha de se manter independente, isolado das estruturas políticas tradicionais, questionando permanentemente o fenômeno da corrupção?”, questiona Patricia Muñoz Yi.

Embora Hernández já tenha conversado por telefone com seus antigos adversários, Gutiérrez e Sergio Fajardo, segundo a imprensa local, ele nega que esteja costurando alianças com os mesmos. “Não vamos fazer alianças porque me inscrevi como independente. Esse não é o meu compromisso”, disse. “Vamos receber apoio para a filosofia de governo e eu serei o executor dessa filosofia.”

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Para o analista político Johan Caldas, da Universidad de la Sabana, parte do eleitorado conquistado por Hernández pertence à direita colombiana que abandonou Gutiérrez no último momento, optando por um candidato com maior probabilidade de derrotar Petro no segundo turno por não carregar o peso da continuidade do governo Duque.

Petro precisará conter ascensão de Hernández

Por outro lado, uma ascensão de Petro assusta setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um “salto no vazio”, levando o país a um caminho de ainda mais turbulência política e econômica. Seu passado como guerrilheiro do M-19 e sua antiga amizade e aliança com o chavismo, também aumentam a desconfiança de diversos setores sobre ele.

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Justamente por causa dessa desconfiança somada a um forte sentimento anti-Petro em parte da sociedade colombiana, o esquerdista terá caminho difícil para conquistar os votos que necessita. A aliança Pacto Histórico, de Petro e Francia Márquez, obteve mais de 8,5 milhões de votos, mas para o segundo turno precisará de mais 1 milhão pelo menos, em um cenário em que seu adversário só tende a crescer.

“Petro tem a grande tarefa de reverter essa tendência de votos de Rodolfo Hernández e aí vai ter que se dirigir a setores jovens da população”, afirma Patricia Muñoz Yi. “Mas sobretudo vai ter que se dirigir para aqueles que estão apoiando Rodolfo Hernández mais por desacordo com o atual governo do que por uma posição ideológica de direita.”

Neste sentido, será muito difícil que Petro obtenha parte dos votos de Gutiérrez, os mais disputados deste segundo turno, já que são justamente este os eleitores que temem a esquerda. Sobrará o centro e praticamente a soma de todos os outros candidatos que ficaram abaixo de Fico Gutiérrez.

“Outro caminho, e ontem ele apontou isso em seu discurso, é estabelecer diálogos com a classe empresarial, com representantes desses setores que podem se sentir intranquilos pela presença de um candidato como Rodolfo Hernández na presidência, por sua personalidade e esse caráter imprevisível que tem seu escasso plano de governo”, prevê a professora da Pontificia Universidad Javeriana./ Com informações de AP e EFE

Grande derrotado da eleição de domingo, 29, o establishment político colombiano será decisivo no segundo turno entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista radical Rodolfo Hernández em 19 de junho. Ainda na noite da eleição, o terceiro colocado, Federico “Fico” Gutiérrez, de centro-direita, declarou apoio ao candidato populista, que o superou na reta final da campanha e o tirou da disputa. Ao longo desta segunda-feira, 30, os dois candidatos começaram a articular alianças.

Candidatos de partidos menores se somaram a Fico no respaldo ao ex-prefeito de Bucaramanga. Além deles, vários representantes do Centro Democrático, o partido no poder, se alinharam a Hernández. A Coalizão Centro Esperança, cujo candidato presidencial, Sergio Fajardo, foi um dos derrotados nas eleições de domingo na Colômbia, liberou seus membros para decidir quem apoiar no segundo turno. Ex-prefeito de Medellín e considerado um moderado, Fajardo, que obteve 4,2% dos votos, conversou com Hernández sobre um possível apoio.

Mas em um vídeo divulgado a seus seguidores, Hernández disse que não pretende fazer alianças, aparentemente tentando manter os votos dos que estão dispostos a apoiá-lo, sem perder os daqueles que não querem que ele se alie a ninguém. “Zero alianças, zero Uribe, zero Petro, zero tudo. Vamos trabalhar com os colombianos. Jurei ser independente e continuo sendo independente”, afirmou.

O presidenciável Federico 'Fico' Gutiérrez assumiu a derrota em um discurso na noite de domingo, 29, e declarou apoio ao populista Rodolfo Hernández. Foto: Carlos Ortega/ EFE 

Em terceiro lugar nas pesquisas na maior parte da campanha, Hernández contou com um crescimento surpreendente na reta final do 1° turno para superar Gutiérrez, até então apontado como favorito da direita colombiana para chegar ao 2° turno. No discurso em que reconheceu sua derrota, Gutiérrez declarou apoio ao rival, afirmando que queria salvar a Colômbia do “perigo” que representa, em sua avaliação, Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19.

“Não vamos pôr em risco o futuro da Colômbia, de nossas famílias e de nossos filhos”, disse Gutiérrez, ao confirmar seu apoio e o de seu vice, Rodrigo Lara Sánchez, ao magnata -- uma manifestação entendida como um convite a seus eleitores para aderirem à candidatura de Hernández.

Declarações de apoio à candidatura de Hernández começaram a surgir antes mesmo do dia da votação do 1° turno. A então candidata Ingrid Betancourt, retirou seu nome da disputa na semana passada, pedindo votos para “apoiar o único candidato que hoje pode derrotar o sistema”.

“O que vem pela frente vai ser justamente uma soma de apoios, a maior parte indo para a candidatura de Rodolfo Hernández”, explica Patricia Muñoz Yi, professora na Faculdade de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Pontificia Universidad Javeriana. “Não se prevê que um eventual apoio a Gustavo Petro possa sair da candidatura de Federico Gutiérrez.”

Discurso antiestablishment ganha votos

Tanto Hernández quanto Petro se apresentam aos eleitores como candidatos antissistema, prometendo mudanças em relação ao governo do atual presidente Iván Duque. No entanto, enquanto Petro propõe uma abordagem à esquerda, pautada na “democratização” dos recursos e no aumento de impostos às elites, Hernández diz ser contra o aumento de impostos e fez uma campanha quase monotemática mirando o combate à corrupção.

Os candidatos do Pacto Histórico, Gustavo Petro e Francia Márquez à presidência e vice-presidência da Colômbia Foto: Santiago Arcos/Reuters

Magnata de 77 anos, Hernández concorreu sem um programa de governo claro, decidiu não participar dos últimos debates e provocou espanto no passado por dizer em uma entrevista ser admirador de Adolf Hitler – que anos mais tarde ele disse ter confundido com Albert Einstein.

O grande questionamento agora é como Hernández vai manter esta imagem de independente e antissistema ao receber apoio das elites políticas, incluindo de políticos uribistas, movimento conservador, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que controla a política colombiana há décadas e foi o grande derrotado nestas eleições.

“Rodolfo Hernández tem sido um crítico deste governo, do Congresso e da classe política em geral, e neste momento recebe o apoio desses políticos. Como vai transformar essa imagem que vem construindo? Vai romper com esse princípio que o caracterizou ao longo de sua campanha de se manter independente, isolado das estruturas políticas tradicionais, questionando permanentemente o fenômeno da corrupção?”, questiona Patricia Muñoz Yi.

Embora Hernández já tenha conversado por telefone com seus antigos adversários, Gutiérrez e Sergio Fajardo, segundo a imprensa local, ele nega que esteja costurando alianças com os mesmos. “Não vamos fazer alianças porque me inscrevi como independente. Esse não é o meu compromisso”, disse. “Vamos receber apoio para a filosofia de governo e eu serei o executor dessa filosofia.”

Para o analista político Johan Caldas, da Universidad de la Sabana, parte do eleitorado conquistado por Hernández pertence à direita colombiana que abandonou Gutiérrez no último momento, optando por um candidato com maior probabilidade de derrotar Petro no segundo turno por não carregar o peso da continuidade do governo Duque.

Petro precisará conter ascensão de Hernández

Por outro lado, uma ascensão de Petro assusta setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um “salto no vazio”, levando o país a um caminho de ainda mais turbulência política e econômica. Seu passado como guerrilheiro do M-19 e sua antiga amizade e aliança com o chavismo, também aumentam a desconfiança de diversos setores sobre ele.

Justamente por causa dessa desconfiança somada a um forte sentimento anti-Petro em parte da sociedade colombiana, o esquerdista terá caminho difícil para conquistar os votos que necessita. A aliança Pacto Histórico, de Petro e Francia Márquez, obteve mais de 8,5 milhões de votos, mas para o segundo turno precisará de mais 1 milhão pelo menos, em um cenário em que seu adversário só tende a crescer.

“Petro tem a grande tarefa de reverter essa tendência de votos de Rodolfo Hernández e aí vai ter que se dirigir a setores jovens da população”, afirma Patricia Muñoz Yi. “Mas sobretudo vai ter que se dirigir para aqueles que estão apoiando Rodolfo Hernández mais por desacordo com o atual governo do que por uma posição ideológica de direita.”

Neste sentido, será muito difícil que Petro obtenha parte dos votos de Gutiérrez, os mais disputados deste segundo turno, já que são justamente este os eleitores que temem a esquerda. Sobrará o centro e praticamente a soma de todos os outros candidatos que ficaram abaixo de Fico Gutiérrez.

“Outro caminho, e ontem ele apontou isso em seu discurso, é estabelecer diálogos com a classe empresarial, com representantes desses setores que podem se sentir intranquilos pela presença de um candidato como Rodolfo Hernández na presidência, por sua personalidade e esse caráter imprevisível que tem seu escasso plano de governo”, prevê a professora da Pontificia Universidad Javeriana./ Com informações de AP e EFE

Grande derrotado da eleição de domingo, 29, o establishment político colombiano será decisivo no segundo turno entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista radical Rodolfo Hernández em 19 de junho. Ainda na noite da eleição, o terceiro colocado, Federico “Fico” Gutiérrez, de centro-direita, declarou apoio ao candidato populista, que o superou na reta final da campanha e o tirou da disputa. Ao longo desta segunda-feira, 30, os dois candidatos começaram a articular alianças.

Candidatos de partidos menores se somaram a Fico no respaldo ao ex-prefeito de Bucaramanga. Além deles, vários representantes do Centro Democrático, o partido no poder, se alinharam a Hernández. A Coalizão Centro Esperança, cujo candidato presidencial, Sergio Fajardo, foi um dos derrotados nas eleições de domingo na Colômbia, liberou seus membros para decidir quem apoiar no segundo turno. Ex-prefeito de Medellín e considerado um moderado, Fajardo, que obteve 4,2% dos votos, conversou com Hernández sobre um possível apoio.

Mas em um vídeo divulgado a seus seguidores, Hernández disse que não pretende fazer alianças, aparentemente tentando manter os votos dos que estão dispostos a apoiá-lo, sem perder os daqueles que não querem que ele se alie a ninguém. “Zero alianças, zero Uribe, zero Petro, zero tudo. Vamos trabalhar com os colombianos. Jurei ser independente e continuo sendo independente”, afirmou.

O presidenciável Federico 'Fico' Gutiérrez assumiu a derrota em um discurso na noite de domingo, 29, e declarou apoio ao populista Rodolfo Hernández. Foto: Carlos Ortega/ EFE 

Em terceiro lugar nas pesquisas na maior parte da campanha, Hernández contou com um crescimento surpreendente na reta final do 1° turno para superar Gutiérrez, até então apontado como favorito da direita colombiana para chegar ao 2° turno. No discurso em que reconheceu sua derrota, Gutiérrez declarou apoio ao rival, afirmando que queria salvar a Colômbia do “perigo” que representa, em sua avaliação, Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19.

“Não vamos pôr em risco o futuro da Colômbia, de nossas famílias e de nossos filhos”, disse Gutiérrez, ao confirmar seu apoio e o de seu vice, Rodrigo Lara Sánchez, ao magnata -- uma manifestação entendida como um convite a seus eleitores para aderirem à candidatura de Hernández.

Declarações de apoio à candidatura de Hernández começaram a surgir antes mesmo do dia da votação do 1° turno. A então candidata Ingrid Betancourt, retirou seu nome da disputa na semana passada, pedindo votos para “apoiar o único candidato que hoje pode derrotar o sistema”.

“O que vem pela frente vai ser justamente uma soma de apoios, a maior parte indo para a candidatura de Rodolfo Hernández”, explica Patricia Muñoz Yi, professora na Faculdade de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Pontificia Universidad Javeriana. “Não se prevê que um eventual apoio a Gustavo Petro possa sair da candidatura de Federico Gutiérrez.”

Discurso antiestablishment ganha votos

Tanto Hernández quanto Petro se apresentam aos eleitores como candidatos antissistema, prometendo mudanças em relação ao governo do atual presidente Iván Duque. No entanto, enquanto Petro propõe uma abordagem à esquerda, pautada na “democratização” dos recursos e no aumento de impostos às elites, Hernández diz ser contra o aumento de impostos e fez uma campanha quase monotemática mirando o combate à corrupção.

Os candidatos do Pacto Histórico, Gustavo Petro e Francia Márquez à presidência e vice-presidência da Colômbia Foto: Santiago Arcos/Reuters

Magnata de 77 anos, Hernández concorreu sem um programa de governo claro, decidiu não participar dos últimos debates e provocou espanto no passado por dizer em uma entrevista ser admirador de Adolf Hitler – que anos mais tarde ele disse ter confundido com Albert Einstein.

O grande questionamento agora é como Hernández vai manter esta imagem de independente e antissistema ao receber apoio das elites políticas, incluindo de políticos uribistas, movimento conservador, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que controla a política colombiana há décadas e foi o grande derrotado nestas eleições.

“Rodolfo Hernández tem sido um crítico deste governo, do Congresso e da classe política em geral, e neste momento recebe o apoio desses políticos. Como vai transformar essa imagem que vem construindo? Vai romper com esse princípio que o caracterizou ao longo de sua campanha de se manter independente, isolado das estruturas políticas tradicionais, questionando permanentemente o fenômeno da corrupção?”, questiona Patricia Muñoz Yi.

Embora Hernández já tenha conversado por telefone com seus antigos adversários, Gutiérrez e Sergio Fajardo, segundo a imprensa local, ele nega que esteja costurando alianças com os mesmos. “Não vamos fazer alianças porque me inscrevi como independente. Esse não é o meu compromisso”, disse. “Vamos receber apoio para a filosofia de governo e eu serei o executor dessa filosofia.”

Para o analista político Johan Caldas, da Universidad de la Sabana, parte do eleitorado conquistado por Hernández pertence à direita colombiana que abandonou Gutiérrez no último momento, optando por um candidato com maior probabilidade de derrotar Petro no segundo turno por não carregar o peso da continuidade do governo Duque.

Petro precisará conter ascensão de Hernández

Por outro lado, uma ascensão de Petro assusta setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um “salto no vazio”, levando o país a um caminho de ainda mais turbulência política e econômica. Seu passado como guerrilheiro do M-19 e sua antiga amizade e aliança com o chavismo, também aumentam a desconfiança de diversos setores sobre ele.

Justamente por causa dessa desconfiança somada a um forte sentimento anti-Petro em parte da sociedade colombiana, o esquerdista terá caminho difícil para conquistar os votos que necessita. A aliança Pacto Histórico, de Petro e Francia Márquez, obteve mais de 8,5 milhões de votos, mas para o segundo turno precisará de mais 1 milhão pelo menos, em um cenário em que seu adversário só tende a crescer.

“Petro tem a grande tarefa de reverter essa tendência de votos de Rodolfo Hernández e aí vai ter que se dirigir a setores jovens da população”, afirma Patricia Muñoz Yi. “Mas sobretudo vai ter que se dirigir para aqueles que estão apoiando Rodolfo Hernández mais por desacordo com o atual governo do que por uma posição ideológica de direita.”

Neste sentido, será muito difícil que Petro obtenha parte dos votos de Gutiérrez, os mais disputados deste segundo turno, já que são justamente este os eleitores que temem a esquerda. Sobrará o centro e praticamente a soma de todos os outros candidatos que ficaram abaixo de Fico Gutiérrez.

“Outro caminho, e ontem ele apontou isso em seu discurso, é estabelecer diálogos com a classe empresarial, com representantes desses setores que podem se sentir intranquilos pela presença de um candidato como Rodolfo Hernández na presidência, por sua personalidade e esse caráter imprevisível que tem seu escasso plano de governo”, prevê a professora da Pontificia Universidad Javeriana./ Com informações de AP e EFE

Grande derrotado da eleição de domingo, 29, o establishment político colombiano será decisivo no segundo turno entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista radical Rodolfo Hernández em 19 de junho. Ainda na noite da eleição, o terceiro colocado, Federico “Fico” Gutiérrez, de centro-direita, declarou apoio ao candidato populista, que o superou na reta final da campanha e o tirou da disputa. Ao longo desta segunda-feira, 30, os dois candidatos começaram a articular alianças.

Candidatos de partidos menores se somaram a Fico no respaldo ao ex-prefeito de Bucaramanga. Além deles, vários representantes do Centro Democrático, o partido no poder, se alinharam a Hernández. A Coalizão Centro Esperança, cujo candidato presidencial, Sergio Fajardo, foi um dos derrotados nas eleições de domingo na Colômbia, liberou seus membros para decidir quem apoiar no segundo turno. Ex-prefeito de Medellín e considerado um moderado, Fajardo, que obteve 4,2% dos votos, conversou com Hernández sobre um possível apoio.

Mas em um vídeo divulgado a seus seguidores, Hernández disse que não pretende fazer alianças, aparentemente tentando manter os votos dos que estão dispostos a apoiá-lo, sem perder os daqueles que não querem que ele se alie a ninguém. “Zero alianças, zero Uribe, zero Petro, zero tudo. Vamos trabalhar com os colombianos. Jurei ser independente e continuo sendo independente”, afirmou.

O presidenciável Federico 'Fico' Gutiérrez assumiu a derrota em um discurso na noite de domingo, 29, e declarou apoio ao populista Rodolfo Hernández. Foto: Carlos Ortega/ EFE 

Em terceiro lugar nas pesquisas na maior parte da campanha, Hernández contou com um crescimento surpreendente na reta final do 1° turno para superar Gutiérrez, até então apontado como favorito da direita colombiana para chegar ao 2° turno. No discurso em que reconheceu sua derrota, Gutiérrez declarou apoio ao rival, afirmando que queria salvar a Colômbia do “perigo” que representa, em sua avaliação, Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro do M-19.

“Não vamos pôr em risco o futuro da Colômbia, de nossas famílias e de nossos filhos”, disse Gutiérrez, ao confirmar seu apoio e o de seu vice, Rodrigo Lara Sánchez, ao magnata -- uma manifestação entendida como um convite a seus eleitores para aderirem à candidatura de Hernández.

Declarações de apoio à candidatura de Hernández começaram a surgir antes mesmo do dia da votação do 1° turno. A então candidata Ingrid Betancourt, retirou seu nome da disputa na semana passada, pedindo votos para “apoiar o único candidato que hoje pode derrotar o sistema”.

“O que vem pela frente vai ser justamente uma soma de apoios, a maior parte indo para a candidatura de Rodolfo Hernández”, explica Patricia Muñoz Yi, professora na Faculdade de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Pontificia Universidad Javeriana. “Não se prevê que um eventual apoio a Gustavo Petro possa sair da candidatura de Federico Gutiérrez.”

Discurso antiestablishment ganha votos

Tanto Hernández quanto Petro se apresentam aos eleitores como candidatos antissistema, prometendo mudanças em relação ao governo do atual presidente Iván Duque. No entanto, enquanto Petro propõe uma abordagem à esquerda, pautada na “democratização” dos recursos e no aumento de impostos às elites, Hernández diz ser contra o aumento de impostos e fez uma campanha quase monotemática mirando o combate à corrupção.

Os candidatos do Pacto Histórico, Gustavo Petro e Francia Márquez à presidência e vice-presidência da Colômbia Foto: Santiago Arcos/Reuters

Magnata de 77 anos, Hernández concorreu sem um programa de governo claro, decidiu não participar dos últimos debates e provocou espanto no passado por dizer em uma entrevista ser admirador de Adolf Hitler – que anos mais tarde ele disse ter confundido com Albert Einstein.

O grande questionamento agora é como Hernández vai manter esta imagem de independente e antissistema ao receber apoio das elites políticas, incluindo de políticos uribistas, movimento conservador, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que controla a política colombiana há décadas e foi o grande derrotado nestas eleições.

“Rodolfo Hernández tem sido um crítico deste governo, do Congresso e da classe política em geral, e neste momento recebe o apoio desses políticos. Como vai transformar essa imagem que vem construindo? Vai romper com esse princípio que o caracterizou ao longo de sua campanha de se manter independente, isolado das estruturas políticas tradicionais, questionando permanentemente o fenômeno da corrupção?”, questiona Patricia Muñoz Yi.

Embora Hernández já tenha conversado por telefone com seus antigos adversários, Gutiérrez e Sergio Fajardo, segundo a imprensa local, ele nega que esteja costurando alianças com os mesmos. “Não vamos fazer alianças porque me inscrevi como independente. Esse não é o meu compromisso”, disse. “Vamos receber apoio para a filosofia de governo e eu serei o executor dessa filosofia.”

Para o analista político Johan Caldas, da Universidad de la Sabana, parte do eleitorado conquistado por Hernández pertence à direita colombiana que abandonou Gutiérrez no último momento, optando por um candidato com maior probabilidade de derrotar Petro no segundo turno por não carregar o peso da continuidade do governo Duque.

Petro precisará conter ascensão de Hernández

Por outro lado, uma ascensão de Petro assusta setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um “salto no vazio”, levando o país a um caminho de ainda mais turbulência política e econômica. Seu passado como guerrilheiro do M-19 e sua antiga amizade e aliança com o chavismo, também aumentam a desconfiança de diversos setores sobre ele.

Justamente por causa dessa desconfiança somada a um forte sentimento anti-Petro em parte da sociedade colombiana, o esquerdista terá caminho difícil para conquistar os votos que necessita. A aliança Pacto Histórico, de Petro e Francia Márquez, obteve mais de 8,5 milhões de votos, mas para o segundo turno precisará de mais 1 milhão pelo menos, em um cenário em que seu adversário só tende a crescer.

“Petro tem a grande tarefa de reverter essa tendência de votos de Rodolfo Hernández e aí vai ter que se dirigir a setores jovens da população”, afirma Patricia Muñoz Yi. “Mas sobretudo vai ter que se dirigir para aqueles que estão apoiando Rodolfo Hernández mais por desacordo com o atual governo do que por uma posição ideológica de direita.”

Neste sentido, será muito difícil que Petro obtenha parte dos votos de Gutiérrez, os mais disputados deste segundo turno, já que são justamente este os eleitores que temem a esquerda. Sobrará o centro e praticamente a soma de todos os outros candidatos que ficaram abaixo de Fico Gutiérrez.

“Outro caminho, e ontem ele apontou isso em seu discurso, é estabelecer diálogos com a classe empresarial, com representantes desses setores que podem se sentir intranquilos pela presença de um candidato como Rodolfo Hernández na presidência, por sua personalidade e esse caráter imprevisível que tem seu escasso plano de governo”, prevê a professora da Pontificia Universidad Javeriana./ Com informações de AP e EFE

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