Direita radical deve vencer, mas sem maioria absoluta: um guia para entender o 2º turno na França


O centro liderado por Emmanuel Macron e a esquerda lançaram ‘frente republicana’ para conter partido de Marine Le Pen. E estratégia pode funcionar

Por Jéssica Petrovna

Com o Reunião Nacional (RN) prestes a conseguir maioria no Parlamento pela primeira vez desde a 2ª Guerra, os centristas liderados por Emmanuel Macron e a aliança esquerdista Nova Frente Popular tentam bloquear a direita radical. E as pesquisas para o segundo turno, que ocorre neste domingo, 7, sugerem que a estratégia pode funcionar.

O partido de Marine Le Pen deve se tornar a maior força política no Parlamento francês, conquistando entre 175 e 205 assentos, segundo pesquisa Ipsos divulgada nesta sexta. Ainda assim, caso a previsão se confirme, o RN continuaria longe da maioria absoluta de 268 deputados.

Em seguida, aparece a Nova Frente Popular que teria entre 145 e 175 enquanto o Renascença, de Emmanuel Macron, elegeria de 118 a 148 deputados.

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Candidato a primeiro-ministro pela direita radical, Jordan Bardella tem dito que só formará governo se o Reunião Nacional tiver a maioria absoluta. No momento em que esse cenário parece cada vez mais distante, contudo, Marine Le Pen admite que pode buscar alianças com parlamentares de outros grupos políticos, especialmente os conservadores do Republicanos.

Cartazes de candidatos da Nova Frente Popular, aliança de esquerda.  Foto: Emmanuel Dunand/AFP
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Como funcionam as eleições na França?

Na eleição para Assembleia Nacional, a França é dividida em 577 distritos eleitorais, chamados de circonscriptions. Cada círculo eleitoral engloba 125 mil habitantes e elege o seu representante para o Parlamento em votação de dois turnos.

No primeiro turno, realizado no último domingo, foram eleitos 76 deputados que tiveram mais de 50% dos votos em seus distritos, incluindo Marine Le Pen. Ela está entre os 39 parlamentares que o Reunião Nacional já garantiu. Para os outros 501 círculos eleitorais que votam neste segundo turno, passaram todos os candidatos com mais de 12,5% dos votos — na França, as decisões podem ter três ou até quatro concorrentes.

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Como reflexo da divisão em três blocos que tem se consolidado no sistema político francês, 306 distritos teriam disputas triangulares neste segundo turno. É aí que entra a estratégia do centro e da esquerda para frear a Reunião Nacional. Os partidos formaram o que tem sido chamada de “frente republicana” e retiraram os candidatos com menos chances de vencer para evitar uma divisão de votos, que poderia favorecer a direita radical.

Em um caso emblemático, o candidato do França Insubmissa, partido da esquerda radical, saiu da disputa em Calvados em beneficio de Élisabeth Borne. Ela era a primeira-ministra de Macron na aprovação da reforma da previdência, que enfrentou oposição feroz de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Com a desistência de 224 candidatos da Nova Frente Popular e do Renascença, o segundo turno mudou de figura. As disputas triangulares caíram para 90 enquanto os duelos foram de 190 para mais de 400. Há também dois distritos que vão decidir entre quatro candidatos.

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Quem disputa a eleição?

A eleição legislativa foi antecipada por Emmanuel Macron em uma manobra arriscada após a derrota para o Reunião Nacional no Parlamento Europeu. O partido de Marine Le Pen tem sido impulsionado pelo jovem Jordan Bardella, de 28 anos, que deu uma cara nova para a direita radical francesa, vitoriosa no primeiro turno com 33% dos votos.

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Para se opor ao RN, a fragmentada esquerda francesa se uniu em torno da Nova Frente Popular, que reúne os partidos Socialista, Verde, Comunista e os radicais de esquerda do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. A aliança ficou em segundo lugar com 28% e afirma que escolheria o primeiro-ministro em consulta depois das eleições em caso de vitória.

O desempenho da Nova Frente Popular empurrou o centro para o terceiro lugar com 21% dos votos no primeiro turno. Foi mais uma derrota para Emmanuel Macron.

Embora o seu primeiro-ministro Gabriel Attal esteja com o cargo na berlinda, o presidente afirma que vai permanecer no Eliseu até o fim do mandato, em 2027, e descartou a renúncia “seja qual for o resultado”.

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Quais são os resultados possíveis?

Se a Reunião Nacional confirmar o seu favoritismo neste domingo, o centrista Macron pode ser forçado a nomear o primeiro-ministro da direita radical. É o que na França se chama de “coabitação” e aconteceu três vezes, sendo a última entre o presidente conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

Resta saber, no entanto, se Bardella terá maioria absoluta para isso. Ele ainda poderia ser nomeado primeiro-ministro, mesmo que o RN não chegue aos 289 assentos na Assembleia Nacional, mas tem rejeitado essa possibilidade porque o governo poderia ser facialmente derrubado pela oposição.

“Se não tivermos a maioria absoluta no domingo, o país ficará bloqueado”, escreveu Le Pen nesta sexta-feira no X.

Com a possibilidade cada vez maior de o Parlamento ficar dividido em três grandes blocos sem maiorias claras, o cenário na França é de incerteza. E o primeiro-ministro Gabriel Attal tem dito que o seu governo poderia continuar “pelo tempo que for necessário”.

Uma das possibilidades à disposição de Emmanuel Macron seria a formação de uma coalizão majoritária com centristas, esquerdistas e conservadores que não se aliaram ao Reunião Nacional. Essa opção, no entanto, tem sido afastada.

Presidente francês Emmanuel Macron em entrevista coletiva. Foto: Ludovic Marin/AFP

“Nunca mencionei uma coalizão”, disse Attal ao France 2. “O que eu disse é que podemos ter uma Assembleia Nacional com diferentes forças políticas que estão representadas e que, projeto a projeto, podem encontrar soluções e chegar a acordo para os franceses. Obviamente, com um governo para incorporá-lo”, explicou.

Outra opção seria um “governo técnico” a exemplo do que aconteceu com Mario Draghi na Itália. Esses especialistas sem filiações partidárias precisariam ser aprovados na Assembleia Nacional e poderiam lidar com assuntos cotidianos, mas seria difícil avançar com reformas.

Independente de qual for a decisão, a Assembleia Nacional não poderá ser dissolvida por um ano.

O que está em jogo?

A França tem sido um dos principais motores da integração europeia e um dos aliados mais incisivos da Ucrânia, com Emmanuel Macron sugerindo até que cogita mandar soldados para o front. Por isso, uma eventual vitória da extrema direita teria efeitos dentro e fora do país.

Jordan Bardella afirma que apoia a ajuda militar para Kiev — com exceção a armas de longo alcance e envio de tropas, que chamou de “linha vermelha” — e que vê Moscou como uma ameaça. Mas os críticos acusam o Reunião Nacional de ser complacente com a Rússia de Vladmir Putin.

Jordan Bardella em comício do Reunião Nacional.  Foto: Daniel Cole/Associated Press

Internamente, a direita radical adota o discurso contra imigração como resposta à frustração de franceses que se sentem abandonados no processo de integração e globalização.

Ao apresentar seu programa de governo, Bardella disse que impediria cidadãos com dupla nacionalidade de ocupar cargos “empregos extremamente sensíveis”. Declarações como essa preocupam os mais de 3 milhões de binacionais que vivem na França. E há o temo que de o discurso possa abrir as portas para a discriminação de imigrantes, inclusive brasileiros.

A campanha tensa tem sido marcada por denúncias de ameaças, ataques a candidatos e protestos contra a extrema direita, que vieram também da seleção francesa.

“Mais do que nunca, temos que votar. É realmente urgente. Não podemos deixar o país nas mãos dessas pessoas”, disse o capitão Kylian Mbappé. Ao que Marine Le Pen rebateu em entrevista à CNN: “Os franceses estão cansados de ouvir lição de moral e palestras sobre como votar.”

Com o Reunião Nacional (RN) prestes a conseguir maioria no Parlamento pela primeira vez desde a 2ª Guerra, os centristas liderados por Emmanuel Macron e a aliança esquerdista Nova Frente Popular tentam bloquear a direita radical. E as pesquisas para o segundo turno, que ocorre neste domingo, 7, sugerem que a estratégia pode funcionar.

O partido de Marine Le Pen deve se tornar a maior força política no Parlamento francês, conquistando entre 175 e 205 assentos, segundo pesquisa Ipsos divulgada nesta sexta. Ainda assim, caso a previsão se confirme, o RN continuaria longe da maioria absoluta de 268 deputados.

Em seguida, aparece a Nova Frente Popular que teria entre 145 e 175 enquanto o Renascença, de Emmanuel Macron, elegeria de 118 a 148 deputados.

Candidato a primeiro-ministro pela direita radical, Jordan Bardella tem dito que só formará governo se o Reunião Nacional tiver a maioria absoluta. No momento em que esse cenário parece cada vez mais distante, contudo, Marine Le Pen admite que pode buscar alianças com parlamentares de outros grupos políticos, especialmente os conservadores do Republicanos.

Cartazes de candidatos da Nova Frente Popular, aliança de esquerda.  Foto: Emmanuel Dunand/AFP
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Como funcionam as eleições na França?

Na eleição para Assembleia Nacional, a França é dividida em 577 distritos eleitorais, chamados de circonscriptions. Cada círculo eleitoral engloba 125 mil habitantes e elege o seu representante para o Parlamento em votação de dois turnos.

No primeiro turno, realizado no último domingo, foram eleitos 76 deputados que tiveram mais de 50% dos votos em seus distritos, incluindo Marine Le Pen. Ela está entre os 39 parlamentares que o Reunião Nacional já garantiu. Para os outros 501 círculos eleitorais que votam neste segundo turno, passaram todos os candidatos com mais de 12,5% dos votos — na França, as decisões podem ter três ou até quatro concorrentes.

Como reflexo da divisão em três blocos que tem se consolidado no sistema político francês, 306 distritos teriam disputas triangulares neste segundo turno. É aí que entra a estratégia do centro e da esquerda para frear a Reunião Nacional. Os partidos formaram o que tem sido chamada de “frente republicana” e retiraram os candidatos com menos chances de vencer para evitar uma divisão de votos, que poderia favorecer a direita radical.

Em um caso emblemático, o candidato do França Insubmissa, partido da esquerda radical, saiu da disputa em Calvados em beneficio de Élisabeth Borne. Ela era a primeira-ministra de Macron na aprovação da reforma da previdência, que enfrentou oposição feroz de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Com a desistência de 224 candidatos da Nova Frente Popular e do Renascença, o segundo turno mudou de figura. As disputas triangulares caíram para 90 enquanto os duelos foram de 190 para mais de 400. Há também dois distritos que vão decidir entre quatro candidatos.

Quem disputa a eleição?

A eleição legislativa foi antecipada por Emmanuel Macron em uma manobra arriscada após a derrota para o Reunião Nacional no Parlamento Europeu. O partido de Marine Le Pen tem sido impulsionado pelo jovem Jordan Bardella, de 28 anos, que deu uma cara nova para a direita radical francesa, vitoriosa no primeiro turno com 33% dos votos.

Para se opor ao RN, a fragmentada esquerda francesa se uniu em torno da Nova Frente Popular, que reúne os partidos Socialista, Verde, Comunista e os radicais de esquerda do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. A aliança ficou em segundo lugar com 28% e afirma que escolheria o primeiro-ministro em consulta depois das eleições em caso de vitória.

O desempenho da Nova Frente Popular empurrou o centro para o terceiro lugar com 21% dos votos no primeiro turno. Foi mais uma derrota para Emmanuel Macron.

Embora o seu primeiro-ministro Gabriel Attal esteja com o cargo na berlinda, o presidente afirma que vai permanecer no Eliseu até o fim do mandato, em 2027, e descartou a renúncia “seja qual for o resultado”.

Quais são os resultados possíveis?

Se a Reunião Nacional confirmar o seu favoritismo neste domingo, o centrista Macron pode ser forçado a nomear o primeiro-ministro da direita radical. É o que na França se chama de “coabitação” e aconteceu três vezes, sendo a última entre o presidente conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

Resta saber, no entanto, se Bardella terá maioria absoluta para isso. Ele ainda poderia ser nomeado primeiro-ministro, mesmo que o RN não chegue aos 289 assentos na Assembleia Nacional, mas tem rejeitado essa possibilidade porque o governo poderia ser facialmente derrubado pela oposição.

“Se não tivermos a maioria absoluta no domingo, o país ficará bloqueado”, escreveu Le Pen nesta sexta-feira no X.

Com a possibilidade cada vez maior de o Parlamento ficar dividido em três grandes blocos sem maiorias claras, o cenário na França é de incerteza. E o primeiro-ministro Gabriel Attal tem dito que o seu governo poderia continuar “pelo tempo que for necessário”.

Uma das possibilidades à disposição de Emmanuel Macron seria a formação de uma coalizão majoritária com centristas, esquerdistas e conservadores que não se aliaram ao Reunião Nacional. Essa opção, no entanto, tem sido afastada.

Presidente francês Emmanuel Macron em entrevista coletiva. Foto: Ludovic Marin/AFP

“Nunca mencionei uma coalizão”, disse Attal ao France 2. “O que eu disse é que podemos ter uma Assembleia Nacional com diferentes forças políticas que estão representadas e que, projeto a projeto, podem encontrar soluções e chegar a acordo para os franceses. Obviamente, com um governo para incorporá-lo”, explicou.

Outra opção seria um “governo técnico” a exemplo do que aconteceu com Mario Draghi na Itália. Esses especialistas sem filiações partidárias precisariam ser aprovados na Assembleia Nacional e poderiam lidar com assuntos cotidianos, mas seria difícil avançar com reformas.

Independente de qual for a decisão, a Assembleia Nacional não poderá ser dissolvida por um ano.

O que está em jogo?

A França tem sido um dos principais motores da integração europeia e um dos aliados mais incisivos da Ucrânia, com Emmanuel Macron sugerindo até que cogita mandar soldados para o front. Por isso, uma eventual vitória da extrema direita teria efeitos dentro e fora do país.

Jordan Bardella afirma que apoia a ajuda militar para Kiev — com exceção a armas de longo alcance e envio de tropas, que chamou de “linha vermelha” — e que vê Moscou como uma ameaça. Mas os críticos acusam o Reunião Nacional de ser complacente com a Rússia de Vladmir Putin.

Jordan Bardella em comício do Reunião Nacional.  Foto: Daniel Cole/Associated Press

Internamente, a direita radical adota o discurso contra imigração como resposta à frustração de franceses que se sentem abandonados no processo de integração e globalização.

Ao apresentar seu programa de governo, Bardella disse que impediria cidadãos com dupla nacionalidade de ocupar cargos “empregos extremamente sensíveis”. Declarações como essa preocupam os mais de 3 milhões de binacionais que vivem na França. E há o temo que de o discurso possa abrir as portas para a discriminação de imigrantes, inclusive brasileiros.

A campanha tensa tem sido marcada por denúncias de ameaças, ataques a candidatos e protestos contra a extrema direita, que vieram também da seleção francesa.

“Mais do que nunca, temos que votar. É realmente urgente. Não podemos deixar o país nas mãos dessas pessoas”, disse o capitão Kylian Mbappé. Ao que Marine Le Pen rebateu em entrevista à CNN: “Os franceses estão cansados de ouvir lição de moral e palestras sobre como votar.”

Com o Reunião Nacional (RN) prestes a conseguir maioria no Parlamento pela primeira vez desde a 2ª Guerra, os centristas liderados por Emmanuel Macron e a aliança esquerdista Nova Frente Popular tentam bloquear a direita radical. E as pesquisas para o segundo turno, que ocorre neste domingo, 7, sugerem que a estratégia pode funcionar.

O partido de Marine Le Pen deve se tornar a maior força política no Parlamento francês, conquistando entre 175 e 205 assentos, segundo pesquisa Ipsos divulgada nesta sexta. Ainda assim, caso a previsão se confirme, o RN continuaria longe da maioria absoluta de 268 deputados.

Em seguida, aparece a Nova Frente Popular que teria entre 145 e 175 enquanto o Renascença, de Emmanuel Macron, elegeria de 118 a 148 deputados.

Candidato a primeiro-ministro pela direita radical, Jordan Bardella tem dito que só formará governo se o Reunião Nacional tiver a maioria absoluta. No momento em que esse cenário parece cada vez mais distante, contudo, Marine Le Pen admite que pode buscar alianças com parlamentares de outros grupos políticos, especialmente os conservadores do Republicanos.

Cartazes de candidatos da Nova Frente Popular, aliança de esquerda.  Foto: Emmanuel Dunand/AFP
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Como funcionam as eleições na França?

Na eleição para Assembleia Nacional, a França é dividida em 577 distritos eleitorais, chamados de circonscriptions. Cada círculo eleitoral engloba 125 mil habitantes e elege o seu representante para o Parlamento em votação de dois turnos.

No primeiro turno, realizado no último domingo, foram eleitos 76 deputados que tiveram mais de 50% dos votos em seus distritos, incluindo Marine Le Pen. Ela está entre os 39 parlamentares que o Reunião Nacional já garantiu. Para os outros 501 círculos eleitorais que votam neste segundo turno, passaram todos os candidatos com mais de 12,5% dos votos — na França, as decisões podem ter três ou até quatro concorrentes.

Como reflexo da divisão em três blocos que tem se consolidado no sistema político francês, 306 distritos teriam disputas triangulares neste segundo turno. É aí que entra a estratégia do centro e da esquerda para frear a Reunião Nacional. Os partidos formaram o que tem sido chamada de “frente republicana” e retiraram os candidatos com menos chances de vencer para evitar uma divisão de votos, que poderia favorecer a direita radical.

Em um caso emblemático, o candidato do França Insubmissa, partido da esquerda radical, saiu da disputa em Calvados em beneficio de Élisabeth Borne. Ela era a primeira-ministra de Macron na aprovação da reforma da previdência, que enfrentou oposição feroz de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Com a desistência de 224 candidatos da Nova Frente Popular e do Renascença, o segundo turno mudou de figura. As disputas triangulares caíram para 90 enquanto os duelos foram de 190 para mais de 400. Há também dois distritos que vão decidir entre quatro candidatos.

Quem disputa a eleição?

A eleição legislativa foi antecipada por Emmanuel Macron em uma manobra arriscada após a derrota para o Reunião Nacional no Parlamento Europeu. O partido de Marine Le Pen tem sido impulsionado pelo jovem Jordan Bardella, de 28 anos, que deu uma cara nova para a direita radical francesa, vitoriosa no primeiro turno com 33% dos votos.

Para se opor ao RN, a fragmentada esquerda francesa se uniu em torno da Nova Frente Popular, que reúne os partidos Socialista, Verde, Comunista e os radicais de esquerda do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. A aliança ficou em segundo lugar com 28% e afirma que escolheria o primeiro-ministro em consulta depois das eleições em caso de vitória.

O desempenho da Nova Frente Popular empurrou o centro para o terceiro lugar com 21% dos votos no primeiro turno. Foi mais uma derrota para Emmanuel Macron.

Embora o seu primeiro-ministro Gabriel Attal esteja com o cargo na berlinda, o presidente afirma que vai permanecer no Eliseu até o fim do mandato, em 2027, e descartou a renúncia “seja qual for o resultado”.

Quais são os resultados possíveis?

Se a Reunião Nacional confirmar o seu favoritismo neste domingo, o centrista Macron pode ser forçado a nomear o primeiro-ministro da direita radical. É o que na França se chama de “coabitação” e aconteceu três vezes, sendo a última entre o presidente conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

Resta saber, no entanto, se Bardella terá maioria absoluta para isso. Ele ainda poderia ser nomeado primeiro-ministro, mesmo que o RN não chegue aos 289 assentos na Assembleia Nacional, mas tem rejeitado essa possibilidade porque o governo poderia ser facialmente derrubado pela oposição.

“Se não tivermos a maioria absoluta no domingo, o país ficará bloqueado”, escreveu Le Pen nesta sexta-feira no X.

Com a possibilidade cada vez maior de o Parlamento ficar dividido em três grandes blocos sem maiorias claras, o cenário na França é de incerteza. E o primeiro-ministro Gabriel Attal tem dito que o seu governo poderia continuar “pelo tempo que for necessário”.

Uma das possibilidades à disposição de Emmanuel Macron seria a formação de uma coalizão majoritária com centristas, esquerdistas e conservadores que não se aliaram ao Reunião Nacional. Essa opção, no entanto, tem sido afastada.

Presidente francês Emmanuel Macron em entrevista coletiva. Foto: Ludovic Marin/AFP

“Nunca mencionei uma coalizão”, disse Attal ao France 2. “O que eu disse é que podemos ter uma Assembleia Nacional com diferentes forças políticas que estão representadas e que, projeto a projeto, podem encontrar soluções e chegar a acordo para os franceses. Obviamente, com um governo para incorporá-lo”, explicou.

Outra opção seria um “governo técnico” a exemplo do que aconteceu com Mario Draghi na Itália. Esses especialistas sem filiações partidárias precisariam ser aprovados na Assembleia Nacional e poderiam lidar com assuntos cotidianos, mas seria difícil avançar com reformas.

Independente de qual for a decisão, a Assembleia Nacional não poderá ser dissolvida por um ano.

O que está em jogo?

A França tem sido um dos principais motores da integração europeia e um dos aliados mais incisivos da Ucrânia, com Emmanuel Macron sugerindo até que cogita mandar soldados para o front. Por isso, uma eventual vitória da extrema direita teria efeitos dentro e fora do país.

Jordan Bardella afirma que apoia a ajuda militar para Kiev — com exceção a armas de longo alcance e envio de tropas, que chamou de “linha vermelha” — e que vê Moscou como uma ameaça. Mas os críticos acusam o Reunião Nacional de ser complacente com a Rússia de Vladmir Putin.

Jordan Bardella em comício do Reunião Nacional.  Foto: Daniel Cole/Associated Press

Internamente, a direita radical adota o discurso contra imigração como resposta à frustração de franceses que se sentem abandonados no processo de integração e globalização.

Ao apresentar seu programa de governo, Bardella disse que impediria cidadãos com dupla nacionalidade de ocupar cargos “empregos extremamente sensíveis”. Declarações como essa preocupam os mais de 3 milhões de binacionais que vivem na França. E há o temo que de o discurso possa abrir as portas para a discriminação de imigrantes, inclusive brasileiros.

A campanha tensa tem sido marcada por denúncias de ameaças, ataques a candidatos e protestos contra a extrema direita, que vieram também da seleção francesa.

“Mais do que nunca, temos que votar. É realmente urgente. Não podemos deixar o país nas mãos dessas pessoas”, disse o capitão Kylian Mbappé. Ao que Marine Le Pen rebateu em entrevista à CNN: “Os franceses estão cansados de ouvir lição de moral e palestras sobre como votar.”

Com o Reunião Nacional (RN) prestes a conseguir maioria no Parlamento pela primeira vez desde a 2ª Guerra, os centristas liderados por Emmanuel Macron e a aliança esquerdista Nova Frente Popular tentam bloquear a direita radical. E as pesquisas para o segundo turno, que ocorre neste domingo, 7, sugerem que a estratégia pode funcionar.

O partido de Marine Le Pen deve se tornar a maior força política no Parlamento francês, conquistando entre 175 e 205 assentos, segundo pesquisa Ipsos divulgada nesta sexta. Ainda assim, caso a previsão se confirme, o RN continuaria longe da maioria absoluta de 268 deputados.

Em seguida, aparece a Nova Frente Popular que teria entre 145 e 175 enquanto o Renascença, de Emmanuel Macron, elegeria de 118 a 148 deputados.

Candidato a primeiro-ministro pela direita radical, Jordan Bardella tem dito que só formará governo se o Reunião Nacional tiver a maioria absoluta. No momento em que esse cenário parece cada vez mais distante, contudo, Marine Le Pen admite que pode buscar alianças com parlamentares de outros grupos políticos, especialmente os conservadores do Republicanos.

Cartazes de candidatos da Nova Frente Popular, aliança de esquerda.  Foto: Emmanuel Dunand/AFP
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Como funcionam as eleições na França?

Na eleição para Assembleia Nacional, a França é dividida em 577 distritos eleitorais, chamados de circonscriptions. Cada círculo eleitoral engloba 125 mil habitantes e elege o seu representante para o Parlamento em votação de dois turnos.

No primeiro turno, realizado no último domingo, foram eleitos 76 deputados que tiveram mais de 50% dos votos em seus distritos, incluindo Marine Le Pen. Ela está entre os 39 parlamentares que o Reunião Nacional já garantiu. Para os outros 501 círculos eleitorais que votam neste segundo turno, passaram todos os candidatos com mais de 12,5% dos votos — na França, as decisões podem ter três ou até quatro concorrentes.

Como reflexo da divisão em três blocos que tem se consolidado no sistema político francês, 306 distritos teriam disputas triangulares neste segundo turno. É aí que entra a estratégia do centro e da esquerda para frear a Reunião Nacional. Os partidos formaram o que tem sido chamada de “frente republicana” e retiraram os candidatos com menos chances de vencer para evitar uma divisão de votos, que poderia favorecer a direita radical.

Em um caso emblemático, o candidato do França Insubmissa, partido da esquerda radical, saiu da disputa em Calvados em beneficio de Élisabeth Borne. Ela era a primeira-ministra de Macron na aprovação da reforma da previdência, que enfrentou oposição feroz de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Com a desistência de 224 candidatos da Nova Frente Popular e do Renascença, o segundo turno mudou de figura. As disputas triangulares caíram para 90 enquanto os duelos foram de 190 para mais de 400. Há também dois distritos que vão decidir entre quatro candidatos.

Quem disputa a eleição?

A eleição legislativa foi antecipada por Emmanuel Macron em uma manobra arriscada após a derrota para o Reunião Nacional no Parlamento Europeu. O partido de Marine Le Pen tem sido impulsionado pelo jovem Jordan Bardella, de 28 anos, que deu uma cara nova para a direita radical francesa, vitoriosa no primeiro turno com 33% dos votos.

Para se opor ao RN, a fragmentada esquerda francesa se uniu em torno da Nova Frente Popular, que reúne os partidos Socialista, Verde, Comunista e os radicais de esquerda do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. A aliança ficou em segundo lugar com 28% e afirma que escolheria o primeiro-ministro em consulta depois das eleições em caso de vitória.

O desempenho da Nova Frente Popular empurrou o centro para o terceiro lugar com 21% dos votos no primeiro turno. Foi mais uma derrota para Emmanuel Macron.

Embora o seu primeiro-ministro Gabriel Attal esteja com o cargo na berlinda, o presidente afirma que vai permanecer no Eliseu até o fim do mandato, em 2027, e descartou a renúncia “seja qual for o resultado”.

Quais são os resultados possíveis?

Se a Reunião Nacional confirmar o seu favoritismo neste domingo, o centrista Macron pode ser forçado a nomear o primeiro-ministro da direita radical. É o que na França se chama de “coabitação” e aconteceu três vezes, sendo a última entre o presidente conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

Resta saber, no entanto, se Bardella terá maioria absoluta para isso. Ele ainda poderia ser nomeado primeiro-ministro, mesmo que o RN não chegue aos 289 assentos na Assembleia Nacional, mas tem rejeitado essa possibilidade porque o governo poderia ser facialmente derrubado pela oposição.

“Se não tivermos a maioria absoluta no domingo, o país ficará bloqueado”, escreveu Le Pen nesta sexta-feira no X.

Com a possibilidade cada vez maior de o Parlamento ficar dividido em três grandes blocos sem maiorias claras, o cenário na França é de incerteza. E o primeiro-ministro Gabriel Attal tem dito que o seu governo poderia continuar “pelo tempo que for necessário”.

Uma das possibilidades à disposição de Emmanuel Macron seria a formação de uma coalizão majoritária com centristas, esquerdistas e conservadores que não se aliaram ao Reunião Nacional. Essa opção, no entanto, tem sido afastada.

Presidente francês Emmanuel Macron em entrevista coletiva. Foto: Ludovic Marin/AFP

“Nunca mencionei uma coalizão”, disse Attal ao France 2. “O que eu disse é que podemos ter uma Assembleia Nacional com diferentes forças políticas que estão representadas e que, projeto a projeto, podem encontrar soluções e chegar a acordo para os franceses. Obviamente, com um governo para incorporá-lo”, explicou.

Outra opção seria um “governo técnico” a exemplo do que aconteceu com Mario Draghi na Itália. Esses especialistas sem filiações partidárias precisariam ser aprovados na Assembleia Nacional e poderiam lidar com assuntos cotidianos, mas seria difícil avançar com reformas.

Independente de qual for a decisão, a Assembleia Nacional não poderá ser dissolvida por um ano.

O que está em jogo?

A França tem sido um dos principais motores da integração europeia e um dos aliados mais incisivos da Ucrânia, com Emmanuel Macron sugerindo até que cogita mandar soldados para o front. Por isso, uma eventual vitória da extrema direita teria efeitos dentro e fora do país.

Jordan Bardella afirma que apoia a ajuda militar para Kiev — com exceção a armas de longo alcance e envio de tropas, que chamou de “linha vermelha” — e que vê Moscou como uma ameaça. Mas os críticos acusam o Reunião Nacional de ser complacente com a Rússia de Vladmir Putin.

Jordan Bardella em comício do Reunião Nacional.  Foto: Daniel Cole/Associated Press

Internamente, a direita radical adota o discurso contra imigração como resposta à frustração de franceses que se sentem abandonados no processo de integração e globalização.

Ao apresentar seu programa de governo, Bardella disse que impediria cidadãos com dupla nacionalidade de ocupar cargos “empregos extremamente sensíveis”. Declarações como essa preocupam os mais de 3 milhões de binacionais que vivem na França. E há o temo que de o discurso possa abrir as portas para a discriminação de imigrantes, inclusive brasileiros.

A campanha tensa tem sido marcada por denúncias de ameaças, ataques a candidatos e protestos contra a extrema direita, que vieram também da seleção francesa.

“Mais do que nunca, temos que votar. É realmente urgente. Não podemos deixar o país nas mãos dessas pessoas”, disse o capitão Kylian Mbappé. Ao que Marine Le Pen rebateu em entrevista à CNN: “Os franceses estão cansados de ouvir lição de moral e palestras sobre como votar.”

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