Disposto a correr riscos na Ucrânia e Belarus, Putin amplia tensão militar com o Ocidente


Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo

Por Anton Troianovski

VILNA — O mau agouro de uma mobilização militar russa perto da Ucrânia. Uma crise de imigrantes em Belarus que lideranças ocidentais descrevem como “guerra híbrida” por parte de um estado cliente do Kremlin. O crescente temor envolvendo o gás natural que pode deixar a Europa diante de um inverno gelado.

O presidente Vladimir Putin, da Rússia, vem cada vez mais colocando suas cartas na mesa: ele está disposto a correr riscos cada vez maiores para obrigar o Ocidente a dar ouvidos às demandas russas. E os Estados Unidos e seus aliados percebem um momento de volatilidade incomum, com Putin desempenhando um papel em múltiplas crises desestabilizadoras ao mesmo tempo.

Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em evento com estudantes em 1º de setembro. Foto: Sputnik/Evgeny Paulin/Kremlin via REUTERS

Este mês, bombardeiros nucleares russos de longo alcance fizeram repetidas patrulhas perto da fronteira da União Europeia com a Polônia, e uma mobilização militar sigilosa e inexplicada no sudoeste da Rússia fez funcionários da espionagem americana e europeia alertarem para a possibilidade de o Kremlin estar encaminhando os preparativos de uma nova invasão da Ucrânia.

Durante discurso na quinta feira endereçado a diplomatas russos, Putin indicou mais abertamente do que antes que buscava usar o poderio militar para coagir o Ocidente a respeitar os interesses russos na região. Ele disse que os países ocidentais estavam finalmente se dando conta de que a Rússia fala sério em se tratando de defender suas “linhas vermelhas” contra a presença de forças da Otan perto de suas fronteiras.

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“Nossos alertas mais recentes foram de fato ouvidos, e estão surtindo efeito: a tensão no local se elevou, afinal", disse Putin. “É importante que as coisas permaneçam assim por tanto tempo quanto o possível, para que eles não pensem em criar algum tipo de conflito na nossa fronteira ocidental desnecessário para nós.”

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O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os países ocidentais de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro. O governo americano está preocupado com novas concentrações de tropas russas. Já a Ucrânia quer comprar armas de países ocidentais.

Crise de migração em Belarus

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As tensões foram exacerbadas pela crise de migração orquestrada nas fronteiras da União Europeia por Belarus, aliado próximo da Rússia, e por uma escassez no fornecimento de energia que a Rússia, fornecedora do gás natural usado em boa parte da Europa Ocidental, usou para pressionar o bloco a aprovar um novo gasoduto que ampliaria a influência do Kremlin na região.

“É uma situação de segurança regional que preocupa bastante no momento", disse Asta Skaisgiryte, assessora de política externa do presidente da Lituânia, país membro da UE e da Otan que enfrentou uma onda de migração vinda de Belarus, país vizinho, nos meses mais recentes.

Em Belarus na sexta feira, as tensões que no início da semana desencadearam enfrentamentos violentos no principal ponto de travessia da fronteira com a Polônia seguiram retrocedendo. Forças de seguranças belarussas armadas com rifles Kalashnikov vigiavam um imenso armazém que abriga cerca de 2.000 imigrantes.

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Muitos dos imigrantes se disseram alarmados e frustrados por terem que voltar atrás em vez de avançar rumo à Polônia, indicando que o presidente de Belarus, Aleksandr G. Lukashenko, pode enfrentar dificuldades para conter os ânimos se os imigrantes perderem a esperança de chegar à Europa.

A confiança de Putin

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Em Moscou, Putin parece se sentir cada vez mais confiante. Ele rechaçou o desafio ao seu poder este ano por parte do líder da oposição Aleksei A. Navalny, detido, enquanto outros nomes da oposição são alvo de detenções ou são obrigados a buscar o exílio. Sua aprovação segue acima dos 60% em pesquisas de opinião independentes, apesar de a Rússia enfrentar uma das maiores mortalidades decorrentes da Covid-19 em todo o mundo. Seu partido Rússia Unida conquistou uma vitória de respeito nas eleições parlamentares de setembro, suscitando poucos protestos apesar das evidências de fraude.

Putin também comanda um Exército que desenvolve armamento cada vez mais moderno, como sofisticados mísseis hipersônicos e torpedos de capacidade nuclear. E a Rússia está firmando uma parceria mais sólida com a China, sublinhada na sexta feira quando ambos os países realizaram uma patrulha conjunta com bombardeiros estratégicos sobre o Pacífico.

Avanço Ocidental no Leste

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Ao mesmo tempo, analistas russos dizem que o Kremlin se mostra cada vez mais preocupado com a possibilidade de o Ocidente expandir sua presença militar no Leste Europeu pós-soviético. A Lituânia e dois outros países bálticos que já fizeram parte da União Soviética, Letônia e Estônia, são fazem parte da Otan e abrigam forças ocidentais. Em Belarus, o mais próximo aliado da Rússia, o Ocidente apoiou abertamente a oposição exilada a Lukashenko.

Mas é a Ucrânia a principal responsável pelas atuais “linhas vermelhas” da Rússia. O Kremlin disse em setembro que a “expansão da infraestrutura da Otan em território ucraniano” — onde o Ocidente já oferece treinamento e armamento a forças ucranianas — seria uma violação dessas linhas. E funcionários do governo russo ficaram furiosos nas semanas recentes com a atividade militar por parte dos Estados Unidos e seus aliados na região do Mar Negro perto da Ucrânia, onde o presidente Volodymyr Zelensky assume uma postura cada vez mais anti-russa.

Dmitri Trenin, diretor do centro de estudos estratégicos Carnegie Moscow Center, disse que para a Rússia, o momento atual pode parecer uma inversão dos papéis da Crise de Mísseis de 1962, quando o presidente John F. Kennedy se mostrou disposto a correr o risco de uma guerra nuclear para impedir que a União Soviética instalasse mísseis perto do litoral da Flórida. Especialistas do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, escreveram este mês que “o Kremlin enxerga cada vez mais a Ucrânia como um porta-aviões ocidental” estacionado na fronteira sudoeste da Rússia.

“Ele acredita que é hora de mudar o ritmo da nossa política externa", disse Trenin a respeito da nova abordagem de Putin. De acordo com ele, na visão que o presidente russo tem do Ocidente, “a única linguagem entendida é a da força".

Miliciano pró-Rússia monta guarda na região de Luhansk, no leste da Ucrânia: mobilização de tropas aumenta risco de conflito aberto Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

O retorno da URSS?

Para Asta Skaisgiryte, a assessora de política externa lituana, os EUA devem ser cautelosos ao engajar a Rússia mesmo com Putin afirmando que seu país é um “amante da paz”, como fez na quinta feira.

“Não podemos ser ingênuos", disse Asta. “Temos que ficar muito atentos ao que ele faz, sem cair na armadilha da retórica de Putin.”

O que Putin deseja? Para Asta, a resposta é simples: “Restaurar a União Soviética".

Para Dmitri Trenin, o analista da Carnegie, Putin está pouco interessado em invasões e ocupações de larga escala em outros países, levando em consideração que a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80 ajudou a precipitar o colapso da União Soviética. Mas ele disse que garantir um compromisso internacional com a Ucrânia enquanto país neutro, com a concessão de alguma autonomia ao leste do país, mais favorável à Rússia, seria uma das prioridades do Kremlin.

“O presidente Putin chegou à conclusão que os canais, meios, formas e métodos diplomáticos normais não estão funcionando", disse Trenin. “Potencialmente, temos uma situação bastante ruim.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

VILNA — O mau agouro de uma mobilização militar russa perto da Ucrânia. Uma crise de imigrantes em Belarus que lideranças ocidentais descrevem como “guerra híbrida” por parte de um estado cliente do Kremlin. O crescente temor envolvendo o gás natural que pode deixar a Europa diante de um inverno gelado.

O presidente Vladimir Putin, da Rússia, vem cada vez mais colocando suas cartas na mesa: ele está disposto a correr riscos cada vez maiores para obrigar o Ocidente a dar ouvidos às demandas russas. E os Estados Unidos e seus aliados percebem um momento de volatilidade incomum, com Putin desempenhando um papel em múltiplas crises desestabilizadoras ao mesmo tempo.

Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em evento com estudantes em 1º de setembro. Foto: Sputnik/Evgeny Paulin/Kremlin via REUTERS

Este mês, bombardeiros nucleares russos de longo alcance fizeram repetidas patrulhas perto da fronteira da União Europeia com a Polônia, e uma mobilização militar sigilosa e inexplicada no sudoeste da Rússia fez funcionários da espionagem americana e europeia alertarem para a possibilidade de o Kremlin estar encaminhando os preparativos de uma nova invasão da Ucrânia.

Durante discurso na quinta feira endereçado a diplomatas russos, Putin indicou mais abertamente do que antes que buscava usar o poderio militar para coagir o Ocidente a respeitar os interesses russos na região. Ele disse que os países ocidentais estavam finalmente se dando conta de que a Rússia fala sério em se tratando de defender suas “linhas vermelhas” contra a presença de forças da Otan perto de suas fronteiras.

“Nossos alertas mais recentes foram de fato ouvidos, e estão surtindo efeito: a tensão no local se elevou, afinal", disse Putin. “É importante que as coisas permaneçam assim por tanto tempo quanto o possível, para que eles não pensem em criar algum tipo de conflito na nossa fronteira ocidental desnecessário para nós.”

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O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os países ocidentais de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro. O governo americano está preocupado com novas concentrações de tropas russas. Já a Ucrânia quer comprar armas de países ocidentais.

Crise de migração em Belarus

As tensões foram exacerbadas pela crise de migração orquestrada nas fronteiras da União Europeia por Belarus, aliado próximo da Rússia, e por uma escassez no fornecimento de energia que a Rússia, fornecedora do gás natural usado em boa parte da Europa Ocidental, usou para pressionar o bloco a aprovar um novo gasoduto que ampliaria a influência do Kremlin na região.

“É uma situação de segurança regional que preocupa bastante no momento", disse Asta Skaisgiryte, assessora de política externa do presidente da Lituânia, país membro da UE e da Otan que enfrentou uma onda de migração vinda de Belarus, país vizinho, nos meses mais recentes.

Em Belarus na sexta feira, as tensões que no início da semana desencadearam enfrentamentos violentos no principal ponto de travessia da fronteira com a Polônia seguiram retrocedendo. Forças de seguranças belarussas armadas com rifles Kalashnikov vigiavam um imenso armazém que abriga cerca de 2.000 imigrantes.

Muitos dos imigrantes se disseram alarmados e frustrados por terem que voltar atrás em vez de avançar rumo à Polônia, indicando que o presidente de Belarus, Aleksandr G. Lukashenko, pode enfrentar dificuldades para conter os ânimos se os imigrantes perderem a esperança de chegar à Europa.

A confiança de Putin

Em Moscou, Putin parece se sentir cada vez mais confiante. Ele rechaçou o desafio ao seu poder este ano por parte do líder da oposição Aleksei A. Navalny, detido, enquanto outros nomes da oposição são alvo de detenções ou são obrigados a buscar o exílio. Sua aprovação segue acima dos 60% em pesquisas de opinião independentes, apesar de a Rússia enfrentar uma das maiores mortalidades decorrentes da Covid-19 em todo o mundo. Seu partido Rússia Unida conquistou uma vitória de respeito nas eleições parlamentares de setembro, suscitando poucos protestos apesar das evidências de fraude.

Putin também comanda um Exército que desenvolve armamento cada vez mais moderno, como sofisticados mísseis hipersônicos e torpedos de capacidade nuclear. E a Rússia está firmando uma parceria mais sólida com a China, sublinhada na sexta feira quando ambos os países realizaram uma patrulha conjunta com bombardeiros estratégicos sobre o Pacífico.

Avanço Ocidental no Leste

Ao mesmo tempo, analistas russos dizem que o Kremlin se mostra cada vez mais preocupado com a possibilidade de o Ocidente expandir sua presença militar no Leste Europeu pós-soviético. A Lituânia e dois outros países bálticos que já fizeram parte da União Soviética, Letônia e Estônia, são fazem parte da Otan e abrigam forças ocidentais. Em Belarus, o mais próximo aliado da Rússia, o Ocidente apoiou abertamente a oposição exilada a Lukashenko.

Mas é a Ucrânia a principal responsável pelas atuais “linhas vermelhas” da Rússia. O Kremlin disse em setembro que a “expansão da infraestrutura da Otan em território ucraniano” — onde o Ocidente já oferece treinamento e armamento a forças ucranianas — seria uma violação dessas linhas. E funcionários do governo russo ficaram furiosos nas semanas recentes com a atividade militar por parte dos Estados Unidos e seus aliados na região do Mar Negro perto da Ucrânia, onde o presidente Volodymyr Zelensky assume uma postura cada vez mais anti-russa.

Dmitri Trenin, diretor do centro de estudos estratégicos Carnegie Moscow Center, disse que para a Rússia, o momento atual pode parecer uma inversão dos papéis da Crise de Mísseis de 1962, quando o presidente John F. Kennedy se mostrou disposto a correr o risco de uma guerra nuclear para impedir que a União Soviética instalasse mísseis perto do litoral da Flórida. Especialistas do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, escreveram este mês que “o Kremlin enxerga cada vez mais a Ucrânia como um porta-aviões ocidental” estacionado na fronteira sudoeste da Rússia.

“Ele acredita que é hora de mudar o ritmo da nossa política externa", disse Trenin a respeito da nova abordagem de Putin. De acordo com ele, na visão que o presidente russo tem do Ocidente, “a única linguagem entendida é a da força".

Miliciano pró-Rússia monta guarda na região de Luhansk, no leste da Ucrânia: mobilização de tropas aumenta risco de conflito aberto Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

O retorno da URSS?

Para Asta Skaisgiryte, a assessora de política externa lituana, os EUA devem ser cautelosos ao engajar a Rússia mesmo com Putin afirmando que seu país é um “amante da paz”, como fez na quinta feira.

“Não podemos ser ingênuos", disse Asta. “Temos que ficar muito atentos ao que ele faz, sem cair na armadilha da retórica de Putin.”

O que Putin deseja? Para Asta, a resposta é simples: “Restaurar a União Soviética".

Para Dmitri Trenin, o analista da Carnegie, Putin está pouco interessado em invasões e ocupações de larga escala em outros países, levando em consideração que a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80 ajudou a precipitar o colapso da União Soviética. Mas ele disse que garantir um compromisso internacional com a Ucrânia enquanto país neutro, com a concessão de alguma autonomia ao leste do país, mais favorável à Rússia, seria uma das prioridades do Kremlin.

“O presidente Putin chegou à conclusão que os canais, meios, formas e métodos diplomáticos normais não estão funcionando", disse Trenin. “Potencialmente, temos uma situação bastante ruim.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

VILNA — O mau agouro de uma mobilização militar russa perto da Ucrânia. Uma crise de imigrantes em Belarus que lideranças ocidentais descrevem como “guerra híbrida” por parte de um estado cliente do Kremlin. O crescente temor envolvendo o gás natural que pode deixar a Europa diante de um inverno gelado.

O presidente Vladimir Putin, da Rússia, vem cada vez mais colocando suas cartas na mesa: ele está disposto a correr riscos cada vez maiores para obrigar o Ocidente a dar ouvidos às demandas russas. E os Estados Unidos e seus aliados percebem um momento de volatilidade incomum, com Putin desempenhando um papel em múltiplas crises desestabilizadoras ao mesmo tempo.

Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em evento com estudantes em 1º de setembro. Foto: Sputnik/Evgeny Paulin/Kremlin via REUTERS

Este mês, bombardeiros nucleares russos de longo alcance fizeram repetidas patrulhas perto da fronteira da União Europeia com a Polônia, e uma mobilização militar sigilosa e inexplicada no sudoeste da Rússia fez funcionários da espionagem americana e europeia alertarem para a possibilidade de o Kremlin estar encaminhando os preparativos de uma nova invasão da Ucrânia.

Durante discurso na quinta feira endereçado a diplomatas russos, Putin indicou mais abertamente do que antes que buscava usar o poderio militar para coagir o Ocidente a respeitar os interesses russos na região. Ele disse que os países ocidentais estavam finalmente se dando conta de que a Rússia fala sério em se tratando de defender suas “linhas vermelhas” contra a presença de forças da Otan perto de suas fronteiras.

“Nossos alertas mais recentes foram de fato ouvidos, e estão surtindo efeito: a tensão no local se elevou, afinal", disse Putin. “É importante que as coisas permaneçam assim por tanto tempo quanto o possível, para que eles não pensem em criar algum tipo de conflito na nossa fronteira ocidental desnecessário para nós.”

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O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os países ocidentais de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro. O governo americano está preocupado com novas concentrações de tropas russas. Já a Ucrânia quer comprar armas de países ocidentais.

Crise de migração em Belarus

As tensões foram exacerbadas pela crise de migração orquestrada nas fronteiras da União Europeia por Belarus, aliado próximo da Rússia, e por uma escassez no fornecimento de energia que a Rússia, fornecedora do gás natural usado em boa parte da Europa Ocidental, usou para pressionar o bloco a aprovar um novo gasoduto que ampliaria a influência do Kremlin na região.

“É uma situação de segurança regional que preocupa bastante no momento", disse Asta Skaisgiryte, assessora de política externa do presidente da Lituânia, país membro da UE e da Otan que enfrentou uma onda de migração vinda de Belarus, país vizinho, nos meses mais recentes.

Em Belarus na sexta feira, as tensões que no início da semana desencadearam enfrentamentos violentos no principal ponto de travessia da fronteira com a Polônia seguiram retrocedendo. Forças de seguranças belarussas armadas com rifles Kalashnikov vigiavam um imenso armazém que abriga cerca de 2.000 imigrantes.

Muitos dos imigrantes se disseram alarmados e frustrados por terem que voltar atrás em vez de avançar rumo à Polônia, indicando que o presidente de Belarus, Aleksandr G. Lukashenko, pode enfrentar dificuldades para conter os ânimos se os imigrantes perderem a esperança de chegar à Europa.

A confiança de Putin

Em Moscou, Putin parece se sentir cada vez mais confiante. Ele rechaçou o desafio ao seu poder este ano por parte do líder da oposição Aleksei A. Navalny, detido, enquanto outros nomes da oposição são alvo de detenções ou são obrigados a buscar o exílio. Sua aprovação segue acima dos 60% em pesquisas de opinião independentes, apesar de a Rússia enfrentar uma das maiores mortalidades decorrentes da Covid-19 em todo o mundo. Seu partido Rússia Unida conquistou uma vitória de respeito nas eleições parlamentares de setembro, suscitando poucos protestos apesar das evidências de fraude.

Putin também comanda um Exército que desenvolve armamento cada vez mais moderno, como sofisticados mísseis hipersônicos e torpedos de capacidade nuclear. E a Rússia está firmando uma parceria mais sólida com a China, sublinhada na sexta feira quando ambos os países realizaram uma patrulha conjunta com bombardeiros estratégicos sobre o Pacífico.

Avanço Ocidental no Leste

Ao mesmo tempo, analistas russos dizem que o Kremlin se mostra cada vez mais preocupado com a possibilidade de o Ocidente expandir sua presença militar no Leste Europeu pós-soviético. A Lituânia e dois outros países bálticos que já fizeram parte da União Soviética, Letônia e Estônia, são fazem parte da Otan e abrigam forças ocidentais. Em Belarus, o mais próximo aliado da Rússia, o Ocidente apoiou abertamente a oposição exilada a Lukashenko.

Mas é a Ucrânia a principal responsável pelas atuais “linhas vermelhas” da Rússia. O Kremlin disse em setembro que a “expansão da infraestrutura da Otan em território ucraniano” — onde o Ocidente já oferece treinamento e armamento a forças ucranianas — seria uma violação dessas linhas. E funcionários do governo russo ficaram furiosos nas semanas recentes com a atividade militar por parte dos Estados Unidos e seus aliados na região do Mar Negro perto da Ucrânia, onde o presidente Volodymyr Zelensky assume uma postura cada vez mais anti-russa.

Dmitri Trenin, diretor do centro de estudos estratégicos Carnegie Moscow Center, disse que para a Rússia, o momento atual pode parecer uma inversão dos papéis da Crise de Mísseis de 1962, quando o presidente John F. Kennedy se mostrou disposto a correr o risco de uma guerra nuclear para impedir que a União Soviética instalasse mísseis perto do litoral da Flórida. Especialistas do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, escreveram este mês que “o Kremlin enxerga cada vez mais a Ucrânia como um porta-aviões ocidental” estacionado na fronteira sudoeste da Rússia.

“Ele acredita que é hora de mudar o ritmo da nossa política externa", disse Trenin a respeito da nova abordagem de Putin. De acordo com ele, na visão que o presidente russo tem do Ocidente, “a única linguagem entendida é a da força".

Miliciano pró-Rússia monta guarda na região de Luhansk, no leste da Ucrânia: mobilização de tropas aumenta risco de conflito aberto Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

O retorno da URSS?

Para Asta Skaisgiryte, a assessora de política externa lituana, os EUA devem ser cautelosos ao engajar a Rússia mesmo com Putin afirmando que seu país é um “amante da paz”, como fez na quinta feira.

“Não podemos ser ingênuos", disse Asta. “Temos que ficar muito atentos ao que ele faz, sem cair na armadilha da retórica de Putin.”

O que Putin deseja? Para Asta, a resposta é simples: “Restaurar a União Soviética".

Para Dmitri Trenin, o analista da Carnegie, Putin está pouco interessado em invasões e ocupações de larga escala em outros países, levando em consideração que a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80 ajudou a precipitar o colapso da União Soviética. Mas ele disse que garantir um compromisso internacional com a Ucrânia enquanto país neutro, com a concessão de alguma autonomia ao leste do país, mais favorável à Rússia, seria uma das prioridades do Kremlin.

“O presidente Putin chegou à conclusão que os canais, meios, formas e métodos diplomáticos normais não estão funcionando", disse Trenin. “Potencialmente, temos uma situação bastante ruim.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

VILNA — O mau agouro de uma mobilização militar russa perto da Ucrânia. Uma crise de imigrantes em Belarus que lideranças ocidentais descrevem como “guerra híbrida” por parte de um estado cliente do Kremlin. O crescente temor envolvendo o gás natural que pode deixar a Europa diante de um inverno gelado.

O presidente Vladimir Putin, da Rússia, vem cada vez mais colocando suas cartas na mesa: ele está disposto a correr riscos cada vez maiores para obrigar o Ocidente a dar ouvidos às demandas russas. E os Estados Unidos e seus aliados percebem um momento de volatilidade incomum, com Putin desempenhando um papel em múltiplas crises desestabilizadoras ao mesmo tempo.

Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em evento com estudantes em 1º de setembro. Foto: Sputnik/Evgeny Paulin/Kremlin via REUTERS

Este mês, bombardeiros nucleares russos de longo alcance fizeram repetidas patrulhas perto da fronteira da União Europeia com a Polônia, e uma mobilização militar sigilosa e inexplicada no sudoeste da Rússia fez funcionários da espionagem americana e europeia alertarem para a possibilidade de o Kremlin estar encaminhando os preparativos de uma nova invasão da Ucrânia.

Durante discurso na quinta feira endereçado a diplomatas russos, Putin indicou mais abertamente do que antes que buscava usar o poderio militar para coagir o Ocidente a respeitar os interesses russos na região. Ele disse que os países ocidentais estavam finalmente se dando conta de que a Rússia fala sério em se tratando de defender suas “linhas vermelhas” contra a presença de forças da Otan perto de suas fronteiras.

“Nossos alertas mais recentes foram de fato ouvidos, e estão surtindo efeito: a tensão no local se elevou, afinal", disse Putin. “É importante que as coisas permaneçam assim por tanto tempo quanto o possível, para que eles não pensem em criar algum tipo de conflito na nossa fronteira ocidental desnecessário para nós.”

Seu navegador não suporta esse video.

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os países ocidentais de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro. O governo americano está preocupado com novas concentrações de tropas russas. Já a Ucrânia quer comprar armas de países ocidentais.

Crise de migração em Belarus

As tensões foram exacerbadas pela crise de migração orquestrada nas fronteiras da União Europeia por Belarus, aliado próximo da Rússia, e por uma escassez no fornecimento de energia que a Rússia, fornecedora do gás natural usado em boa parte da Europa Ocidental, usou para pressionar o bloco a aprovar um novo gasoduto que ampliaria a influência do Kremlin na região.

“É uma situação de segurança regional que preocupa bastante no momento", disse Asta Skaisgiryte, assessora de política externa do presidente da Lituânia, país membro da UE e da Otan que enfrentou uma onda de migração vinda de Belarus, país vizinho, nos meses mais recentes.

Em Belarus na sexta feira, as tensões que no início da semana desencadearam enfrentamentos violentos no principal ponto de travessia da fronteira com a Polônia seguiram retrocedendo. Forças de seguranças belarussas armadas com rifles Kalashnikov vigiavam um imenso armazém que abriga cerca de 2.000 imigrantes.

Muitos dos imigrantes se disseram alarmados e frustrados por terem que voltar atrás em vez de avançar rumo à Polônia, indicando que o presidente de Belarus, Aleksandr G. Lukashenko, pode enfrentar dificuldades para conter os ânimos se os imigrantes perderem a esperança de chegar à Europa.

A confiança de Putin

Em Moscou, Putin parece se sentir cada vez mais confiante. Ele rechaçou o desafio ao seu poder este ano por parte do líder da oposição Aleksei A. Navalny, detido, enquanto outros nomes da oposição são alvo de detenções ou são obrigados a buscar o exílio. Sua aprovação segue acima dos 60% em pesquisas de opinião independentes, apesar de a Rússia enfrentar uma das maiores mortalidades decorrentes da Covid-19 em todo o mundo. Seu partido Rússia Unida conquistou uma vitória de respeito nas eleições parlamentares de setembro, suscitando poucos protestos apesar das evidências de fraude.

Putin também comanda um Exército que desenvolve armamento cada vez mais moderno, como sofisticados mísseis hipersônicos e torpedos de capacidade nuclear. E a Rússia está firmando uma parceria mais sólida com a China, sublinhada na sexta feira quando ambos os países realizaram uma patrulha conjunta com bombardeiros estratégicos sobre o Pacífico.

Avanço Ocidental no Leste

Ao mesmo tempo, analistas russos dizem que o Kremlin se mostra cada vez mais preocupado com a possibilidade de o Ocidente expandir sua presença militar no Leste Europeu pós-soviético. A Lituânia e dois outros países bálticos que já fizeram parte da União Soviética, Letônia e Estônia, são fazem parte da Otan e abrigam forças ocidentais. Em Belarus, o mais próximo aliado da Rússia, o Ocidente apoiou abertamente a oposição exilada a Lukashenko.

Mas é a Ucrânia a principal responsável pelas atuais “linhas vermelhas” da Rússia. O Kremlin disse em setembro que a “expansão da infraestrutura da Otan em território ucraniano” — onde o Ocidente já oferece treinamento e armamento a forças ucranianas — seria uma violação dessas linhas. E funcionários do governo russo ficaram furiosos nas semanas recentes com a atividade militar por parte dos Estados Unidos e seus aliados na região do Mar Negro perto da Ucrânia, onde o presidente Volodymyr Zelensky assume uma postura cada vez mais anti-russa.

Dmitri Trenin, diretor do centro de estudos estratégicos Carnegie Moscow Center, disse que para a Rússia, o momento atual pode parecer uma inversão dos papéis da Crise de Mísseis de 1962, quando o presidente John F. Kennedy se mostrou disposto a correr o risco de uma guerra nuclear para impedir que a União Soviética instalasse mísseis perto do litoral da Flórida. Especialistas do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, escreveram este mês que “o Kremlin enxerga cada vez mais a Ucrânia como um porta-aviões ocidental” estacionado na fronteira sudoeste da Rússia.

“Ele acredita que é hora de mudar o ritmo da nossa política externa", disse Trenin a respeito da nova abordagem de Putin. De acordo com ele, na visão que o presidente russo tem do Ocidente, “a única linguagem entendida é a da força".

Miliciano pró-Rússia monta guarda na região de Luhansk, no leste da Ucrânia: mobilização de tropas aumenta risco de conflito aberto Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

O retorno da URSS?

Para Asta Skaisgiryte, a assessora de política externa lituana, os EUA devem ser cautelosos ao engajar a Rússia mesmo com Putin afirmando que seu país é um “amante da paz”, como fez na quinta feira.

“Não podemos ser ingênuos", disse Asta. “Temos que ficar muito atentos ao que ele faz, sem cair na armadilha da retórica de Putin.”

O que Putin deseja? Para Asta, a resposta é simples: “Restaurar a União Soviética".

Para Dmitri Trenin, o analista da Carnegie, Putin está pouco interessado em invasões e ocupações de larga escala em outros países, levando em consideração que a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80 ajudou a precipitar o colapso da União Soviética. Mas ele disse que garantir um compromisso internacional com a Ucrânia enquanto país neutro, com a concessão de alguma autonomia ao leste do país, mais favorável à Rússia, seria uma das prioridades do Kremlin.

“O presidente Putin chegou à conclusão que os canais, meios, formas e métodos diplomáticos normais não estão funcionando", disse Trenin. “Potencialmente, temos uma situação bastante ruim.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

VILNA — O mau agouro de uma mobilização militar russa perto da Ucrânia. Uma crise de imigrantes em Belarus que lideranças ocidentais descrevem como “guerra híbrida” por parte de um estado cliente do Kremlin. O crescente temor envolvendo o gás natural que pode deixar a Europa diante de um inverno gelado.

O presidente Vladimir Putin, da Rússia, vem cada vez mais colocando suas cartas na mesa: ele está disposto a correr riscos cada vez maiores para obrigar o Ocidente a dar ouvidos às demandas russas. E os Estados Unidos e seus aliados percebem um momento de volatilidade incomum, com Putin desempenhando um papel em múltiplas crises desestabilizadoras ao mesmo tempo.

Na região da Europa que se estende do Mar Báltico ao Mar Negro, há décadas objeto da disputa entre a influência de Moscou e a do Ocidente, a ameaça de novos conflitos militares está crescendo.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em evento com estudantes em 1º de setembro. Foto: Sputnik/Evgeny Paulin/Kremlin via REUTERS

Este mês, bombardeiros nucleares russos de longo alcance fizeram repetidas patrulhas perto da fronteira da União Europeia com a Polônia, e uma mobilização militar sigilosa e inexplicada no sudoeste da Rússia fez funcionários da espionagem americana e europeia alertarem para a possibilidade de o Kremlin estar encaminhando os preparativos de uma nova invasão da Ucrânia.

Durante discurso na quinta feira endereçado a diplomatas russos, Putin indicou mais abertamente do que antes que buscava usar o poderio militar para coagir o Ocidente a respeitar os interesses russos na região. Ele disse que os países ocidentais estavam finalmente se dando conta de que a Rússia fala sério em se tratando de defender suas “linhas vermelhas” contra a presença de forças da Otan perto de suas fronteiras.

“Nossos alertas mais recentes foram de fato ouvidos, e estão surtindo efeito: a tensão no local se elevou, afinal", disse Putin. “É importante que as coisas permaneçam assim por tanto tempo quanto o possível, para que eles não pensem em criar algum tipo de conflito na nossa fronteira ocidental desnecessário para nós.”

Seu navegador não suporta esse video.

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os países ocidentais de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro. O governo americano está preocupado com novas concentrações de tropas russas. Já a Ucrânia quer comprar armas de países ocidentais.

Crise de migração em Belarus

As tensões foram exacerbadas pela crise de migração orquestrada nas fronteiras da União Europeia por Belarus, aliado próximo da Rússia, e por uma escassez no fornecimento de energia que a Rússia, fornecedora do gás natural usado em boa parte da Europa Ocidental, usou para pressionar o bloco a aprovar um novo gasoduto que ampliaria a influência do Kremlin na região.

“É uma situação de segurança regional que preocupa bastante no momento", disse Asta Skaisgiryte, assessora de política externa do presidente da Lituânia, país membro da UE e da Otan que enfrentou uma onda de migração vinda de Belarus, país vizinho, nos meses mais recentes.

Em Belarus na sexta feira, as tensões que no início da semana desencadearam enfrentamentos violentos no principal ponto de travessia da fronteira com a Polônia seguiram retrocedendo. Forças de seguranças belarussas armadas com rifles Kalashnikov vigiavam um imenso armazém que abriga cerca de 2.000 imigrantes.

Muitos dos imigrantes se disseram alarmados e frustrados por terem que voltar atrás em vez de avançar rumo à Polônia, indicando que o presidente de Belarus, Aleksandr G. Lukashenko, pode enfrentar dificuldades para conter os ânimos se os imigrantes perderem a esperança de chegar à Europa.

A confiança de Putin

Em Moscou, Putin parece se sentir cada vez mais confiante. Ele rechaçou o desafio ao seu poder este ano por parte do líder da oposição Aleksei A. Navalny, detido, enquanto outros nomes da oposição são alvo de detenções ou são obrigados a buscar o exílio. Sua aprovação segue acima dos 60% em pesquisas de opinião independentes, apesar de a Rússia enfrentar uma das maiores mortalidades decorrentes da Covid-19 em todo o mundo. Seu partido Rússia Unida conquistou uma vitória de respeito nas eleições parlamentares de setembro, suscitando poucos protestos apesar das evidências de fraude.

Putin também comanda um Exército que desenvolve armamento cada vez mais moderno, como sofisticados mísseis hipersônicos e torpedos de capacidade nuclear. E a Rússia está firmando uma parceria mais sólida com a China, sublinhada na sexta feira quando ambos os países realizaram uma patrulha conjunta com bombardeiros estratégicos sobre o Pacífico.

Avanço Ocidental no Leste

Ao mesmo tempo, analistas russos dizem que o Kremlin se mostra cada vez mais preocupado com a possibilidade de o Ocidente expandir sua presença militar no Leste Europeu pós-soviético. A Lituânia e dois outros países bálticos que já fizeram parte da União Soviética, Letônia e Estônia, são fazem parte da Otan e abrigam forças ocidentais. Em Belarus, o mais próximo aliado da Rússia, o Ocidente apoiou abertamente a oposição exilada a Lukashenko.

Mas é a Ucrânia a principal responsável pelas atuais “linhas vermelhas” da Rússia. O Kremlin disse em setembro que a “expansão da infraestrutura da Otan em território ucraniano” — onde o Ocidente já oferece treinamento e armamento a forças ucranianas — seria uma violação dessas linhas. E funcionários do governo russo ficaram furiosos nas semanas recentes com a atividade militar por parte dos Estados Unidos e seus aliados na região do Mar Negro perto da Ucrânia, onde o presidente Volodymyr Zelensky assume uma postura cada vez mais anti-russa.

Dmitri Trenin, diretor do centro de estudos estratégicos Carnegie Moscow Center, disse que para a Rússia, o momento atual pode parecer uma inversão dos papéis da Crise de Mísseis de 1962, quando o presidente John F. Kennedy se mostrou disposto a correr o risco de uma guerra nuclear para impedir que a União Soviética instalasse mísseis perto do litoral da Flórida. Especialistas do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, escreveram este mês que “o Kremlin enxerga cada vez mais a Ucrânia como um porta-aviões ocidental” estacionado na fronteira sudoeste da Rússia.

“Ele acredita que é hora de mudar o ritmo da nossa política externa", disse Trenin a respeito da nova abordagem de Putin. De acordo com ele, na visão que o presidente russo tem do Ocidente, “a única linguagem entendida é a da força".

Miliciano pró-Rússia monta guarda na região de Luhansk, no leste da Ucrânia: mobilização de tropas aumenta risco de conflito aberto Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

O retorno da URSS?

Para Asta Skaisgiryte, a assessora de política externa lituana, os EUA devem ser cautelosos ao engajar a Rússia mesmo com Putin afirmando que seu país é um “amante da paz”, como fez na quinta feira.

“Não podemos ser ingênuos", disse Asta. “Temos que ficar muito atentos ao que ele faz, sem cair na armadilha da retórica de Putin.”

O que Putin deseja? Para Asta, a resposta é simples: “Restaurar a União Soviética".

Para Dmitri Trenin, o analista da Carnegie, Putin está pouco interessado em invasões e ocupações de larga escala em outros países, levando em consideração que a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80 ajudou a precipitar o colapso da União Soviética. Mas ele disse que garantir um compromisso internacional com a Ucrânia enquanto país neutro, com a concessão de alguma autonomia ao leste do país, mais favorável à Rússia, seria uma das prioridades do Kremlin.

“O presidente Putin chegou à conclusão que os canais, meios, formas e métodos diplomáticos normais não estão funcionando", disse Trenin. “Potencialmente, temos uma situação bastante ruim.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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