Disputa dentro do peronismo faz dólar paralelo disparar e ameaça ‘superministro’ da Economia


Câmbio paralelo saltou 8,5% em quatro dias e chegou a 440 pesos após rumores de que Sergio Massa poderia renunciar ao cargo de ministro

Por Carolina Marins
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Uma nova disputa de poder dentro do governo da Argentina entre o “superministro” da Economia, Sergio Massa e Antonio Aracre, chefe de gabinete de Alberto Fernández, ampliou a instabilidade ao governo em meio ao ano eleitoral. Na quinta-feira, rumores sobre uma possível queda de Massa levaram o dólar paralelo ao valor recorde de 440 pesos durante o dia, para cair em seguida. Em quatro dias, o câmbio aumentou 8,5%.

O aumento do câmbio paralelo nos últimos quatro dias foi muito acima da média e causou mal estar dentro da coalizão governista do Frente de Todos, que já luta para definir seus candidatos para as primárias eleitorais de agosto. A disparada ocorreu após uma rusga entre Massa e o chefe de assessores de Fernández,

A desvalorização do peso se agravou quando surgiram rumores na imprensa argentina que Sergio Massa estava a ponto de renunciar e ser substituído por Aracre, que até então era o homem de confiança de Fernández. Segundo as mesmas fontes, Aracre chegou a apresentar um “plano antiinflacionário” ao presidente, em um movimento que a equipe de Massa classificou como conspiração para derrubar o ministro.

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Pela versão de Sergio Massa, o boato de sua saída teria sido plantado pelo próprio Aracre para propositalmente provocar a subida do câmbio e uma instabilidade interna, e assim obter seu cargo. Aracre, no entanto, nega a afirmação. De acordo com a imprensa argentina citando fontes próximas ao presidente, Fernández estava convencido da versão de Massa, que teria feito um ultimato a Fernández para que demitisse Aracre ou ele de fato renunciaria.

Horas depois, a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, publicou uma foto de Massa e Fernández sorridentes com a mensagem “animosidade interna”. O governo nega as informações de que haja uma briga interna.

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O ministro da Economia argentino, Sergio Massa Foto: Luis Robayo/AFP

Frente ao mal estar que a situação gerou para o governo e dentro da coalizão Frente de Todos, Aracre decidiu renunciar ao cargo que assumiu em 1º de fevereiro.

“Fizeram uma movimentação em que tentaram tirar o ministro, o mercado ficou nervoso e falou ‘se for mais longe e tirar o ministro da Economia, isso explode’ e houve o aumento do dólar mais que o normal”, explica Juan Carlos Rosiello, professor do Centro de Análises Econômicas e Empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Católica Argentina.

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“Agora que ficou mais ou menos claro que ele não vai embora, o mercado se acalmou um pouco, mas essa insegurança persiste, porque existe a percepção de que pode explodir a qualquer momento”, acrescentou.

Massa foi indicado por Fernández em julho do ano passado, após a queda dos dois ministros anteriores, com a promessa de conter a disparada da inflação. Ao reunir os ministérios da Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca, Massa ganhou o apelido de “superministro”.

Na época, o nome de Massa começou a ganhar força como possível candidato do peronismo para as eleições deste ano. No entanto, a escalada da inflação tirou o favoritismo do ministro que hoje só é mais popular que Alberto Fernández dentro da coalizão.

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Da esquerda para a direita: Sergio Massa, Alberto Fernández e Cristina Kirchner  Foto: Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

Como funciona o câmbio na Argentina

O dólar blue, que é o câmbio paralelo na Argentina que chega a custar o dobro do câmbio oficial, vem aumentando desde o início do governo de Fernández em 2019, que recebeu a moeda custando 66 pesos. Porém, a moeda apresentou uma tendência de estabilidade nos últimos dois anos, enquanto o Banco Central controlava as taxas de juros justamente para manter o câmbio mais baixo.

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“O dólar oficial é um dólar subsidiado, ou seja, não é real”, explica Rosiello. “A economia em geral se move com o dólar blue, o dólar oficial está nesse valor devido a um problema político em que o partido no poder não quer mostrar que desvalorizou a moeda, então mantém um valor irreal do dólar para dizer que não desvalorizam, mas o que acontece é que a economia está indo para o outro lado.”

No entanto, com os problemas econômicos agravados pela perda de reservas, a inflação mundial com a guerra na Ucrânia e a seca histórica que passa a Argentina, o blue disparou no final do ano passado e economistas apontavam que era questão de tempo até que ultrapassasse a barreira dos 400 pesos. Na verdade, sugerem analistas, a moeda já estaria muito atrasada em seu valor frente ao disparo da inflação.

Alberto Fernández e Sergio Massa postaram uma foto sorridentes depois de boatos de crise interna no Frente de Todos Foto: Esteban Collazo/Presidência da Argentina via AFP
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Quem é Sergio Massa

O superministro da Economia é o que até o agora tem governado de fato, segundo analistas, pois tem trabalhado com o tema que mais preocupa o eleitorado argentino que é a inflação. Mas ele e o peronismo tem uma relação de idas e vindas.

Em 1999 ele se tornou o membro mais jovem do Congresso argentino, na época com 27 anos. Em 2007 foi eleito prefeito de Tigre, município ao norte de Buenos Aires. Mas se afastou de suas funções na prefeitura no ano seguinte porque foi convidado por Cristina Kirchner para ser seu chefe de Gabinete no lugar de Alberto Fernández, cargo que ocupou por um ano.

Em 2009, perdeu as eleições de meio de mandato e então retornou à prefeitura de Tigre, onde foi reeleito. Em 2013, Massa rompeu com o kirchnerismo e fundou seu próprio partido, Frente Renovador, pelo qual concorreu às eleições de 2015 contra Maurício Macri e o peronista Daniel Scioli, mas terminou em terceiro.

Ele retornou ao lado do peronismo em 2019, quando foi formada a coalizão Frente de Todos na intenção de vencer o então presidente Macri nas eleições nacionais. Sua indicação como superministro da Economia no ano passado animou o mercado financeiro e deu um gás para as candidaturas governistas das eleições deste ano.

O próprio nome de Massa começou a surgir como potencial candidato. Mas os últimos resultados econômicos, principalmente após a inflação ultrapassar a barreira dos 100%, esfriaram a possibilidade. Hoje, o Frente de Todos se vê em uma grande crise interna pela candidatura, onde Fernández tem uma rejeição de 65% e Cristina Kirchner já anunciou que não concorrerá - embora analistas coloquem esta decisão em dúvida até a definição final das listas de candidatos.

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Uma nova disputa de poder dentro do governo da Argentina entre o “superministro” da Economia, Sergio Massa e Antonio Aracre, chefe de gabinete de Alberto Fernández, ampliou a instabilidade ao governo em meio ao ano eleitoral. Na quinta-feira, rumores sobre uma possível queda de Massa levaram o dólar paralelo ao valor recorde de 440 pesos durante o dia, para cair em seguida. Em quatro dias, o câmbio aumentou 8,5%.

O aumento do câmbio paralelo nos últimos quatro dias foi muito acima da média e causou mal estar dentro da coalizão governista do Frente de Todos, que já luta para definir seus candidatos para as primárias eleitorais de agosto. A disparada ocorreu após uma rusga entre Massa e o chefe de assessores de Fernández,

A desvalorização do peso se agravou quando surgiram rumores na imprensa argentina que Sergio Massa estava a ponto de renunciar e ser substituído por Aracre, que até então era o homem de confiança de Fernández. Segundo as mesmas fontes, Aracre chegou a apresentar um “plano antiinflacionário” ao presidente, em um movimento que a equipe de Massa classificou como conspiração para derrubar o ministro.

Pela versão de Sergio Massa, o boato de sua saída teria sido plantado pelo próprio Aracre para propositalmente provocar a subida do câmbio e uma instabilidade interna, e assim obter seu cargo. Aracre, no entanto, nega a afirmação. De acordo com a imprensa argentina citando fontes próximas ao presidente, Fernández estava convencido da versão de Massa, que teria feito um ultimato a Fernández para que demitisse Aracre ou ele de fato renunciaria.

Horas depois, a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, publicou uma foto de Massa e Fernández sorridentes com a mensagem “animosidade interna”. O governo nega as informações de que haja uma briga interna.

O ministro da Economia argentino, Sergio Massa Foto: Luis Robayo/AFP

Frente ao mal estar que a situação gerou para o governo e dentro da coalizão Frente de Todos, Aracre decidiu renunciar ao cargo que assumiu em 1º de fevereiro.

“Fizeram uma movimentação em que tentaram tirar o ministro, o mercado ficou nervoso e falou ‘se for mais longe e tirar o ministro da Economia, isso explode’ e houve o aumento do dólar mais que o normal”, explica Juan Carlos Rosiello, professor do Centro de Análises Econômicas e Empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Católica Argentina.

“Agora que ficou mais ou menos claro que ele não vai embora, o mercado se acalmou um pouco, mas essa insegurança persiste, porque existe a percepção de que pode explodir a qualquer momento”, acrescentou.

Massa foi indicado por Fernández em julho do ano passado, após a queda dos dois ministros anteriores, com a promessa de conter a disparada da inflação. Ao reunir os ministérios da Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca, Massa ganhou o apelido de “superministro”.

Na época, o nome de Massa começou a ganhar força como possível candidato do peronismo para as eleições deste ano. No entanto, a escalada da inflação tirou o favoritismo do ministro que hoje só é mais popular que Alberto Fernández dentro da coalizão.

Da esquerda para a direita: Sergio Massa, Alberto Fernández e Cristina Kirchner  Foto: Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

Como funciona o câmbio na Argentina

O dólar blue, que é o câmbio paralelo na Argentina que chega a custar o dobro do câmbio oficial, vem aumentando desde o início do governo de Fernández em 2019, que recebeu a moeda custando 66 pesos. Porém, a moeda apresentou uma tendência de estabilidade nos últimos dois anos, enquanto o Banco Central controlava as taxas de juros justamente para manter o câmbio mais baixo.

“O dólar oficial é um dólar subsidiado, ou seja, não é real”, explica Rosiello. “A economia em geral se move com o dólar blue, o dólar oficial está nesse valor devido a um problema político em que o partido no poder não quer mostrar que desvalorizou a moeda, então mantém um valor irreal do dólar para dizer que não desvalorizam, mas o que acontece é que a economia está indo para o outro lado.”

No entanto, com os problemas econômicos agravados pela perda de reservas, a inflação mundial com a guerra na Ucrânia e a seca histórica que passa a Argentina, o blue disparou no final do ano passado e economistas apontavam que era questão de tempo até que ultrapassasse a barreira dos 400 pesos. Na verdade, sugerem analistas, a moeda já estaria muito atrasada em seu valor frente ao disparo da inflação.

Alberto Fernández e Sergio Massa postaram uma foto sorridentes depois de boatos de crise interna no Frente de Todos Foto: Esteban Collazo/Presidência da Argentina via AFP

Quem é Sergio Massa

O superministro da Economia é o que até o agora tem governado de fato, segundo analistas, pois tem trabalhado com o tema que mais preocupa o eleitorado argentino que é a inflação. Mas ele e o peronismo tem uma relação de idas e vindas.

Em 1999 ele se tornou o membro mais jovem do Congresso argentino, na época com 27 anos. Em 2007 foi eleito prefeito de Tigre, município ao norte de Buenos Aires. Mas se afastou de suas funções na prefeitura no ano seguinte porque foi convidado por Cristina Kirchner para ser seu chefe de Gabinete no lugar de Alberto Fernández, cargo que ocupou por um ano.

Em 2009, perdeu as eleições de meio de mandato e então retornou à prefeitura de Tigre, onde foi reeleito. Em 2013, Massa rompeu com o kirchnerismo e fundou seu próprio partido, Frente Renovador, pelo qual concorreu às eleições de 2015 contra Maurício Macri e o peronista Daniel Scioli, mas terminou em terceiro.

Ele retornou ao lado do peronismo em 2019, quando foi formada a coalizão Frente de Todos na intenção de vencer o então presidente Macri nas eleições nacionais. Sua indicação como superministro da Economia no ano passado animou o mercado financeiro e deu um gás para as candidaturas governistas das eleições deste ano.

O próprio nome de Massa começou a surgir como potencial candidato. Mas os últimos resultados econômicos, principalmente após a inflação ultrapassar a barreira dos 100%, esfriaram a possibilidade. Hoje, o Frente de Todos se vê em uma grande crise interna pela candidatura, onde Fernández tem uma rejeição de 65% e Cristina Kirchner já anunciou que não concorrerá - embora analistas coloquem esta decisão em dúvida até a definição final das listas de candidatos.

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Uma nova disputa de poder dentro do governo da Argentina entre o “superministro” da Economia, Sergio Massa e Antonio Aracre, chefe de gabinete de Alberto Fernández, ampliou a instabilidade ao governo em meio ao ano eleitoral. Na quinta-feira, rumores sobre uma possível queda de Massa levaram o dólar paralelo ao valor recorde de 440 pesos durante o dia, para cair em seguida. Em quatro dias, o câmbio aumentou 8,5%.

O aumento do câmbio paralelo nos últimos quatro dias foi muito acima da média e causou mal estar dentro da coalizão governista do Frente de Todos, que já luta para definir seus candidatos para as primárias eleitorais de agosto. A disparada ocorreu após uma rusga entre Massa e o chefe de assessores de Fernández,

A desvalorização do peso se agravou quando surgiram rumores na imprensa argentina que Sergio Massa estava a ponto de renunciar e ser substituído por Aracre, que até então era o homem de confiança de Fernández. Segundo as mesmas fontes, Aracre chegou a apresentar um “plano antiinflacionário” ao presidente, em um movimento que a equipe de Massa classificou como conspiração para derrubar o ministro.

Pela versão de Sergio Massa, o boato de sua saída teria sido plantado pelo próprio Aracre para propositalmente provocar a subida do câmbio e uma instabilidade interna, e assim obter seu cargo. Aracre, no entanto, nega a afirmação. De acordo com a imprensa argentina citando fontes próximas ao presidente, Fernández estava convencido da versão de Massa, que teria feito um ultimato a Fernández para que demitisse Aracre ou ele de fato renunciaria.

Horas depois, a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, publicou uma foto de Massa e Fernández sorridentes com a mensagem “animosidade interna”. O governo nega as informações de que haja uma briga interna.

O ministro da Economia argentino, Sergio Massa Foto: Luis Robayo/AFP

Frente ao mal estar que a situação gerou para o governo e dentro da coalizão Frente de Todos, Aracre decidiu renunciar ao cargo que assumiu em 1º de fevereiro.

“Fizeram uma movimentação em que tentaram tirar o ministro, o mercado ficou nervoso e falou ‘se for mais longe e tirar o ministro da Economia, isso explode’ e houve o aumento do dólar mais que o normal”, explica Juan Carlos Rosiello, professor do Centro de Análises Econômicas e Empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Católica Argentina.

“Agora que ficou mais ou menos claro que ele não vai embora, o mercado se acalmou um pouco, mas essa insegurança persiste, porque existe a percepção de que pode explodir a qualquer momento”, acrescentou.

Massa foi indicado por Fernández em julho do ano passado, após a queda dos dois ministros anteriores, com a promessa de conter a disparada da inflação. Ao reunir os ministérios da Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca, Massa ganhou o apelido de “superministro”.

Na época, o nome de Massa começou a ganhar força como possível candidato do peronismo para as eleições deste ano. No entanto, a escalada da inflação tirou o favoritismo do ministro que hoje só é mais popular que Alberto Fernández dentro da coalizão.

Da esquerda para a direita: Sergio Massa, Alberto Fernández e Cristina Kirchner  Foto: Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

Como funciona o câmbio na Argentina

O dólar blue, que é o câmbio paralelo na Argentina que chega a custar o dobro do câmbio oficial, vem aumentando desde o início do governo de Fernández em 2019, que recebeu a moeda custando 66 pesos. Porém, a moeda apresentou uma tendência de estabilidade nos últimos dois anos, enquanto o Banco Central controlava as taxas de juros justamente para manter o câmbio mais baixo.

“O dólar oficial é um dólar subsidiado, ou seja, não é real”, explica Rosiello. “A economia em geral se move com o dólar blue, o dólar oficial está nesse valor devido a um problema político em que o partido no poder não quer mostrar que desvalorizou a moeda, então mantém um valor irreal do dólar para dizer que não desvalorizam, mas o que acontece é que a economia está indo para o outro lado.”

No entanto, com os problemas econômicos agravados pela perda de reservas, a inflação mundial com a guerra na Ucrânia e a seca histórica que passa a Argentina, o blue disparou no final do ano passado e economistas apontavam que era questão de tempo até que ultrapassasse a barreira dos 400 pesos. Na verdade, sugerem analistas, a moeda já estaria muito atrasada em seu valor frente ao disparo da inflação.

Alberto Fernández e Sergio Massa postaram uma foto sorridentes depois de boatos de crise interna no Frente de Todos Foto: Esteban Collazo/Presidência da Argentina via AFP

Quem é Sergio Massa

O superministro da Economia é o que até o agora tem governado de fato, segundo analistas, pois tem trabalhado com o tema que mais preocupa o eleitorado argentino que é a inflação. Mas ele e o peronismo tem uma relação de idas e vindas.

Em 1999 ele se tornou o membro mais jovem do Congresso argentino, na época com 27 anos. Em 2007 foi eleito prefeito de Tigre, município ao norte de Buenos Aires. Mas se afastou de suas funções na prefeitura no ano seguinte porque foi convidado por Cristina Kirchner para ser seu chefe de Gabinete no lugar de Alberto Fernández, cargo que ocupou por um ano.

Em 2009, perdeu as eleições de meio de mandato e então retornou à prefeitura de Tigre, onde foi reeleito. Em 2013, Massa rompeu com o kirchnerismo e fundou seu próprio partido, Frente Renovador, pelo qual concorreu às eleições de 2015 contra Maurício Macri e o peronista Daniel Scioli, mas terminou em terceiro.

Ele retornou ao lado do peronismo em 2019, quando foi formada a coalizão Frente de Todos na intenção de vencer o então presidente Macri nas eleições nacionais. Sua indicação como superministro da Economia no ano passado animou o mercado financeiro e deu um gás para as candidaturas governistas das eleições deste ano.

O próprio nome de Massa começou a surgir como potencial candidato. Mas os últimos resultados econômicos, principalmente após a inflação ultrapassar a barreira dos 100%, esfriaram a possibilidade. Hoje, o Frente de Todos se vê em uma grande crise interna pela candidatura, onde Fernández tem uma rejeição de 65% e Cristina Kirchner já anunciou que não concorrerá - embora analistas coloquem esta decisão em dúvida até a definição final das listas de candidatos.

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Uma nova disputa de poder dentro do governo da Argentina entre o “superministro” da Economia, Sergio Massa e Antonio Aracre, chefe de gabinete de Alberto Fernández, ampliou a instabilidade ao governo em meio ao ano eleitoral. Na quinta-feira, rumores sobre uma possível queda de Massa levaram o dólar paralelo ao valor recorde de 440 pesos durante o dia, para cair em seguida. Em quatro dias, o câmbio aumentou 8,5%.

O aumento do câmbio paralelo nos últimos quatro dias foi muito acima da média e causou mal estar dentro da coalizão governista do Frente de Todos, que já luta para definir seus candidatos para as primárias eleitorais de agosto. A disparada ocorreu após uma rusga entre Massa e o chefe de assessores de Fernández,

A desvalorização do peso se agravou quando surgiram rumores na imprensa argentina que Sergio Massa estava a ponto de renunciar e ser substituído por Aracre, que até então era o homem de confiança de Fernández. Segundo as mesmas fontes, Aracre chegou a apresentar um “plano antiinflacionário” ao presidente, em um movimento que a equipe de Massa classificou como conspiração para derrubar o ministro.

Pela versão de Sergio Massa, o boato de sua saída teria sido plantado pelo próprio Aracre para propositalmente provocar a subida do câmbio e uma instabilidade interna, e assim obter seu cargo. Aracre, no entanto, nega a afirmação. De acordo com a imprensa argentina citando fontes próximas ao presidente, Fernández estava convencido da versão de Massa, que teria feito um ultimato a Fernández para que demitisse Aracre ou ele de fato renunciaria.

Horas depois, a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, publicou uma foto de Massa e Fernández sorridentes com a mensagem “animosidade interna”. O governo nega as informações de que haja uma briga interna.

O ministro da Economia argentino, Sergio Massa Foto: Luis Robayo/AFP

Frente ao mal estar que a situação gerou para o governo e dentro da coalizão Frente de Todos, Aracre decidiu renunciar ao cargo que assumiu em 1º de fevereiro.

“Fizeram uma movimentação em que tentaram tirar o ministro, o mercado ficou nervoso e falou ‘se for mais longe e tirar o ministro da Economia, isso explode’ e houve o aumento do dólar mais que o normal”, explica Juan Carlos Rosiello, professor do Centro de Análises Econômicas e Empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Católica Argentina.

“Agora que ficou mais ou menos claro que ele não vai embora, o mercado se acalmou um pouco, mas essa insegurança persiste, porque existe a percepção de que pode explodir a qualquer momento”, acrescentou.

Massa foi indicado por Fernández em julho do ano passado, após a queda dos dois ministros anteriores, com a promessa de conter a disparada da inflação. Ao reunir os ministérios da Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca, Massa ganhou o apelido de “superministro”.

Na época, o nome de Massa começou a ganhar força como possível candidato do peronismo para as eleições deste ano. No entanto, a escalada da inflação tirou o favoritismo do ministro que hoje só é mais popular que Alberto Fernández dentro da coalizão.

Da esquerda para a direita: Sergio Massa, Alberto Fernández e Cristina Kirchner  Foto: Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

Como funciona o câmbio na Argentina

O dólar blue, que é o câmbio paralelo na Argentina que chega a custar o dobro do câmbio oficial, vem aumentando desde o início do governo de Fernández em 2019, que recebeu a moeda custando 66 pesos. Porém, a moeda apresentou uma tendência de estabilidade nos últimos dois anos, enquanto o Banco Central controlava as taxas de juros justamente para manter o câmbio mais baixo.

“O dólar oficial é um dólar subsidiado, ou seja, não é real”, explica Rosiello. “A economia em geral se move com o dólar blue, o dólar oficial está nesse valor devido a um problema político em que o partido no poder não quer mostrar que desvalorizou a moeda, então mantém um valor irreal do dólar para dizer que não desvalorizam, mas o que acontece é que a economia está indo para o outro lado.”

No entanto, com os problemas econômicos agravados pela perda de reservas, a inflação mundial com a guerra na Ucrânia e a seca histórica que passa a Argentina, o blue disparou no final do ano passado e economistas apontavam que era questão de tempo até que ultrapassasse a barreira dos 400 pesos. Na verdade, sugerem analistas, a moeda já estaria muito atrasada em seu valor frente ao disparo da inflação.

Alberto Fernández e Sergio Massa postaram uma foto sorridentes depois de boatos de crise interna no Frente de Todos Foto: Esteban Collazo/Presidência da Argentina via AFP

Quem é Sergio Massa

O superministro da Economia é o que até o agora tem governado de fato, segundo analistas, pois tem trabalhado com o tema que mais preocupa o eleitorado argentino que é a inflação. Mas ele e o peronismo tem uma relação de idas e vindas.

Em 1999 ele se tornou o membro mais jovem do Congresso argentino, na época com 27 anos. Em 2007 foi eleito prefeito de Tigre, município ao norte de Buenos Aires. Mas se afastou de suas funções na prefeitura no ano seguinte porque foi convidado por Cristina Kirchner para ser seu chefe de Gabinete no lugar de Alberto Fernández, cargo que ocupou por um ano.

Em 2009, perdeu as eleições de meio de mandato e então retornou à prefeitura de Tigre, onde foi reeleito. Em 2013, Massa rompeu com o kirchnerismo e fundou seu próprio partido, Frente Renovador, pelo qual concorreu às eleições de 2015 contra Maurício Macri e o peronista Daniel Scioli, mas terminou em terceiro.

Ele retornou ao lado do peronismo em 2019, quando foi formada a coalizão Frente de Todos na intenção de vencer o então presidente Macri nas eleições nacionais. Sua indicação como superministro da Economia no ano passado animou o mercado financeiro e deu um gás para as candidaturas governistas das eleições deste ano.

O próprio nome de Massa começou a surgir como potencial candidato. Mas os últimos resultados econômicos, principalmente após a inflação ultrapassar a barreira dos 100%, esfriaram a possibilidade. Hoje, o Frente de Todos se vê em uma grande crise interna pela candidatura, onde Fernández tem uma rejeição de 65% e Cristina Kirchner já anunciou que não concorrerá - embora analistas coloquem esta decisão em dúvida até a definição final das listas de candidatos.

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