Documentos secretos do Pentágono revelam um Zelenski agressivo e com sede de atacar a Rússia


Em uma reunião no fim de janeiro, líder ucraniano sugeriu ataques em território inimigo e ocupação de cidades do lado russo da fronteira

Por John Hudson e Isabelle Khurshudyan
Atualização:

WASHINGTON - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, conquistou a confiança de governos ocidentais ao se recusar a usar as armas que eles fornecem para realizar ataques dentro da Rússia e priorizar atacar as forças russas dentro das fronteiras ucranianas. Mas documentos do Pentágono, anteriormente inéditos, que circularam na plataforma de mensagens Discord e foram obtidos pelo Washington Post mostram que, a portas fechadas, um outro líder, mais agressivo e com sede de atacar a Rússia. O comportamento do presidente ucraniano nesses relatos difere bastante da imagem pública do estadista calmo e estoico que resiste ao ataque brutal da Rússia.

As sugestões de Zelenski a seus generais, obtidos por fontes de inteligência americana, eram audaciosas: ocupar vilarejos russos para ganhar poder de barganha em relação a Moscou, bombardear um oleoduto que leva petróleo russo para a Hungria, um país-membro da Otan, e a busca por mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro das fronteiras russas

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Os registros foram obtidos por meio de interceptações de comunicações digitais e fornecem um raro vislumbre interno das deliberações de Zelenski em meio à guerra. O Pentágono, onde graduados comandantes militares dos EUA foram informados a respeito dos assuntos relatados nos documentos vazados, não colocou em questão a autenticidade dos materiais.

Ataque com drone interceptado por forças russas no Kremlin, no começo do mês  Foto: Ostorozhno Novosti/Reuters

Ataques dentro da Rússia

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Em uma reunião no fim de janeiro, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “conduzisse ataques dentro da Rússia” e ao mesmo tempo acionasse tropas dentro do território inimigo para “ocupar cidades russas não especificadas na fronteira”, de acordo com um documento classificado como “ultrassecreto”. O objetivo seria “dar a Kiev poder de barganha em negociações com Moscou”, afirmou o documento.

Em uma outra reunião, no fim de fevereiro, com o general Valeri Zaluzhni, o comandante militar mais graduado da Ucrânia, Zelenski “expressou preocupação” por “a Ucrânia não ter mísseis de longo alcance capazes de atingir destacamentos de soldados dentro da Rússia ou outra arma para atacá-los”. Zelenski, então, “sugeriu que a Ucrânia atacasse locações não especificadas de destacamentos em Rostov”, uma região no oeste da Rússia, usando drones, de acordo com outro documento secreto.

Durante uma reunião em meados de fevereiro com a vice-primeira-ministra Yuliia Svridenko, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “explodisse” o oleoduto Druzhba, de fabricação soviética, que fornece petróleo para a Hungria. “Zelenski sublinhou que (…) a Ucrânia deveria explodir logo o oleoduto e provavelmente destruir a indústria do (primeiro-ministro) húngaro Viktor Orbán, que depende pesadamente do petróleo russo”, afirma o documento.

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Ao detalhar a conversa, as autoridades de inteligência reconheceram que Zelenski estava “expressando raiva em relação à Hungria e portanto poderia estar fazendo ameaças hiperbólicas e vazias”, uma qualificação que não acompanha os outros relatos de Zelenski sugerindo ações militares audaciosas. Apesar da Hungria pertencer nominalmente à aliança ocidental, Orbán é amplamente considerado o líder europeu mais amigável ao Kremlin.

Quando questionado a respeito de ter ou não sugerido ocupar partes da Rússia, durante uma entrevista ao Post, em Kiev, Zelenski classificou as afirmações das fontes de inteligência dos EUA como “fantasias”, mas defendeu seu direito de usar táticas não convencionais em defesa de seu país.

“A Ucrânia tem todo direito de se proteger, e nós estamos fazendo isso. A Ucrânia não ocupou nenhum país, foi o contrário”, afirmou Zelenski. “Quando tantas pessoas morrem, há covas coletivas e nosso povo é torturado, estou certo de que temos de usar qualquer recurso.”

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Sabotagem de ponte na Crimeia atribuída à Ucrânia, no ano passado  Foto: AP Photo, File

Risco de conflito em larga escala

O uso de mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia é um tópico particularmente sensível para a Casa Branca, que há muito se preocupa com a possibilidade de o conflito ucraniano escalar para um nível fora de controle e forçar um embate direto entre EUA e Rússia, as duas maiores potências nucleares do mundo.

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Apesar de Washington ter dado a Zelenski bilhões de dólares em armamentos avançados, o presidente Joe Biden tem recusado constantemente o pedido do líder ucraniano por sistemas de mísseis táticos do Exército (ATACMS), de longo alcance, capazes de atingir alvos a até 300 quilômetros de distância. Desde o início da guerra, Biden tem dito que os EUA “não estão encorajando nem possibilitando ataques da Ucrânia além de suas fronteiras”.

Quando questionado a respeito dos dados de inteligência indicando que ele tinha avaliado o uso de mísseis de longo alcance para atingir a Rússia, Zelenski afirmou que isso não é considerado pela Ucrânia. “Ninguém no nosso país deu ordens para ofensivas ou ataques em território russo”, afirmou ele.

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Armas mais letais

Não está claro se os EUA compartilharam os relatos dos planos de Zelenski com países aliados, mas o presidente ucraniano continua a desfrutar de forte apoio dos governos ocidentais, que têm lhe fornecido armamentos cada vez mais sofisticados.

Na semana passada, o Reino Unido se tornou o primeiro país ocidental a fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia. O Storm Shadow, um sistema de mísseis com capacidades furtivas, tem alcance de 250 quilômetros, excedendo muito os 80 quilômetros de alcance dos lançadores Himars fornecidos pelos EUA.

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, afirmou na sexta-feira que os Storm Shadow dariam aos ucranianos “a melhor chance” de se defender e seriam destinados a uso apenas “dentro do território soberano da Ucrânia”. Um porta-voz da Embaixada Britânica em Washington recusou-se a comentar se as falas vazadas de Zelenski poderiam fazer Londres reconsiderar sua decisão.

O governo Biden afirma que os comentários interceptados de Zelenski não são o motivo da retenção dos ATACMS.

“A Ucrânia se comprometeu repetidamente em usar as armas fornecidas pelos EUA responsavelmente e estrategicamente quando necessário para responder à agressão russa, e nós estamos confiantes de que isso continuará a ocorrer”, afirmou uma autoridade de defesa dos EUA que, como outras fontes entrevistadas para a elaboração desta reportagem, falou sob condição de anonimato para discutir um tópico sensível.

Falta de confiança

Zelenski, contudo, afirmou acreditar que os EUA não estão enviando os armamentos porque não confiam em Kiev. “Eu acho que eles estão com medo de que as usemos em território russo”, disse Zelenski ao Post. “Mas eu sempre diria aos nossos parceiros (…) ‘Nós temos um alvo prioritário no qual estamos gastando os carregamentos de munições que recebemos; e os gastamos na desocupação dos territórios puramente ucranianos’”, afirmou ele.

Zelenski, na entrevista recente, afirmou que se reservou o direito de explorar opções militares variadas. “Tenho muitos generais com quem trabalho”, afirmou Zelenski. “E essas são minhas conversas pessoais.”

“A guerra trata da ocupação da Ucrânia”, acrescentou ele. “A Ucrânia tem de vencer.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

WASHINGTON - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, conquistou a confiança de governos ocidentais ao se recusar a usar as armas que eles fornecem para realizar ataques dentro da Rússia e priorizar atacar as forças russas dentro das fronteiras ucranianas. Mas documentos do Pentágono, anteriormente inéditos, que circularam na plataforma de mensagens Discord e foram obtidos pelo Washington Post mostram que, a portas fechadas, um outro líder, mais agressivo e com sede de atacar a Rússia. O comportamento do presidente ucraniano nesses relatos difere bastante da imagem pública do estadista calmo e estoico que resiste ao ataque brutal da Rússia.

As sugestões de Zelenski a seus generais, obtidos por fontes de inteligência americana, eram audaciosas: ocupar vilarejos russos para ganhar poder de barganha em relação a Moscou, bombardear um oleoduto que leva petróleo russo para a Hungria, um país-membro da Otan, e a busca por mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro das fronteiras russas

Os registros foram obtidos por meio de interceptações de comunicações digitais e fornecem um raro vislumbre interno das deliberações de Zelenski em meio à guerra. O Pentágono, onde graduados comandantes militares dos EUA foram informados a respeito dos assuntos relatados nos documentos vazados, não colocou em questão a autenticidade dos materiais.

Ataque com drone interceptado por forças russas no Kremlin, no começo do mês  Foto: Ostorozhno Novosti/Reuters

Ataques dentro da Rússia

Em uma reunião no fim de janeiro, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “conduzisse ataques dentro da Rússia” e ao mesmo tempo acionasse tropas dentro do território inimigo para “ocupar cidades russas não especificadas na fronteira”, de acordo com um documento classificado como “ultrassecreto”. O objetivo seria “dar a Kiev poder de barganha em negociações com Moscou”, afirmou o documento.

Em uma outra reunião, no fim de fevereiro, com o general Valeri Zaluzhni, o comandante militar mais graduado da Ucrânia, Zelenski “expressou preocupação” por “a Ucrânia não ter mísseis de longo alcance capazes de atingir destacamentos de soldados dentro da Rússia ou outra arma para atacá-los”. Zelenski, então, “sugeriu que a Ucrânia atacasse locações não especificadas de destacamentos em Rostov”, uma região no oeste da Rússia, usando drones, de acordo com outro documento secreto.

Durante uma reunião em meados de fevereiro com a vice-primeira-ministra Yuliia Svridenko, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “explodisse” o oleoduto Druzhba, de fabricação soviética, que fornece petróleo para a Hungria. “Zelenski sublinhou que (…) a Ucrânia deveria explodir logo o oleoduto e provavelmente destruir a indústria do (primeiro-ministro) húngaro Viktor Orbán, que depende pesadamente do petróleo russo”, afirma o documento.

Ao detalhar a conversa, as autoridades de inteligência reconheceram que Zelenski estava “expressando raiva em relação à Hungria e portanto poderia estar fazendo ameaças hiperbólicas e vazias”, uma qualificação que não acompanha os outros relatos de Zelenski sugerindo ações militares audaciosas. Apesar da Hungria pertencer nominalmente à aliança ocidental, Orbán é amplamente considerado o líder europeu mais amigável ao Kremlin.

Quando questionado a respeito de ter ou não sugerido ocupar partes da Rússia, durante uma entrevista ao Post, em Kiev, Zelenski classificou as afirmações das fontes de inteligência dos EUA como “fantasias”, mas defendeu seu direito de usar táticas não convencionais em defesa de seu país.

“A Ucrânia tem todo direito de se proteger, e nós estamos fazendo isso. A Ucrânia não ocupou nenhum país, foi o contrário”, afirmou Zelenski. “Quando tantas pessoas morrem, há covas coletivas e nosso povo é torturado, estou certo de que temos de usar qualquer recurso.”

Sabotagem de ponte na Crimeia atribuída à Ucrânia, no ano passado  Foto: AP Photo, File

Risco de conflito em larga escala

O uso de mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia é um tópico particularmente sensível para a Casa Branca, que há muito se preocupa com a possibilidade de o conflito ucraniano escalar para um nível fora de controle e forçar um embate direto entre EUA e Rússia, as duas maiores potências nucleares do mundo.

Apesar de Washington ter dado a Zelenski bilhões de dólares em armamentos avançados, o presidente Joe Biden tem recusado constantemente o pedido do líder ucraniano por sistemas de mísseis táticos do Exército (ATACMS), de longo alcance, capazes de atingir alvos a até 300 quilômetros de distância. Desde o início da guerra, Biden tem dito que os EUA “não estão encorajando nem possibilitando ataques da Ucrânia além de suas fronteiras”.

Quando questionado a respeito dos dados de inteligência indicando que ele tinha avaliado o uso de mísseis de longo alcance para atingir a Rússia, Zelenski afirmou que isso não é considerado pela Ucrânia. “Ninguém no nosso país deu ordens para ofensivas ou ataques em território russo”, afirmou ele.

Armas mais letais

Não está claro se os EUA compartilharam os relatos dos planos de Zelenski com países aliados, mas o presidente ucraniano continua a desfrutar de forte apoio dos governos ocidentais, que têm lhe fornecido armamentos cada vez mais sofisticados.

Na semana passada, o Reino Unido se tornou o primeiro país ocidental a fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia. O Storm Shadow, um sistema de mísseis com capacidades furtivas, tem alcance de 250 quilômetros, excedendo muito os 80 quilômetros de alcance dos lançadores Himars fornecidos pelos EUA.

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, afirmou na sexta-feira que os Storm Shadow dariam aos ucranianos “a melhor chance” de se defender e seriam destinados a uso apenas “dentro do território soberano da Ucrânia”. Um porta-voz da Embaixada Britânica em Washington recusou-se a comentar se as falas vazadas de Zelenski poderiam fazer Londres reconsiderar sua decisão.

O governo Biden afirma que os comentários interceptados de Zelenski não são o motivo da retenção dos ATACMS.

“A Ucrânia se comprometeu repetidamente em usar as armas fornecidas pelos EUA responsavelmente e estrategicamente quando necessário para responder à agressão russa, e nós estamos confiantes de que isso continuará a ocorrer”, afirmou uma autoridade de defesa dos EUA que, como outras fontes entrevistadas para a elaboração desta reportagem, falou sob condição de anonimato para discutir um tópico sensível.

Falta de confiança

Zelenski, contudo, afirmou acreditar que os EUA não estão enviando os armamentos porque não confiam em Kiev. “Eu acho que eles estão com medo de que as usemos em território russo”, disse Zelenski ao Post. “Mas eu sempre diria aos nossos parceiros (…) ‘Nós temos um alvo prioritário no qual estamos gastando os carregamentos de munições que recebemos; e os gastamos na desocupação dos territórios puramente ucranianos’”, afirmou ele.

Zelenski, na entrevista recente, afirmou que se reservou o direito de explorar opções militares variadas. “Tenho muitos generais com quem trabalho”, afirmou Zelenski. “E essas são minhas conversas pessoais.”

“A guerra trata da ocupação da Ucrânia”, acrescentou ele. “A Ucrânia tem de vencer.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

WASHINGTON - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, conquistou a confiança de governos ocidentais ao se recusar a usar as armas que eles fornecem para realizar ataques dentro da Rússia e priorizar atacar as forças russas dentro das fronteiras ucranianas. Mas documentos do Pentágono, anteriormente inéditos, que circularam na plataforma de mensagens Discord e foram obtidos pelo Washington Post mostram que, a portas fechadas, um outro líder, mais agressivo e com sede de atacar a Rússia. O comportamento do presidente ucraniano nesses relatos difere bastante da imagem pública do estadista calmo e estoico que resiste ao ataque brutal da Rússia.

As sugestões de Zelenski a seus generais, obtidos por fontes de inteligência americana, eram audaciosas: ocupar vilarejos russos para ganhar poder de barganha em relação a Moscou, bombardear um oleoduto que leva petróleo russo para a Hungria, um país-membro da Otan, e a busca por mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro das fronteiras russas

Os registros foram obtidos por meio de interceptações de comunicações digitais e fornecem um raro vislumbre interno das deliberações de Zelenski em meio à guerra. O Pentágono, onde graduados comandantes militares dos EUA foram informados a respeito dos assuntos relatados nos documentos vazados, não colocou em questão a autenticidade dos materiais.

Ataque com drone interceptado por forças russas no Kremlin, no começo do mês  Foto: Ostorozhno Novosti/Reuters

Ataques dentro da Rússia

Em uma reunião no fim de janeiro, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “conduzisse ataques dentro da Rússia” e ao mesmo tempo acionasse tropas dentro do território inimigo para “ocupar cidades russas não especificadas na fronteira”, de acordo com um documento classificado como “ultrassecreto”. O objetivo seria “dar a Kiev poder de barganha em negociações com Moscou”, afirmou o documento.

Em uma outra reunião, no fim de fevereiro, com o general Valeri Zaluzhni, o comandante militar mais graduado da Ucrânia, Zelenski “expressou preocupação” por “a Ucrânia não ter mísseis de longo alcance capazes de atingir destacamentos de soldados dentro da Rússia ou outra arma para atacá-los”. Zelenski, então, “sugeriu que a Ucrânia atacasse locações não especificadas de destacamentos em Rostov”, uma região no oeste da Rússia, usando drones, de acordo com outro documento secreto.

Durante uma reunião em meados de fevereiro com a vice-primeira-ministra Yuliia Svridenko, Zelenski sugeriu que a Ucrânia “explodisse” o oleoduto Druzhba, de fabricação soviética, que fornece petróleo para a Hungria. “Zelenski sublinhou que (…) a Ucrânia deveria explodir logo o oleoduto e provavelmente destruir a indústria do (primeiro-ministro) húngaro Viktor Orbán, que depende pesadamente do petróleo russo”, afirma o documento.

Ao detalhar a conversa, as autoridades de inteligência reconheceram que Zelenski estava “expressando raiva em relação à Hungria e portanto poderia estar fazendo ameaças hiperbólicas e vazias”, uma qualificação que não acompanha os outros relatos de Zelenski sugerindo ações militares audaciosas. Apesar da Hungria pertencer nominalmente à aliança ocidental, Orbán é amplamente considerado o líder europeu mais amigável ao Kremlin.

Quando questionado a respeito de ter ou não sugerido ocupar partes da Rússia, durante uma entrevista ao Post, em Kiev, Zelenski classificou as afirmações das fontes de inteligência dos EUA como “fantasias”, mas defendeu seu direito de usar táticas não convencionais em defesa de seu país.

“A Ucrânia tem todo direito de se proteger, e nós estamos fazendo isso. A Ucrânia não ocupou nenhum país, foi o contrário”, afirmou Zelenski. “Quando tantas pessoas morrem, há covas coletivas e nosso povo é torturado, estou certo de que temos de usar qualquer recurso.”

Sabotagem de ponte na Crimeia atribuída à Ucrânia, no ano passado  Foto: AP Photo, File

Risco de conflito em larga escala

O uso de mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia é um tópico particularmente sensível para a Casa Branca, que há muito se preocupa com a possibilidade de o conflito ucraniano escalar para um nível fora de controle e forçar um embate direto entre EUA e Rússia, as duas maiores potências nucleares do mundo.

Apesar de Washington ter dado a Zelenski bilhões de dólares em armamentos avançados, o presidente Joe Biden tem recusado constantemente o pedido do líder ucraniano por sistemas de mísseis táticos do Exército (ATACMS), de longo alcance, capazes de atingir alvos a até 300 quilômetros de distância. Desde o início da guerra, Biden tem dito que os EUA “não estão encorajando nem possibilitando ataques da Ucrânia além de suas fronteiras”.

Quando questionado a respeito dos dados de inteligência indicando que ele tinha avaliado o uso de mísseis de longo alcance para atingir a Rússia, Zelenski afirmou que isso não é considerado pela Ucrânia. “Ninguém no nosso país deu ordens para ofensivas ou ataques em território russo”, afirmou ele.

Armas mais letais

Não está claro se os EUA compartilharam os relatos dos planos de Zelenski com países aliados, mas o presidente ucraniano continua a desfrutar de forte apoio dos governos ocidentais, que têm lhe fornecido armamentos cada vez mais sofisticados.

Na semana passada, o Reino Unido se tornou o primeiro país ocidental a fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia. O Storm Shadow, um sistema de mísseis com capacidades furtivas, tem alcance de 250 quilômetros, excedendo muito os 80 quilômetros de alcance dos lançadores Himars fornecidos pelos EUA.

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, afirmou na sexta-feira que os Storm Shadow dariam aos ucranianos “a melhor chance” de se defender e seriam destinados a uso apenas “dentro do território soberano da Ucrânia”. Um porta-voz da Embaixada Britânica em Washington recusou-se a comentar se as falas vazadas de Zelenski poderiam fazer Londres reconsiderar sua decisão.

O governo Biden afirma que os comentários interceptados de Zelenski não são o motivo da retenção dos ATACMS.

“A Ucrânia se comprometeu repetidamente em usar as armas fornecidas pelos EUA responsavelmente e estrategicamente quando necessário para responder à agressão russa, e nós estamos confiantes de que isso continuará a ocorrer”, afirmou uma autoridade de defesa dos EUA que, como outras fontes entrevistadas para a elaboração desta reportagem, falou sob condição de anonimato para discutir um tópico sensível.

Falta de confiança

Zelenski, contudo, afirmou acreditar que os EUA não estão enviando os armamentos porque não confiam em Kiev. “Eu acho que eles estão com medo de que as usemos em território russo”, disse Zelenski ao Post. “Mas eu sempre diria aos nossos parceiros (…) ‘Nós temos um alvo prioritário no qual estamos gastando os carregamentos de munições que recebemos; e os gastamos na desocupação dos territórios puramente ucranianos’”, afirmou ele.

Zelenski, na entrevista recente, afirmou que se reservou o direito de explorar opções militares variadas. “Tenho muitos generais com quem trabalho”, afirmou Zelenski. “E essas são minhas conversas pessoais.”

“A guerra trata da ocupação da Ucrânia”, acrescentou ele. “A Ucrânia tem de vencer.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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