É possível ter sucesso nas conversas de paz com Vladimir Putin?


O essencial é conseguir garantias de segurança robustas para os ucranianos

Por The Economist

Por dois anos, a guerra na Ucrânia foi travada metro a metro, sobre campos banhados de sangue. De repente, uma mudança dramática irrompe. Uma razão é que o excruciante avanço da Rússia expôs graves debilidades em contingente e moral capazes de, eventualmente, ocasionar o colapso das linhas ucranianas. Mais urgentemente, Donald Trump deixou claro que, como presidente, apressará o fim da troca de fogo.

A grande preocupação é Trump impor um acordo desastroso para a Ucrânia. Vladimir Putin afirma que poderá estar disposto a congelar as linhas de frente, apesar da Rússia ocupar apenas de 70% a 80% das quatro províncias ucranianas que anexou. Mas ele também exige que o Ocidente suspenda sanções; que a Ucrânia renuncie à adesão à Otan; se desmilitarize e seja formalmente neutro; se “desnazifique”, livrando-se de seus líderes; e proteja direitos dos russófonos.

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Se Trump apoiar esses termos, Putin terá alcançado a maioria de seus objetivos de guerra, e a Ucrânia terá sofrido uma derrota catastrófica. Mas o presidente russo não respeitaria um pedaço de papel. E esperaria que a Ucrânia pós-guerra, consumida por lutas internas e recriminações contra o Ocidente, caísse em seu colo. Se isso não ocorrer, ele poderá tomar mais território à força. Enquanto autonomeado guardião dos russófonos na Ucrânia, ele poderia arranjar um pretexto facilmente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia  Foto: Vyacheslav Prokofyev/AP

Este é o medo. Mas esse desfecho não é nem inevitável nem o mais provável. Para Putin, a capitulação significaria uma derrota pública para os Estados Unidos e Trump. Reverberaria na Ásia, onde os inimigos dos EUA podem ficar mais agressivos e seus amigos podem perder a confiança em seu aliado e se aproximar da China em vez disso. E Trump certamente desejaria evitar a humilhação de ficar conhecido como o homem que foi superado por Putin na negociação. É de seu próprio e mesquinho interesse forjar um acordo que mantenha a Ucrânia segura pelo menos durante os quatro anos de seu mandato. Nesse período a Ucrânia poderia realizar muita coisa.

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Trump tem meios para pressionar a Rússia se quiser usá-los. Por ser imprevisível, ele poderia ameaçar entrar com tudo ao lado Ucrânia e fornecer ao país mais armas e armamentos mais mortíferos, e Putin teria de levá-lo a sério. Além disso, a economia russa está sofrendo, o rublo está perdendo valor e os russos estão cansados dos combates. Apesar de ser capaz de sustentar a guerra ainda por um ano ou mais, Putin também poderia se beneficiar de uma pausa. Conforme sugeriu Mike Waltz, o futuro conselheiro de segurança nacional de Trump, os EUA podem, portanto, ameaçar com sanções para intensificar esse sofrimento.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Acordo

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O que, então, um acordo deveria buscar? Restaurar as fronteiras de 1991 é um sonho impossível. Moralmente e legalmente todo esse território pertence à Ucrânia, mas o país não tem soldados, armas e munição suficientes para recapturá-lo. Em vez disso, o objetivo deveria ser criar condições para a Ucrânia prosperar no território que controla atualmente.

Para isso seria necessário estabilidade e reconstrução, que dependem de o país estar a salvo da agressão russa. Por esse motivo, a maneira de definir um ordenamento de segurança crível e durável para a Ucrânia estará no centro das negociações.

The Economist tem argumentado que a melhor maneira de proteger a Ucrânia seria o país aderir à Otan. A adesão evitaria que o país se tornasse instável, amargo e vulnerável à cooptação de Putin em busca de seu objetivo final, que é desestabilizar e dominar a Europa. E também traria à aliança o maior, mais inovador e mais experiente Exército europeu, assim como a maior indústria de defesa do continente — o que poderia agradar Trump, porque a Otan precisaria de menos soldados americanos.

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O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa em Kiev  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

A adesão levanta questões difíceis, porque o “Artigo 5.º” da aliança declara que um ataque contra um membro equivale a atacar todos. Mas há respostas. A garantia não precisa cobrir as partes da Ucrânia que a Rússia ocupa atualmente — da mesma forma que não cobriu a Alemanha Oriental quando a Alemanha Ocidental aderiu, em 1955. Tropas de outros países da Otan não precisam ficar estacionadas na Ucrânia em tempos de paz, da mesma forma que não se posicionaram na Noruega quando o país aderiu, em 1949.

Nós ainda defendemos esses argumentos. Contudo, a adesão da Ucrânia à Otan exige o apoio de todos os seus 32 membros, incluindo Hungria e Turquia, que atrasaram as adesões da Suécia e da Finlândia. Conforme demonstra nossa apuração, alguns países, incluindo os das linhas de frente, o Reino Unido, a França e a Alemanha sob um novo chanceler poderão, portanto, estar dispostos a estabelecer acordos bilaterais segundo os quais eles estacionariam suas tropas na Ucrânia como forças de detecção e alerta. Na realidade, os países estariam buscando dissuadir Putin com a ameaça de que mais ações russas poderiam trazê-los para a guerra.

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Parece uma solução elegante, mas uma força de detecção e alerta poderia corresponder a uma garantia do Artigo 5.º com outro nome. Os países não deveriam oferecer uma promessa desse tipo para a Ucrânia se não estiverem dispostos a honrá-la — já que sair de lá sob fogo russo também minaria sua posição como membros da Otan, talvez fatalmente. Simplesmente pelo fato de ser nova, Putin provavelmente testaria a força de detecção e alerta em busca de pontos fracos. Para ser crível, a tropa precisaria de um apoio formal de Trump, mesmo que ele não envie nenhum soldado, porque a Europa ainda depende dos EUA para travar guerras, especialmente contra um adversário tão grande quanto a Rússia.

Também seria necessária uma mudança de estratégia na Europa, particularmente na Alemanha. Para sinalizar a Putin que falam sério, os países europeus precisariam demonstrar seu apoio à Ucrânia. Isso envolveria uma ajuda massiva para a reconstrução do país e armamentos, assim como um progresso nas negociações sobre a adesão ucraniana à UE. Para sinalizar a Putin que revidariam se fossem atacados, eles precisariam aumentar dramaticamente seu próprio gasto em defesa e reerguer suas indústrias armamentistas. Esse desfecho deverá agradar Trump, que advoga há muito por maiores orçamentos de defesa na Europa.

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Um cessar-fogo apresentaria duas visões em competição sobre o futuro da Ucrânia. O cálculo de Putin é que ele sai ganhando com um acordo porque a Ucrânia definhará, a Rússia se armará e o Ocidente deixará de se interessar. Mas imagine se, com a ajuda do Ocidente, a Ucrânia usar a trégua para reconstruir sua economia, renovar sua política e dissuadir a agressão russa. A tarefa é garantir que sua esta visão prevaleça sobre sua nefasta alternativa. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Por dois anos, a guerra na Ucrânia foi travada metro a metro, sobre campos banhados de sangue. De repente, uma mudança dramática irrompe. Uma razão é que o excruciante avanço da Rússia expôs graves debilidades em contingente e moral capazes de, eventualmente, ocasionar o colapso das linhas ucranianas. Mais urgentemente, Donald Trump deixou claro que, como presidente, apressará o fim da troca de fogo.

A grande preocupação é Trump impor um acordo desastroso para a Ucrânia. Vladimir Putin afirma que poderá estar disposto a congelar as linhas de frente, apesar da Rússia ocupar apenas de 70% a 80% das quatro províncias ucranianas que anexou. Mas ele também exige que o Ocidente suspenda sanções; que a Ucrânia renuncie à adesão à Otan; se desmilitarize e seja formalmente neutro; se “desnazifique”, livrando-se de seus líderes; e proteja direitos dos russófonos.

Se Trump apoiar esses termos, Putin terá alcançado a maioria de seus objetivos de guerra, e a Ucrânia terá sofrido uma derrota catastrófica. Mas o presidente russo não respeitaria um pedaço de papel. E esperaria que a Ucrânia pós-guerra, consumida por lutas internas e recriminações contra o Ocidente, caísse em seu colo. Se isso não ocorrer, ele poderá tomar mais território à força. Enquanto autonomeado guardião dos russófonos na Ucrânia, ele poderia arranjar um pretexto facilmente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia  Foto: Vyacheslav Prokofyev/AP

Este é o medo. Mas esse desfecho não é nem inevitável nem o mais provável. Para Putin, a capitulação significaria uma derrota pública para os Estados Unidos e Trump. Reverberaria na Ásia, onde os inimigos dos EUA podem ficar mais agressivos e seus amigos podem perder a confiança em seu aliado e se aproximar da China em vez disso. E Trump certamente desejaria evitar a humilhação de ficar conhecido como o homem que foi superado por Putin na negociação. É de seu próprio e mesquinho interesse forjar um acordo que mantenha a Ucrânia segura pelo menos durante os quatro anos de seu mandato. Nesse período a Ucrânia poderia realizar muita coisa.

Trump tem meios para pressionar a Rússia se quiser usá-los. Por ser imprevisível, ele poderia ameaçar entrar com tudo ao lado Ucrânia e fornecer ao país mais armas e armamentos mais mortíferos, e Putin teria de levá-lo a sério. Além disso, a economia russa está sofrendo, o rublo está perdendo valor e os russos estão cansados dos combates. Apesar de ser capaz de sustentar a guerra ainda por um ano ou mais, Putin também poderia se beneficiar de uma pausa. Conforme sugeriu Mike Waltz, o futuro conselheiro de segurança nacional de Trump, os EUA podem, portanto, ameaçar com sanções para intensificar esse sofrimento.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Acordo

O que, então, um acordo deveria buscar? Restaurar as fronteiras de 1991 é um sonho impossível. Moralmente e legalmente todo esse território pertence à Ucrânia, mas o país não tem soldados, armas e munição suficientes para recapturá-lo. Em vez disso, o objetivo deveria ser criar condições para a Ucrânia prosperar no território que controla atualmente.

Para isso seria necessário estabilidade e reconstrução, que dependem de o país estar a salvo da agressão russa. Por esse motivo, a maneira de definir um ordenamento de segurança crível e durável para a Ucrânia estará no centro das negociações.

The Economist tem argumentado que a melhor maneira de proteger a Ucrânia seria o país aderir à Otan. A adesão evitaria que o país se tornasse instável, amargo e vulnerável à cooptação de Putin em busca de seu objetivo final, que é desestabilizar e dominar a Europa. E também traria à aliança o maior, mais inovador e mais experiente Exército europeu, assim como a maior indústria de defesa do continente — o que poderia agradar Trump, porque a Otan precisaria de menos soldados americanos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa em Kiev  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

A adesão levanta questões difíceis, porque o “Artigo 5.º” da aliança declara que um ataque contra um membro equivale a atacar todos. Mas há respostas. A garantia não precisa cobrir as partes da Ucrânia que a Rússia ocupa atualmente — da mesma forma que não cobriu a Alemanha Oriental quando a Alemanha Ocidental aderiu, em 1955. Tropas de outros países da Otan não precisam ficar estacionadas na Ucrânia em tempos de paz, da mesma forma que não se posicionaram na Noruega quando o país aderiu, em 1949.

Nós ainda defendemos esses argumentos. Contudo, a adesão da Ucrânia à Otan exige o apoio de todos os seus 32 membros, incluindo Hungria e Turquia, que atrasaram as adesões da Suécia e da Finlândia. Conforme demonstra nossa apuração, alguns países, incluindo os das linhas de frente, o Reino Unido, a França e a Alemanha sob um novo chanceler poderão, portanto, estar dispostos a estabelecer acordos bilaterais segundo os quais eles estacionariam suas tropas na Ucrânia como forças de detecção e alerta. Na realidade, os países estariam buscando dissuadir Putin com a ameaça de que mais ações russas poderiam trazê-los para a guerra.

Parece uma solução elegante, mas uma força de detecção e alerta poderia corresponder a uma garantia do Artigo 5.º com outro nome. Os países não deveriam oferecer uma promessa desse tipo para a Ucrânia se não estiverem dispostos a honrá-la — já que sair de lá sob fogo russo também minaria sua posição como membros da Otan, talvez fatalmente. Simplesmente pelo fato de ser nova, Putin provavelmente testaria a força de detecção e alerta em busca de pontos fracos. Para ser crível, a tropa precisaria de um apoio formal de Trump, mesmo que ele não envie nenhum soldado, porque a Europa ainda depende dos EUA para travar guerras, especialmente contra um adversário tão grande quanto a Rússia.

Também seria necessária uma mudança de estratégia na Europa, particularmente na Alemanha. Para sinalizar a Putin que falam sério, os países europeus precisariam demonstrar seu apoio à Ucrânia. Isso envolveria uma ajuda massiva para a reconstrução do país e armamentos, assim como um progresso nas negociações sobre a adesão ucraniana à UE. Para sinalizar a Putin que revidariam se fossem atacados, eles precisariam aumentar dramaticamente seu próprio gasto em defesa e reerguer suas indústrias armamentistas. Esse desfecho deverá agradar Trump, que advoga há muito por maiores orçamentos de defesa na Europa.

Um cessar-fogo apresentaria duas visões em competição sobre o futuro da Ucrânia. O cálculo de Putin é que ele sai ganhando com um acordo porque a Ucrânia definhará, a Rússia se armará e o Ocidente deixará de se interessar. Mas imagine se, com a ajuda do Ocidente, a Ucrânia usar a trégua para reconstruir sua economia, renovar sua política e dissuadir a agressão russa. A tarefa é garantir que sua esta visão prevaleça sobre sua nefasta alternativa. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Por dois anos, a guerra na Ucrânia foi travada metro a metro, sobre campos banhados de sangue. De repente, uma mudança dramática irrompe. Uma razão é que o excruciante avanço da Rússia expôs graves debilidades em contingente e moral capazes de, eventualmente, ocasionar o colapso das linhas ucranianas. Mais urgentemente, Donald Trump deixou claro que, como presidente, apressará o fim da troca de fogo.

A grande preocupação é Trump impor um acordo desastroso para a Ucrânia. Vladimir Putin afirma que poderá estar disposto a congelar as linhas de frente, apesar da Rússia ocupar apenas de 70% a 80% das quatro províncias ucranianas que anexou. Mas ele também exige que o Ocidente suspenda sanções; que a Ucrânia renuncie à adesão à Otan; se desmilitarize e seja formalmente neutro; se “desnazifique”, livrando-se de seus líderes; e proteja direitos dos russófonos.

Se Trump apoiar esses termos, Putin terá alcançado a maioria de seus objetivos de guerra, e a Ucrânia terá sofrido uma derrota catastrófica. Mas o presidente russo não respeitaria um pedaço de papel. E esperaria que a Ucrânia pós-guerra, consumida por lutas internas e recriminações contra o Ocidente, caísse em seu colo. Se isso não ocorrer, ele poderá tomar mais território à força. Enquanto autonomeado guardião dos russófonos na Ucrânia, ele poderia arranjar um pretexto facilmente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia  Foto: Vyacheslav Prokofyev/AP

Este é o medo. Mas esse desfecho não é nem inevitável nem o mais provável. Para Putin, a capitulação significaria uma derrota pública para os Estados Unidos e Trump. Reverberaria na Ásia, onde os inimigos dos EUA podem ficar mais agressivos e seus amigos podem perder a confiança em seu aliado e se aproximar da China em vez disso. E Trump certamente desejaria evitar a humilhação de ficar conhecido como o homem que foi superado por Putin na negociação. É de seu próprio e mesquinho interesse forjar um acordo que mantenha a Ucrânia segura pelo menos durante os quatro anos de seu mandato. Nesse período a Ucrânia poderia realizar muita coisa.

Trump tem meios para pressionar a Rússia se quiser usá-los. Por ser imprevisível, ele poderia ameaçar entrar com tudo ao lado Ucrânia e fornecer ao país mais armas e armamentos mais mortíferos, e Putin teria de levá-lo a sério. Além disso, a economia russa está sofrendo, o rublo está perdendo valor e os russos estão cansados dos combates. Apesar de ser capaz de sustentar a guerra ainda por um ano ou mais, Putin também poderia se beneficiar de uma pausa. Conforme sugeriu Mike Waltz, o futuro conselheiro de segurança nacional de Trump, os EUA podem, portanto, ameaçar com sanções para intensificar esse sofrimento.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Acordo

O que, então, um acordo deveria buscar? Restaurar as fronteiras de 1991 é um sonho impossível. Moralmente e legalmente todo esse território pertence à Ucrânia, mas o país não tem soldados, armas e munição suficientes para recapturá-lo. Em vez disso, o objetivo deveria ser criar condições para a Ucrânia prosperar no território que controla atualmente.

Para isso seria necessário estabilidade e reconstrução, que dependem de o país estar a salvo da agressão russa. Por esse motivo, a maneira de definir um ordenamento de segurança crível e durável para a Ucrânia estará no centro das negociações.

The Economist tem argumentado que a melhor maneira de proteger a Ucrânia seria o país aderir à Otan. A adesão evitaria que o país se tornasse instável, amargo e vulnerável à cooptação de Putin em busca de seu objetivo final, que é desestabilizar e dominar a Europa. E também traria à aliança o maior, mais inovador e mais experiente Exército europeu, assim como a maior indústria de defesa do continente — o que poderia agradar Trump, porque a Otan precisaria de menos soldados americanos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa em Kiev  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

A adesão levanta questões difíceis, porque o “Artigo 5.º” da aliança declara que um ataque contra um membro equivale a atacar todos. Mas há respostas. A garantia não precisa cobrir as partes da Ucrânia que a Rússia ocupa atualmente — da mesma forma que não cobriu a Alemanha Oriental quando a Alemanha Ocidental aderiu, em 1955. Tropas de outros países da Otan não precisam ficar estacionadas na Ucrânia em tempos de paz, da mesma forma que não se posicionaram na Noruega quando o país aderiu, em 1949.

Nós ainda defendemos esses argumentos. Contudo, a adesão da Ucrânia à Otan exige o apoio de todos os seus 32 membros, incluindo Hungria e Turquia, que atrasaram as adesões da Suécia e da Finlândia. Conforme demonstra nossa apuração, alguns países, incluindo os das linhas de frente, o Reino Unido, a França e a Alemanha sob um novo chanceler poderão, portanto, estar dispostos a estabelecer acordos bilaterais segundo os quais eles estacionariam suas tropas na Ucrânia como forças de detecção e alerta. Na realidade, os países estariam buscando dissuadir Putin com a ameaça de que mais ações russas poderiam trazê-los para a guerra.

Parece uma solução elegante, mas uma força de detecção e alerta poderia corresponder a uma garantia do Artigo 5.º com outro nome. Os países não deveriam oferecer uma promessa desse tipo para a Ucrânia se não estiverem dispostos a honrá-la — já que sair de lá sob fogo russo também minaria sua posição como membros da Otan, talvez fatalmente. Simplesmente pelo fato de ser nova, Putin provavelmente testaria a força de detecção e alerta em busca de pontos fracos. Para ser crível, a tropa precisaria de um apoio formal de Trump, mesmo que ele não envie nenhum soldado, porque a Europa ainda depende dos EUA para travar guerras, especialmente contra um adversário tão grande quanto a Rússia.

Também seria necessária uma mudança de estratégia na Europa, particularmente na Alemanha. Para sinalizar a Putin que falam sério, os países europeus precisariam demonstrar seu apoio à Ucrânia. Isso envolveria uma ajuda massiva para a reconstrução do país e armamentos, assim como um progresso nas negociações sobre a adesão ucraniana à UE. Para sinalizar a Putin que revidariam se fossem atacados, eles precisariam aumentar dramaticamente seu próprio gasto em defesa e reerguer suas indústrias armamentistas. Esse desfecho deverá agradar Trump, que advoga há muito por maiores orçamentos de defesa na Europa.

Um cessar-fogo apresentaria duas visões em competição sobre o futuro da Ucrânia. O cálculo de Putin é que ele sai ganhando com um acordo porque a Ucrânia definhará, a Rússia se armará e o Ocidente deixará de se interessar. Mas imagine se, com a ajuda do Ocidente, a Ucrânia usar a trégua para reconstruir sua economia, renovar sua política e dissuadir a agressão russa. A tarefa é garantir que sua esta visão prevaleça sobre sua nefasta alternativa. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Por dois anos, a guerra na Ucrânia foi travada metro a metro, sobre campos banhados de sangue. De repente, uma mudança dramática irrompe. Uma razão é que o excruciante avanço da Rússia expôs graves debilidades em contingente e moral capazes de, eventualmente, ocasionar o colapso das linhas ucranianas. Mais urgentemente, Donald Trump deixou claro que, como presidente, apressará o fim da troca de fogo.

A grande preocupação é Trump impor um acordo desastroso para a Ucrânia. Vladimir Putin afirma que poderá estar disposto a congelar as linhas de frente, apesar da Rússia ocupar apenas de 70% a 80% das quatro províncias ucranianas que anexou. Mas ele também exige que o Ocidente suspenda sanções; que a Ucrânia renuncie à adesão à Otan; se desmilitarize e seja formalmente neutro; se “desnazifique”, livrando-se de seus líderes; e proteja direitos dos russófonos.

Se Trump apoiar esses termos, Putin terá alcançado a maioria de seus objetivos de guerra, e a Ucrânia terá sofrido uma derrota catastrófica. Mas o presidente russo não respeitaria um pedaço de papel. E esperaria que a Ucrânia pós-guerra, consumida por lutas internas e recriminações contra o Ocidente, caísse em seu colo. Se isso não ocorrer, ele poderá tomar mais território à força. Enquanto autonomeado guardião dos russófonos na Ucrânia, ele poderia arranjar um pretexto facilmente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia  Foto: Vyacheslav Prokofyev/AP

Este é o medo. Mas esse desfecho não é nem inevitável nem o mais provável. Para Putin, a capitulação significaria uma derrota pública para os Estados Unidos e Trump. Reverberaria na Ásia, onde os inimigos dos EUA podem ficar mais agressivos e seus amigos podem perder a confiança em seu aliado e se aproximar da China em vez disso. E Trump certamente desejaria evitar a humilhação de ficar conhecido como o homem que foi superado por Putin na negociação. É de seu próprio e mesquinho interesse forjar um acordo que mantenha a Ucrânia segura pelo menos durante os quatro anos de seu mandato. Nesse período a Ucrânia poderia realizar muita coisa.

Trump tem meios para pressionar a Rússia se quiser usá-los. Por ser imprevisível, ele poderia ameaçar entrar com tudo ao lado Ucrânia e fornecer ao país mais armas e armamentos mais mortíferos, e Putin teria de levá-lo a sério. Além disso, a economia russa está sofrendo, o rublo está perdendo valor e os russos estão cansados dos combates. Apesar de ser capaz de sustentar a guerra ainda por um ano ou mais, Putin também poderia se beneficiar de uma pausa. Conforme sugeriu Mike Waltz, o futuro conselheiro de segurança nacional de Trump, os EUA podem, portanto, ameaçar com sanções para intensificar esse sofrimento.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Acordo

O que, então, um acordo deveria buscar? Restaurar as fronteiras de 1991 é um sonho impossível. Moralmente e legalmente todo esse território pertence à Ucrânia, mas o país não tem soldados, armas e munição suficientes para recapturá-lo. Em vez disso, o objetivo deveria ser criar condições para a Ucrânia prosperar no território que controla atualmente.

Para isso seria necessário estabilidade e reconstrução, que dependem de o país estar a salvo da agressão russa. Por esse motivo, a maneira de definir um ordenamento de segurança crível e durável para a Ucrânia estará no centro das negociações.

The Economist tem argumentado que a melhor maneira de proteger a Ucrânia seria o país aderir à Otan. A adesão evitaria que o país se tornasse instável, amargo e vulnerável à cooptação de Putin em busca de seu objetivo final, que é desestabilizar e dominar a Europa. E também traria à aliança o maior, mais inovador e mais experiente Exército europeu, assim como a maior indústria de defesa do continente — o que poderia agradar Trump, porque a Otan precisaria de menos soldados americanos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa em Kiev  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

A adesão levanta questões difíceis, porque o “Artigo 5.º” da aliança declara que um ataque contra um membro equivale a atacar todos. Mas há respostas. A garantia não precisa cobrir as partes da Ucrânia que a Rússia ocupa atualmente — da mesma forma que não cobriu a Alemanha Oriental quando a Alemanha Ocidental aderiu, em 1955. Tropas de outros países da Otan não precisam ficar estacionadas na Ucrânia em tempos de paz, da mesma forma que não se posicionaram na Noruega quando o país aderiu, em 1949.

Nós ainda defendemos esses argumentos. Contudo, a adesão da Ucrânia à Otan exige o apoio de todos os seus 32 membros, incluindo Hungria e Turquia, que atrasaram as adesões da Suécia e da Finlândia. Conforme demonstra nossa apuração, alguns países, incluindo os das linhas de frente, o Reino Unido, a França e a Alemanha sob um novo chanceler poderão, portanto, estar dispostos a estabelecer acordos bilaterais segundo os quais eles estacionariam suas tropas na Ucrânia como forças de detecção e alerta. Na realidade, os países estariam buscando dissuadir Putin com a ameaça de que mais ações russas poderiam trazê-los para a guerra.

Parece uma solução elegante, mas uma força de detecção e alerta poderia corresponder a uma garantia do Artigo 5.º com outro nome. Os países não deveriam oferecer uma promessa desse tipo para a Ucrânia se não estiverem dispostos a honrá-la — já que sair de lá sob fogo russo também minaria sua posição como membros da Otan, talvez fatalmente. Simplesmente pelo fato de ser nova, Putin provavelmente testaria a força de detecção e alerta em busca de pontos fracos. Para ser crível, a tropa precisaria de um apoio formal de Trump, mesmo que ele não envie nenhum soldado, porque a Europa ainda depende dos EUA para travar guerras, especialmente contra um adversário tão grande quanto a Rússia.

Também seria necessária uma mudança de estratégia na Europa, particularmente na Alemanha. Para sinalizar a Putin que falam sério, os países europeus precisariam demonstrar seu apoio à Ucrânia. Isso envolveria uma ajuda massiva para a reconstrução do país e armamentos, assim como um progresso nas negociações sobre a adesão ucraniana à UE. Para sinalizar a Putin que revidariam se fossem atacados, eles precisariam aumentar dramaticamente seu próprio gasto em defesa e reerguer suas indústrias armamentistas. Esse desfecho deverá agradar Trump, que advoga há muito por maiores orçamentos de defesa na Europa.

Um cessar-fogo apresentaria duas visões em competição sobre o futuro da Ucrânia. O cálculo de Putin é que ele sai ganhando com um acordo porque a Ucrânia definhará, a Rússia se armará e o Ocidente deixará de se interessar. Mas imagine se, com a ajuda do Ocidente, a Ucrânia usar a trégua para reconstruir sua economia, renovar sua política e dissuadir a agressão russa. A tarefa é garantir que sua esta visão prevaleça sobre sua nefasta alternativa. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Por dois anos, a guerra na Ucrânia foi travada metro a metro, sobre campos banhados de sangue. De repente, uma mudança dramática irrompe. Uma razão é que o excruciante avanço da Rússia expôs graves debilidades em contingente e moral capazes de, eventualmente, ocasionar o colapso das linhas ucranianas. Mais urgentemente, Donald Trump deixou claro que, como presidente, apressará o fim da troca de fogo.

A grande preocupação é Trump impor um acordo desastroso para a Ucrânia. Vladimir Putin afirma que poderá estar disposto a congelar as linhas de frente, apesar da Rússia ocupar apenas de 70% a 80% das quatro províncias ucranianas que anexou. Mas ele também exige que o Ocidente suspenda sanções; que a Ucrânia renuncie à adesão à Otan; se desmilitarize e seja formalmente neutro; se “desnazifique”, livrando-se de seus líderes; e proteja direitos dos russófonos.

Se Trump apoiar esses termos, Putin terá alcançado a maioria de seus objetivos de guerra, e a Ucrânia terá sofrido uma derrota catastrófica. Mas o presidente russo não respeitaria um pedaço de papel. E esperaria que a Ucrânia pós-guerra, consumida por lutas internas e recriminações contra o Ocidente, caísse em seu colo. Se isso não ocorrer, ele poderá tomar mais território à força. Enquanto autonomeado guardião dos russófonos na Ucrânia, ele poderia arranjar um pretexto facilmente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia  Foto: Vyacheslav Prokofyev/AP

Este é o medo. Mas esse desfecho não é nem inevitável nem o mais provável. Para Putin, a capitulação significaria uma derrota pública para os Estados Unidos e Trump. Reverberaria na Ásia, onde os inimigos dos EUA podem ficar mais agressivos e seus amigos podem perder a confiança em seu aliado e se aproximar da China em vez disso. E Trump certamente desejaria evitar a humilhação de ficar conhecido como o homem que foi superado por Putin na negociação. É de seu próprio e mesquinho interesse forjar um acordo que mantenha a Ucrânia segura pelo menos durante os quatro anos de seu mandato. Nesse período a Ucrânia poderia realizar muita coisa.

Trump tem meios para pressionar a Rússia se quiser usá-los. Por ser imprevisível, ele poderia ameaçar entrar com tudo ao lado Ucrânia e fornecer ao país mais armas e armamentos mais mortíferos, e Putin teria de levá-lo a sério. Além disso, a economia russa está sofrendo, o rublo está perdendo valor e os russos estão cansados dos combates. Apesar de ser capaz de sustentar a guerra ainda por um ano ou mais, Putin também poderia se beneficiar de uma pausa. Conforme sugeriu Mike Waltz, o futuro conselheiro de segurança nacional de Trump, os EUA podem, portanto, ameaçar com sanções para intensificar esse sofrimento.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Acordo

O que, então, um acordo deveria buscar? Restaurar as fronteiras de 1991 é um sonho impossível. Moralmente e legalmente todo esse território pertence à Ucrânia, mas o país não tem soldados, armas e munição suficientes para recapturá-lo. Em vez disso, o objetivo deveria ser criar condições para a Ucrânia prosperar no território que controla atualmente.

Para isso seria necessário estabilidade e reconstrução, que dependem de o país estar a salvo da agressão russa. Por esse motivo, a maneira de definir um ordenamento de segurança crível e durável para a Ucrânia estará no centro das negociações.

The Economist tem argumentado que a melhor maneira de proteger a Ucrânia seria o país aderir à Otan. A adesão evitaria que o país se tornasse instável, amargo e vulnerável à cooptação de Putin em busca de seu objetivo final, que é desestabilizar e dominar a Europa. E também traria à aliança o maior, mais inovador e mais experiente Exército europeu, assim como a maior indústria de defesa do continente — o que poderia agradar Trump, porque a Otan precisaria de menos soldados americanos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa em Kiev  Foto: Evgeniy Maloletka/AP

A adesão levanta questões difíceis, porque o “Artigo 5.º” da aliança declara que um ataque contra um membro equivale a atacar todos. Mas há respostas. A garantia não precisa cobrir as partes da Ucrânia que a Rússia ocupa atualmente — da mesma forma que não cobriu a Alemanha Oriental quando a Alemanha Ocidental aderiu, em 1955. Tropas de outros países da Otan não precisam ficar estacionadas na Ucrânia em tempos de paz, da mesma forma que não se posicionaram na Noruega quando o país aderiu, em 1949.

Nós ainda defendemos esses argumentos. Contudo, a adesão da Ucrânia à Otan exige o apoio de todos os seus 32 membros, incluindo Hungria e Turquia, que atrasaram as adesões da Suécia e da Finlândia. Conforme demonstra nossa apuração, alguns países, incluindo os das linhas de frente, o Reino Unido, a França e a Alemanha sob um novo chanceler poderão, portanto, estar dispostos a estabelecer acordos bilaterais segundo os quais eles estacionariam suas tropas na Ucrânia como forças de detecção e alerta. Na realidade, os países estariam buscando dissuadir Putin com a ameaça de que mais ações russas poderiam trazê-los para a guerra.

Parece uma solução elegante, mas uma força de detecção e alerta poderia corresponder a uma garantia do Artigo 5.º com outro nome. Os países não deveriam oferecer uma promessa desse tipo para a Ucrânia se não estiverem dispostos a honrá-la — já que sair de lá sob fogo russo também minaria sua posição como membros da Otan, talvez fatalmente. Simplesmente pelo fato de ser nova, Putin provavelmente testaria a força de detecção e alerta em busca de pontos fracos. Para ser crível, a tropa precisaria de um apoio formal de Trump, mesmo que ele não envie nenhum soldado, porque a Europa ainda depende dos EUA para travar guerras, especialmente contra um adversário tão grande quanto a Rússia.

Também seria necessária uma mudança de estratégia na Europa, particularmente na Alemanha. Para sinalizar a Putin que falam sério, os países europeus precisariam demonstrar seu apoio à Ucrânia. Isso envolveria uma ajuda massiva para a reconstrução do país e armamentos, assim como um progresso nas negociações sobre a adesão ucraniana à UE. Para sinalizar a Putin que revidariam se fossem atacados, eles precisariam aumentar dramaticamente seu próprio gasto em defesa e reerguer suas indústrias armamentistas. Esse desfecho deverá agradar Trump, que advoga há muito por maiores orçamentos de defesa na Europa.

Um cessar-fogo apresentaria duas visões em competição sobre o futuro da Ucrânia. O cálculo de Putin é que ele sai ganhando com um acordo porque a Ucrânia definhará, a Rússia se armará e o Ocidente deixará de se interessar. Mas imagine se, com a ajuda do Ocidente, a Ucrânia usar a trégua para reconstruir sua economia, renovar sua política e dissuadir a agressão russa. A tarefa é garantir que sua esta visão prevaleça sobre sua nefasta alternativa. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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