E se Putin não cometeu um erro de cálculo na Ucrânia? Leia a análise


Ofensiva russa sobre leste e litoral da Ucrânia indicam interesse em reservas naturais do país vizinho

Por Brett Stephens

NEW YORK TIMES - A sabedoria convencional da Guerra da Ucrânia tem dito que Vladimir Putin cometeu um erro de cálculo catastrófico.

Ele achava que os ucranianos de língua russa dariam as boas-vindas às suas tropas. Eles não o fizeram. Ele pensou que iria depor rapidamente o governo de Volodmir Zelenski. Não conseguiu. Ele pensou que iria dividir a Otan. Ele a uniu. Ele achava que tinha uma economia à prova de sanções. Ele estragou tudo. Ele pensou que os chineses iriam ajudá-lo. Eles estão comedidos. Ele achava que seus militares modernizados fariam picadinho das forças ucranianas. Os ucranianos estão fazendo picadinho dele, pelo menos em algumas frentes.

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Os erros de cálculo de Putin levantam questões sobre seu julgamento estratégico e estado mental. Quem, se é que alguém, o está aconselhando? Ele perdeu o contato com a realidade? Ele está fisicamente doente? Mentalmente?

Putin acena à multidão durante comício para celebrar a anexação da Crimeia Foto: Ramil Sitdikov/AFP

Um rato encurralado ou um estrategista astuto?

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Condoleezza Rice adverte: “Ele não está no controle de suas emoções. Algo está errado.” Os cercos da Rússia a Mariupol e Kharkiv – duas cidades de língua russa que Putin afirma estar “libertando” da opressão ucraniana – lembram o que os nazistas fizeram a Varsóvia e o que o próprio Putin fez a Grozni.

Vários analistas compararam Putin a um rato encurralado, mais perigoso agora que ele não está mais no controle dos acontecimentos. Eles querem dar a Putin uma saída segura da situação em que ele supostamente criou para si mesmo. Daí o desprezo quase universal derramado sobre Joe Biden por dizer na Polônia: “Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder”.

A sabedoria convencional é inteiramente plausível. Tem o benefício de justificar a estratégia do Ocidente de apoiar a Ucrânia defensivamente. E tende à conclusão de que o melhor resultado é aquele em que Putin encontra alguma saída para salvar sua pele: território ucraniano adicional, uma promessa de neutralidade ucraniana, uma suspensão de algumas das sanções.

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Mas e se a sabedoria convencional estiver errada? E se o Ocidente estiver sedo joguete nas mãos de Putin mais uma vez?

A possibilidade é sugerida em uma poderosa coluna de Carlotta Gall, de sua experiência cobrindo o cerco russo de Grozni, durante a primeira guerra chechena em meados da década de 1990. Nas fases iniciais da guerra, combatentes chechenos motivados aniquilaram uma brigada blindada russa, atordoando Moscou. Os russos se reagruparam e exterminaram Grozni de longe, usando artilharia e poder aéreo.

A Rússia está operando com a mesma cartilha hoje. Quando analistas militares ocidentais argumentam que Putin não pode vencer militarmente na Ucrânia, o que eles realmente querem dizer é que ele não pode vencer limpo. Desde quando Putin joga limpo?

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Suponhamos por um momento que Putin nunca pretendesse conquistar toda a Ucrânia: que, desde o início, seus verdadeiros alvos fossem as riquezas energéticas do leste da Ucrânia, que contêm as segundas maiores reservas conhecidas de gás natural da Europa (depois da Noruega).

Putin visa as reservas de gás da Ucrânia

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Combine isso com as anteriores apreensões territoriais da Rússia na Crimeia (que tem enormes campos de energia) e nas províncias orientais de Luhansk e Donetsk (que contêm parte de um enorme campo de gás de xisto), bem como a tentativa de Putin de controlar a maior parte ou a totalidade do litoral ucraniano, e a forma das ambições de Putin fica clara. Ele está menos interessado em reunir o mundo de língua russa do que em garantir o domínio energético da Rússia.

“Sob o disfarce de uma invasão, Putin está executando um enorme assalto”, disse o especialista em energia canadense David Knight Legg. Quanto ao que resta de uma Ucrânia praticamente sem litoral, provavelmente se tornará um caso de bem-estar para o Ocidente, o que ajudará a pagar a conta para reassentar os refugiados da Ucrânia em novos lares fora do controle russo. Com o tempo, uma figura semelhante a Viktor Orban poderia assumir a presidência da Ucrânia, imitando o estilo político de homem forte que Putin prefere em seus vizinhos.

Se essa análise estiver correta, Putin não parece o perdedor que calculou errado que seus críticos o fazem parecer.

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Pressão sobre Zelenski e a Otan

Também faz sentido sua estratégia de atacar civis. Mais do que simplesmente uma forma de compensar a incompetência das tropas russas, o assassinato em massa de civis pressiona Zelenski a concordar com as mesmas coisas que Putin sempre exigiu: concessões territoriais e neutralidade ucraniana. O Ocidente também procurará qualquer oportunidade para diminuir a escalada, especialmente quando nos convencermos de que um Putin mentalmente instável está preparado para usar armas nucleares.

Dentro da Rússia, a guerra já serviu aos propósitos políticos de Putin. Muitos na classe média – as pessoas mais simpáticas a dissidentes como Alexei Navalni – foram para o exílio autoimposto. Os resquícios de uma imprensa livre foram fechados, provavelmente para sempre. Na medida em que os militares da Rússia se envergonharem, é mais provável que levem a um expurgo bem direcionado de cima do que a uma ampla revolução de baixo. As novas riquezas energéticas da Rússia podem eventualmente ajudá-la a se livrar das sanções.

Essa análise alternativa do desempenho de Putin pode estar errada. Mas, novamente, na guerra, na política e na vida, é sempre mais sensato tratar seu adversário como uma raposa astuta, não um tolo louco.

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

NEW YORK TIMES - A sabedoria convencional da Guerra da Ucrânia tem dito que Vladimir Putin cometeu um erro de cálculo catastrófico.

Ele achava que os ucranianos de língua russa dariam as boas-vindas às suas tropas. Eles não o fizeram. Ele pensou que iria depor rapidamente o governo de Volodmir Zelenski. Não conseguiu. Ele pensou que iria dividir a Otan. Ele a uniu. Ele achava que tinha uma economia à prova de sanções. Ele estragou tudo. Ele pensou que os chineses iriam ajudá-lo. Eles estão comedidos. Ele achava que seus militares modernizados fariam picadinho das forças ucranianas. Os ucranianos estão fazendo picadinho dele, pelo menos em algumas frentes.

Os erros de cálculo de Putin levantam questões sobre seu julgamento estratégico e estado mental. Quem, se é que alguém, o está aconselhando? Ele perdeu o contato com a realidade? Ele está fisicamente doente? Mentalmente?

Putin acena à multidão durante comício para celebrar a anexação da Crimeia Foto: Ramil Sitdikov/AFP

Um rato encurralado ou um estrategista astuto?

Condoleezza Rice adverte: “Ele não está no controle de suas emoções. Algo está errado.” Os cercos da Rússia a Mariupol e Kharkiv – duas cidades de língua russa que Putin afirma estar “libertando” da opressão ucraniana – lembram o que os nazistas fizeram a Varsóvia e o que o próprio Putin fez a Grozni.

Vários analistas compararam Putin a um rato encurralado, mais perigoso agora que ele não está mais no controle dos acontecimentos. Eles querem dar a Putin uma saída segura da situação em que ele supostamente criou para si mesmo. Daí o desprezo quase universal derramado sobre Joe Biden por dizer na Polônia: “Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder”.

A sabedoria convencional é inteiramente plausível. Tem o benefício de justificar a estratégia do Ocidente de apoiar a Ucrânia defensivamente. E tende à conclusão de que o melhor resultado é aquele em que Putin encontra alguma saída para salvar sua pele: território ucraniano adicional, uma promessa de neutralidade ucraniana, uma suspensão de algumas das sanções.

Mas e se a sabedoria convencional estiver errada? E se o Ocidente estiver sedo joguete nas mãos de Putin mais uma vez?

A possibilidade é sugerida em uma poderosa coluna de Carlotta Gall, de sua experiência cobrindo o cerco russo de Grozni, durante a primeira guerra chechena em meados da década de 1990. Nas fases iniciais da guerra, combatentes chechenos motivados aniquilaram uma brigada blindada russa, atordoando Moscou. Os russos se reagruparam e exterminaram Grozni de longe, usando artilharia e poder aéreo.

A Rússia está operando com a mesma cartilha hoje. Quando analistas militares ocidentais argumentam que Putin não pode vencer militarmente na Ucrânia, o que eles realmente querem dizer é que ele não pode vencer limpo. Desde quando Putin joga limpo?

Suponhamos por um momento que Putin nunca pretendesse conquistar toda a Ucrânia: que, desde o início, seus verdadeiros alvos fossem as riquezas energéticas do leste da Ucrânia, que contêm as segundas maiores reservas conhecidas de gás natural da Europa (depois da Noruega).

Putin visa as reservas de gás da Ucrânia

Combine isso com as anteriores apreensões territoriais da Rússia na Crimeia (que tem enormes campos de energia) e nas províncias orientais de Luhansk e Donetsk (que contêm parte de um enorme campo de gás de xisto), bem como a tentativa de Putin de controlar a maior parte ou a totalidade do litoral ucraniano, e a forma das ambições de Putin fica clara. Ele está menos interessado em reunir o mundo de língua russa do que em garantir o domínio energético da Rússia.

“Sob o disfarce de uma invasão, Putin está executando um enorme assalto”, disse o especialista em energia canadense David Knight Legg. Quanto ao que resta de uma Ucrânia praticamente sem litoral, provavelmente se tornará um caso de bem-estar para o Ocidente, o que ajudará a pagar a conta para reassentar os refugiados da Ucrânia em novos lares fora do controle russo. Com o tempo, uma figura semelhante a Viktor Orban poderia assumir a presidência da Ucrânia, imitando o estilo político de homem forte que Putin prefere em seus vizinhos.

Se essa análise estiver correta, Putin não parece o perdedor que calculou errado que seus críticos o fazem parecer.

Pressão sobre Zelenski e a Otan

Também faz sentido sua estratégia de atacar civis. Mais do que simplesmente uma forma de compensar a incompetência das tropas russas, o assassinato em massa de civis pressiona Zelenski a concordar com as mesmas coisas que Putin sempre exigiu: concessões territoriais e neutralidade ucraniana. O Ocidente também procurará qualquer oportunidade para diminuir a escalada, especialmente quando nos convencermos de que um Putin mentalmente instável está preparado para usar armas nucleares.

Dentro da Rússia, a guerra já serviu aos propósitos políticos de Putin. Muitos na classe média – as pessoas mais simpáticas a dissidentes como Alexei Navalni – foram para o exílio autoimposto. Os resquícios de uma imprensa livre foram fechados, provavelmente para sempre. Na medida em que os militares da Rússia se envergonharem, é mais provável que levem a um expurgo bem direcionado de cima do que a uma ampla revolução de baixo. As novas riquezas energéticas da Rússia podem eventualmente ajudá-la a se livrar das sanções.

Essa análise alternativa do desempenho de Putin pode estar errada. Mas, novamente, na guerra, na política e na vida, é sempre mais sensato tratar seu adversário como uma raposa astuta, não um tolo louco.

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

NEW YORK TIMES - A sabedoria convencional da Guerra da Ucrânia tem dito que Vladimir Putin cometeu um erro de cálculo catastrófico.

Ele achava que os ucranianos de língua russa dariam as boas-vindas às suas tropas. Eles não o fizeram. Ele pensou que iria depor rapidamente o governo de Volodmir Zelenski. Não conseguiu. Ele pensou que iria dividir a Otan. Ele a uniu. Ele achava que tinha uma economia à prova de sanções. Ele estragou tudo. Ele pensou que os chineses iriam ajudá-lo. Eles estão comedidos. Ele achava que seus militares modernizados fariam picadinho das forças ucranianas. Os ucranianos estão fazendo picadinho dele, pelo menos em algumas frentes.

Os erros de cálculo de Putin levantam questões sobre seu julgamento estratégico e estado mental. Quem, se é que alguém, o está aconselhando? Ele perdeu o contato com a realidade? Ele está fisicamente doente? Mentalmente?

Putin acena à multidão durante comício para celebrar a anexação da Crimeia Foto: Ramil Sitdikov/AFP

Um rato encurralado ou um estrategista astuto?

Condoleezza Rice adverte: “Ele não está no controle de suas emoções. Algo está errado.” Os cercos da Rússia a Mariupol e Kharkiv – duas cidades de língua russa que Putin afirma estar “libertando” da opressão ucraniana – lembram o que os nazistas fizeram a Varsóvia e o que o próprio Putin fez a Grozni.

Vários analistas compararam Putin a um rato encurralado, mais perigoso agora que ele não está mais no controle dos acontecimentos. Eles querem dar a Putin uma saída segura da situação em que ele supostamente criou para si mesmo. Daí o desprezo quase universal derramado sobre Joe Biden por dizer na Polônia: “Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder”.

A sabedoria convencional é inteiramente plausível. Tem o benefício de justificar a estratégia do Ocidente de apoiar a Ucrânia defensivamente. E tende à conclusão de que o melhor resultado é aquele em que Putin encontra alguma saída para salvar sua pele: território ucraniano adicional, uma promessa de neutralidade ucraniana, uma suspensão de algumas das sanções.

Mas e se a sabedoria convencional estiver errada? E se o Ocidente estiver sedo joguete nas mãos de Putin mais uma vez?

A possibilidade é sugerida em uma poderosa coluna de Carlotta Gall, de sua experiência cobrindo o cerco russo de Grozni, durante a primeira guerra chechena em meados da década de 1990. Nas fases iniciais da guerra, combatentes chechenos motivados aniquilaram uma brigada blindada russa, atordoando Moscou. Os russos se reagruparam e exterminaram Grozni de longe, usando artilharia e poder aéreo.

A Rússia está operando com a mesma cartilha hoje. Quando analistas militares ocidentais argumentam que Putin não pode vencer militarmente na Ucrânia, o que eles realmente querem dizer é que ele não pode vencer limpo. Desde quando Putin joga limpo?

Suponhamos por um momento que Putin nunca pretendesse conquistar toda a Ucrânia: que, desde o início, seus verdadeiros alvos fossem as riquezas energéticas do leste da Ucrânia, que contêm as segundas maiores reservas conhecidas de gás natural da Europa (depois da Noruega).

Putin visa as reservas de gás da Ucrânia

Combine isso com as anteriores apreensões territoriais da Rússia na Crimeia (que tem enormes campos de energia) e nas províncias orientais de Luhansk e Donetsk (que contêm parte de um enorme campo de gás de xisto), bem como a tentativa de Putin de controlar a maior parte ou a totalidade do litoral ucraniano, e a forma das ambições de Putin fica clara. Ele está menos interessado em reunir o mundo de língua russa do que em garantir o domínio energético da Rússia.

“Sob o disfarce de uma invasão, Putin está executando um enorme assalto”, disse o especialista em energia canadense David Knight Legg. Quanto ao que resta de uma Ucrânia praticamente sem litoral, provavelmente se tornará um caso de bem-estar para o Ocidente, o que ajudará a pagar a conta para reassentar os refugiados da Ucrânia em novos lares fora do controle russo. Com o tempo, uma figura semelhante a Viktor Orban poderia assumir a presidência da Ucrânia, imitando o estilo político de homem forte que Putin prefere em seus vizinhos.

Se essa análise estiver correta, Putin não parece o perdedor que calculou errado que seus críticos o fazem parecer.

Pressão sobre Zelenski e a Otan

Também faz sentido sua estratégia de atacar civis. Mais do que simplesmente uma forma de compensar a incompetência das tropas russas, o assassinato em massa de civis pressiona Zelenski a concordar com as mesmas coisas que Putin sempre exigiu: concessões territoriais e neutralidade ucraniana. O Ocidente também procurará qualquer oportunidade para diminuir a escalada, especialmente quando nos convencermos de que um Putin mentalmente instável está preparado para usar armas nucleares.

Dentro da Rússia, a guerra já serviu aos propósitos políticos de Putin. Muitos na classe média – as pessoas mais simpáticas a dissidentes como Alexei Navalni – foram para o exílio autoimposto. Os resquícios de uma imprensa livre foram fechados, provavelmente para sempre. Na medida em que os militares da Rússia se envergonharem, é mais provável que levem a um expurgo bem direcionado de cima do que a uma ampla revolução de baixo. As novas riquezas energéticas da Rússia podem eventualmente ajudá-la a se livrar das sanções.

Essa análise alternativa do desempenho de Putin pode estar errada. Mas, novamente, na guerra, na política e na vida, é sempre mais sensato tratar seu adversário como uma raposa astuta, não um tolo louco.

Seu navegador não suporta esse video.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

NEW YORK TIMES - A sabedoria convencional da Guerra da Ucrânia tem dito que Vladimir Putin cometeu um erro de cálculo catastrófico.

Ele achava que os ucranianos de língua russa dariam as boas-vindas às suas tropas. Eles não o fizeram. Ele pensou que iria depor rapidamente o governo de Volodmir Zelenski. Não conseguiu. Ele pensou que iria dividir a Otan. Ele a uniu. Ele achava que tinha uma economia à prova de sanções. Ele estragou tudo. Ele pensou que os chineses iriam ajudá-lo. Eles estão comedidos. Ele achava que seus militares modernizados fariam picadinho das forças ucranianas. Os ucranianos estão fazendo picadinho dele, pelo menos em algumas frentes.

Os erros de cálculo de Putin levantam questões sobre seu julgamento estratégico e estado mental. Quem, se é que alguém, o está aconselhando? Ele perdeu o contato com a realidade? Ele está fisicamente doente? Mentalmente?

Putin acena à multidão durante comício para celebrar a anexação da Crimeia Foto: Ramil Sitdikov/AFP

Um rato encurralado ou um estrategista astuto?

Condoleezza Rice adverte: “Ele não está no controle de suas emoções. Algo está errado.” Os cercos da Rússia a Mariupol e Kharkiv – duas cidades de língua russa que Putin afirma estar “libertando” da opressão ucraniana – lembram o que os nazistas fizeram a Varsóvia e o que o próprio Putin fez a Grozni.

Vários analistas compararam Putin a um rato encurralado, mais perigoso agora que ele não está mais no controle dos acontecimentos. Eles querem dar a Putin uma saída segura da situação em que ele supostamente criou para si mesmo. Daí o desprezo quase universal derramado sobre Joe Biden por dizer na Polônia: “Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder”.

A sabedoria convencional é inteiramente plausível. Tem o benefício de justificar a estratégia do Ocidente de apoiar a Ucrânia defensivamente. E tende à conclusão de que o melhor resultado é aquele em que Putin encontra alguma saída para salvar sua pele: território ucraniano adicional, uma promessa de neutralidade ucraniana, uma suspensão de algumas das sanções.

Mas e se a sabedoria convencional estiver errada? E se o Ocidente estiver sedo joguete nas mãos de Putin mais uma vez?

A possibilidade é sugerida em uma poderosa coluna de Carlotta Gall, de sua experiência cobrindo o cerco russo de Grozni, durante a primeira guerra chechena em meados da década de 1990. Nas fases iniciais da guerra, combatentes chechenos motivados aniquilaram uma brigada blindada russa, atordoando Moscou. Os russos se reagruparam e exterminaram Grozni de longe, usando artilharia e poder aéreo.

A Rússia está operando com a mesma cartilha hoje. Quando analistas militares ocidentais argumentam que Putin não pode vencer militarmente na Ucrânia, o que eles realmente querem dizer é que ele não pode vencer limpo. Desde quando Putin joga limpo?

Suponhamos por um momento que Putin nunca pretendesse conquistar toda a Ucrânia: que, desde o início, seus verdadeiros alvos fossem as riquezas energéticas do leste da Ucrânia, que contêm as segundas maiores reservas conhecidas de gás natural da Europa (depois da Noruega).

Putin visa as reservas de gás da Ucrânia

Combine isso com as anteriores apreensões territoriais da Rússia na Crimeia (que tem enormes campos de energia) e nas províncias orientais de Luhansk e Donetsk (que contêm parte de um enorme campo de gás de xisto), bem como a tentativa de Putin de controlar a maior parte ou a totalidade do litoral ucraniano, e a forma das ambições de Putin fica clara. Ele está menos interessado em reunir o mundo de língua russa do que em garantir o domínio energético da Rússia.

“Sob o disfarce de uma invasão, Putin está executando um enorme assalto”, disse o especialista em energia canadense David Knight Legg. Quanto ao que resta de uma Ucrânia praticamente sem litoral, provavelmente se tornará um caso de bem-estar para o Ocidente, o que ajudará a pagar a conta para reassentar os refugiados da Ucrânia em novos lares fora do controle russo. Com o tempo, uma figura semelhante a Viktor Orban poderia assumir a presidência da Ucrânia, imitando o estilo político de homem forte que Putin prefere em seus vizinhos.

Se essa análise estiver correta, Putin não parece o perdedor que calculou errado que seus críticos o fazem parecer.

Pressão sobre Zelenski e a Otan

Também faz sentido sua estratégia de atacar civis. Mais do que simplesmente uma forma de compensar a incompetência das tropas russas, o assassinato em massa de civis pressiona Zelenski a concordar com as mesmas coisas que Putin sempre exigiu: concessões territoriais e neutralidade ucraniana. O Ocidente também procurará qualquer oportunidade para diminuir a escalada, especialmente quando nos convencermos de que um Putin mentalmente instável está preparado para usar armas nucleares.

Dentro da Rússia, a guerra já serviu aos propósitos políticos de Putin. Muitos na classe média – as pessoas mais simpáticas a dissidentes como Alexei Navalni – foram para o exílio autoimposto. Os resquícios de uma imprensa livre foram fechados, provavelmente para sempre. Na medida em que os militares da Rússia se envergonharem, é mais provável que levem a um expurgo bem direcionado de cima do que a uma ampla revolução de baixo. As novas riquezas energéticas da Rússia podem eventualmente ajudá-la a se livrar das sanções.

Essa análise alternativa do desempenho de Putin pode estar errada. Mas, novamente, na guerra, na política e na vida, é sempre mais sensato tratar seu adversário como uma raposa astuta, não um tolo louco.

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