O Egito busca recuperar sua influência regional com o papel de mediador entre Israel e o Hamas para conter o conflito em Gaza, que matou mais de 200 pessoas na última semana.
Em 2014, o Egito negociou um frágil cessar-fogo entre os dois inimigos após um confronto devastador que durou semanas.
No conflito atual, que entrou em sua segunda semana nessa segunda-feira, 17, os ataques aéreos israelenses e foguetes disparados da Faixa de Gaza mataram cerca de 200 pessoas do lado palestino e 10 pessoas em Israel, segundo as autoridades de Gaza e Jerusalém. Centenas de pessoas ficaram feridas.
A escalada embaraça Emirados Árabes Unidos e Bahrein, dois Estados do Golfo que normalizaram as relações com Israel no ano passado.
"Em uma região onde os Estados estão expandindo suas relações com Israel, o Egito tem interesse em usar sua proximidade geográfica com Gaza para afirmar seu poder diplomático", disse Tareq Baconi, analista do International Crisis Group.
Uma delegação da inteligência egípcia que estaria no terreno em Israel e nos territórios palestinos fortalece o papel do Cairo como mediador.
"A delegação é formada por oficiais de inteligência e vem tentando negociar um cessar-fogo há vários dias", afirmou à AFP Khaled Okasha, membro do Conselho Supremo de Contraterrorismo do Egito. Ele se disse otimista quanto a encontrar uma saída para a crise.
Rota do Cairo
"O Egito tem que se envolver, não há como contornar isso, literal e fisicamente", disse Michael Hanna, da Century Foundation, com sede em Nova York.
Israel mantém um bloqueio terrestre e marítimo contra Gaza desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle do empobrecido território, que abriga cerca de dois milhões de palestinos.
A passagem de fronteira de Rafah, entre Gaza e Egito, é a única saída do enclave que Israel não controla.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, instruiu as autoridades a abrirem o caminho para tratar os feridos em Gaza em hospitais egípcios e enviar ajuda.
"Esta é uma oportunidade de dizer não apenas aos Estados Unidos, mas também a outros países da região que o Egito continua a ser importante, que é um ator diplomático necessário e que um cessar-fogo pode ser alcançado com (a mediação do) Cairo", apontou Hanna.
O ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shoukry, disse em um discurso ao Conselho de Segurança da ONU que "concessões devem ser feitas", numa mensagem dirigida a Israel. Mas admitiu que é uma "estranha dinâmica", porque "os oficiais militares (egípcios) não confiam em Israel, mas ao mesmo tempo trabalham muito próximos deles".
Baconi também moderou sua avaliação da influência egípcia. "O Egito não tem pressão suficiente sobre Israel. A relação é uma aliança na qual Israel estabelece a estrutura para a estratégia militar que considera necessária para manter a estabilidade", explicou.
O presidente Sissi liderou em 2013 o movimento militar que derrubou o presidente islâmico eleito democraticamente Mohamed Morsi, e aplica forte pressão contra a agora proibida Irmandade Muçulmana, da qual o Hamas nasceu. Seu governo equilibra a coordenação de inteligência com o Hamas e seu desprezo pela Irmandade, de acordo com Baconi.
"Em 2021, o regime de Sissi não necessariamente vê o Hamas como uma ameaça à sua estabilidade", disse.
Washington pediu ao Cairo e seus aliados árabes, em particular a Tunísia e o Catar, que assumissem papéis relevantes na contenção do conflito entre Gaza e Israel.
O governo do presidente Joe Biden disse que está trabalhando nos bastidores para neutralizar o confronto. Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden, afirmou que falou com seu colega israelense e com o governo egípcio como parte de uma "diplomacia silenciosa e intensa". Por sua vez, o Catar, importante apoio do Hamas, condenou os "ataques brutais e repetidos de Israel"./ AFP