Ele sobreviveu a Reagan, Castro e Gorbachev


A influência política de José Eduardo dos Santos persistirá, apesar de ele deixar o poder, mas sua saída da presidência representa o fim de uma era

Por Kevin Sieff

Enquanto Angola mudava, deixando de ser um aliado soviético durante a Guerra Fria para se tornar um país conhecido pelos bilionários do petróleo, uma figura se mantinha constante: o presidente José Eduardo dos Santos, hoje com 74 anos, que vem governando o país desde 1979.

Na quarta-feira Angola realizou sua primeira eleição presidencial em 38 anos, e Santos não se candidatou, um momento transcendental num continente que abriga sete dos dez líderes que mais tempo estão no poder, e não pertencem a uma realeza.

JoséEduardo dos Santos vota em Luanda; presidente deixará o poder após 38 anos Foto: EFE/Manuel De Almeida
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Os resultados da eleição só serão conhecidos dentro de alguns dias. Mas é quase certo que o partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), continuará no poder, agora sob o comando de João Manuel Gonçalves Lourenço, o ministro da Defesa de 62 anos. Os filhos de Santos manterão postos-chave no governo. Sua filha preside a empresa estatal de petróleo e seu filho o fundo soberano do país, de US$ 5 bilhões.

Mas mesmo se a influência política de José Eduardo dos Santos persiste, sua saída da presidência representa o fim de uma era e nos oferece um vislumbre de como a sucessão poderá se desenvolver em nações governadas pela velha guarda da África. No Zimbábue, a leste de Angola, o presidente Robert Mugabe, com 93 anos de idade, está há 38 no poder. Ao norte, na Guiné Equatorial, Teodoro Obiang está com 75 anos e há 38 na presidência. Em Camarões Paul Biya, 84 anos, é o chefe do Estado há 35 anos. Em Uganda, Yoweri Mouseveni, 73 anos, governa o país há 31 anos.

Em cada um desses países, os debates em torno da sucessão atraem a atenção do país. No Zimbábue, uma disputa vem germinando entre facções que competem pela escolha do herdeiro de Mugabe, incluindo sua esposa de 52 anos. Os analistas acreditam num cenário político igualmente caótico nos Camarões, após a morte de Byia.

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José Eduardo dos Santos viajou recentemente para a Espanha para se tratar de uma doença não revelada. Quando anunciou este ano sua aposentadoria, circularam rumores em Angola sobre quem assumiria seu lugar. Durante algum tempo a opinião dominante era de que seria sua filha Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África.

Mas no ano passado o MPLA escolheu Lourenço, que procura se retratar como um reformador, embora seu partido seja acusado de corrupção por críticos e organizações que monitoram o comportamento de governos, desviando as receitas do petróleo enquanto uma enorme parcela da população vive sem assistência médica ou eletricidade. Em 2015 o rapper Nicki Minaj teria recebido uma soma enorme para dar um concerto para algumas das pessoas mais ricas do país, enquanto metade da população vive com menos de dois dólares por dia.

Na eleição de quarta-feira, Lourenço enfrentou Isaias Samakuva, 71 anos, candidato da União Nacional para Libertação Total de Angola (Unita), que lutou contra o MPLA de José Eduardo dos Santos na guerra civil que durou 27 anos. Para os líderes de oposição essa eleição não é digna de confiança. Observadores da União Europeia saíram do país quando tiveram negado o acesso a muitos postos de votação.

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Para muitos analistas a decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar e a união do partido em torno de Lourenço pode evitar o caos que provavelmente ocorrerá no caso de outros governantes veteranos ao deixarem o poder.

“Ela deve contribuir para uma transição pacífica, evitando um vazio de poder e o risco de embates políticos”, escreveu Soren Kirk Jensen, especialista em Angola e membro da Chatham House, instituto de política com sede em Londres.

José Eduardo dos Santos continuará uma figura influente na política, mas sua saída deixa Angola sem o líder que conduziu o país na transição do marxismo para o capitalismo do petróleo, trocando um aliado como Fidel Castro pela Exxon, e transformando Angola, que se transformou de uma das nações mais pobres da África em uma das mais ricas (e mais desiguais).

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“A saída de Santos significa uma nova realidade para Angola”, afirmou José Veloso, professor da universidade independente de Angola.

José Eduardo dos Santos, filho de um pedreiro, nasceu em uma favela de Luanda durante o governo colonialista de Portugal. Recebeu uma bolsa para estudar engenharia petrolífera no Azerbaijão, na época parte integrante da União Soviética, e tornou-se ministro do Exterior de Angola depois que o país declarou sua independência, em 1975.

Quando assumiu a presidência em 1979, Angola era um dos mais próximos aliados africanos da União Soviética. Moscou apoiou o governo do MPLA na sangrenta guerra civil contra combatentes apoiados pelos Estados Unidos e a África do Sul.

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Fotos do início dos anos 80 mostram José Eduardo dos Santos de pé junto com autoridades da Alemanha Oriental no Portão de Brandemburgo, discursando num congresso do Partido Comunista Soviético em Moscou e sentado ao lado de Fidel Castro, em Havana. Seu primeiro casamento foi com uma russa.

Mas em 1991 ele renunciou ao marxismo e estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Após o término da guerra, em 2002, a produção de petróleo disparou, enriquecendo a elite angolana enquanto a população pobre carecia de assistência médica e o país exibindo os piores indicadores do mundo no campo da saúde. A economia do país entrou em crise com a queda dos preços do petróleo nos últimos anos e os serviços públicos deterioraram. No ano passado explodiu uma epidemia violenta de febre amarela, devido em parte à diminuição da coleta de lixo, criando um terreno fértil para os mosquitos.

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Indagado este ano pelo Washington Post como seu governo será diferente da presidência de José Eduardo dos Santos, Lourenço respondeu: “Faremos tudo para ter uma administração transparente. E vamos combater a corrupção”.

Na semana passada, em uma breve intervenção durante um comício nos arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos disse estar confiante de que seu partido construirá um legado duradouro mesmo depois da sua saída.

“Não tenho dúvida de que o MPLA vencerá esta eleição”, afirmou. / Tradução de Terezinha Martino

Enquanto Angola mudava, deixando de ser um aliado soviético durante a Guerra Fria para se tornar um país conhecido pelos bilionários do petróleo, uma figura se mantinha constante: o presidente José Eduardo dos Santos, hoje com 74 anos, que vem governando o país desde 1979.

Na quarta-feira Angola realizou sua primeira eleição presidencial em 38 anos, e Santos não se candidatou, um momento transcendental num continente que abriga sete dos dez líderes que mais tempo estão no poder, e não pertencem a uma realeza.

JoséEduardo dos Santos vota em Luanda; presidente deixará o poder após 38 anos Foto: EFE/Manuel De Almeida

Os resultados da eleição só serão conhecidos dentro de alguns dias. Mas é quase certo que o partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), continuará no poder, agora sob o comando de João Manuel Gonçalves Lourenço, o ministro da Defesa de 62 anos. Os filhos de Santos manterão postos-chave no governo. Sua filha preside a empresa estatal de petróleo e seu filho o fundo soberano do país, de US$ 5 bilhões.

Mas mesmo se a influência política de José Eduardo dos Santos persiste, sua saída da presidência representa o fim de uma era e nos oferece um vislumbre de como a sucessão poderá se desenvolver em nações governadas pela velha guarda da África. No Zimbábue, a leste de Angola, o presidente Robert Mugabe, com 93 anos de idade, está há 38 no poder. Ao norte, na Guiné Equatorial, Teodoro Obiang está com 75 anos e há 38 na presidência. Em Camarões Paul Biya, 84 anos, é o chefe do Estado há 35 anos. Em Uganda, Yoweri Mouseveni, 73 anos, governa o país há 31 anos.

Em cada um desses países, os debates em torno da sucessão atraem a atenção do país. No Zimbábue, uma disputa vem germinando entre facções que competem pela escolha do herdeiro de Mugabe, incluindo sua esposa de 52 anos. Os analistas acreditam num cenário político igualmente caótico nos Camarões, após a morte de Byia.

José Eduardo dos Santos viajou recentemente para a Espanha para se tratar de uma doença não revelada. Quando anunciou este ano sua aposentadoria, circularam rumores em Angola sobre quem assumiria seu lugar. Durante algum tempo a opinião dominante era de que seria sua filha Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África.

Mas no ano passado o MPLA escolheu Lourenço, que procura se retratar como um reformador, embora seu partido seja acusado de corrupção por críticos e organizações que monitoram o comportamento de governos, desviando as receitas do petróleo enquanto uma enorme parcela da população vive sem assistência médica ou eletricidade. Em 2015 o rapper Nicki Minaj teria recebido uma soma enorme para dar um concerto para algumas das pessoas mais ricas do país, enquanto metade da população vive com menos de dois dólares por dia.

Na eleição de quarta-feira, Lourenço enfrentou Isaias Samakuva, 71 anos, candidato da União Nacional para Libertação Total de Angola (Unita), que lutou contra o MPLA de José Eduardo dos Santos na guerra civil que durou 27 anos. Para os líderes de oposição essa eleição não é digna de confiança. Observadores da União Europeia saíram do país quando tiveram negado o acesso a muitos postos de votação.

Para muitos analistas a decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar e a união do partido em torno de Lourenço pode evitar o caos que provavelmente ocorrerá no caso de outros governantes veteranos ao deixarem o poder.

“Ela deve contribuir para uma transição pacífica, evitando um vazio de poder e o risco de embates políticos”, escreveu Soren Kirk Jensen, especialista em Angola e membro da Chatham House, instituto de política com sede em Londres.

José Eduardo dos Santos continuará uma figura influente na política, mas sua saída deixa Angola sem o líder que conduziu o país na transição do marxismo para o capitalismo do petróleo, trocando um aliado como Fidel Castro pela Exxon, e transformando Angola, que se transformou de uma das nações mais pobres da África em uma das mais ricas (e mais desiguais).

“A saída de Santos significa uma nova realidade para Angola”, afirmou José Veloso, professor da universidade independente de Angola.

José Eduardo dos Santos, filho de um pedreiro, nasceu em uma favela de Luanda durante o governo colonialista de Portugal. Recebeu uma bolsa para estudar engenharia petrolífera no Azerbaijão, na época parte integrante da União Soviética, e tornou-se ministro do Exterior de Angola depois que o país declarou sua independência, em 1975.

Quando assumiu a presidência em 1979, Angola era um dos mais próximos aliados africanos da União Soviética. Moscou apoiou o governo do MPLA na sangrenta guerra civil contra combatentes apoiados pelos Estados Unidos e a África do Sul.

Fotos do início dos anos 80 mostram José Eduardo dos Santos de pé junto com autoridades da Alemanha Oriental no Portão de Brandemburgo, discursando num congresso do Partido Comunista Soviético em Moscou e sentado ao lado de Fidel Castro, em Havana. Seu primeiro casamento foi com uma russa.

Mas em 1991 ele renunciou ao marxismo e estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Após o término da guerra, em 2002, a produção de petróleo disparou, enriquecendo a elite angolana enquanto a população pobre carecia de assistência médica e o país exibindo os piores indicadores do mundo no campo da saúde. A economia do país entrou em crise com a queda dos preços do petróleo nos últimos anos e os serviços públicos deterioraram. No ano passado explodiu uma epidemia violenta de febre amarela, devido em parte à diminuição da coleta de lixo, criando um terreno fértil para os mosquitos.

Indagado este ano pelo Washington Post como seu governo será diferente da presidência de José Eduardo dos Santos, Lourenço respondeu: “Faremos tudo para ter uma administração transparente. E vamos combater a corrupção”.

Na semana passada, em uma breve intervenção durante um comício nos arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos disse estar confiante de que seu partido construirá um legado duradouro mesmo depois da sua saída.

“Não tenho dúvida de que o MPLA vencerá esta eleição”, afirmou. / Tradução de Terezinha Martino

Enquanto Angola mudava, deixando de ser um aliado soviético durante a Guerra Fria para se tornar um país conhecido pelos bilionários do petróleo, uma figura se mantinha constante: o presidente José Eduardo dos Santos, hoje com 74 anos, que vem governando o país desde 1979.

Na quarta-feira Angola realizou sua primeira eleição presidencial em 38 anos, e Santos não se candidatou, um momento transcendental num continente que abriga sete dos dez líderes que mais tempo estão no poder, e não pertencem a uma realeza.

JoséEduardo dos Santos vota em Luanda; presidente deixará o poder após 38 anos Foto: EFE/Manuel De Almeida

Os resultados da eleição só serão conhecidos dentro de alguns dias. Mas é quase certo que o partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), continuará no poder, agora sob o comando de João Manuel Gonçalves Lourenço, o ministro da Defesa de 62 anos. Os filhos de Santos manterão postos-chave no governo. Sua filha preside a empresa estatal de petróleo e seu filho o fundo soberano do país, de US$ 5 bilhões.

Mas mesmo se a influência política de José Eduardo dos Santos persiste, sua saída da presidência representa o fim de uma era e nos oferece um vislumbre de como a sucessão poderá se desenvolver em nações governadas pela velha guarda da África. No Zimbábue, a leste de Angola, o presidente Robert Mugabe, com 93 anos de idade, está há 38 no poder. Ao norte, na Guiné Equatorial, Teodoro Obiang está com 75 anos e há 38 na presidência. Em Camarões Paul Biya, 84 anos, é o chefe do Estado há 35 anos. Em Uganda, Yoweri Mouseveni, 73 anos, governa o país há 31 anos.

Em cada um desses países, os debates em torno da sucessão atraem a atenção do país. No Zimbábue, uma disputa vem germinando entre facções que competem pela escolha do herdeiro de Mugabe, incluindo sua esposa de 52 anos. Os analistas acreditam num cenário político igualmente caótico nos Camarões, após a morte de Byia.

José Eduardo dos Santos viajou recentemente para a Espanha para se tratar de uma doença não revelada. Quando anunciou este ano sua aposentadoria, circularam rumores em Angola sobre quem assumiria seu lugar. Durante algum tempo a opinião dominante era de que seria sua filha Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África.

Mas no ano passado o MPLA escolheu Lourenço, que procura se retratar como um reformador, embora seu partido seja acusado de corrupção por críticos e organizações que monitoram o comportamento de governos, desviando as receitas do petróleo enquanto uma enorme parcela da população vive sem assistência médica ou eletricidade. Em 2015 o rapper Nicki Minaj teria recebido uma soma enorme para dar um concerto para algumas das pessoas mais ricas do país, enquanto metade da população vive com menos de dois dólares por dia.

Na eleição de quarta-feira, Lourenço enfrentou Isaias Samakuva, 71 anos, candidato da União Nacional para Libertação Total de Angola (Unita), que lutou contra o MPLA de José Eduardo dos Santos na guerra civil que durou 27 anos. Para os líderes de oposição essa eleição não é digna de confiança. Observadores da União Europeia saíram do país quando tiveram negado o acesso a muitos postos de votação.

Para muitos analistas a decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar e a união do partido em torno de Lourenço pode evitar o caos que provavelmente ocorrerá no caso de outros governantes veteranos ao deixarem o poder.

“Ela deve contribuir para uma transição pacífica, evitando um vazio de poder e o risco de embates políticos”, escreveu Soren Kirk Jensen, especialista em Angola e membro da Chatham House, instituto de política com sede em Londres.

José Eduardo dos Santos continuará uma figura influente na política, mas sua saída deixa Angola sem o líder que conduziu o país na transição do marxismo para o capitalismo do petróleo, trocando um aliado como Fidel Castro pela Exxon, e transformando Angola, que se transformou de uma das nações mais pobres da África em uma das mais ricas (e mais desiguais).

“A saída de Santos significa uma nova realidade para Angola”, afirmou José Veloso, professor da universidade independente de Angola.

José Eduardo dos Santos, filho de um pedreiro, nasceu em uma favela de Luanda durante o governo colonialista de Portugal. Recebeu uma bolsa para estudar engenharia petrolífera no Azerbaijão, na época parte integrante da União Soviética, e tornou-se ministro do Exterior de Angola depois que o país declarou sua independência, em 1975.

Quando assumiu a presidência em 1979, Angola era um dos mais próximos aliados africanos da União Soviética. Moscou apoiou o governo do MPLA na sangrenta guerra civil contra combatentes apoiados pelos Estados Unidos e a África do Sul.

Fotos do início dos anos 80 mostram José Eduardo dos Santos de pé junto com autoridades da Alemanha Oriental no Portão de Brandemburgo, discursando num congresso do Partido Comunista Soviético em Moscou e sentado ao lado de Fidel Castro, em Havana. Seu primeiro casamento foi com uma russa.

Mas em 1991 ele renunciou ao marxismo e estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Após o término da guerra, em 2002, a produção de petróleo disparou, enriquecendo a elite angolana enquanto a população pobre carecia de assistência médica e o país exibindo os piores indicadores do mundo no campo da saúde. A economia do país entrou em crise com a queda dos preços do petróleo nos últimos anos e os serviços públicos deterioraram. No ano passado explodiu uma epidemia violenta de febre amarela, devido em parte à diminuição da coleta de lixo, criando um terreno fértil para os mosquitos.

Indagado este ano pelo Washington Post como seu governo será diferente da presidência de José Eduardo dos Santos, Lourenço respondeu: “Faremos tudo para ter uma administração transparente. E vamos combater a corrupção”.

Na semana passada, em uma breve intervenção durante um comício nos arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos disse estar confiante de que seu partido construirá um legado duradouro mesmo depois da sua saída.

“Não tenho dúvida de que o MPLA vencerá esta eleição”, afirmou. / Tradução de Terezinha Martino

Enquanto Angola mudava, deixando de ser um aliado soviético durante a Guerra Fria para se tornar um país conhecido pelos bilionários do petróleo, uma figura se mantinha constante: o presidente José Eduardo dos Santos, hoje com 74 anos, que vem governando o país desde 1979.

Na quarta-feira Angola realizou sua primeira eleição presidencial em 38 anos, e Santos não se candidatou, um momento transcendental num continente que abriga sete dos dez líderes que mais tempo estão no poder, e não pertencem a uma realeza.

JoséEduardo dos Santos vota em Luanda; presidente deixará o poder após 38 anos Foto: EFE/Manuel De Almeida

Os resultados da eleição só serão conhecidos dentro de alguns dias. Mas é quase certo que o partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), continuará no poder, agora sob o comando de João Manuel Gonçalves Lourenço, o ministro da Defesa de 62 anos. Os filhos de Santos manterão postos-chave no governo. Sua filha preside a empresa estatal de petróleo e seu filho o fundo soberano do país, de US$ 5 bilhões.

Mas mesmo se a influência política de José Eduardo dos Santos persiste, sua saída da presidência representa o fim de uma era e nos oferece um vislumbre de como a sucessão poderá se desenvolver em nações governadas pela velha guarda da África. No Zimbábue, a leste de Angola, o presidente Robert Mugabe, com 93 anos de idade, está há 38 no poder. Ao norte, na Guiné Equatorial, Teodoro Obiang está com 75 anos e há 38 na presidência. Em Camarões Paul Biya, 84 anos, é o chefe do Estado há 35 anos. Em Uganda, Yoweri Mouseveni, 73 anos, governa o país há 31 anos.

Em cada um desses países, os debates em torno da sucessão atraem a atenção do país. No Zimbábue, uma disputa vem germinando entre facções que competem pela escolha do herdeiro de Mugabe, incluindo sua esposa de 52 anos. Os analistas acreditam num cenário político igualmente caótico nos Camarões, após a morte de Byia.

José Eduardo dos Santos viajou recentemente para a Espanha para se tratar de uma doença não revelada. Quando anunciou este ano sua aposentadoria, circularam rumores em Angola sobre quem assumiria seu lugar. Durante algum tempo a opinião dominante era de que seria sua filha Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África.

Mas no ano passado o MPLA escolheu Lourenço, que procura se retratar como um reformador, embora seu partido seja acusado de corrupção por críticos e organizações que monitoram o comportamento de governos, desviando as receitas do petróleo enquanto uma enorme parcela da população vive sem assistência médica ou eletricidade. Em 2015 o rapper Nicki Minaj teria recebido uma soma enorme para dar um concerto para algumas das pessoas mais ricas do país, enquanto metade da população vive com menos de dois dólares por dia.

Na eleição de quarta-feira, Lourenço enfrentou Isaias Samakuva, 71 anos, candidato da União Nacional para Libertação Total de Angola (Unita), que lutou contra o MPLA de José Eduardo dos Santos na guerra civil que durou 27 anos. Para os líderes de oposição essa eleição não é digna de confiança. Observadores da União Europeia saíram do país quando tiveram negado o acesso a muitos postos de votação.

Para muitos analistas a decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar e a união do partido em torno de Lourenço pode evitar o caos que provavelmente ocorrerá no caso de outros governantes veteranos ao deixarem o poder.

“Ela deve contribuir para uma transição pacífica, evitando um vazio de poder e o risco de embates políticos”, escreveu Soren Kirk Jensen, especialista em Angola e membro da Chatham House, instituto de política com sede em Londres.

José Eduardo dos Santos continuará uma figura influente na política, mas sua saída deixa Angola sem o líder que conduziu o país na transição do marxismo para o capitalismo do petróleo, trocando um aliado como Fidel Castro pela Exxon, e transformando Angola, que se transformou de uma das nações mais pobres da África em uma das mais ricas (e mais desiguais).

“A saída de Santos significa uma nova realidade para Angola”, afirmou José Veloso, professor da universidade independente de Angola.

José Eduardo dos Santos, filho de um pedreiro, nasceu em uma favela de Luanda durante o governo colonialista de Portugal. Recebeu uma bolsa para estudar engenharia petrolífera no Azerbaijão, na época parte integrante da União Soviética, e tornou-se ministro do Exterior de Angola depois que o país declarou sua independência, em 1975.

Quando assumiu a presidência em 1979, Angola era um dos mais próximos aliados africanos da União Soviética. Moscou apoiou o governo do MPLA na sangrenta guerra civil contra combatentes apoiados pelos Estados Unidos e a África do Sul.

Fotos do início dos anos 80 mostram José Eduardo dos Santos de pé junto com autoridades da Alemanha Oriental no Portão de Brandemburgo, discursando num congresso do Partido Comunista Soviético em Moscou e sentado ao lado de Fidel Castro, em Havana. Seu primeiro casamento foi com uma russa.

Mas em 1991 ele renunciou ao marxismo e estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Após o término da guerra, em 2002, a produção de petróleo disparou, enriquecendo a elite angolana enquanto a população pobre carecia de assistência médica e o país exibindo os piores indicadores do mundo no campo da saúde. A economia do país entrou em crise com a queda dos preços do petróleo nos últimos anos e os serviços públicos deterioraram. No ano passado explodiu uma epidemia violenta de febre amarela, devido em parte à diminuição da coleta de lixo, criando um terreno fértil para os mosquitos.

Indagado este ano pelo Washington Post como seu governo será diferente da presidência de José Eduardo dos Santos, Lourenço respondeu: “Faremos tudo para ter uma administração transparente. E vamos combater a corrupção”.

Na semana passada, em uma breve intervenção durante um comício nos arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos disse estar confiante de que seu partido construirá um legado duradouro mesmo depois da sua saída.

“Não tenho dúvida de que o MPLA vencerá esta eleição”, afirmou. / Tradução de Terezinha Martino

Enquanto Angola mudava, deixando de ser um aliado soviético durante a Guerra Fria para se tornar um país conhecido pelos bilionários do petróleo, uma figura se mantinha constante: o presidente José Eduardo dos Santos, hoje com 74 anos, que vem governando o país desde 1979.

Na quarta-feira Angola realizou sua primeira eleição presidencial em 38 anos, e Santos não se candidatou, um momento transcendental num continente que abriga sete dos dez líderes que mais tempo estão no poder, e não pertencem a uma realeza.

JoséEduardo dos Santos vota em Luanda; presidente deixará o poder após 38 anos Foto: EFE/Manuel De Almeida

Os resultados da eleição só serão conhecidos dentro de alguns dias. Mas é quase certo que o partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), continuará no poder, agora sob o comando de João Manuel Gonçalves Lourenço, o ministro da Defesa de 62 anos. Os filhos de Santos manterão postos-chave no governo. Sua filha preside a empresa estatal de petróleo e seu filho o fundo soberano do país, de US$ 5 bilhões.

Mas mesmo se a influência política de José Eduardo dos Santos persiste, sua saída da presidência representa o fim de uma era e nos oferece um vislumbre de como a sucessão poderá se desenvolver em nações governadas pela velha guarda da África. No Zimbábue, a leste de Angola, o presidente Robert Mugabe, com 93 anos de idade, está há 38 no poder. Ao norte, na Guiné Equatorial, Teodoro Obiang está com 75 anos e há 38 na presidência. Em Camarões Paul Biya, 84 anos, é o chefe do Estado há 35 anos. Em Uganda, Yoweri Mouseveni, 73 anos, governa o país há 31 anos.

Em cada um desses países, os debates em torno da sucessão atraem a atenção do país. No Zimbábue, uma disputa vem germinando entre facções que competem pela escolha do herdeiro de Mugabe, incluindo sua esposa de 52 anos. Os analistas acreditam num cenário político igualmente caótico nos Camarões, após a morte de Byia.

José Eduardo dos Santos viajou recentemente para a Espanha para se tratar de uma doença não revelada. Quando anunciou este ano sua aposentadoria, circularam rumores em Angola sobre quem assumiria seu lugar. Durante algum tempo a opinião dominante era de que seria sua filha Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África.

Mas no ano passado o MPLA escolheu Lourenço, que procura se retratar como um reformador, embora seu partido seja acusado de corrupção por críticos e organizações que monitoram o comportamento de governos, desviando as receitas do petróleo enquanto uma enorme parcela da população vive sem assistência médica ou eletricidade. Em 2015 o rapper Nicki Minaj teria recebido uma soma enorme para dar um concerto para algumas das pessoas mais ricas do país, enquanto metade da população vive com menos de dois dólares por dia.

Na eleição de quarta-feira, Lourenço enfrentou Isaias Samakuva, 71 anos, candidato da União Nacional para Libertação Total de Angola (Unita), que lutou contra o MPLA de José Eduardo dos Santos na guerra civil que durou 27 anos. Para os líderes de oposição essa eleição não é digna de confiança. Observadores da União Europeia saíram do país quando tiveram negado o acesso a muitos postos de votação.

Para muitos analistas a decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar e a união do partido em torno de Lourenço pode evitar o caos que provavelmente ocorrerá no caso de outros governantes veteranos ao deixarem o poder.

“Ela deve contribuir para uma transição pacífica, evitando um vazio de poder e o risco de embates políticos”, escreveu Soren Kirk Jensen, especialista em Angola e membro da Chatham House, instituto de política com sede em Londres.

José Eduardo dos Santos continuará uma figura influente na política, mas sua saída deixa Angola sem o líder que conduziu o país na transição do marxismo para o capitalismo do petróleo, trocando um aliado como Fidel Castro pela Exxon, e transformando Angola, que se transformou de uma das nações mais pobres da África em uma das mais ricas (e mais desiguais).

“A saída de Santos significa uma nova realidade para Angola”, afirmou José Veloso, professor da universidade independente de Angola.

José Eduardo dos Santos, filho de um pedreiro, nasceu em uma favela de Luanda durante o governo colonialista de Portugal. Recebeu uma bolsa para estudar engenharia petrolífera no Azerbaijão, na época parte integrante da União Soviética, e tornou-se ministro do Exterior de Angola depois que o país declarou sua independência, em 1975.

Quando assumiu a presidência em 1979, Angola era um dos mais próximos aliados africanos da União Soviética. Moscou apoiou o governo do MPLA na sangrenta guerra civil contra combatentes apoiados pelos Estados Unidos e a África do Sul.

Fotos do início dos anos 80 mostram José Eduardo dos Santos de pé junto com autoridades da Alemanha Oriental no Portão de Brandemburgo, discursando num congresso do Partido Comunista Soviético em Moscou e sentado ao lado de Fidel Castro, em Havana. Seu primeiro casamento foi com uma russa.

Mas em 1991 ele renunciou ao marxismo e estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Após o término da guerra, em 2002, a produção de petróleo disparou, enriquecendo a elite angolana enquanto a população pobre carecia de assistência médica e o país exibindo os piores indicadores do mundo no campo da saúde. A economia do país entrou em crise com a queda dos preços do petróleo nos últimos anos e os serviços públicos deterioraram. No ano passado explodiu uma epidemia violenta de febre amarela, devido em parte à diminuição da coleta de lixo, criando um terreno fértil para os mosquitos.

Indagado este ano pelo Washington Post como seu governo será diferente da presidência de José Eduardo dos Santos, Lourenço respondeu: “Faremos tudo para ter uma administração transparente. E vamos combater a corrupção”.

Na semana passada, em uma breve intervenção durante um comício nos arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos disse estar confiante de que seu partido construirá um legado duradouro mesmo depois da sua saída.

“Não tenho dúvida de que o MPLA vencerá esta eleição”, afirmou. / Tradução de Terezinha Martino

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