Eleição acirra ódio étnico no Quênia


Disputa política que já causou mais de 300 mortes reacende velhos conflitos tribais e faz país mergulhar no caos

Por Graça Ramos e NAIRÓBI

"Um tsunami de ódio", definiu o articulista do jornal de Nairóbi Sunday Nation, Sunny Bindra, ao analisar o estado de quase guerra civil instalado no Quênia desde domingo, após a posse do presidente Mwai Kibaki, que iniciou seu segundo mandato. A oposição, liderada por Raila Odinga, acusa Kibaki de ter fraudado as eleições. A disputa política já deixou mais de 300 mortos e reacendeu conflitos étnicos, trazendo de volta uma violência primitiva, inesperada e assustadora. Ontem, o chefe da Comissão Eleitoral do Quênia, Samuel Kivuitu, afirmou num artigo publicado pelo jornal de Nairóbi The Herald, que ainda não está claro quem venceu as eleições. Kivuitu disse ter sido pressionado para anunciar a vitória de Kibaki. Até a noite de sábado, o Quênia era considerado uma das mais estáveis democracias da África. Elogiado por equilibrar tradições européias, africanas e islâmicas, o país se fortalecia como mercado potencial para empresas internacionais. No domingo, porém, Nairóbi transformou-se numa cidade sitiada pela violência. Policiais cercaram ruas, fecharam o acesso ao centro e impediram deslocamentos de grupos em ônibus e vans. Bancos funcionavam, mas poucas lojas tiveram coragem para continuar abertas. Turistas permaneceram trancados em seus hotéis. A pé, centenas de pessoas, em especial, mulheres e crianças, muitas equilibrando malas nas cabeças, buscavam refúgio onde teoricamente inexiste: no Parque Jamhuri, a cinco minutos de carro do centro da capital. Ali não há água, comida e muito menos barracas. Um campo de refugiados formou-se no cenário onde normalmente se realizam grandes feiras internacionais. A polícia deu ordens para que ninguém mais se dirija ao local, mas continua sem conseguir conter a violência na periferia, que provoca ondas migratórias desesperadas. Mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no oeste do país para fugir da violência. É um desastre nacional", afirmou na quarta-feira o secretário-geral da Cruz Vermelha do país, Abbas Gullet. Em Eldoret, na quarta-feira, manifestantes puseram fogo numa igreja, matando as 50 pessoas que haviam se refugiado no local. A comunidade internacional e grupos humanitários apelaram para que os grupos rivais voltem a dialogar. Odinga e Kibaki, no entanto, parecem estar longe de um acordo. O governo do presidente queniano acusou ontem o partido do rival, o Movimento Democrático Laranja (ODM) de ser responsável pelo "genocídio" no país. "Está cada vez mais claro que esses atos organizados de genocídio e limpeza étnica foram planejados e financiados pelo ODM antes das eleições", segundo comunicado oficial. O partido de Odinga rebateu as acusações, afirmando que o governo também estava "beirando o genocídio" ao ordenar que policiais atirassem contra manifestantes. Odinga convocou para hoje um grande protesto no parque Uhuru, que fica a poucos metros do Centro Eleitoral. A segurança em torno do prédio foi reforçada pela polícia. O governo afirmou que a manifestação é ilegal, aumentando os temores de novos distúrbios. Na quarta-feira, Kibaki convocou uma reunião com os principais partidos políticos do país, mas Odinga recusou-se a participar. "Não podemos dialogar com um ladrão. Não estamos interessados em falar com Kibaki sem intermediação internacional", afirmou o líder do ODM. O receio de que a revolta se alastre levou a União Africana a propor a intermediação de um acordo. Segundo a apuração oficial dos votos, a diferença entre os dois candidatos foi de cerca de 230 mil votos, num universo de 14 milhões de eleitores. A oposição, no entanto, afirma que o governo fraudou pelo menos 300 mil cédulas. A missão de observadores da União Européia (UE) pediu na quarta-feira uma investigação independente sobre as acusações de fraude. Delegados da UE disseram que quase todas as irregularidades detectadas beneficiam o partido de Kibaki.

"Um tsunami de ódio", definiu o articulista do jornal de Nairóbi Sunday Nation, Sunny Bindra, ao analisar o estado de quase guerra civil instalado no Quênia desde domingo, após a posse do presidente Mwai Kibaki, que iniciou seu segundo mandato. A oposição, liderada por Raila Odinga, acusa Kibaki de ter fraudado as eleições. A disputa política já deixou mais de 300 mortos e reacendeu conflitos étnicos, trazendo de volta uma violência primitiva, inesperada e assustadora. Ontem, o chefe da Comissão Eleitoral do Quênia, Samuel Kivuitu, afirmou num artigo publicado pelo jornal de Nairóbi The Herald, que ainda não está claro quem venceu as eleições. Kivuitu disse ter sido pressionado para anunciar a vitória de Kibaki. Até a noite de sábado, o Quênia era considerado uma das mais estáveis democracias da África. Elogiado por equilibrar tradições européias, africanas e islâmicas, o país se fortalecia como mercado potencial para empresas internacionais. No domingo, porém, Nairóbi transformou-se numa cidade sitiada pela violência. Policiais cercaram ruas, fecharam o acesso ao centro e impediram deslocamentos de grupos em ônibus e vans. Bancos funcionavam, mas poucas lojas tiveram coragem para continuar abertas. Turistas permaneceram trancados em seus hotéis. A pé, centenas de pessoas, em especial, mulheres e crianças, muitas equilibrando malas nas cabeças, buscavam refúgio onde teoricamente inexiste: no Parque Jamhuri, a cinco minutos de carro do centro da capital. Ali não há água, comida e muito menos barracas. Um campo de refugiados formou-se no cenário onde normalmente se realizam grandes feiras internacionais. A polícia deu ordens para que ninguém mais se dirija ao local, mas continua sem conseguir conter a violência na periferia, que provoca ondas migratórias desesperadas. Mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no oeste do país para fugir da violência. É um desastre nacional", afirmou na quarta-feira o secretário-geral da Cruz Vermelha do país, Abbas Gullet. Em Eldoret, na quarta-feira, manifestantes puseram fogo numa igreja, matando as 50 pessoas que haviam se refugiado no local. A comunidade internacional e grupos humanitários apelaram para que os grupos rivais voltem a dialogar. Odinga e Kibaki, no entanto, parecem estar longe de um acordo. O governo do presidente queniano acusou ontem o partido do rival, o Movimento Democrático Laranja (ODM) de ser responsável pelo "genocídio" no país. "Está cada vez mais claro que esses atos organizados de genocídio e limpeza étnica foram planejados e financiados pelo ODM antes das eleições", segundo comunicado oficial. O partido de Odinga rebateu as acusações, afirmando que o governo também estava "beirando o genocídio" ao ordenar que policiais atirassem contra manifestantes. Odinga convocou para hoje um grande protesto no parque Uhuru, que fica a poucos metros do Centro Eleitoral. A segurança em torno do prédio foi reforçada pela polícia. O governo afirmou que a manifestação é ilegal, aumentando os temores de novos distúrbios. Na quarta-feira, Kibaki convocou uma reunião com os principais partidos políticos do país, mas Odinga recusou-se a participar. "Não podemos dialogar com um ladrão. Não estamos interessados em falar com Kibaki sem intermediação internacional", afirmou o líder do ODM. O receio de que a revolta se alastre levou a União Africana a propor a intermediação de um acordo. Segundo a apuração oficial dos votos, a diferença entre os dois candidatos foi de cerca de 230 mil votos, num universo de 14 milhões de eleitores. A oposição, no entanto, afirma que o governo fraudou pelo menos 300 mil cédulas. A missão de observadores da União Européia (UE) pediu na quarta-feira uma investigação independente sobre as acusações de fraude. Delegados da UE disseram que quase todas as irregularidades detectadas beneficiam o partido de Kibaki.

"Um tsunami de ódio", definiu o articulista do jornal de Nairóbi Sunday Nation, Sunny Bindra, ao analisar o estado de quase guerra civil instalado no Quênia desde domingo, após a posse do presidente Mwai Kibaki, que iniciou seu segundo mandato. A oposição, liderada por Raila Odinga, acusa Kibaki de ter fraudado as eleições. A disputa política já deixou mais de 300 mortos e reacendeu conflitos étnicos, trazendo de volta uma violência primitiva, inesperada e assustadora. Ontem, o chefe da Comissão Eleitoral do Quênia, Samuel Kivuitu, afirmou num artigo publicado pelo jornal de Nairóbi The Herald, que ainda não está claro quem venceu as eleições. Kivuitu disse ter sido pressionado para anunciar a vitória de Kibaki. Até a noite de sábado, o Quênia era considerado uma das mais estáveis democracias da África. Elogiado por equilibrar tradições européias, africanas e islâmicas, o país se fortalecia como mercado potencial para empresas internacionais. No domingo, porém, Nairóbi transformou-se numa cidade sitiada pela violência. Policiais cercaram ruas, fecharam o acesso ao centro e impediram deslocamentos de grupos em ônibus e vans. Bancos funcionavam, mas poucas lojas tiveram coragem para continuar abertas. Turistas permaneceram trancados em seus hotéis. A pé, centenas de pessoas, em especial, mulheres e crianças, muitas equilibrando malas nas cabeças, buscavam refúgio onde teoricamente inexiste: no Parque Jamhuri, a cinco minutos de carro do centro da capital. Ali não há água, comida e muito menos barracas. Um campo de refugiados formou-se no cenário onde normalmente se realizam grandes feiras internacionais. A polícia deu ordens para que ninguém mais se dirija ao local, mas continua sem conseguir conter a violência na periferia, que provoca ondas migratórias desesperadas. Mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no oeste do país para fugir da violência. É um desastre nacional", afirmou na quarta-feira o secretário-geral da Cruz Vermelha do país, Abbas Gullet. Em Eldoret, na quarta-feira, manifestantes puseram fogo numa igreja, matando as 50 pessoas que haviam se refugiado no local. A comunidade internacional e grupos humanitários apelaram para que os grupos rivais voltem a dialogar. Odinga e Kibaki, no entanto, parecem estar longe de um acordo. O governo do presidente queniano acusou ontem o partido do rival, o Movimento Democrático Laranja (ODM) de ser responsável pelo "genocídio" no país. "Está cada vez mais claro que esses atos organizados de genocídio e limpeza étnica foram planejados e financiados pelo ODM antes das eleições", segundo comunicado oficial. O partido de Odinga rebateu as acusações, afirmando que o governo também estava "beirando o genocídio" ao ordenar que policiais atirassem contra manifestantes. Odinga convocou para hoje um grande protesto no parque Uhuru, que fica a poucos metros do Centro Eleitoral. A segurança em torno do prédio foi reforçada pela polícia. O governo afirmou que a manifestação é ilegal, aumentando os temores de novos distúrbios. Na quarta-feira, Kibaki convocou uma reunião com os principais partidos políticos do país, mas Odinga recusou-se a participar. "Não podemos dialogar com um ladrão. Não estamos interessados em falar com Kibaki sem intermediação internacional", afirmou o líder do ODM. O receio de que a revolta se alastre levou a União Africana a propor a intermediação de um acordo. Segundo a apuração oficial dos votos, a diferença entre os dois candidatos foi de cerca de 230 mil votos, num universo de 14 milhões de eleitores. A oposição, no entanto, afirma que o governo fraudou pelo menos 300 mil cédulas. A missão de observadores da União Européia (UE) pediu na quarta-feira uma investigação independente sobre as acusações de fraude. Delegados da UE disseram que quase todas as irregularidades detectadas beneficiam o partido de Kibaki.

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