Eleição na França: direita radical ganhou? Como será o segundo turno? Quem vai governar?


Os franceses retornam às urnas em 7 de julho para um segundo turno que pode resultar no primeiro governo de direita radical do país desde a ocupação nazista da 2ª Guerra ou na ausência de maioria

Por Redação
Atualização:

PARIS - Uma nova semana de campanha frenética começa na França nesta segunda-feira, 1º, um dia após o partido de direita radical Reagrupamento Nacional dominar o primeiro turno das eleições legislativas que atraíram um número alto de eleitores e infligiram um duro golpe ao presidente Emmanuel Macron.

Os franceses retornam às urnas em 7 de julho para um segundo turno que pode resultar no primeiro governo de direita radical do país desde a ocupação nazista da 2ª Guerra — ou na ausência de maioria.

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Se uma nova maioria de legisladores contrários a Macron for introduzida, ele será forçado a nomear um adversário político como primeiro-ministro, mudando drasticamente a política interna da França e confundindo sua política externa. Isso será especialmente dramático se ele for forçado a governar ao lado de Jordan Bardella, o presidente de 28 anos do Reagrupamento Nacional.

Se uma maioria clara não emergir, o país pode estar caminhando para meses de impasse político ou turbulência. Macron, que descartou renunciar, não pode convocar novas eleições legislativas por mais um ano.

Uma mulher sai de uma cabine de votação depois de depositar seu voto no primeiro turno das eleições parlamentares da França Foto: Ludovic Marin/AFP
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Qual foi o resultado do primeiro turno?

Os resultados oficiais sugerem que o partido anti-imigração e nacionalista de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional, tem grandes chances de ganhar a maioria na câmara baixa do Parlamento pela primeira vez, mas o resultado permanece incerto devido ao complexo sistema de votação e táticas políticas. Nessa primeira rodada, o partido levou um terço dos votos.

A coalizão Nova Frente Popular, que inclui forças de centro-esquerda, verdes e de esquerda radical, ficou em segunda posição, à frente da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron.

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Dezenas de candidatos que ganharam pelo menos 50% dos votos no domingo foram eleitos diretamente. Todas as outras disputas seguirão para um segundo turno em 7 de junho, envolvendo os dois ou três principais candidatos.

Projeções de pesquisa sugerem que o Reagrupamento Nacional terá o maior número de assentos na próxima Assembleia Nacional, mas não está claro se alcançará a maioria absoluta de 289 dos 577 assentos.

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O sistema de votação francês não é proporcional ao apoio nacional a um partido. Legisladores são eleitos por distrito, o que na prática quer dizer que há 577 eleições distintas acontecendo.

Qual foi a participação eleitoral?

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Eleitores acorreram às urnas em números incomumente altos. As eleições legislativas da França normalmente ocorrem poucas semanas após a corrida presidencial e geralmente favorecem o partido que ganhou a presidência. Isso torna os votos legislativos menos propensos a atrair eleitores, muitos dos quais sentem que o resultado é predestinado.

Mas esta votação — uma eleição relâmpago chamada inesperadamente por Macron — foi diferente. A taxa de participação no domingo foi de quase 67%, muito mais do que os 47,5% registrados no primeiro turno das últimas eleições parlamentares, em 2022.

Esse salto refletiu o intenso interesse em uma corrida de alto risco e a crença entre os eleitores de que seu voto poderia alterar fundamentalmente o rumo da presidência de Macron.

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O que acontece agora?

Os rivais do Reagrupamento Nacional estão se apressando para impedir que o partido conquiste a maioria absoluta.

A coalizão de esquerda disse que retiraria seus candidatos em distritos onde terminaram em terceiro lugar, a fim de apoiar outros candidatos contrários à direita radical. A aliança centrista de Macron também disse que alguns de seus candidatos desistiriam antes do segundo turno para tentar bloquear o Reagrupamento Nacional.

Essa tática funcionou no passado, quando o partido de Le Pen e seu predecessor, a Frente Nacional, eram considerados um pária político por muitos. Mas agora, o partido de Le Pen tem um apoio amplo e profundo em todo o país.

Para uma maioria absoluta, um partido precisa de 289 assentos, e os principais institutos de pesquisa da França divulgaram projeções cautelosas sugerindo que o Reagrupamento Nacional poderia ganhar entre 240 e 310 no próximo turno de votação. A aliança Nova Frente Popular, dizem, pode conseguir entre 150 e 200 assentos, enquanto o partido Renascença de Macron e seus aliados podem ganhar entre 70 e 120.

Mas usar os resultados do primeiro turno para prever o resultado do segundo turno sempre foi complicado devido à natureza do sistema eleitoral francês.

A líder da direita radical da França, Marine Le Pen, reage após as projeções de resultado das eleições parlamentares Foto: Thibault Camus/AP

Quem governará?

Se o Reagrupamento Nacional ou outra força política, diferente da aliança centrista, conseguir a maioria, Macron será forçado a nomear um primeiro-ministro pertencente a essa nova maioria.

Nessa situação — chamada de “coabitação” na França — o governo implementaria políticas divergentes do plano do presidente.

A República moderna da França já vivenciou três coabitações, a última sob o presidente conservador Jacques Chirac, com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

O primeiro-ministro é responsável perante o Parlamento, lidera o governo e introduz projetos de lei.

O presidente fica enfraquecido internamente durante a coabitação, mas ainda mantém alguns poderes sobre política externa, assuntos europeus e defesa porque é responsável por negociar e ratificar tratados internacionais. O presidente também é o comandante-chefe das forças armadas do país e detém os códigos nucleares.

Por que isso é importante?

A Assembleia Nacional, câmara baixa, é a mais poderosa das duas câmaras do parlamento francês. Tem a última palavra no processo legislativo sobre o Senado, dominado por conservadores.

Macron tem um mandato presidencial até 2027 e disse que não renunciaria antes do final de seu mandato. Mas um presidente francês enfraquecido poderia complicar muitas questões no cenário mundial.

Durante coabitações anteriores, políticas de defesa e estrangeiras eram consideradas o campo “reservado” informal do presidente, que geralmente conseguia encontrar compromissos com o primeiro-ministro para permitir que a França falasse com uma voz uníssona no exterior.

O presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

Hoje, tanto a direita radical quanto a coalizão de esquerda têm visões radicalmente diferentes da abordagem de Macron nessas áreas, o que provavelmente seria um tema de tensão durante uma possível coabitação.

O líder de direita radical Jordan Bardella, que poderia se tornar primeiro-ministro se seu partido ganhar a maioria dos assentos, disse que pretende “ser um primeiro-ministro de coabitação respeitoso com a Constituição e com o papel do Presidente da República, mas intransigente sobre as políticas que implementaremos.”

Bardella disse que, como primeiro-ministro, se oporia ao envio de tropas francesas para a Ucrânia — uma possibilidade que Macron não descartou. Bardella também disse que recusaria entregas francesas de mísseis de longo alcance e outras armas capazes de atingir alvos dentro da Rússia.

O que acontece se não houver maioria?

O presidente pode nomear um primeiro-ministro do grupo parlamentar com mais assentos na Assembleia Nacional, mesmo que não tenham uma maioria absoluta — foi o caso da própria aliança centrista de Macron desde 2022.

No entanto, o Reagrupamento Nacional já disse que rejeitaria tal opção, pois significaria que um governo de direita radical poderia em breve ser derrubado por um voto de desconfiança se outros partidos políticos se unissem.

O presidente poderia tentar construir uma ampla coalizão da esquerda para a direita, uma opção que parece improvável, dada as divergências políticas.

Outra opção seria nomear “um governo de especialistas” não afiliado a partidos políticos, mas que ainda precisaria ser aceito por uma maioria na Assembleia Nacional. Tal governo provavelmente lidaria mais com assuntos do dia-a-dia do que com a implementação de grandes reformas.

Se as negociações políticas demorarem muito em meio às férias de verão e aos Jogos Olímpicos de 26 de julho a 11 de agosto em Paris, o governo centrista de Macron poderia manter um governo de transição, aguardando decisões futuras.

O presidente da França, Emmanuel Macron, tira selfie com apoiadores após votar no primeiro turno das eleições parlamentares de domingo Foto: Yara Nardi/AFP

Por que a direita radical está em ascensão?

Embora a França tenha uma das maiores economias do mundo e seja uma importante potência diplomática e militar, muitos eleitores franceses estão lutando contra a inflação e baixos salários e sentindo que estão sendo deixados para trás pela globalização.

O partido de Le Pen, que culpa a imigração por muitos problemas da França, aproveitou essa frustração dos eleitores e construiu uma rede de apoio nacional, especialmente em pequenas cidades e comunidades agrícolas que veem Macron e a classe política de Paris como distantes.

Um estudo divulgado no domingo deixou claro o quanto o partido ampliou sua base de eleitores. O estudo do instituto de pesquisas Ipsos, realizado entre uma amostra representativa de 10.000 eleitores registrados antes da eleição, descobriu que o eleitorado do Reagrupamento Nacional havia crescido e diversificado.

O partido ainda tem o melhor desempenho entre a classe trabalhadora, disse o instituto de pesquisa, observando que obteve 57% dos votos dos trabalhadores “chão de fábrica”.

Mas sua base eleitoral ampliou consideravelmente além dessas categorias, disse o Ipsos, observando que o partido aumentou seus índices em 15 a 20 pontos percentuais entre aposentados, mulheres, pessoas com menos de 35 anos, eleitores com rendas mais altas e moradores de grandes cidades.

“No final, o voto do Reagrupamento Nacional se espalhou”, disse o instituto de pesquisa, “criando um eleitorado mais homogêneo do que antes, e um que está bastante em sintonia com a população francesa como um todo.”/AP e NYT

PARIS - Uma nova semana de campanha frenética começa na França nesta segunda-feira, 1º, um dia após o partido de direita radical Reagrupamento Nacional dominar o primeiro turno das eleições legislativas que atraíram um número alto de eleitores e infligiram um duro golpe ao presidente Emmanuel Macron.

Os franceses retornam às urnas em 7 de julho para um segundo turno que pode resultar no primeiro governo de direita radical do país desde a ocupação nazista da 2ª Guerra — ou na ausência de maioria.

Se uma nova maioria de legisladores contrários a Macron for introduzida, ele será forçado a nomear um adversário político como primeiro-ministro, mudando drasticamente a política interna da França e confundindo sua política externa. Isso será especialmente dramático se ele for forçado a governar ao lado de Jordan Bardella, o presidente de 28 anos do Reagrupamento Nacional.

Se uma maioria clara não emergir, o país pode estar caminhando para meses de impasse político ou turbulência. Macron, que descartou renunciar, não pode convocar novas eleições legislativas por mais um ano.

Uma mulher sai de uma cabine de votação depois de depositar seu voto no primeiro turno das eleições parlamentares da França Foto: Ludovic Marin/AFP

Qual foi o resultado do primeiro turno?

Os resultados oficiais sugerem que o partido anti-imigração e nacionalista de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional, tem grandes chances de ganhar a maioria na câmara baixa do Parlamento pela primeira vez, mas o resultado permanece incerto devido ao complexo sistema de votação e táticas políticas. Nessa primeira rodada, o partido levou um terço dos votos.

A coalizão Nova Frente Popular, que inclui forças de centro-esquerda, verdes e de esquerda radical, ficou em segunda posição, à frente da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron.

Dezenas de candidatos que ganharam pelo menos 50% dos votos no domingo foram eleitos diretamente. Todas as outras disputas seguirão para um segundo turno em 7 de junho, envolvendo os dois ou três principais candidatos.

Projeções de pesquisa sugerem que o Reagrupamento Nacional terá o maior número de assentos na próxima Assembleia Nacional, mas não está claro se alcançará a maioria absoluta de 289 dos 577 assentos.

O sistema de votação francês não é proporcional ao apoio nacional a um partido. Legisladores são eleitos por distrito, o que na prática quer dizer que há 577 eleições distintas acontecendo.

Qual foi a participação eleitoral?

Eleitores acorreram às urnas em números incomumente altos. As eleições legislativas da França normalmente ocorrem poucas semanas após a corrida presidencial e geralmente favorecem o partido que ganhou a presidência. Isso torna os votos legislativos menos propensos a atrair eleitores, muitos dos quais sentem que o resultado é predestinado.

Mas esta votação — uma eleição relâmpago chamada inesperadamente por Macron — foi diferente. A taxa de participação no domingo foi de quase 67%, muito mais do que os 47,5% registrados no primeiro turno das últimas eleições parlamentares, em 2022.

Esse salto refletiu o intenso interesse em uma corrida de alto risco e a crença entre os eleitores de que seu voto poderia alterar fundamentalmente o rumo da presidência de Macron.

O que acontece agora?

Os rivais do Reagrupamento Nacional estão se apressando para impedir que o partido conquiste a maioria absoluta.

A coalizão de esquerda disse que retiraria seus candidatos em distritos onde terminaram em terceiro lugar, a fim de apoiar outros candidatos contrários à direita radical. A aliança centrista de Macron também disse que alguns de seus candidatos desistiriam antes do segundo turno para tentar bloquear o Reagrupamento Nacional.

Essa tática funcionou no passado, quando o partido de Le Pen e seu predecessor, a Frente Nacional, eram considerados um pária político por muitos. Mas agora, o partido de Le Pen tem um apoio amplo e profundo em todo o país.

Para uma maioria absoluta, um partido precisa de 289 assentos, e os principais institutos de pesquisa da França divulgaram projeções cautelosas sugerindo que o Reagrupamento Nacional poderia ganhar entre 240 e 310 no próximo turno de votação. A aliança Nova Frente Popular, dizem, pode conseguir entre 150 e 200 assentos, enquanto o partido Renascença de Macron e seus aliados podem ganhar entre 70 e 120.

Mas usar os resultados do primeiro turno para prever o resultado do segundo turno sempre foi complicado devido à natureza do sistema eleitoral francês.

A líder da direita radical da França, Marine Le Pen, reage após as projeções de resultado das eleições parlamentares Foto: Thibault Camus/AP

Quem governará?

Se o Reagrupamento Nacional ou outra força política, diferente da aliança centrista, conseguir a maioria, Macron será forçado a nomear um primeiro-ministro pertencente a essa nova maioria.

Nessa situação — chamada de “coabitação” na França — o governo implementaria políticas divergentes do plano do presidente.

A República moderna da França já vivenciou três coabitações, a última sob o presidente conservador Jacques Chirac, com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

O primeiro-ministro é responsável perante o Parlamento, lidera o governo e introduz projetos de lei.

O presidente fica enfraquecido internamente durante a coabitação, mas ainda mantém alguns poderes sobre política externa, assuntos europeus e defesa porque é responsável por negociar e ratificar tratados internacionais. O presidente também é o comandante-chefe das forças armadas do país e detém os códigos nucleares.

Por que isso é importante?

A Assembleia Nacional, câmara baixa, é a mais poderosa das duas câmaras do parlamento francês. Tem a última palavra no processo legislativo sobre o Senado, dominado por conservadores.

Macron tem um mandato presidencial até 2027 e disse que não renunciaria antes do final de seu mandato. Mas um presidente francês enfraquecido poderia complicar muitas questões no cenário mundial.

Durante coabitações anteriores, políticas de defesa e estrangeiras eram consideradas o campo “reservado” informal do presidente, que geralmente conseguia encontrar compromissos com o primeiro-ministro para permitir que a França falasse com uma voz uníssona no exterior.

O presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

Hoje, tanto a direita radical quanto a coalizão de esquerda têm visões radicalmente diferentes da abordagem de Macron nessas áreas, o que provavelmente seria um tema de tensão durante uma possível coabitação.

O líder de direita radical Jordan Bardella, que poderia se tornar primeiro-ministro se seu partido ganhar a maioria dos assentos, disse que pretende “ser um primeiro-ministro de coabitação respeitoso com a Constituição e com o papel do Presidente da República, mas intransigente sobre as políticas que implementaremos.”

Bardella disse que, como primeiro-ministro, se oporia ao envio de tropas francesas para a Ucrânia — uma possibilidade que Macron não descartou. Bardella também disse que recusaria entregas francesas de mísseis de longo alcance e outras armas capazes de atingir alvos dentro da Rússia.

O que acontece se não houver maioria?

O presidente pode nomear um primeiro-ministro do grupo parlamentar com mais assentos na Assembleia Nacional, mesmo que não tenham uma maioria absoluta — foi o caso da própria aliança centrista de Macron desde 2022.

No entanto, o Reagrupamento Nacional já disse que rejeitaria tal opção, pois significaria que um governo de direita radical poderia em breve ser derrubado por um voto de desconfiança se outros partidos políticos se unissem.

O presidente poderia tentar construir uma ampla coalizão da esquerda para a direita, uma opção que parece improvável, dada as divergências políticas.

Outra opção seria nomear “um governo de especialistas” não afiliado a partidos políticos, mas que ainda precisaria ser aceito por uma maioria na Assembleia Nacional. Tal governo provavelmente lidaria mais com assuntos do dia-a-dia do que com a implementação de grandes reformas.

Se as negociações políticas demorarem muito em meio às férias de verão e aos Jogos Olímpicos de 26 de julho a 11 de agosto em Paris, o governo centrista de Macron poderia manter um governo de transição, aguardando decisões futuras.

O presidente da França, Emmanuel Macron, tira selfie com apoiadores após votar no primeiro turno das eleições parlamentares de domingo Foto: Yara Nardi/AFP

Por que a direita radical está em ascensão?

Embora a França tenha uma das maiores economias do mundo e seja uma importante potência diplomática e militar, muitos eleitores franceses estão lutando contra a inflação e baixos salários e sentindo que estão sendo deixados para trás pela globalização.

O partido de Le Pen, que culpa a imigração por muitos problemas da França, aproveitou essa frustração dos eleitores e construiu uma rede de apoio nacional, especialmente em pequenas cidades e comunidades agrícolas que veem Macron e a classe política de Paris como distantes.

Um estudo divulgado no domingo deixou claro o quanto o partido ampliou sua base de eleitores. O estudo do instituto de pesquisas Ipsos, realizado entre uma amostra representativa de 10.000 eleitores registrados antes da eleição, descobriu que o eleitorado do Reagrupamento Nacional havia crescido e diversificado.

O partido ainda tem o melhor desempenho entre a classe trabalhadora, disse o instituto de pesquisa, observando que obteve 57% dos votos dos trabalhadores “chão de fábrica”.

Mas sua base eleitoral ampliou consideravelmente além dessas categorias, disse o Ipsos, observando que o partido aumentou seus índices em 15 a 20 pontos percentuais entre aposentados, mulheres, pessoas com menos de 35 anos, eleitores com rendas mais altas e moradores de grandes cidades.

“No final, o voto do Reagrupamento Nacional se espalhou”, disse o instituto de pesquisa, “criando um eleitorado mais homogêneo do que antes, e um que está bastante em sintonia com a população francesa como um todo.”/AP e NYT

PARIS - Uma nova semana de campanha frenética começa na França nesta segunda-feira, 1º, um dia após o partido de direita radical Reagrupamento Nacional dominar o primeiro turno das eleições legislativas que atraíram um número alto de eleitores e infligiram um duro golpe ao presidente Emmanuel Macron.

Os franceses retornam às urnas em 7 de julho para um segundo turno que pode resultar no primeiro governo de direita radical do país desde a ocupação nazista da 2ª Guerra — ou na ausência de maioria.

Se uma nova maioria de legisladores contrários a Macron for introduzida, ele será forçado a nomear um adversário político como primeiro-ministro, mudando drasticamente a política interna da França e confundindo sua política externa. Isso será especialmente dramático se ele for forçado a governar ao lado de Jordan Bardella, o presidente de 28 anos do Reagrupamento Nacional.

Se uma maioria clara não emergir, o país pode estar caminhando para meses de impasse político ou turbulência. Macron, que descartou renunciar, não pode convocar novas eleições legislativas por mais um ano.

Uma mulher sai de uma cabine de votação depois de depositar seu voto no primeiro turno das eleições parlamentares da França Foto: Ludovic Marin/AFP

Qual foi o resultado do primeiro turno?

Os resultados oficiais sugerem que o partido anti-imigração e nacionalista de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional, tem grandes chances de ganhar a maioria na câmara baixa do Parlamento pela primeira vez, mas o resultado permanece incerto devido ao complexo sistema de votação e táticas políticas. Nessa primeira rodada, o partido levou um terço dos votos.

A coalizão Nova Frente Popular, que inclui forças de centro-esquerda, verdes e de esquerda radical, ficou em segunda posição, à frente da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron.

Dezenas de candidatos que ganharam pelo menos 50% dos votos no domingo foram eleitos diretamente. Todas as outras disputas seguirão para um segundo turno em 7 de junho, envolvendo os dois ou três principais candidatos.

Projeções de pesquisa sugerem que o Reagrupamento Nacional terá o maior número de assentos na próxima Assembleia Nacional, mas não está claro se alcançará a maioria absoluta de 289 dos 577 assentos.

O sistema de votação francês não é proporcional ao apoio nacional a um partido. Legisladores são eleitos por distrito, o que na prática quer dizer que há 577 eleições distintas acontecendo.

Qual foi a participação eleitoral?

Eleitores acorreram às urnas em números incomumente altos. As eleições legislativas da França normalmente ocorrem poucas semanas após a corrida presidencial e geralmente favorecem o partido que ganhou a presidência. Isso torna os votos legislativos menos propensos a atrair eleitores, muitos dos quais sentem que o resultado é predestinado.

Mas esta votação — uma eleição relâmpago chamada inesperadamente por Macron — foi diferente. A taxa de participação no domingo foi de quase 67%, muito mais do que os 47,5% registrados no primeiro turno das últimas eleições parlamentares, em 2022.

Esse salto refletiu o intenso interesse em uma corrida de alto risco e a crença entre os eleitores de que seu voto poderia alterar fundamentalmente o rumo da presidência de Macron.

O que acontece agora?

Os rivais do Reagrupamento Nacional estão se apressando para impedir que o partido conquiste a maioria absoluta.

A coalizão de esquerda disse que retiraria seus candidatos em distritos onde terminaram em terceiro lugar, a fim de apoiar outros candidatos contrários à direita radical. A aliança centrista de Macron também disse que alguns de seus candidatos desistiriam antes do segundo turno para tentar bloquear o Reagrupamento Nacional.

Essa tática funcionou no passado, quando o partido de Le Pen e seu predecessor, a Frente Nacional, eram considerados um pária político por muitos. Mas agora, o partido de Le Pen tem um apoio amplo e profundo em todo o país.

Para uma maioria absoluta, um partido precisa de 289 assentos, e os principais institutos de pesquisa da França divulgaram projeções cautelosas sugerindo que o Reagrupamento Nacional poderia ganhar entre 240 e 310 no próximo turno de votação. A aliança Nova Frente Popular, dizem, pode conseguir entre 150 e 200 assentos, enquanto o partido Renascença de Macron e seus aliados podem ganhar entre 70 e 120.

Mas usar os resultados do primeiro turno para prever o resultado do segundo turno sempre foi complicado devido à natureza do sistema eleitoral francês.

A líder da direita radical da França, Marine Le Pen, reage após as projeções de resultado das eleições parlamentares Foto: Thibault Camus/AP

Quem governará?

Se o Reagrupamento Nacional ou outra força política, diferente da aliança centrista, conseguir a maioria, Macron será forçado a nomear um primeiro-ministro pertencente a essa nova maioria.

Nessa situação — chamada de “coabitação” na França — o governo implementaria políticas divergentes do plano do presidente.

A República moderna da França já vivenciou três coabitações, a última sob o presidente conservador Jacques Chirac, com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002.

O primeiro-ministro é responsável perante o Parlamento, lidera o governo e introduz projetos de lei.

O presidente fica enfraquecido internamente durante a coabitação, mas ainda mantém alguns poderes sobre política externa, assuntos europeus e defesa porque é responsável por negociar e ratificar tratados internacionais. O presidente também é o comandante-chefe das forças armadas do país e detém os códigos nucleares.

Por que isso é importante?

A Assembleia Nacional, câmara baixa, é a mais poderosa das duas câmaras do parlamento francês. Tem a última palavra no processo legislativo sobre o Senado, dominado por conservadores.

Macron tem um mandato presidencial até 2027 e disse que não renunciaria antes do final de seu mandato. Mas um presidente francês enfraquecido poderia complicar muitas questões no cenário mundial.

Durante coabitações anteriores, políticas de defesa e estrangeiras eram consideradas o campo “reservado” informal do presidente, que geralmente conseguia encontrar compromissos com o primeiro-ministro para permitir que a França falasse com uma voz uníssona no exterior.

O presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

Hoje, tanto a direita radical quanto a coalizão de esquerda têm visões radicalmente diferentes da abordagem de Macron nessas áreas, o que provavelmente seria um tema de tensão durante uma possível coabitação.

O líder de direita radical Jordan Bardella, que poderia se tornar primeiro-ministro se seu partido ganhar a maioria dos assentos, disse que pretende “ser um primeiro-ministro de coabitação respeitoso com a Constituição e com o papel do Presidente da República, mas intransigente sobre as políticas que implementaremos.”

Bardella disse que, como primeiro-ministro, se oporia ao envio de tropas francesas para a Ucrânia — uma possibilidade que Macron não descartou. Bardella também disse que recusaria entregas francesas de mísseis de longo alcance e outras armas capazes de atingir alvos dentro da Rússia.

O que acontece se não houver maioria?

O presidente pode nomear um primeiro-ministro do grupo parlamentar com mais assentos na Assembleia Nacional, mesmo que não tenham uma maioria absoluta — foi o caso da própria aliança centrista de Macron desde 2022.

No entanto, o Reagrupamento Nacional já disse que rejeitaria tal opção, pois significaria que um governo de direita radical poderia em breve ser derrubado por um voto de desconfiança se outros partidos políticos se unissem.

O presidente poderia tentar construir uma ampla coalizão da esquerda para a direita, uma opção que parece improvável, dada as divergências políticas.

Outra opção seria nomear “um governo de especialistas” não afiliado a partidos políticos, mas que ainda precisaria ser aceito por uma maioria na Assembleia Nacional. Tal governo provavelmente lidaria mais com assuntos do dia-a-dia do que com a implementação de grandes reformas.

Se as negociações políticas demorarem muito em meio às férias de verão e aos Jogos Olímpicos de 26 de julho a 11 de agosto em Paris, o governo centrista de Macron poderia manter um governo de transição, aguardando decisões futuras.

O presidente da França, Emmanuel Macron, tira selfie com apoiadores após votar no primeiro turno das eleições parlamentares de domingo Foto: Yara Nardi/AFP

Por que a direita radical está em ascensão?

Embora a França tenha uma das maiores economias do mundo e seja uma importante potência diplomática e militar, muitos eleitores franceses estão lutando contra a inflação e baixos salários e sentindo que estão sendo deixados para trás pela globalização.

O partido de Le Pen, que culpa a imigração por muitos problemas da França, aproveitou essa frustração dos eleitores e construiu uma rede de apoio nacional, especialmente em pequenas cidades e comunidades agrícolas que veem Macron e a classe política de Paris como distantes.

Um estudo divulgado no domingo deixou claro o quanto o partido ampliou sua base de eleitores. O estudo do instituto de pesquisas Ipsos, realizado entre uma amostra representativa de 10.000 eleitores registrados antes da eleição, descobriu que o eleitorado do Reagrupamento Nacional havia crescido e diversificado.

O partido ainda tem o melhor desempenho entre a classe trabalhadora, disse o instituto de pesquisa, observando que obteve 57% dos votos dos trabalhadores “chão de fábrica”.

Mas sua base eleitoral ampliou consideravelmente além dessas categorias, disse o Ipsos, observando que o partido aumentou seus índices em 15 a 20 pontos percentuais entre aposentados, mulheres, pessoas com menos de 35 anos, eleitores com rendas mais altas e moradores de grandes cidades.

“No final, o voto do Reagrupamento Nacional se espalhou”, disse o instituto de pesquisa, “criando um eleitorado mais homogêneo do que antes, e um que está bastante em sintonia com a população francesa como um todo.”/AP e NYT

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