Eleição na Venezuela: Como China e Rússia se tornaram principais fiadores de Maduro


Após o homem-forte declarar-se reeleito no domingo, até os aliados esquerdistas se distanciaram. Rússia, China, Irã e Cuba continuaram a apoiar seu homem

Por Terrence McCoy

Em Nicolás Maduro, os Estados Unidos e seus aliados veem um tirano: um socialista autoritário que ocasionou ruína econômica na Venezuela rica em petróleo, perseguiu e prendeu oponentes políticos, enriqueceu com o narcoterrorismo e fraudou eleições repetidamente e escancaradamente. Rússia, China, Irã e Cuba reconhecem um parceiro ideal.

Em troca de uma base de apoio no Hemisfério Ocidental, os aliados mais próximos de Maduro lhe enviaram armamentos e tecnologia de refino de petróleo, forneceram ao seu governo bilhões de dólares em empréstimos e o apoiaram em seus confrontos com o Ocidente — incluindo neste momento.

Washington e seus aliados europeus questionam a declaração de vitória do homem-forte na eleição do domingo. Pesquisas de boca de urna e, segundo a oposição, os registros do governo indicam que o desafiante Edmundo González o derrotou. Mesmo seus aliados esquerdistas no Brasil, na Colômbia e no México evitam opinar publicamente.

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Mas Moscou, Pequim, Teerã e Havana apressaram-se em parabenizar Maduro.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixa a sede da Suprema Corte da Venezuela ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em Caracas, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Conflito ideológico

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A resposta dividida à declaração de vitória de Maduro transformou a Venezuela no mais recente campo de batalha de um conflito ideológico global que emerge não tanto entre a esquerda e a direita, mas entre o autoritarismo e a democracia.

Da Ucrânia a Taiwan, do Iêmen à Síria, o bloco autoritário vem subvertendo normas globais, trabalhando para atravancar o avanço da democracia e transformando o que em outros tempos poderia constituir disputas regionais em prolongados conflitos indiretos entre os mundos liberal e iliberal.

“Antes a gente juntava as poucas partes interessadas e administrava a crise”, afirmou Eric Farnsworth, analista sênior do Americas Society/Council of the Americas. “Mas Rússia, Irã e Cuba complicam tudo. Os interesses desses países não é gerir a crise, é perturbar o sistema, tornar essa gestão mais difícil.”

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Seu apoio a Maduro tem minado os esforços da comunidade internacional para forçar sua saída por meio de isolamento diplomático e sanções econômicas. O homem-forte, sucessor escolhido a dedo por Hugo Chávez, o fundador do Estado socialista da Venezuela, governa o país há mais de uma década, apesar da convicção generalizada de que ele fraudou a eleição de 2018.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de um comício em Caracas, Venezuela  Foto: Matias Delacroix/AP

“Maduro é em grande medida imune à pressão ocidental”, afirmou o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, uma universidade brasileira. “Ele não depende tanto de relações amistosas com o Ocidente.”

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Apoio

Parte desse apoio é retórico. Irã, Coreia do Norte e Nicarágua ofereceram solidariedade, formando um círculo de apoio de facto entre países que, de outro modo, seriam Estados-pária. Venezuela e Coreia do Norte, afirma o Ministério de Relações Exteriores de Maduro, forjarão uma “nova ordem mundial”. O ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, ao receber Maduro, em 2022, afirmou que os países são “amigos em tempos difíceis”, que “resistem ao imperialismo cruel”.(Raisi morreu em uma queda de helicóptero, em maio.)

Outros ofereceram mais que palavras. A Rússia, por exemplo, prometeu US$ 5 bilhões para melhorar as refinarias de petróleo da Venezuela, US$ 1 bilhão para sua indústria de mineração de ouro — e poder de fogo. Moscou, um dos maiores fornecedores de armas para a Venezuela, vendeu ao país veículos blindados, tanques, sistemas de defesa antiaérea e helicópteros, relatou no ano passado um grupo de pesquisadores colombianos no International Social Science Journal.

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Nos momentos mais críticos de Maduro, quando sua permanência no poder pareceu mais ameaçada, Moscou enviou ajuda militar adicional. Em 2019, quando o governo Trump declarou-o usurpador e reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Kremlin enviou aviões militares carregados de equipamentos bélicos e cerca de 100 “técnicos militares”. Durante a campanha para a eleição presidencial do domingo, a Rússia enviou em duas ocasiões navios de guerra para as águas do Caribe — uma delas para atracar em um porto venezuelano.

Venezuelanos protestam contra a vitória do ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela  Foto: Adriana Loureiro Fernandez/NYT

Outros apoios foram menos explícitos. Em 2019, o Grupo Wagner, a empresa mercenária russa na época ligada proximamente ao presidente Vladimir Putin, enviou centenas de agentes para a Venezuela com objetivo de incrementar as forças de segurança de Maduro, noticiou a Reuters na ocasião.

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Nesta semana, circulou um vídeo nas redes sociais sugerindo a volta do grupo para a Venezuela. Um homem usando o que parecia ser um símbolo Wagner no braço aparece entre forças de segurança de Maduro. “A Rússia considera a si mesma a grande engenheira de uma nova ordem mundial. E precisa de Maduro.”

Acredita-se que Cuba também forneça um apoio militar significativo. Chávez, que levou o socialismo à Venezuela em 1999, mantinha relações próximas com Fidel e Raúl Castro; a ilha comunista continua o aliado ideológico mais próximo da Venezuela.

Em 2019, o ex-general venezuelano no exílio Antonio Rivero disse ao Diálogo Américas, uma publicação do Comando Sul dos EUA, que os países tinham assinado vários acordos para promover uma “cubanização” das Forças Armadas da Venezuela. A força de segurança pessoal de Maduro é, segundo relatos, composta majoritariamente de cubanos. Em 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa de insurreição contra Maduro, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, acusou Cuba de ter enviado mais de 20 mil agentes de segurança para a Venezuela.

China

Mas o patrocínio chinês tem sido mais crítico para a sobrevivência de Maduro.

Pequim é o benfeitor econômico da Venezuela faz tempo, assim como principal credor e maior comprador de petróleo. A Venezuela tem sido a maior tomadora de empréstimos chineses na América Latina — um montante estimado em US$ 60 bilhões, de acordo com o Council on Foreign Relations.

Quando as sanções lideradas pelos EUA ameaçaram lacerar a economia venezuelana dependente de petróleo, a China contornou as restrições negociando por meio de terceiras partes.

É difícil saber quais são as ambições da China na Venezuela. Os chineses poderiam estar querendo cultivar e fomentar uma amizade que possa lhes ajudar a minar os interesses do Ocidente na América do Sul, um continente rico em recursos naturais cobiçado tanto pela China quanto pelos EUA. Ou talvez apenas queiram garantir que seus empréstimos sejam pagos.

“É muito difícil distinguir quanto disso é estratégia financeira ou geopolítica em sua natureza”, afirmou o economista político Stephen Kaplan, da Universidade George Washington.

O presidente da China, Xi Jinping, participa de uma sessão da convenção do Partido Comunista da China, em Pequim, China  Foto: Xie Huanchi/AP

Outros analistas veem claras motivações políticas. Vários afirmam que Rússia, China e outros países buscam uma campanha de reciprocidade política na Venezuela para retaliar contra os EUA em razão do apoio aos seus adversários na Ucrânia, em Taiwan e em outras partes.

“Isso precisa ser visto pelo prisma de um conflito de superpotências entre EUA, Rússia e China — e de uma erosão completa da ordem mundial”, afirmou o cientista político Ulf Thoene, da Universidade de La Sabana, na Colômbia. “O que ocorre na Venezuela é uma briga entre um candidato claramente apoiado por Rússia, China e Irã — e uma oposição obviamente apoiada por EUA e Europa.”

Essa dinâmica, afirmou Thoene, tem alimentado violência em todo o mundo, complicando esforços para conduzir líderes autoritários à porta de saída. “Bashar Assad (o presidente sírio) ainda está no poder”, disse. “Prometeram-nos que ele sairia em algumas semanas, mas na realidade hoje ele é mais forte do que era anos atrás.”

O mesmo, teme Thoene, poderia ocorrer na Venezuela. “A cada dia que passa”, afirmou ele, “fica mais provável que Maduro permaneça no poder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em Nicolás Maduro, os Estados Unidos e seus aliados veem um tirano: um socialista autoritário que ocasionou ruína econômica na Venezuela rica em petróleo, perseguiu e prendeu oponentes políticos, enriqueceu com o narcoterrorismo e fraudou eleições repetidamente e escancaradamente. Rússia, China, Irã e Cuba reconhecem um parceiro ideal.

Em troca de uma base de apoio no Hemisfério Ocidental, os aliados mais próximos de Maduro lhe enviaram armamentos e tecnologia de refino de petróleo, forneceram ao seu governo bilhões de dólares em empréstimos e o apoiaram em seus confrontos com o Ocidente — incluindo neste momento.

Washington e seus aliados europeus questionam a declaração de vitória do homem-forte na eleição do domingo. Pesquisas de boca de urna e, segundo a oposição, os registros do governo indicam que o desafiante Edmundo González o derrotou. Mesmo seus aliados esquerdistas no Brasil, na Colômbia e no México evitam opinar publicamente.

Mas Moscou, Pequim, Teerã e Havana apressaram-se em parabenizar Maduro.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixa a sede da Suprema Corte da Venezuela ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em Caracas, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Conflito ideológico

A resposta dividida à declaração de vitória de Maduro transformou a Venezuela no mais recente campo de batalha de um conflito ideológico global que emerge não tanto entre a esquerda e a direita, mas entre o autoritarismo e a democracia.

Da Ucrânia a Taiwan, do Iêmen à Síria, o bloco autoritário vem subvertendo normas globais, trabalhando para atravancar o avanço da democracia e transformando o que em outros tempos poderia constituir disputas regionais em prolongados conflitos indiretos entre os mundos liberal e iliberal.

“Antes a gente juntava as poucas partes interessadas e administrava a crise”, afirmou Eric Farnsworth, analista sênior do Americas Society/Council of the Americas. “Mas Rússia, Irã e Cuba complicam tudo. Os interesses desses países não é gerir a crise, é perturbar o sistema, tornar essa gestão mais difícil.”

Seu apoio a Maduro tem minado os esforços da comunidade internacional para forçar sua saída por meio de isolamento diplomático e sanções econômicas. O homem-forte, sucessor escolhido a dedo por Hugo Chávez, o fundador do Estado socialista da Venezuela, governa o país há mais de uma década, apesar da convicção generalizada de que ele fraudou a eleição de 2018.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de um comício em Caracas, Venezuela  Foto: Matias Delacroix/AP

“Maduro é em grande medida imune à pressão ocidental”, afirmou o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, uma universidade brasileira. “Ele não depende tanto de relações amistosas com o Ocidente.”

Apoio

Parte desse apoio é retórico. Irã, Coreia do Norte e Nicarágua ofereceram solidariedade, formando um círculo de apoio de facto entre países que, de outro modo, seriam Estados-pária. Venezuela e Coreia do Norte, afirma o Ministério de Relações Exteriores de Maduro, forjarão uma “nova ordem mundial”. O ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, ao receber Maduro, em 2022, afirmou que os países são “amigos em tempos difíceis”, que “resistem ao imperialismo cruel”.(Raisi morreu em uma queda de helicóptero, em maio.)

Outros ofereceram mais que palavras. A Rússia, por exemplo, prometeu US$ 5 bilhões para melhorar as refinarias de petróleo da Venezuela, US$ 1 bilhão para sua indústria de mineração de ouro — e poder de fogo. Moscou, um dos maiores fornecedores de armas para a Venezuela, vendeu ao país veículos blindados, tanques, sistemas de defesa antiaérea e helicópteros, relatou no ano passado um grupo de pesquisadores colombianos no International Social Science Journal.

Nos momentos mais críticos de Maduro, quando sua permanência no poder pareceu mais ameaçada, Moscou enviou ajuda militar adicional. Em 2019, quando o governo Trump declarou-o usurpador e reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Kremlin enviou aviões militares carregados de equipamentos bélicos e cerca de 100 “técnicos militares”. Durante a campanha para a eleição presidencial do domingo, a Rússia enviou em duas ocasiões navios de guerra para as águas do Caribe — uma delas para atracar em um porto venezuelano.

Venezuelanos protestam contra a vitória do ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela  Foto: Adriana Loureiro Fernandez/NYT

Outros apoios foram menos explícitos. Em 2019, o Grupo Wagner, a empresa mercenária russa na época ligada proximamente ao presidente Vladimir Putin, enviou centenas de agentes para a Venezuela com objetivo de incrementar as forças de segurança de Maduro, noticiou a Reuters na ocasião.

Nesta semana, circulou um vídeo nas redes sociais sugerindo a volta do grupo para a Venezuela. Um homem usando o que parecia ser um símbolo Wagner no braço aparece entre forças de segurança de Maduro. “A Rússia considera a si mesma a grande engenheira de uma nova ordem mundial. E precisa de Maduro.”

Acredita-se que Cuba também forneça um apoio militar significativo. Chávez, que levou o socialismo à Venezuela em 1999, mantinha relações próximas com Fidel e Raúl Castro; a ilha comunista continua o aliado ideológico mais próximo da Venezuela.

Em 2019, o ex-general venezuelano no exílio Antonio Rivero disse ao Diálogo Américas, uma publicação do Comando Sul dos EUA, que os países tinham assinado vários acordos para promover uma “cubanização” das Forças Armadas da Venezuela. A força de segurança pessoal de Maduro é, segundo relatos, composta majoritariamente de cubanos. Em 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa de insurreição contra Maduro, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, acusou Cuba de ter enviado mais de 20 mil agentes de segurança para a Venezuela.

China

Mas o patrocínio chinês tem sido mais crítico para a sobrevivência de Maduro.

Pequim é o benfeitor econômico da Venezuela faz tempo, assim como principal credor e maior comprador de petróleo. A Venezuela tem sido a maior tomadora de empréstimos chineses na América Latina — um montante estimado em US$ 60 bilhões, de acordo com o Council on Foreign Relations.

Quando as sanções lideradas pelos EUA ameaçaram lacerar a economia venezuelana dependente de petróleo, a China contornou as restrições negociando por meio de terceiras partes.

É difícil saber quais são as ambições da China na Venezuela. Os chineses poderiam estar querendo cultivar e fomentar uma amizade que possa lhes ajudar a minar os interesses do Ocidente na América do Sul, um continente rico em recursos naturais cobiçado tanto pela China quanto pelos EUA. Ou talvez apenas queiram garantir que seus empréstimos sejam pagos.

“É muito difícil distinguir quanto disso é estratégia financeira ou geopolítica em sua natureza”, afirmou o economista político Stephen Kaplan, da Universidade George Washington.

O presidente da China, Xi Jinping, participa de uma sessão da convenção do Partido Comunista da China, em Pequim, China  Foto: Xie Huanchi/AP

Outros analistas veem claras motivações políticas. Vários afirmam que Rússia, China e outros países buscam uma campanha de reciprocidade política na Venezuela para retaliar contra os EUA em razão do apoio aos seus adversários na Ucrânia, em Taiwan e em outras partes.

“Isso precisa ser visto pelo prisma de um conflito de superpotências entre EUA, Rússia e China — e de uma erosão completa da ordem mundial”, afirmou o cientista político Ulf Thoene, da Universidade de La Sabana, na Colômbia. “O que ocorre na Venezuela é uma briga entre um candidato claramente apoiado por Rússia, China e Irã — e uma oposição obviamente apoiada por EUA e Europa.”

Essa dinâmica, afirmou Thoene, tem alimentado violência em todo o mundo, complicando esforços para conduzir líderes autoritários à porta de saída. “Bashar Assad (o presidente sírio) ainda está no poder”, disse. “Prometeram-nos que ele sairia em algumas semanas, mas na realidade hoje ele é mais forte do que era anos atrás.”

O mesmo, teme Thoene, poderia ocorrer na Venezuela. “A cada dia que passa”, afirmou ele, “fica mais provável que Maduro permaneça no poder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em Nicolás Maduro, os Estados Unidos e seus aliados veem um tirano: um socialista autoritário que ocasionou ruína econômica na Venezuela rica em petróleo, perseguiu e prendeu oponentes políticos, enriqueceu com o narcoterrorismo e fraudou eleições repetidamente e escancaradamente. Rússia, China, Irã e Cuba reconhecem um parceiro ideal.

Em troca de uma base de apoio no Hemisfério Ocidental, os aliados mais próximos de Maduro lhe enviaram armamentos e tecnologia de refino de petróleo, forneceram ao seu governo bilhões de dólares em empréstimos e o apoiaram em seus confrontos com o Ocidente — incluindo neste momento.

Washington e seus aliados europeus questionam a declaração de vitória do homem-forte na eleição do domingo. Pesquisas de boca de urna e, segundo a oposição, os registros do governo indicam que o desafiante Edmundo González o derrotou. Mesmo seus aliados esquerdistas no Brasil, na Colômbia e no México evitam opinar publicamente.

Mas Moscou, Pequim, Teerã e Havana apressaram-se em parabenizar Maduro.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixa a sede da Suprema Corte da Venezuela ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em Caracas, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Conflito ideológico

A resposta dividida à declaração de vitória de Maduro transformou a Venezuela no mais recente campo de batalha de um conflito ideológico global que emerge não tanto entre a esquerda e a direita, mas entre o autoritarismo e a democracia.

Da Ucrânia a Taiwan, do Iêmen à Síria, o bloco autoritário vem subvertendo normas globais, trabalhando para atravancar o avanço da democracia e transformando o que em outros tempos poderia constituir disputas regionais em prolongados conflitos indiretos entre os mundos liberal e iliberal.

“Antes a gente juntava as poucas partes interessadas e administrava a crise”, afirmou Eric Farnsworth, analista sênior do Americas Society/Council of the Americas. “Mas Rússia, Irã e Cuba complicam tudo. Os interesses desses países não é gerir a crise, é perturbar o sistema, tornar essa gestão mais difícil.”

Seu apoio a Maduro tem minado os esforços da comunidade internacional para forçar sua saída por meio de isolamento diplomático e sanções econômicas. O homem-forte, sucessor escolhido a dedo por Hugo Chávez, o fundador do Estado socialista da Venezuela, governa o país há mais de uma década, apesar da convicção generalizada de que ele fraudou a eleição de 2018.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de um comício em Caracas, Venezuela  Foto: Matias Delacroix/AP

“Maduro é em grande medida imune à pressão ocidental”, afirmou o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, uma universidade brasileira. “Ele não depende tanto de relações amistosas com o Ocidente.”

Apoio

Parte desse apoio é retórico. Irã, Coreia do Norte e Nicarágua ofereceram solidariedade, formando um círculo de apoio de facto entre países que, de outro modo, seriam Estados-pária. Venezuela e Coreia do Norte, afirma o Ministério de Relações Exteriores de Maduro, forjarão uma “nova ordem mundial”. O ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, ao receber Maduro, em 2022, afirmou que os países são “amigos em tempos difíceis”, que “resistem ao imperialismo cruel”.(Raisi morreu em uma queda de helicóptero, em maio.)

Outros ofereceram mais que palavras. A Rússia, por exemplo, prometeu US$ 5 bilhões para melhorar as refinarias de petróleo da Venezuela, US$ 1 bilhão para sua indústria de mineração de ouro — e poder de fogo. Moscou, um dos maiores fornecedores de armas para a Venezuela, vendeu ao país veículos blindados, tanques, sistemas de defesa antiaérea e helicópteros, relatou no ano passado um grupo de pesquisadores colombianos no International Social Science Journal.

Nos momentos mais críticos de Maduro, quando sua permanência no poder pareceu mais ameaçada, Moscou enviou ajuda militar adicional. Em 2019, quando o governo Trump declarou-o usurpador e reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Kremlin enviou aviões militares carregados de equipamentos bélicos e cerca de 100 “técnicos militares”. Durante a campanha para a eleição presidencial do domingo, a Rússia enviou em duas ocasiões navios de guerra para as águas do Caribe — uma delas para atracar em um porto venezuelano.

Venezuelanos protestam contra a vitória do ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela  Foto: Adriana Loureiro Fernandez/NYT

Outros apoios foram menos explícitos. Em 2019, o Grupo Wagner, a empresa mercenária russa na época ligada proximamente ao presidente Vladimir Putin, enviou centenas de agentes para a Venezuela com objetivo de incrementar as forças de segurança de Maduro, noticiou a Reuters na ocasião.

Nesta semana, circulou um vídeo nas redes sociais sugerindo a volta do grupo para a Venezuela. Um homem usando o que parecia ser um símbolo Wagner no braço aparece entre forças de segurança de Maduro. “A Rússia considera a si mesma a grande engenheira de uma nova ordem mundial. E precisa de Maduro.”

Acredita-se que Cuba também forneça um apoio militar significativo. Chávez, que levou o socialismo à Venezuela em 1999, mantinha relações próximas com Fidel e Raúl Castro; a ilha comunista continua o aliado ideológico mais próximo da Venezuela.

Em 2019, o ex-general venezuelano no exílio Antonio Rivero disse ao Diálogo Américas, uma publicação do Comando Sul dos EUA, que os países tinham assinado vários acordos para promover uma “cubanização” das Forças Armadas da Venezuela. A força de segurança pessoal de Maduro é, segundo relatos, composta majoritariamente de cubanos. Em 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa de insurreição contra Maduro, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, acusou Cuba de ter enviado mais de 20 mil agentes de segurança para a Venezuela.

China

Mas o patrocínio chinês tem sido mais crítico para a sobrevivência de Maduro.

Pequim é o benfeitor econômico da Venezuela faz tempo, assim como principal credor e maior comprador de petróleo. A Venezuela tem sido a maior tomadora de empréstimos chineses na América Latina — um montante estimado em US$ 60 bilhões, de acordo com o Council on Foreign Relations.

Quando as sanções lideradas pelos EUA ameaçaram lacerar a economia venezuelana dependente de petróleo, a China contornou as restrições negociando por meio de terceiras partes.

É difícil saber quais são as ambições da China na Venezuela. Os chineses poderiam estar querendo cultivar e fomentar uma amizade que possa lhes ajudar a minar os interesses do Ocidente na América do Sul, um continente rico em recursos naturais cobiçado tanto pela China quanto pelos EUA. Ou talvez apenas queiram garantir que seus empréstimos sejam pagos.

“É muito difícil distinguir quanto disso é estratégia financeira ou geopolítica em sua natureza”, afirmou o economista político Stephen Kaplan, da Universidade George Washington.

O presidente da China, Xi Jinping, participa de uma sessão da convenção do Partido Comunista da China, em Pequim, China  Foto: Xie Huanchi/AP

Outros analistas veem claras motivações políticas. Vários afirmam que Rússia, China e outros países buscam uma campanha de reciprocidade política na Venezuela para retaliar contra os EUA em razão do apoio aos seus adversários na Ucrânia, em Taiwan e em outras partes.

“Isso precisa ser visto pelo prisma de um conflito de superpotências entre EUA, Rússia e China — e de uma erosão completa da ordem mundial”, afirmou o cientista político Ulf Thoene, da Universidade de La Sabana, na Colômbia. “O que ocorre na Venezuela é uma briga entre um candidato claramente apoiado por Rússia, China e Irã — e uma oposição obviamente apoiada por EUA e Europa.”

Essa dinâmica, afirmou Thoene, tem alimentado violência em todo o mundo, complicando esforços para conduzir líderes autoritários à porta de saída. “Bashar Assad (o presidente sírio) ainda está no poder”, disse. “Prometeram-nos que ele sairia em algumas semanas, mas na realidade hoje ele é mais forte do que era anos atrás.”

O mesmo, teme Thoene, poderia ocorrer na Venezuela. “A cada dia que passa”, afirmou ele, “fica mais provável que Maduro permaneça no poder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em Nicolás Maduro, os Estados Unidos e seus aliados veem um tirano: um socialista autoritário que ocasionou ruína econômica na Venezuela rica em petróleo, perseguiu e prendeu oponentes políticos, enriqueceu com o narcoterrorismo e fraudou eleições repetidamente e escancaradamente. Rússia, China, Irã e Cuba reconhecem um parceiro ideal.

Em troca de uma base de apoio no Hemisfério Ocidental, os aliados mais próximos de Maduro lhe enviaram armamentos e tecnologia de refino de petróleo, forneceram ao seu governo bilhões de dólares em empréstimos e o apoiaram em seus confrontos com o Ocidente — incluindo neste momento.

Washington e seus aliados europeus questionam a declaração de vitória do homem-forte na eleição do domingo. Pesquisas de boca de urna e, segundo a oposição, os registros do governo indicam que o desafiante Edmundo González o derrotou. Mesmo seus aliados esquerdistas no Brasil, na Colômbia e no México evitam opinar publicamente.

Mas Moscou, Pequim, Teerã e Havana apressaram-se em parabenizar Maduro.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixa a sede da Suprema Corte da Venezuela ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em Caracas, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Conflito ideológico

A resposta dividida à declaração de vitória de Maduro transformou a Venezuela no mais recente campo de batalha de um conflito ideológico global que emerge não tanto entre a esquerda e a direita, mas entre o autoritarismo e a democracia.

Da Ucrânia a Taiwan, do Iêmen à Síria, o bloco autoritário vem subvertendo normas globais, trabalhando para atravancar o avanço da democracia e transformando o que em outros tempos poderia constituir disputas regionais em prolongados conflitos indiretos entre os mundos liberal e iliberal.

“Antes a gente juntava as poucas partes interessadas e administrava a crise”, afirmou Eric Farnsworth, analista sênior do Americas Society/Council of the Americas. “Mas Rússia, Irã e Cuba complicam tudo. Os interesses desses países não é gerir a crise, é perturbar o sistema, tornar essa gestão mais difícil.”

Seu apoio a Maduro tem minado os esforços da comunidade internacional para forçar sua saída por meio de isolamento diplomático e sanções econômicas. O homem-forte, sucessor escolhido a dedo por Hugo Chávez, o fundador do Estado socialista da Venezuela, governa o país há mais de uma década, apesar da convicção generalizada de que ele fraudou a eleição de 2018.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de um comício em Caracas, Venezuela  Foto: Matias Delacroix/AP

“Maduro é em grande medida imune à pressão ocidental”, afirmou o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, uma universidade brasileira. “Ele não depende tanto de relações amistosas com o Ocidente.”

Apoio

Parte desse apoio é retórico. Irã, Coreia do Norte e Nicarágua ofereceram solidariedade, formando um círculo de apoio de facto entre países que, de outro modo, seriam Estados-pária. Venezuela e Coreia do Norte, afirma o Ministério de Relações Exteriores de Maduro, forjarão uma “nova ordem mundial”. O ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, ao receber Maduro, em 2022, afirmou que os países são “amigos em tempos difíceis”, que “resistem ao imperialismo cruel”.(Raisi morreu em uma queda de helicóptero, em maio.)

Outros ofereceram mais que palavras. A Rússia, por exemplo, prometeu US$ 5 bilhões para melhorar as refinarias de petróleo da Venezuela, US$ 1 bilhão para sua indústria de mineração de ouro — e poder de fogo. Moscou, um dos maiores fornecedores de armas para a Venezuela, vendeu ao país veículos blindados, tanques, sistemas de defesa antiaérea e helicópteros, relatou no ano passado um grupo de pesquisadores colombianos no International Social Science Journal.

Nos momentos mais críticos de Maduro, quando sua permanência no poder pareceu mais ameaçada, Moscou enviou ajuda militar adicional. Em 2019, quando o governo Trump declarou-o usurpador e reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Kremlin enviou aviões militares carregados de equipamentos bélicos e cerca de 100 “técnicos militares”. Durante a campanha para a eleição presidencial do domingo, a Rússia enviou em duas ocasiões navios de guerra para as águas do Caribe — uma delas para atracar em um porto venezuelano.

Venezuelanos protestam contra a vitória do ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela  Foto: Adriana Loureiro Fernandez/NYT

Outros apoios foram menos explícitos. Em 2019, o Grupo Wagner, a empresa mercenária russa na época ligada proximamente ao presidente Vladimir Putin, enviou centenas de agentes para a Venezuela com objetivo de incrementar as forças de segurança de Maduro, noticiou a Reuters na ocasião.

Nesta semana, circulou um vídeo nas redes sociais sugerindo a volta do grupo para a Venezuela. Um homem usando o que parecia ser um símbolo Wagner no braço aparece entre forças de segurança de Maduro. “A Rússia considera a si mesma a grande engenheira de uma nova ordem mundial. E precisa de Maduro.”

Acredita-se que Cuba também forneça um apoio militar significativo. Chávez, que levou o socialismo à Venezuela em 1999, mantinha relações próximas com Fidel e Raúl Castro; a ilha comunista continua o aliado ideológico mais próximo da Venezuela.

Em 2019, o ex-general venezuelano no exílio Antonio Rivero disse ao Diálogo Américas, uma publicação do Comando Sul dos EUA, que os países tinham assinado vários acordos para promover uma “cubanização” das Forças Armadas da Venezuela. A força de segurança pessoal de Maduro é, segundo relatos, composta majoritariamente de cubanos. Em 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa de insurreição contra Maduro, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, acusou Cuba de ter enviado mais de 20 mil agentes de segurança para a Venezuela.

China

Mas o patrocínio chinês tem sido mais crítico para a sobrevivência de Maduro.

Pequim é o benfeitor econômico da Venezuela faz tempo, assim como principal credor e maior comprador de petróleo. A Venezuela tem sido a maior tomadora de empréstimos chineses na América Latina — um montante estimado em US$ 60 bilhões, de acordo com o Council on Foreign Relations.

Quando as sanções lideradas pelos EUA ameaçaram lacerar a economia venezuelana dependente de petróleo, a China contornou as restrições negociando por meio de terceiras partes.

É difícil saber quais são as ambições da China na Venezuela. Os chineses poderiam estar querendo cultivar e fomentar uma amizade que possa lhes ajudar a minar os interesses do Ocidente na América do Sul, um continente rico em recursos naturais cobiçado tanto pela China quanto pelos EUA. Ou talvez apenas queiram garantir que seus empréstimos sejam pagos.

“É muito difícil distinguir quanto disso é estratégia financeira ou geopolítica em sua natureza”, afirmou o economista político Stephen Kaplan, da Universidade George Washington.

O presidente da China, Xi Jinping, participa de uma sessão da convenção do Partido Comunista da China, em Pequim, China  Foto: Xie Huanchi/AP

Outros analistas veem claras motivações políticas. Vários afirmam que Rússia, China e outros países buscam uma campanha de reciprocidade política na Venezuela para retaliar contra os EUA em razão do apoio aos seus adversários na Ucrânia, em Taiwan e em outras partes.

“Isso precisa ser visto pelo prisma de um conflito de superpotências entre EUA, Rússia e China — e de uma erosão completa da ordem mundial”, afirmou o cientista político Ulf Thoene, da Universidade de La Sabana, na Colômbia. “O que ocorre na Venezuela é uma briga entre um candidato claramente apoiado por Rússia, China e Irã — e uma oposição obviamente apoiada por EUA e Europa.”

Essa dinâmica, afirmou Thoene, tem alimentado violência em todo o mundo, complicando esforços para conduzir líderes autoritários à porta de saída. “Bashar Assad (o presidente sírio) ainda está no poder”, disse. “Prometeram-nos que ele sairia em algumas semanas, mas na realidade hoje ele é mais forte do que era anos atrás.”

O mesmo, teme Thoene, poderia ocorrer na Venezuela. “A cada dia que passa”, afirmou ele, “fica mais provável que Maduro permaneça no poder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em Nicolás Maduro, os Estados Unidos e seus aliados veem um tirano: um socialista autoritário que ocasionou ruína econômica na Venezuela rica em petróleo, perseguiu e prendeu oponentes políticos, enriqueceu com o narcoterrorismo e fraudou eleições repetidamente e escancaradamente. Rússia, China, Irã e Cuba reconhecem um parceiro ideal.

Em troca de uma base de apoio no Hemisfério Ocidental, os aliados mais próximos de Maduro lhe enviaram armamentos e tecnologia de refino de petróleo, forneceram ao seu governo bilhões de dólares em empréstimos e o apoiaram em seus confrontos com o Ocidente — incluindo neste momento.

Washington e seus aliados europeus questionam a declaração de vitória do homem-forte na eleição do domingo. Pesquisas de boca de urna e, segundo a oposição, os registros do governo indicam que o desafiante Edmundo González o derrotou. Mesmo seus aliados esquerdistas no Brasil, na Colômbia e no México evitam opinar publicamente.

Mas Moscou, Pequim, Teerã e Havana apressaram-se em parabenizar Maduro.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixa a sede da Suprema Corte da Venezuela ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em Caracas, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Conflito ideológico

A resposta dividida à declaração de vitória de Maduro transformou a Venezuela no mais recente campo de batalha de um conflito ideológico global que emerge não tanto entre a esquerda e a direita, mas entre o autoritarismo e a democracia.

Da Ucrânia a Taiwan, do Iêmen à Síria, o bloco autoritário vem subvertendo normas globais, trabalhando para atravancar o avanço da democracia e transformando o que em outros tempos poderia constituir disputas regionais em prolongados conflitos indiretos entre os mundos liberal e iliberal.

“Antes a gente juntava as poucas partes interessadas e administrava a crise”, afirmou Eric Farnsworth, analista sênior do Americas Society/Council of the Americas. “Mas Rússia, Irã e Cuba complicam tudo. Os interesses desses países não é gerir a crise, é perturbar o sistema, tornar essa gestão mais difícil.”

Seu apoio a Maduro tem minado os esforços da comunidade internacional para forçar sua saída por meio de isolamento diplomático e sanções econômicas. O homem-forte, sucessor escolhido a dedo por Hugo Chávez, o fundador do Estado socialista da Venezuela, governa o país há mais de uma década, apesar da convicção generalizada de que ele fraudou a eleição de 2018.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de um comício em Caracas, Venezuela  Foto: Matias Delacroix/AP

“Maduro é em grande medida imune à pressão ocidental”, afirmou o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas, uma universidade brasileira. “Ele não depende tanto de relações amistosas com o Ocidente.”

Apoio

Parte desse apoio é retórico. Irã, Coreia do Norte e Nicarágua ofereceram solidariedade, formando um círculo de apoio de facto entre países que, de outro modo, seriam Estados-pária. Venezuela e Coreia do Norte, afirma o Ministério de Relações Exteriores de Maduro, forjarão uma “nova ordem mundial”. O ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, ao receber Maduro, em 2022, afirmou que os países são “amigos em tempos difíceis”, que “resistem ao imperialismo cruel”.(Raisi morreu em uma queda de helicóptero, em maio.)

Outros ofereceram mais que palavras. A Rússia, por exemplo, prometeu US$ 5 bilhões para melhorar as refinarias de petróleo da Venezuela, US$ 1 bilhão para sua indústria de mineração de ouro — e poder de fogo. Moscou, um dos maiores fornecedores de armas para a Venezuela, vendeu ao país veículos blindados, tanques, sistemas de defesa antiaérea e helicópteros, relatou no ano passado um grupo de pesquisadores colombianos no International Social Science Journal.

Nos momentos mais críticos de Maduro, quando sua permanência no poder pareceu mais ameaçada, Moscou enviou ajuda militar adicional. Em 2019, quando o governo Trump declarou-o usurpador e reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Kremlin enviou aviões militares carregados de equipamentos bélicos e cerca de 100 “técnicos militares”. Durante a campanha para a eleição presidencial do domingo, a Rússia enviou em duas ocasiões navios de guerra para as águas do Caribe — uma delas para atracar em um porto venezuelano.

Venezuelanos protestam contra a vitória do ditador Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela  Foto: Adriana Loureiro Fernandez/NYT

Outros apoios foram menos explícitos. Em 2019, o Grupo Wagner, a empresa mercenária russa na época ligada proximamente ao presidente Vladimir Putin, enviou centenas de agentes para a Venezuela com objetivo de incrementar as forças de segurança de Maduro, noticiou a Reuters na ocasião.

Nesta semana, circulou um vídeo nas redes sociais sugerindo a volta do grupo para a Venezuela. Um homem usando o que parecia ser um símbolo Wagner no braço aparece entre forças de segurança de Maduro. “A Rússia considera a si mesma a grande engenheira de uma nova ordem mundial. E precisa de Maduro.”

Acredita-se que Cuba também forneça um apoio militar significativo. Chávez, que levou o socialismo à Venezuela em 1999, mantinha relações próximas com Fidel e Raúl Castro; a ilha comunista continua o aliado ideológico mais próximo da Venezuela.

Em 2019, o ex-general venezuelano no exílio Antonio Rivero disse ao Diálogo Américas, uma publicação do Comando Sul dos EUA, que os países tinham assinado vários acordos para promover uma “cubanização” das Forças Armadas da Venezuela. A força de segurança pessoal de Maduro é, segundo relatos, composta majoritariamente de cubanos. Em 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa de insurreição contra Maduro, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, acusou Cuba de ter enviado mais de 20 mil agentes de segurança para a Venezuela.

China

Mas o patrocínio chinês tem sido mais crítico para a sobrevivência de Maduro.

Pequim é o benfeitor econômico da Venezuela faz tempo, assim como principal credor e maior comprador de petróleo. A Venezuela tem sido a maior tomadora de empréstimos chineses na América Latina — um montante estimado em US$ 60 bilhões, de acordo com o Council on Foreign Relations.

Quando as sanções lideradas pelos EUA ameaçaram lacerar a economia venezuelana dependente de petróleo, a China contornou as restrições negociando por meio de terceiras partes.

É difícil saber quais são as ambições da China na Venezuela. Os chineses poderiam estar querendo cultivar e fomentar uma amizade que possa lhes ajudar a minar os interesses do Ocidente na América do Sul, um continente rico em recursos naturais cobiçado tanto pela China quanto pelos EUA. Ou talvez apenas queiram garantir que seus empréstimos sejam pagos.

“É muito difícil distinguir quanto disso é estratégia financeira ou geopolítica em sua natureza”, afirmou o economista político Stephen Kaplan, da Universidade George Washington.

O presidente da China, Xi Jinping, participa de uma sessão da convenção do Partido Comunista da China, em Pequim, China  Foto: Xie Huanchi/AP

Outros analistas veem claras motivações políticas. Vários afirmam que Rússia, China e outros países buscam uma campanha de reciprocidade política na Venezuela para retaliar contra os EUA em razão do apoio aos seus adversários na Ucrânia, em Taiwan e em outras partes.

“Isso precisa ser visto pelo prisma de um conflito de superpotências entre EUA, Rússia e China — e de uma erosão completa da ordem mundial”, afirmou o cientista político Ulf Thoene, da Universidade de La Sabana, na Colômbia. “O que ocorre na Venezuela é uma briga entre um candidato claramente apoiado por Rússia, China e Irã — e uma oposição obviamente apoiada por EUA e Europa.”

Essa dinâmica, afirmou Thoene, tem alimentado violência em todo o mundo, complicando esforços para conduzir líderes autoritários à porta de saída. “Bashar Assad (o presidente sírio) ainda está no poder”, disse. “Prometeram-nos que ele sairia em algumas semanas, mas na realidade hoje ele é mais forte do que era anos atrás.”

O mesmo, teme Thoene, poderia ocorrer na Venezuela. “A cada dia que passa”, afirmou ele, “fica mais provável que Maduro permaneça no poder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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