Ao menos três apurações independentes indicam que o opositor venezuelano Edmundo González Urrutia venceu as eleições contra o ditador Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela, diferentemente do que afirma o resultado oficial do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Feitas com base em atas eleitorais disponíveis, as apurações identificaram que o opositor recebeu pelo menos meio milhão de votos a mais que o divulgado pelo órgão eleitoral do país, dominado pelo chavismo.
Em meio a demora do CNE em publicar as atas eleitorais, exigidas pela comunidade internacional, incluindo o Brasil, as verificações oferecem outros dados sobre a votação venezuelana. Observadores independentes, como a organização americana Carter Center, afirmam que sem as atas, que indicam os resultados desagregados por mesa de votação, não é possível atestar a veracidade das eleições. A oposição acusa a ditadura de fraude eleitoral e autoproclamou González como presidente eleito.
Países como os Estados Unidos, a Argentina, o Uruguai e o Equador reconheceram Edmundo González Urrutia como o verdadeiro vencedor das eleições venezuelanas. Nações governadas pela esquerda, como o Brasil, a Colômbia e o México, cobram as publicações das atas para reconhecer os resultados.
Associated Press
Uma análise das atas de contagem feita pela agência de notícias Associated Press indica uma vitória do opositor González Urrutia sobre o ditador Nicolás Maduro. Com 10,26 milhões de votos analisados, Gonzáles Urrutia obteve 6,89 milhões de votos, quase meio milhão a mais do que o alegado pelo CNE. Maduro recebeu 3,13 milhões de votos, segundo a tabulação da AP.
A agência analisou 24 mil imagens das atas disponibilizadas pela oposição, o que corresponde a 79% das urnas eletrônicas. Segundo a agência, 4% das atas fornecidas não puderam ser verificadas por serem consideradas com qualidade ruim de imagem. Cada ata codificou a contagem de votos em códigos QR, que a AP decodificou e analisou eletronicamente.
Em comparação, os resultados atualizados do Conselho Nacional Eleitoral do governo, divulgados na sexta-feira, dizem que, com base em 96,87% das atas de contagem, Maduro teve 6,4 milhões de votos, e González, 5,3 milhões.
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Washington Post
O jornal americano The Washington Post de mais de 23 mil boletins de urnas coletados pela oposição, a mesma amostra analisada pela Associated Press e que representa 79% das urnas eletrônicas da Venezuela. O Post analisou dados de 23.720 das folhas de contagem. Dessas, González obteve 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
A apuração do jornal acrescenta que mesmo que Maduro ganhasse todos os votos dos 21% restantes, assumindo um comparecimento semelhante, ele ainda ficaria mais de 1,5 milhão de votos atrás de González.
Para corroborar a autenticidade das folhas de apuração publicadas on-line, um repórter do The Washington Post analisou centenas de folhas de apuração físicas, armazenadas pela oposição em caixas de papelão em locais secretos em todo o país para evitar a repressão do governo.
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AltaVista
Os dados da plataforma AltaVista, desenvolvida por uma organização sem fins lucrativos da Venezuela que pediu anonimato por temor à segurança das pessoas envolvidas, indicam uma vitória do opositor González Urrutia por 66,23% dos votos contra 31,27% de Nicolás Maduro. O resultado, que mostra uma diferença de 34 pontos percentuais, é próximo ao que indicava as pesquisas pré-eleitorais e pesquisas boca de urna da consultoria de dados Edison Research, baseada nos EUA, no dia da eleição. Também corrobora com o divulgado pela líder opositora María Corina Machado, que alega ter acesso a 84% das atas eleitorais que a oposição teve acesso.
O método da AltaVista consiste em uma amostra de 1,5 mil urnas das mais de 30 mil disponíveis nas eleições, selecionadas aleatoriamente, mas obedecendo critérios de influência eleitoral para não diminuir o risco de receber mais dados de locais predominantemente chavistas ou de oposição. Com informações de eleições anteriores, cada uma das urnas recebeu uma pontuação de 0 a 7, em que 0 eram as mais oposicionistas possíveis e 7 as mais chavistas.
Os cálculos foram desenvolvidos por especialistas da organização e validado por estatísticos e cientistas políticos brasileiros com experiência em tratamento de dados eleitorais, especialmente em contextos pouco democráticos.
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