O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, largou com 14 pontos porcentuais de vantagem sobre o presidente Donald Trump, que disputa a reeleição, segundo a pesquisa do New York Times/Siena College divulgada nesta quarta-feira, 24. Biden tem 50% das intenções de voto ante 36% para Trump.
A diferença é considerada importante em um país dividido entre dois partidos. As más notícias eleitorais tem feito Trump apostar cada vez mais na retórica incendiária e divisiva, em meio à crise econômica, de saúde e agitação social que os EUA vivem e à reprovação crescente às suas políticas.
Em 2016, as pesquisas eleitorais subestimaram o alcance de Trump em Estados com eleitorado branco e sem diploma universitário, o que foi um dos fatores que tornou a vitória do republicano no Colégio Eleitoral imprevisível. O sinal de alerta para o presidente na pesquisa desta quarta-feira, no entanto, é que não apenas os eleitores tradicionalmente democratas parecem mais energizados a votar por Biden do que estiveram por Hillary Clinton em 2016, como também o democrata mostra entrada com independentes e com parcela do eleitorado que foi crucial para Trump.
Biden está à frente de Trump, com tranquilidade, entre eleitores negros, mulheres, jovens e hispânicos. Isso não é novidade, já que essa fatia da população se identifica mais com o Partido Democrata.
Desta vez, no entanto, o partido aposta em um comparecimento recorde impulsionado pelo sentimento anti-Trump e de reação a políticas de imigração do republicano.Entre mulheres com diploma universitário, Biden tem 39 pontos de vantagem sobre Trump. Em 2016, as pesquisas mostravam que a vantagem de Hillary neste grupo era de 7 pontos porcentuais.
Os dados apontam que Biden também é o candidato favorito entre independentes e entre eleitores homens, brancos e pessoas de meia-idade, grupos que costumavam apoiar Trump. Já o presidente consegue ganhar entre brancos sem diploma universitário, o que o favorece nos Estados do meio-oeste. Vitórias apertadas em Estados como Michigan, graças ao operariado branco sem diploma, possibilitaram que Trump obtivesse a maioria dos votos no Colégio Eleitoral, apesar de não ter vencido o voto popular.
Ao ponderar a média das pesquisas eleitorais nacionais desde o início do ano, o site FiveThirtyEight calcula que Biden esteja em média 9,6 pontos porcentuais à frente de Trump, a maior diferença desde que o ex-vice-presidente se consolidou como candidato democrata.
O recorte por Estados da pesquisa do New York Times/Siena College será divulgado nesta quinta-feira. Resultados de outros levantamentos, no entanto, tem indicado que Trump perdeu força consistentemente em junho em Estados-pêndulo, como Michigan, Wisconsin e Flórida.
O discurso de divisão da sociedade, que foi base para a plataforma eleitoral do republicano em 2016, foi retomado por Trump diante dos protestos antirracismo que tomaram o país depois da morte de George Floyd, no fim de maio. A opção do presidente tem sido a de retratar manifestantes como radicais, anarquistas, saqueadores ou bandidos, além de defender o endurecimento da resposta policial aos protestos e criticar seu antecessor, Barack Obama.
Ao longo da semana, Trump publicou vídeos descontextualizados nas redes sociais com imagens de cidadãos negros agredindo cidadãos brancos, voltou a atacar Obama, e prometeu uma ordem executiva para proteger estátuas do país.
A ideia da ordem executiva surgiu quando manifestantes tentaram derrubar a estátua de Andrew Jackson que fica na Praça Lafayette, em frente à Casa Branca. Manifestantes nos EUA e em outros países, como o Reino Unido, têm removido estátuas que homenageiam personalidades com passado escravocrata ou ligado de alguma forma à perseguição de minorias.
Em frente à Casa Branca, a polícia esvaziou a área com uso de força para dispersar os manifestantes, e bloqueou o acesso à praça. Em uma postagem no Twitter, o presidente disse ter autorizado a prisão de quem tentar remover os monumentos e que "vândalos, bandidos, anarquistas e agitadores" receberiam até dez anos de prisão". Trump é um admirador de Jackson, que era dono de escravos e ficou conhecido pelo tratamento severo com as populações indígenas, com remoção de comunidades.
Se por um lado a retórica incendiária pode inflamar os eleitores mais radicais, por outro, mesmo conservadores têm se declarado incomodados com a posição de Trump no último mês. Segundo a pesquisa do New York Times/Siena College, 46% dos eleitores que se definem como um pouco conservadores disseram desaprovar a conduta do presidente durante os protestos antirracismo. Entre os moderados, esse número salta para 70%.
Analistas têm apontado que a diferença dos protestos desta vez, em comparação com outros casos em que cidadãos negros foram assassinados pela polícia, é a maior diversidade vista na coalizão de apoio aos manifestantes. Mesmo eleitores muito conservadores (25%) disseram ver o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam) de maneira positiva.
Até mesmo entre eleitores brancos e mais velhos, que têm sido fiéis a Trump, há desconforto com as atitudes do presidente: dois quintos dos brancos com mais de 65 anos disseram que não aprovam como Trump lida com as questões raciais e com o coronavírus.
Coronavírus
Na mesma pesquisa, a maioria dos americanos (58%) afirmou que desaprova a forma como Trump tem lidado com a pandemia de coronavírus. Todos os Estados americanos começaram entre o fim de abril e o início de junho um processo de relaxamento das medidas de isolamento social. Trump pressionou autoridades locais e de saúde pela reabertura da economia, em meio à piora dos dados econômicos, mas a experiência parece não estar dando certo.
Mais de 35 mil novos casos de coronavírus foram confirmados nos EUA na terça-feira, o terceiro maior número desde o aumento da pandemia. Alguns Estados, como a Carolina do Norte, anunciaram que irão paralisar a retomada das atividades, enquanto outros, como Nova York, decidiram impor quarentenas obrigatórias a viajantes que chegarem dos Estados com maior número de infecções. Trump tem minimizado a alta dos casos, em contradição pública com os responsáveis pelas políticas de saúde da Casa Branca, como o epidemiologista Anthony Fauci.