Eleição nos EUA pode ter vitória de lavada de Kamala ou Trump? Modelo diz que sim, saiba quem


A metodologia de Thomas Miller, que teve grandes acertos em 2020, está de volta para desvendar os resultados da supostamente apertada eleição presidencial a ser decidida daqui a apenas 46 dias

Por Shawn Tully

Entre o fim de 2020 e o início de 2021, este repórter escreveu várias matérias sobre as previsões eleitorais de Thomas Miller, um cientista de dados da Northwestern University. Fiquei intrigado com a metodologia altamente original que Miller aplicava à detecção de tendências e desfechos — primeiramente em relação à disputa presidencial; e depois sobre as eleições para dois assentos no Senado pelo Estado da Geórgia, onde surpreendentes vitórias geminadas deram aos democratas o controle da Câmara Alta.

Agora Miller volta à arena pela primeira vez desde que desvelou suas previsões altamente incomuns. Ele está usando um sistema similar para asseverar o resultado da supostamente super apertada eleição presidencial a ser decidida daqui a apenas 46 dias. Sua aposta absolutamente não convencional certamente chocará pesquisadores e comentaristas tanto quanto os leitores da revista Fortune. Mas o ponto de vista de Miller merece atenção especial por duas razões básicas: primeiramente por ter como base uma análise de números, pode-se argumentar, muito mais científica do que as pesquisas de eleitorado quase sempre citadas para traçar trajetórias eleitorais; e, em segundo lugar, por ele ter alcançado uma precisão milimétrica quatro anos atrás.

Donald Trump e Kamala Harris irão se enfrentar nas eleições presidenciais americanas no dia 5 de novembro  Foto: Alex Brandon/AP
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Nas três disputas de 2020 Miller superou virtualmente todos os pesquisadores e modelos de análise que comparavam várias pesquisas. Ele errou o tamanho da vantagem de Joe Biden no Colégio Eleitoral por apenas 12 votos, colocando todos os Estados, salvo Geórgia, na coluna correta. Em ambos os segundos turnos ao Senado Miller refinou sua abordagem para apuração de dados no Peach State e acertou novamente. Uma semana antes da votação de 6 de dezembro de 2020 as pesquisas mostravam o republicano David Perdue com ampla vantagem sobre o democrata Jon Ossoff e a republicana Kelly Loeffler empatada dentro da margem de erro com seu oponente, Raphael Warnock. Em contraste, os cálculos de Miller previam uma grande derrota para Loeffler e Ossoff a caminho de uma vitória modesta. Novamente, o acadêmico do contra cravou os resultados: Miller ficou a apenas 0,2% da margem de 2% de Warnock e acertou em cheio a previsão de 1% de vantagem de Ossoff nas urnas.

Harris versus Trump nas pesquisas e nas bolsas de apostas

Métodos

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A abordagem de Miller difere vastamente da maioria dos métodos de prognóstico por não se fiar em pesquisas, mas em valores estabelecidos pelos americanos que apostam seus próprios dólares nos candidatos que, segundo estimam, deverão triunfar. “Sites de apostas políticas anteveem melhor a sabedoria do povo”, disse ele à Fortune. Miller postula que, enquanto as pesquisas nos falam a respeito do passado, as probabilidades nos sites de apostas mapeiam o futuro. “Pesquisas são um retrato de um passado recente”, acrescenta ele. “Costumam colocar no quadro amostragens de 500 a 1.500 pessoas. E os pesquisadores perguntam aos entrevistados em quem eles planejam votar naquele momento, o que pode mudar poucos dias depois, quando os resultados forem publicados. A maioria das pesquisas fica quatro ou cinco dias atrás.”

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa do debate presidencial ao lado de Kamala Harris, na Filadélfia, no dia 10 de setembro  Foto: Alex Brandon/AP

Esse lapso, afirma Miller, causa muito ruído ou disfarça, em variados níveis, o verdadeiro panorama. Outro problema com as pesquisas: Miller afirma que uma pergunta melhor que, “Em que candidato você vai votar?”, seria, “Qual candidato você acha que vai vencer?”. E ainda que os pesquisadores não formulem o questionamento dessa maneira, é assim que os apostadores fabricam suas bolsas.

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Para a disputa Biden-Trump, em 2020, Miller analisou os valores postados no maior site de apostas políticas dos Estados Unidos, o Predictit. Ele usou as probabilidades nas 56 jurisdições eleitorais individualmente, acompanhou mudanças hora a hora e aplicou o modelo para arrolar os dados em probabilidades diárias, extremamente atuais dado que os cidadãos estavam apostando em um ou outro candidato no site 24 horas ao dia, sete dias por semana. Para as disputas ao Senado, Miller usou outra tática. Ele reuniu um grupo de aproximadamente 1,2 mil georgianos que ele atraiu como a promessa de lhes pagar um punhado de dólares para participar e mais dólares ainda se eles identificassem o candidato que venceria — não necessariamente o que eles votariam, assim como uma previsão sobre a margem da vitória. O método que Miller desenvolveu, chamado “pesquisa de previsão”, usando as melhores partes das pesquisas e a bolsa de apostas, o orientou a uma leitura quase perfeita de fatias eleitorais.

Miller está utilizando novamente o Predictit na disputa presidencial de 2024. Ele elogia o site por “ter um grupo mais estável de participantes” do que as populações retratadas pelos pesquisadores. “Há dezenas de milhares de pessoas apostando no site o tempo todo”, afirma Miller. “A aposta máxima é de US$ 850, e 37 mil ‘shares’ são negociadas em média todos os dias.” Colocando de maneira simples, Miller considera o Predictit um mercado altamente líquido que remete a um mercado, digamos, de ações com baixa capitalização ou obrigações de alto rendimento que reúne inúmeros compradores e vendedores. “Mercados financeiros são voltados para o futuro e incorporam informações instantaneamente, e o Predictit concede esses mesmos benefícios”, afirma Miller.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um evento ao lado de Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Paul Sancya/AP
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Kamala na frente

Kamala está à frente de Trump? Este modelo diz que sim

Para mensurar a reedição da disputa Biden-Trump, Miller desenvolveu um “modelo linear generalizado” com base nos resultados das 16 eleições presidenciais mais recentes, a partir de 1960. Desde a disputa Kennedy-Nixon daquele ano, todas as eleições presidenciais foram decididas pelos 538 votos eleitorais. “O modelo tem como base muitos dados históricos”, afirma  Miller. E mostra que as avaliações diárias no Predicitit traduzem proximamente as fatias do voto popular para cada candidato. Digamos que, num determinado dia, os apostadores cotem a US$ 0,52 o candidato A, esse valor corresponde a 52% de chance de ele vencer. Segundo Miller, essa probabilidade de 52% também deve significar que, naquele momento, a melhor previsão sustenta que 52% dos eleitores que provavelmente irão às urnas planejam votar no candidato A.

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Miller registrou dia a dia os valores postados à meia-noite num gráfico em que ele sobrepôs os eventos cruciais que moldaram as eleições. Intitulado “Efeitos de eventos atuais e de campanha sobre previsões de votos eleitorais”, o estudo está publicando em seu website, The Virtual Tout (virtualtout.com). Em geral, o gráfico registra o número de votos eleitorais que as probabilidades do Predictit mostram. Ele tem forma de um gigantesco “U”, remetendo a uma íngreme descida de esqui que, após chegar ao fundo ascende como uma enorme montanha.

Muito antes do debate entre Biden e Trump o republicano figurava bem à frente; no gráfico de Miller ele se situava no topo da ladeira. Trump parecia dominar quase 400 dos 538 votos eleitorais em meados de junho. Depois do debate de 27 de junho, Trump adquiriu ainda mais dominância e alcançou o pico nos dias em torno da convenção republicana, assim como durante o evento, com uma projeção de quase 500 votos eleitorais. As chances dos democratas cresceram acentuadamente após Biden se retirar da disputa, em 21 de julho, e no momento que Harris aceitou sua indicação, em 6 de agosto, os democratas figuravam solidamente na liderança, com cerca de 325 votos eleitorais. O número continuou crescendo duas nas semanas seguintes, atingindo 400, numa reversão impressionante, quando sua convenção chegou ao fim, em 22 de agosto.

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Então Trump ensaiou um retorno. Nos dias anteriores ao debate de 10 de setembro entre Trump e Kamala, a democrata ainda estava na dianteira, mas o republicano quase a alcançava. “Naquele ponto, a disputa era essencialmente 50-50″, observa Miller. “A previsão para os democratas era 288 votos eleitorais.” Foi o debate na Filadélfia que arrebentou o ex-presidente de 78 anos, de acordo com os números de Miller. Um dia depois dos candidatos descerem dos púlpitos, Harris saltou para mais de 400 votos eleitorais. O apoio de Taylor Swift a Kamala cimentou o desfecho do debate e provavelmente ajudou a afundar as chances de Trump, segundo Miller. Desde então, Harris tem mantido um total superior a 400 votos eleitorais.

Um outro gráfico no Virtual Tout mostra como as fatias de voto popular influenciaram o Colégio Eleitoral nessas 16 eleições. Tenha em mente que Miller considera os valores do Predictit equivalentes aos índices de voto popular: um candidato cujo valor é 51% no Dia da Eleição provavelmente obterá 51% dos votos nas urnas. Ele aponta que os democratas tradicionalmente têm de assegurar uma vantagem superior a 2 pontos para vencer e que os republicanos podem ganhar já com cerca de 48%.

Em 16 de setembro, o Predictit mostrava um valor de US$ 0,55 para Kamala e de US$ 0,45 para Trump, o cenário inverso do anterior à partida de Biden. Novamente: essa probabilidade se traduz para 55% dos votos populares para a democrata, de acordo com o modelo de Miller. Se a situação persistir, Trump está diante de uma derrota esmagadora. “Ficaria em algum ponto entre as derrotas de Barry Goldwater por Lyndon Johnson, em 1964, e Bob Dole por Bill Clinton, em 1996″, afirma Miller. “Estamos falando de uma lavada na qual Harris obtém mais de 400 votos eleitorais vencendo em Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte e todos os outros Estados indefinidos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício ao lado da apresentadora Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Saul Loeb/AFP

Miller nota que, pelo menos na história recente, os EUA nunca testemunharam uma reversão de sortes nem remotamente tão dramática quanto esta. “Passou de uma lavada drástica na direção de Trump para uma lavada drástica de Kamala”, admira-se ele. A distância é agora tão grande que somente outra virada épica daria uma nova chance a Trump, e Miller prevê que, neste momento, parece que Kamala vai vencer com uma grande margem em 5 de novembro. Concluindo, ele se recorda de um slogan que a campanha de Johnson usou para depreciar Goldwater: “No fundo você sabe que ele é doido”. A análise com base nas bolsas de apostas de Miller postula que as pessoas que apostam seu próprio dinheiro estavam corretas em prever que, no momento que os candidatos deixaram os púlpitos do debate de 10 de setembro, milhões de eleitores que pendiam para Donald Trump abandonaram o ex-presidente, desencadeando ondas de choque capazes de provocar uma avalanche de votos em Kamala que até aqui poucos vêm se construir. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Entre o fim de 2020 e o início de 2021, este repórter escreveu várias matérias sobre as previsões eleitorais de Thomas Miller, um cientista de dados da Northwestern University. Fiquei intrigado com a metodologia altamente original que Miller aplicava à detecção de tendências e desfechos — primeiramente em relação à disputa presidencial; e depois sobre as eleições para dois assentos no Senado pelo Estado da Geórgia, onde surpreendentes vitórias geminadas deram aos democratas o controle da Câmara Alta.

Agora Miller volta à arena pela primeira vez desde que desvelou suas previsões altamente incomuns. Ele está usando um sistema similar para asseverar o resultado da supostamente super apertada eleição presidencial a ser decidida daqui a apenas 46 dias. Sua aposta absolutamente não convencional certamente chocará pesquisadores e comentaristas tanto quanto os leitores da revista Fortune. Mas o ponto de vista de Miller merece atenção especial por duas razões básicas: primeiramente por ter como base uma análise de números, pode-se argumentar, muito mais científica do que as pesquisas de eleitorado quase sempre citadas para traçar trajetórias eleitorais; e, em segundo lugar, por ele ter alcançado uma precisão milimétrica quatro anos atrás.

Donald Trump e Kamala Harris irão se enfrentar nas eleições presidenciais americanas no dia 5 de novembro  Foto: Alex Brandon/AP

Nas três disputas de 2020 Miller superou virtualmente todos os pesquisadores e modelos de análise que comparavam várias pesquisas. Ele errou o tamanho da vantagem de Joe Biden no Colégio Eleitoral por apenas 12 votos, colocando todos os Estados, salvo Geórgia, na coluna correta. Em ambos os segundos turnos ao Senado Miller refinou sua abordagem para apuração de dados no Peach State e acertou novamente. Uma semana antes da votação de 6 de dezembro de 2020 as pesquisas mostravam o republicano David Perdue com ampla vantagem sobre o democrata Jon Ossoff e a republicana Kelly Loeffler empatada dentro da margem de erro com seu oponente, Raphael Warnock. Em contraste, os cálculos de Miller previam uma grande derrota para Loeffler e Ossoff a caminho de uma vitória modesta. Novamente, o acadêmico do contra cravou os resultados: Miller ficou a apenas 0,2% da margem de 2% de Warnock e acertou em cheio a previsão de 1% de vantagem de Ossoff nas urnas.

Harris versus Trump nas pesquisas e nas bolsas de apostas

Métodos

A abordagem de Miller difere vastamente da maioria dos métodos de prognóstico por não se fiar em pesquisas, mas em valores estabelecidos pelos americanos que apostam seus próprios dólares nos candidatos que, segundo estimam, deverão triunfar. “Sites de apostas políticas anteveem melhor a sabedoria do povo”, disse ele à Fortune. Miller postula que, enquanto as pesquisas nos falam a respeito do passado, as probabilidades nos sites de apostas mapeiam o futuro. “Pesquisas são um retrato de um passado recente”, acrescenta ele. “Costumam colocar no quadro amostragens de 500 a 1.500 pessoas. E os pesquisadores perguntam aos entrevistados em quem eles planejam votar naquele momento, o que pode mudar poucos dias depois, quando os resultados forem publicados. A maioria das pesquisas fica quatro ou cinco dias atrás.”

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa do debate presidencial ao lado de Kamala Harris, na Filadélfia, no dia 10 de setembro  Foto: Alex Brandon/AP

Esse lapso, afirma Miller, causa muito ruído ou disfarça, em variados níveis, o verdadeiro panorama. Outro problema com as pesquisas: Miller afirma que uma pergunta melhor que, “Em que candidato você vai votar?”, seria, “Qual candidato você acha que vai vencer?”. E ainda que os pesquisadores não formulem o questionamento dessa maneira, é assim que os apostadores fabricam suas bolsas.

Para a disputa Biden-Trump, em 2020, Miller analisou os valores postados no maior site de apostas políticas dos Estados Unidos, o Predictit. Ele usou as probabilidades nas 56 jurisdições eleitorais individualmente, acompanhou mudanças hora a hora e aplicou o modelo para arrolar os dados em probabilidades diárias, extremamente atuais dado que os cidadãos estavam apostando em um ou outro candidato no site 24 horas ao dia, sete dias por semana. Para as disputas ao Senado, Miller usou outra tática. Ele reuniu um grupo de aproximadamente 1,2 mil georgianos que ele atraiu como a promessa de lhes pagar um punhado de dólares para participar e mais dólares ainda se eles identificassem o candidato que venceria — não necessariamente o que eles votariam, assim como uma previsão sobre a margem da vitória. O método que Miller desenvolveu, chamado “pesquisa de previsão”, usando as melhores partes das pesquisas e a bolsa de apostas, o orientou a uma leitura quase perfeita de fatias eleitorais.

Miller está utilizando novamente o Predictit na disputa presidencial de 2024. Ele elogia o site por “ter um grupo mais estável de participantes” do que as populações retratadas pelos pesquisadores. “Há dezenas de milhares de pessoas apostando no site o tempo todo”, afirma Miller. “A aposta máxima é de US$ 850, e 37 mil ‘shares’ são negociadas em média todos os dias.” Colocando de maneira simples, Miller considera o Predictit um mercado altamente líquido que remete a um mercado, digamos, de ações com baixa capitalização ou obrigações de alto rendimento que reúne inúmeros compradores e vendedores. “Mercados financeiros são voltados para o futuro e incorporam informações instantaneamente, e o Predictit concede esses mesmos benefícios”, afirma Miller.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um evento ao lado de Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Paul Sancya/AP

Kamala na frente

Kamala está à frente de Trump? Este modelo diz que sim

Para mensurar a reedição da disputa Biden-Trump, Miller desenvolveu um “modelo linear generalizado” com base nos resultados das 16 eleições presidenciais mais recentes, a partir de 1960. Desde a disputa Kennedy-Nixon daquele ano, todas as eleições presidenciais foram decididas pelos 538 votos eleitorais. “O modelo tem como base muitos dados históricos”, afirma  Miller. E mostra que as avaliações diárias no Predicitit traduzem proximamente as fatias do voto popular para cada candidato. Digamos que, num determinado dia, os apostadores cotem a US$ 0,52 o candidato A, esse valor corresponde a 52% de chance de ele vencer. Segundo Miller, essa probabilidade de 52% também deve significar que, naquele momento, a melhor previsão sustenta que 52% dos eleitores que provavelmente irão às urnas planejam votar no candidato A.

Miller registrou dia a dia os valores postados à meia-noite num gráfico em que ele sobrepôs os eventos cruciais que moldaram as eleições. Intitulado “Efeitos de eventos atuais e de campanha sobre previsões de votos eleitorais”, o estudo está publicando em seu website, The Virtual Tout (virtualtout.com). Em geral, o gráfico registra o número de votos eleitorais que as probabilidades do Predictit mostram. Ele tem forma de um gigantesco “U”, remetendo a uma íngreme descida de esqui que, após chegar ao fundo ascende como uma enorme montanha.

Muito antes do debate entre Biden e Trump o republicano figurava bem à frente; no gráfico de Miller ele se situava no topo da ladeira. Trump parecia dominar quase 400 dos 538 votos eleitorais em meados de junho. Depois do debate de 27 de junho, Trump adquiriu ainda mais dominância e alcançou o pico nos dias em torno da convenção republicana, assim como durante o evento, com uma projeção de quase 500 votos eleitorais. As chances dos democratas cresceram acentuadamente após Biden se retirar da disputa, em 21 de julho, e no momento que Harris aceitou sua indicação, em 6 de agosto, os democratas figuravam solidamente na liderança, com cerca de 325 votos eleitorais. O número continuou crescendo duas nas semanas seguintes, atingindo 400, numa reversão impressionante, quando sua convenção chegou ao fim, em 22 de agosto.

Então Trump ensaiou um retorno. Nos dias anteriores ao debate de 10 de setembro entre Trump e Kamala, a democrata ainda estava na dianteira, mas o republicano quase a alcançava. “Naquele ponto, a disputa era essencialmente 50-50″, observa Miller. “A previsão para os democratas era 288 votos eleitorais.” Foi o debate na Filadélfia que arrebentou o ex-presidente de 78 anos, de acordo com os números de Miller. Um dia depois dos candidatos descerem dos púlpitos, Harris saltou para mais de 400 votos eleitorais. O apoio de Taylor Swift a Kamala cimentou o desfecho do debate e provavelmente ajudou a afundar as chances de Trump, segundo Miller. Desde então, Harris tem mantido um total superior a 400 votos eleitorais.

Um outro gráfico no Virtual Tout mostra como as fatias de voto popular influenciaram o Colégio Eleitoral nessas 16 eleições. Tenha em mente que Miller considera os valores do Predictit equivalentes aos índices de voto popular: um candidato cujo valor é 51% no Dia da Eleição provavelmente obterá 51% dos votos nas urnas. Ele aponta que os democratas tradicionalmente têm de assegurar uma vantagem superior a 2 pontos para vencer e que os republicanos podem ganhar já com cerca de 48%.

Em 16 de setembro, o Predictit mostrava um valor de US$ 0,55 para Kamala e de US$ 0,45 para Trump, o cenário inverso do anterior à partida de Biden. Novamente: essa probabilidade se traduz para 55% dos votos populares para a democrata, de acordo com o modelo de Miller. Se a situação persistir, Trump está diante de uma derrota esmagadora. “Ficaria em algum ponto entre as derrotas de Barry Goldwater por Lyndon Johnson, em 1964, e Bob Dole por Bill Clinton, em 1996″, afirma Miller. “Estamos falando de uma lavada na qual Harris obtém mais de 400 votos eleitorais vencendo em Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte e todos os outros Estados indefinidos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício ao lado da apresentadora Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Saul Loeb/AFP

Miller nota que, pelo menos na história recente, os EUA nunca testemunharam uma reversão de sortes nem remotamente tão dramática quanto esta. “Passou de uma lavada drástica na direção de Trump para uma lavada drástica de Kamala”, admira-se ele. A distância é agora tão grande que somente outra virada épica daria uma nova chance a Trump, e Miller prevê que, neste momento, parece que Kamala vai vencer com uma grande margem em 5 de novembro. Concluindo, ele se recorda de um slogan que a campanha de Johnson usou para depreciar Goldwater: “No fundo você sabe que ele é doido”. A análise com base nas bolsas de apostas de Miller postula que as pessoas que apostam seu próprio dinheiro estavam corretas em prever que, no momento que os candidatos deixaram os púlpitos do debate de 10 de setembro, milhões de eleitores que pendiam para Donald Trump abandonaram o ex-presidente, desencadeando ondas de choque capazes de provocar uma avalanche de votos em Kamala que até aqui poucos vêm se construir. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Entre o fim de 2020 e o início de 2021, este repórter escreveu várias matérias sobre as previsões eleitorais de Thomas Miller, um cientista de dados da Northwestern University. Fiquei intrigado com a metodologia altamente original que Miller aplicava à detecção de tendências e desfechos — primeiramente em relação à disputa presidencial; e depois sobre as eleições para dois assentos no Senado pelo Estado da Geórgia, onde surpreendentes vitórias geminadas deram aos democratas o controle da Câmara Alta.

Agora Miller volta à arena pela primeira vez desde que desvelou suas previsões altamente incomuns. Ele está usando um sistema similar para asseverar o resultado da supostamente super apertada eleição presidencial a ser decidida daqui a apenas 46 dias. Sua aposta absolutamente não convencional certamente chocará pesquisadores e comentaristas tanto quanto os leitores da revista Fortune. Mas o ponto de vista de Miller merece atenção especial por duas razões básicas: primeiramente por ter como base uma análise de números, pode-se argumentar, muito mais científica do que as pesquisas de eleitorado quase sempre citadas para traçar trajetórias eleitorais; e, em segundo lugar, por ele ter alcançado uma precisão milimétrica quatro anos atrás.

Donald Trump e Kamala Harris irão se enfrentar nas eleições presidenciais americanas no dia 5 de novembro  Foto: Alex Brandon/AP

Nas três disputas de 2020 Miller superou virtualmente todos os pesquisadores e modelos de análise que comparavam várias pesquisas. Ele errou o tamanho da vantagem de Joe Biden no Colégio Eleitoral por apenas 12 votos, colocando todos os Estados, salvo Geórgia, na coluna correta. Em ambos os segundos turnos ao Senado Miller refinou sua abordagem para apuração de dados no Peach State e acertou novamente. Uma semana antes da votação de 6 de dezembro de 2020 as pesquisas mostravam o republicano David Perdue com ampla vantagem sobre o democrata Jon Ossoff e a republicana Kelly Loeffler empatada dentro da margem de erro com seu oponente, Raphael Warnock. Em contraste, os cálculos de Miller previam uma grande derrota para Loeffler e Ossoff a caminho de uma vitória modesta. Novamente, o acadêmico do contra cravou os resultados: Miller ficou a apenas 0,2% da margem de 2% de Warnock e acertou em cheio a previsão de 1% de vantagem de Ossoff nas urnas.

Harris versus Trump nas pesquisas e nas bolsas de apostas

Métodos

A abordagem de Miller difere vastamente da maioria dos métodos de prognóstico por não se fiar em pesquisas, mas em valores estabelecidos pelos americanos que apostam seus próprios dólares nos candidatos que, segundo estimam, deverão triunfar. “Sites de apostas políticas anteveem melhor a sabedoria do povo”, disse ele à Fortune. Miller postula que, enquanto as pesquisas nos falam a respeito do passado, as probabilidades nos sites de apostas mapeiam o futuro. “Pesquisas são um retrato de um passado recente”, acrescenta ele. “Costumam colocar no quadro amostragens de 500 a 1.500 pessoas. E os pesquisadores perguntam aos entrevistados em quem eles planejam votar naquele momento, o que pode mudar poucos dias depois, quando os resultados forem publicados. A maioria das pesquisas fica quatro ou cinco dias atrás.”

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa do debate presidencial ao lado de Kamala Harris, na Filadélfia, no dia 10 de setembro  Foto: Alex Brandon/AP

Esse lapso, afirma Miller, causa muito ruído ou disfarça, em variados níveis, o verdadeiro panorama. Outro problema com as pesquisas: Miller afirma que uma pergunta melhor que, “Em que candidato você vai votar?”, seria, “Qual candidato você acha que vai vencer?”. E ainda que os pesquisadores não formulem o questionamento dessa maneira, é assim que os apostadores fabricam suas bolsas.

Para a disputa Biden-Trump, em 2020, Miller analisou os valores postados no maior site de apostas políticas dos Estados Unidos, o Predictit. Ele usou as probabilidades nas 56 jurisdições eleitorais individualmente, acompanhou mudanças hora a hora e aplicou o modelo para arrolar os dados em probabilidades diárias, extremamente atuais dado que os cidadãos estavam apostando em um ou outro candidato no site 24 horas ao dia, sete dias por semana. Para as disputas ao Senado, Miller usou outra tática. Ele reuniu um grupo de aproximadamente 1,2 mil georgianos que ele atraiu como a promessa de lhes pagar um punhado de dólares para participar e mais dólares ainda se eles identificassem o candidato que venceria — não necessariamente o que eles votariam, assim como uma previsão sobre a margem da vitória. O método que Miller desenvolveu, chamado “pesquisa de previsão”, usando as melhores partes das pesquisas e a bolsa de apostas, o orientou a uma leitura quase perfeita de fatias eleitorais.

Miller está utilizando novamente o Predictit na disputa presidencial de 2024. Ele elogia o site por “ter um grupo mais estável de participantes” do que as populações retratadas pelos pesquisadores. “Há dezenas de milhares de pessoas apostando no site o tempo todo”, afirma Miller. “A aposta máxima é de US$ 850, e 37 mil ‘shares’ são negociadas em média todos os dias.” Colocando de maneira simples, Miller considera o Predictit um mercado altamente líquido que remete a um mercado, digamos, de ações com baixa capitalização ou obrigações de alto rendimento que reúne inúmeros compradores e vendedores. “Mercados financeiros são voltados para o futuro e incorporam informações instantaneamente, e o Predictit concede esses mesmos benefícios”, afirma Miller.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um evento ao lado de Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Paul Sancya/AP

Kamala na frente

Kamala está à frente de Trump? Este modelo diz que sim

Para mensurar a reedição da disputa Biden-Trump, Miller desenvolveu um “modelo linear generalizado” com base nos resultados das 16 eleições presidenciais mais recentes, a partir de 1960. Desde a disputa Kennedy-Nixon daquele ano, todas as eleições presidenciais foram decididas pelos 538 votos eleitorais. “O modelo tem como base muitos dados históricos”, afirma  Miller. E mostra que as avaliações diárias no Predicitit traduzem proximamente as fatias do voto popular para cada candidato. Digamos que, num determinado dia, os apostadores cotem a US$ 0,52 o candidato A, esse valor corresponde a 52% de chance de ele vencer. Segundo Miller, essa probabilidade de 52% também deve significar que, naquele momento, a melhor previsão sustenta que 52% dos eleitores que provavelmente irão às urnas planejam votar no candidato A.

Miller registrou dia a dia os valores postados à meia-noite num gráfico em que ele sobrepôs os eventos cruciais que moldaram as eleições. Intitulado “Efeitos de eventos atuais e de campanha sobre previsões de votos eleitorais”, o estudo está publicando em seu website, The Virtual Tout (virtualtout.com). Em geral, o gráfico registra o número de votos eleitorais que as probabilidades do Predictit mostram. Ele tem forma de um gigantesco “U”, remetendo a uma íngreme descida de esqui que, após chegar ao fundo ascende como uma enorme montanha.

Muito antes do debate entre Biden e Trump o republicano figurava bem à frente; no gráfico de Miller ele se situava no topo da ladeira. Trump parecia dominar quase 400 dos 538 votos eleitorais em meados de junho. Depois do debate de 27 de junho, Trump adquiriu ainda mais dominância e alcançou o pico nos dias em torno da convenção republicana, assim como durante o evento, com uma projeção de quase 500 votos eleitorais. As chances dos democratas cresceram acentuadamente após Biden se retirar da disputa, em 21 de julho, e no momento que Harris aceitou sua indicação, em 6 de agosto, os democratas figuravam solidamente na liderança, com cerca de 325 votos eleitorais. O número continuou crescendo duas nas semanas seguintes, atingindo 400, numa reversão impressionante, quando sua convenção chegou ao fim, em 22 de agosto.

Então Trump ensaiou um retorno. Nos dias anteriores ao debate de 10 de setembro entre Trump e Kamala, a democrata ainda estava na dianteira, mas o republicano quase a alcançava. “Naquele ponto, a disputa era essencialmente 50-50″, observa Miller. “A previsão para os democratas era 288 votos eleitorais.” Foi o debate na Filadélfia que arrebentou o ex-presidente de 78 anos, de acordo com os números de Miller. Um dia depois dos candidatos descerem dos púlpitos, Harris saltou para mais de 400 votos eleitorais. O apoio de Taylor Swift a Kamala cimentou o desfecho do debate e provavelmente ajudou a afundar as chances de Trump, segundo Miller. Desde então, Harris tem mantido um total superior a 400 votos eleitorais.

Um outro gráfico no Virtual Tout mostra como as fatias de voto popular influenciaram o Colégio Eleitoral nessas 16 eleições. Tenha em mente que Miller considera os valores do Predictit equivalentes aos índices de voto popular: um candidato cujo valor é 51% no Dia da Eleição provavelmente obterá 51% dos votos nas urnas. Ele aponta que os democratas tradicionalmente têm de assegurar uma vantagem superior a 2 pontos para vencer e que os republicanos podem ganhar já com cerca de 48%.

Em 16 de setembro, o Predictit mostrava um valor de US$ 0,55 para Kamala e de US$ 0,45 para Trump, o cenário inverso do anterior à partida de Biden. Novamente: essa probabilidade se traduz para 55% dos votos populares para a democrata, de acordo com o modelo de Miller. Se a situação persistir, Trump está diante de uma derrota esmagadora. “Ficaria em algum ponto entre as derrotas de Barry Goldwater por Lyndon Johnson, em 1964, e Bob Dole por Bill Clinton, em 1996″, afirma Miller. “Estamos falando de uma lavada na qual Harris obtém mais de 400 votos eleitorais vencendo em Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte e todos os outros Estados indefinidos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício ao lado da apresentadora Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Saul Loeb/AFP

Miller nota que, pelo menos na história recente, os EUA nunca testemunharam uma reversão de sortes nem remotamente tão dramática quanto esta. “Passou de uma lavada drástica na direção de Trump para uma lavada drástica de Kamala”, admira-se ele. A distância é agora tão grande que somente outra virada épica daria uma nova chance a Trump, e Miller prevê que, neste momento, parece que Kamala vai vencer com uma grande margem em 5 de novembro. Concluindo, ele se recorda de um slogan que a campanha de Johnson usou para depreciar Goldwater: “No fundo você sabe que ele é doido”. A análise com base nas bolsas de apostas de Miller postula que as pessoas que apostam seu próprio dinheiro estavam corretas em prever que, no momento que os candidatos deixaram os púlpitos do debate de 10 de setembro, milhões de eleitores que pendiam para Donald Trump abandonaram o ex-presidente, desencadeando ondas de choque capazes de provocar uma avalanche de votos em Kamala que até aqui poucos vêm se construir. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Entre o fim de 2020 e o início de 2021, este repórter escreveu várias matérias sobre as previsões eleitorais de Thomas Miller, um cientista de dados da Northwestern University. Fiquei intrigado com a metodologia altamente original que Miller aplicava à detecção de tendências e desfechos — primeiramente em relação à disputa presidencial; e depois sobre as eleições para dois assentos no Senado pelo Estado da Geórgia, onde surpreendentes vitórias geminadas deram aos democratas o controle da Câmara Alta.

Agora Miller volta à arena pela primeira vez desde que desvelou suas previsões altamente incomuns. Ele está usando um sistema similar para asseverar o resultado da supostamente super apertada eleição presidencial a ser decidida daqui a apenas 46 dias. Sua aposta absolutamente não convencional certamente chocará pesquisadores e comentaristas tanto quanto os leitores da revista Fortune. Mas o ponto de vista de Miller merece atenção especial por duas razões básicas: primeiramente por ter como base uma análise de números, pode-se argumentar, muito mais científica do que as pesquisas de eleitorado quase sempre citadas para traçar trajetórias eleitorais; e, em segundo lugar, por ele ter alcançado uma precisão milimétrica quatro anos atrás.

Donald Trump e Kamala Harris irão se enfrentar nas eleições presidenciais americanas no dia 5 de novembro  Foto: Alex Brandon/AP

Nas três disputas de 2020 Miller superou virtualmente todos os pesquisadores e modelos de análise que comparavam várias pesquisas. Ele errou o tamanho da vantagem de Joe Biden no Colégio Eleitoral por apenas 12 votos, colocando todos os Estados, salvo Geórgia, na coluna correta. Em ambos os segundos turnos ao Senado Miller refinou sua abordagem para apuração de dados no Peach State e acertou novamente. Uma semana antes da votação de 6 de dezembro de 2020 as pesquisas mostravam o republicano David Perdue com ampla vantagem sobre o democrata Jon Ossoff e a republicana Kelly Loeffler empatada dentro da margem de erro com seu oponente, Raphael Warnock. Em contraste, os cálculos de Miller previam uma grande derrota para Loeffler e Ossoff a caminho de uma vitória modesta. Novamente, o acadêmico do contra cravou os resultados: Miller ficou a apenas 0,2% da margem de 2% de Warnock e acertou em cheio a previsão de 1% de vantagem de Ossoff nas urnas.

Harris versus Trump nas pesquisas e nas bolsas de apostas

Métodos

A abordagem de Miller difere vastamente da maioria dos métodos de prognóstico por não se fiar em pesquisas, mas em valores estabelecidos pelos americanos que apostam seus próprios dólares nos candidatos que, segundo estimam, deverão triunfar. “Sites de apostas políticas anteveem melhor a sabedoria do povo”, disse ele à Fortune. Miller postula que, enquanto as pesquisas nos falam a respeito do passado, as probabilidades nos sites de apostas mapeiam o futuro. “Pesquisas são um retrato de um passado recente”, acrescenta ele. “Costumam colocar no quadro amostragens de 500 a 1.500 pessoas. E os pesquisadores perguntam aos entrevistados em quem eles planejam votar naquele momento, o que pode mudar poucos dias depois, quando os resultados forem publicados. A maioria das pesquisas fica quatro ou cinco dias atrás.”

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa do debate presidencial ao lado de Kamala Harris, na Filadélfia, no dia 10 de setembro  Foto: Alex Brandon/AP

Esse lapso, afirma Miller, causa muito ruído ou disfarça, em variados níveis, o verdadeiro panorama. Outro problema com as pesquisas: Miller afirma que uma pergunta melhor que, “Em que candidato você vai votar?”, seria, “Qual candidato você acha que vai vencer?”. E ainda que os pesquisadores não formulem o questionamento dessa maneira, é assim que os apostadores fabricam suas bolsas.

Para a disputa Biden-Trump, em 2020, Miller analisou os valores postados no maior site de apostas políticas dos Estados Unidos, o Predictit. Ele usou as probabilidades nas 56 jurisdições eleitorais individualmente, acompanhou mudanças hora a hora e aplicou o modelo para arrolar os dados em probabilidades diárias, extremamente atuais dado que os cidadãos estavam apostando em um ou outro candidato no site 24 horas ao dia, sete dias por semana. Para as disputas ao Senado, Miller usou outra tática. Ele reuniu um grupo de aproximadamente 1,2 mil georgianos que ele atraiu como a promessa de lhes pagar um punhado de dólares para participar e mais dólares ainda se eles identificassem o candidato que venceria — não necessariamente o que eles votariam, assim como uma previsão sobre a margem da vitória. O método que Miller desenvolveu, chamado “pesquisa de previsão”, usando as melhores partes das pesquisas e a bolsa de apostas, o orientou a uma leitura quase perfeita de fatias eleitorais.

Miller está utilizando novamente o Predictit na disputa presidencial de 2024. Ele elogia o site por “ter um grupo mais estável de participantes” do que as populações retratadas pelos pesquisadores. “Há dezenas de milhares de pessoas apostando no site o tempo todo”, afirma Miller. “A aposta máxima é de US$ 850, e 37 mil ‘shares’ são negociadas em média todos os dias.” Colocando de maneira simples, Miller considera o Predictit um mercado altamente líquido que remete a um mercado, digamos, de ações com baixa capitalização ou obrigações de alto rendimento que reúne inúmeros compradores e vendedores. “Mercados financeiros são voltados para o futuro e incorporam informações instantaneamente, e o Predictit concede esses mesmos benefícios”, afirma Miller.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um evento ao lado de Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Paul Sancya/AP

Kamala na frente

Kamala está à frente de Trump? Este modelo diz que sim

Para mensurar a reedição da disputa Biden-Trump, Miller desenvolveu um “modelo linear generalizado” com base nos resultados das 16 eleições presidenciais mais recentes, a partir de 1960. Desde a disputa Kennedy-Nixon daquele ano, todas as eleições presidenciais foram decididas pelos 538 votos eleitorais. “O modelo tem como base muitos dados históricos”, afirma  Miller. E mostra que as avaliações diárias no Predicitit traduzem proximamente as fatias do voto popular para cada candidato. Digamos que, num determinado dia, os apostadores cotem a US$ 0,52 o candidato A, esse valor corresponde a 52% de chance de ele vencer. Segundo Miller, essa probabilidade de 52% também deve significar que, naquele momento, a melhor previsão sustenta que 52% dos eleitores que provavelmente irão às urnas planejam votar no candidato A.

Miller registrou dia a dia os valores postados à meia-noite num gráfico em que ele sobrepôs os eventos cruciais que moldaram as eleições. Intitulado “Efeitos de eventos atuais e de campanha sobre previsões de votos eleitorais”, o estudo está publicando em seu website, The Virtual Tout (virtualtout.com). Em geral, o gráfico registra o número de votos eleitorais que as probabilidades do Predictit mostram. Ele tem forma de um gigantesco “U”, remetendo a uma íngreme descida de esqui que, após chegar ao fundo ascende como uma enorme montanha.

Muito antes do debate entre Biden e Trump o republicano figurava bem à frente; no gráfico de Miller ele se situava no topo da ladeira. Trump parecia dominar quase 400 dos 538 votos eleitorais em meados de junho. Depois do debate de 27 de junho, Trump adquiriu ainda mais dominância e alcançou o pico nos dias em torno da convenção republicana, assim como durante o evento, com uma projeção de quase 500 votos eleitorais. As chances dos democratas cresceram acentuadamente após Biden se retirar da disputa, em 21 de julho, e no momento que Harris aceitou sua indicação, em 6 de agosto, os democratas figuravam solidamente na liderança, com cerca de 325 votos eleitorais. O número continuou crescendo duas nas semanas seguintes, atingindo 400, numa reversão impressionante, quando sua convenção chegou ao fim, em 22 de agosto.

Então Trump ensaiou um retorno. Nos dias anteriores ao debate de 10 de setembro entre Trump e Kamala, a democrata ainda estava na dianteira, mas o republicano quase a alcançava. “Naquele ponto, a disputa era essencialmente 50-50″, observa Miller. “A previsão para os democratas era 288 votos eleitorais.” Foi o debate na Filadélfia que arrebentou o ex-presidente de 78 anos, de acordo com os números de Miller. Um dia depois dos candidatos descerem dos púlpitos, Harris saltou para mais de 400 votos eleitorais. O apoio de Taylor Swift a Kamala cimentou o desfecho do debate e provavelmente ajudou a afundar as chances de Trump, segundo Miller. Desde então, Harris tem mantido um total superior a 400 votos eleitorais.

Um outro gráfico no Virtual Tout mostra como as fatias de voto popular influenciaram o Colégio Eleitoral nessas 16 eleições. Tenha em mente que Miller considera os valores do Predictit equivalentes aos índices de voto popular: um candidato cujo valor é 51% no Dia da Eleição provavelmente obterá 51% dos votos nas urnas. Ele aponta que os democratas tradicionalmente têm de assegurar uma vantagem superior a 2 pontos para vencer e que os republicanos podem ganhar já com cerca de 48%.

Em 16 de setembro, o Predictit mostrava um valor de US$ 0,55 para Kamala e de US$ 0,45 para Trump, o cenário inverso do anterior à partida de Biden. Novamente: essa probabilidade se traduz para 55% dos votos populares para a democrata, de acordo com o modelo de Miller. Se a situação persistir, Trump está diante de uma derrota esmagadora. “Ficaria em algum ponto entre as derrotas de Barry Goldwater por Lyndon Johnson, em 1964, e Bob Dole por Bill Clinton, em 1996″, afirma Miller. “Estamos falando de uma lavada na qual Harris obtém mais de 400 votos eleitorais vencendo em Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte e todos os outros Estados indefinidos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício ao lado da apresentadora Oprah Winfrey, em Farmington Hills, Michigan  Foto: Saul Loeb/AFP

Miller nota que, pelo menos na história recente, os EUA nunca testemunharam uma reversão de sortes nem remotamente tão dramática quanto esta. “Passou de uma lavada drástica na direção de Trump para uma lavada drástica de Kamala”, admira-se ele. A distância é agora tão grande que somente outra virada épica daria uma nova chance a Trump, e Miller prevê que, neste momento, parece que Kamala vai vencer com uma grande margem em 5 de novembro. Concluindo, ele se recorda de um slogan que a campanha de Johnson usou para depreciar Goldwater: “No fundo você sabe que ele é doido”. A análise com base nas bolsas de apostas de Miller postula que as pessoas que apostam seu próprio dinheiro estavam corretas em prever que, no momento que os candidatos deixaram os púlpitos do debate de 10 de setembro, milhões de eleitores que pendiam para Donald Trump abandonaram o ex-presidente, desencadeando ondas de choque capazes de provocar uma avalanche de votos em Kamala que até aqui poucos vêm se construir. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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