Eleições na Argentina: Histórico reduto de Sergio Massa, Tigre dá sinais de cansaço com peronista


Nome e rosto do candidato governista e sua esposa se impõem por toda a cidade e há quem o vote por ‘costume’, mas sentimento anti-Massa aparece em quem já não o confia mais

Por Carolina Marins

ENVIADA ESPECIAL A TIGRE, ARGENTINA – Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um “massismo”, também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. “Mas Milei não dá, tenho medo”, admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

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Cartazes de Sergio Massa e sua mulher Malena Galmarini são vistos durante todo o caminho de 1h de trem de Buenos Aires a Tigre Foto: Carolina Marins/Estadão

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

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Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

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O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado “efeito arrasta”, em que o candidato que encabeça a lista – no caso Sergio Massa – arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

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Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita “Massa – Axel – Malena”. Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Logo na chegada à estação de Tigre, uma faixa promovendo as campanhas de Sergio Massa, Axel Kicillof e Malena Galmarini Foto: Carolina Marins/Estadão

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. “Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele”, confessa.

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Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. “Voto em qualquer um, menos nele”, enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. “É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim”, disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

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Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: “Quando em 2013 nos quiseram impor a ‘Eterna Cristina’, tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo”. Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido – era Eduardo “Wado” de Pedro – mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Vista da Avenida Cazón, em Tigre, reduto de Sergio Massa Foto: Carolina Marins/Estadão

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

“O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial”, observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito”.

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo – o mais impopular dos últimos 20 anos – e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de “chances 0″ no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

Estação de Retiro, em Buenos Aires, onde sai o trem para Tigre, tem faixas da campanha de Sergio Massa espalhadas nas plataformas Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A TIGRE, ARGENTINA – Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um “massismo”, também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. “Mas Milei não dá, tenho medo”, admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

Cartazes de Sergio Massa e sua mulher Malena Galmarini são vistos durante todo o caminho de 1h de trem de Buenos Aires a Tigre Foto: Carolina Marins/Estadão

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado “efeito arrasta”, em que o candidato que encabeça a lista – no caso Sergio Massa – arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita “Massa – Axel – Malena”. Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Logo na chegada à estação de Tigre, uma faixa promovendo as campanhas de Sergio Massa, Axel Kicillof e Malena Galmarini Foto: Carolina Marins/Estadão

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. “Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele”, confessa.

Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. “Voto em qualquer um, menos nele”, enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. “É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim”, disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: “Quando em 2013 nos quiseram impor a ‘Eterna Cristina’, tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo”. Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido – era Eduardo “Wado” de Pedro – mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Vista da Avenida Cazón, em Tigre, reduto de Sergio Massa Foto: Carolina Marins/Estadão

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

“O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial”, observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito”.

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo – o mais impopular dos últimos 20 anos – e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de “chances 0″ no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

Estação de Retiro, em Buenos Aires, onde sai o trem para Tigre, tem faixas da campanha de Sergio Massa espalhadas nas plataformas Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A TIGRE, ARGENTINA – Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um “massismo”, também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. “Mas Milei não dá, tenho medo”, admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

Cartazes de Sergio Massa e sua mulher Malena Galmarini são vistos durante todo o caminho de 1h de trem de Buenos Aires a Tigre Foto: Carolina Marins/Estadão

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado “efeito arrasta”, em que o candidato que encabeça a lista – no caso Sergio Massa – arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita “Massa – Axel – Malena”. Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Logo na chegada à estação de Tigre, uma faixa promovendo as campanhas de Sergio Massa, Axel Kicillof e Malena Galmarini Foto: Carolina Marins/Estadão

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. “Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele”, confessa.

Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. “Voto em qualquer um, menos nele”, enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. “É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim”, disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: “Quando em 2013 nos quiseram impor a ‘Eterna Cristina’, tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo”. Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido – era Eduardo “Wado” de Pedro – mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Vista da Avenida Cazón, em Tigre, reduto de Sergio Massa Foto: Carolina Marins/Estadão

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

“O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial”, observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito”.

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo – o mais impopular dos últimos 20 anos – e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de “chances 0″ no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

Estação de Retiro, em Buenos Aires, onde sai o trem para Tigre, tem faixas da campanha de Sergio Massa espalhadas nas plataformas Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A TIGRE, ARGENTINA – Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um “massismo”, também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. “Mas Milei não dá, tenho medo”, admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

Cartazes de Sergio Massa e sua mulher Malena Galmarini são vistos durante todo o caminho de 1h de trem de Buenos Aires a Tigre Foto: Carolina Marins/Estadão

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado “efeito arrasta”, em que o candidato que encabeça a lista – no caso Sergio Massa – arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita “Massa – Axel – Malena”. Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Logo na chegada à estação de Tigre, uma faixa promovendo as campanhas de Sergio Massa, Axel Kicillof e Malena Galmarini Foto: Carolina Marins/Estadão

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. “Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele”, confessa.

Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. “Voto em qualquer um, menos nele”, enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. “É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim”, disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: “Quando em 2013 nos quiseram impor a ‘Eterna Cristina’, tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo”. Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido – era Eduardo “Wado” de Pedro – mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Vista da Avenida Cazón, em Tigre, reduto de Sergio Massa Foto: Carolina Marins/Estadão

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

“O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial”, observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito”.

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo – o mais impopular dos últimos 20 anos – e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de “chances 0″ no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

Estação de Retiro, em Buenos Aires, onde sai o trem para Tigre, tem faixas da campanha de Sergio Massa espalhadas nas plataformas Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A TIGRE, ARGENTINA – Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um “massismo”, também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. “Mas Milei não dá, tenho medo”, admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

Cartazes de Sergio Massa e sua mulher Malena Galmarini são vistos durante todo o caminho de 1h de trem de Buenos Aires a Tigre Foto: Carolina Marins/Estadão

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado “efeito arrasta”, em que o candidato que encabeça a lista – no caso Sergio Massa – arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita “Massa – Axel – Malena”. Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Logo na chegada à estação de Tigre, uma faixa promovendo as campanhas de Sergio Massa, Axel Kicillof e Malena Galmarini Foto: Carolina Marins/Estadão

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. “Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele”, confessa.

Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. “Voto em qualquer um, menos nele”, enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. “É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim”, disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: “Quando em 2013 nos quiseram impor a ‘Eterna Cristina’, tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo”. Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido – era Eduardo “Wado” de Pedro – mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Vista da Avenida Cazón, em Tigre, reduto de Sergio Massa Foto: Carolina Marins/Estadão

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

“O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial”, observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito”.

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo – o mais impopular dos últimos 20 anos – e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de “chances 0″ no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

Estação de Retiro, em Buenos Aires, onde sai o trem para Tigre, tem faixas da campanha de Sergio Massa espalhadas nas plataformas Foto: Carolina Marins/Estadão

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