Eleições na França: Grandes centros urbanos deram a vitória a Macron contra Le Pen


Periferias dos grandes centros e população com maior grau de instrução também rechaçam extrema direita

Por Paloma Varón, especial para o Estado
Atualização:

PARIS - A reeleição de Emmanuel Macron para a presidência da França foi marcada pelo apoio em massa de eleitores de grandes centros urbanos ao presidente. A melhor votação da história da extrema direita no país, por sua vez, tem um forte componente do voto rural, já que pequenas cidades do interior aderiram em peso à candidatura de Marine Le Pen. Mais além da divisão geográfica, o resultado do voto francês do domingo indica também uma cisão entre as preferências políticas das classes mais baixas do país: os trabalhadores urbanos rechaçando Marine, enquanto os rurais a abraçam.

Com 58,5% dos votos válidos, Emmanuel Macron teve uma vantagem de 17 frente à sua rival, Marine Le Pen (41,5%). No entanto, disparidades significativas são perceptíveis a nível municipal: Macron obteve uma votação alta nas grandes cidades, chegando a 85,1% em Paris.

A mesma tendência foi vista em Rennes (84,1%), Nantes (81,1%), Bordeaux (80,1%), Lyon (79,8%), Grenoble (78,7%), Estrasburgo (77,6%), Toulouse (77,5%), Caen (76,7%) e Lille (76,6%).

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A candidata do Reunião Nacional, por sua vez, alcançou índices muito baixos nas grandes metrópoles. Porém foi nas pequenas cidades, em boa parte do Nordeste da França, na faixa mediterrânea, na planície entre Bordeaux e Narbonne, na Córsega e nos departamentos e regiões ultramarinas que Le Pen obteve seus melhores índices.

Segundo o cientista político Frédéric Sawicki, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, esta diferença clara entre o voto das grandes cidades e das zonas rurais, que se vê em qualquer mapa com os resultados das eleições, mostra, sobretudo, uma ruptura grande entre as classes populares.

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“As classes populares urbanas votaram principalmente em Mélenchon, no primeiro turno, e depois em Macron para barrar a extrema direita. Na zona rural, foi diferente, mas a variável ‘lugar de residência’ sozinha não explica tudo, temos de olhar menos o tamanho das cidades e mais o modo de vida das pessoas”, explica.

Parisienses passam por banca de jornal noticiando reeleição de Macron  Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Ele diz que, ao contrário do que se pode pensar, as classes populares que moram nas zonas rurais não são formadas principalmente de agricultores, mas de empregados de pequenas empresas, não sindicalizados, mais conservadores e temerosos de imigrantes, mesmo que não convivam com eles.

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“Nas grandes cidades e suas periferias, esses mesmos trabalhadores em geral têm ligações com sindicatos, são imigrantes ou descendentes deles, não dependem tanto de carro e gastam menos com energia para o aquecimento, por exemplo.”

Outro fator importante, diz Sawicki, é o nível do diploma. “Quanto mais diplomado, a partir de dois anos de estudos superiores, menor a tendência a votar no Reunião Nacional”.

A professora de sociologia política Frédérique Matonti, também da Paris 1 concorda. “É preciso olhar os mapas eleitorais em detalhe, para entender como eles funcionam. Para mim, o dado mais marcante é que o voto da extrema direita é o voto dos que não têm diploma, moram afastados dos serviços públicos e têm dificuldades econômicas, como encher o tanque do carro”.

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Abstenção e falsa simetria

Segundo Sawicki, este grande poder concentrado nas mãos de uma só pessoa, quem nem sempre está em consonância com as questões que são importantes para o povo, é uma das causas da forte abstenção. “Não somos uma democracia de compromisso, mas de maioria. Antes havia esta mise-em-scène entre a direita e a esquerda, que faziam parecer que, a cada eleição, era o destino do país que estava em jogo, mas nada mudava em substância. Esta diferença pouco visível entre esquerda e direita no poder é que deixou espaço para a extrema direita”, analisa.

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No entanto, ao falar sobre o maior índice já alcançado pela extrema direita na França, ele pondera: “Não são 40% dos franceses que votaram Le Pen. Se a abstenção e os votos brancos e nulos entrarem na conta, vemos que Macron teve 38,5% dos votos, abstenção mais brancos e nulos somaram 34,2% e Marine Le Pen teve 27,3% dos votos”.

Sobre a alta abstenção dos jovens e o movimento “Nem Macron nem Le Pen”, que ocupou a Sorbonne dias antes da eleição, Sawicki deplora: “Foi triste, porque houve degradação das salas de aula e dos nossos equipamentos. Não vejo relação com a causa. Eles podem se manifestar contra a eleição, mas não precisam quebrar seu próprio local de estudo. Por causa disso, voltamos ao ensino à distância, depois de dois anos de pandemia”.

“Além disso, esta afirmação que equipara Macron e Le Pen é falsa. Marine Le Pen é comparável a Orbán e a Bolsonaro, eles não são democratas, representam um perigo para a democracia. A mensagem de equivalência que eles tentaram passar é inadmissível”, lamenta. “Vou mandar esses alunos irem fazer um estágio no Brasil para eles verem o que é a extrema direita no poder”, conclui.

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PARIS - A reeleição de Emmanuel Macron para a presidência da França foi marcada pelo apoio em massa de eleitores de grandes centros urbanos ao presidente. A melhor votação da história da extrema direita no país, por sua vez, tem um forte componente do voto rural, já que pequenas cidades do interior aderiram em peso à candidatura de Marine Le Pen. Mais além da divisão geográfica, o resultado do voto francês do domingo indica também uma cisão entre as preferências políticas das classes mais baixas do país: os trabalhadores urbanos rechaçando Marine, enquanto os rurais a abraçam.

Com 58,5% dos votos válidos, Emmanuel Macron teve uma vantagem de 17 frente à sua rival, Marine Le Pen (41,5%). No entanto, disparidades significativas são perceptíveis a nível municipal: Macron obteve uma votação alta nas grandes cidades, chegando a 85,1% em Paris.

A mesma tendência foi vista em Rennes (84,1%), Nantes (81,1%), Bordeaux (80,1%), Lyon (79,8%), Grenoble (78,7%), Estrasburgo (77,6%), Toulouse (77,5%), Caen (76,7%) e Lille (76,6%).

A candidata do Reunião Nacional, por sua vez, alcançou índices muito baixos nas grandes metrópoles. Porém foi nas pequenas cidades, em boa parte do Nordeste da França, na faixa mediterrânea, na planície entre Bordeaux e Narbonne, na Córsega e nos departamentos e regiões ultramarinas que Le Pen obteve seus melhores índices.

Segundo o cientista político Frédéric Sawicki, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, esta diferença clara entre o voto das grandes cidades e das zonas rurais, que se vê em qualquer mapa com os resultados das eleições, mostra, sobretudo, uma ruptura grande entre as classes populares.

“As classes populares urbanas votaram principalmente em Mélenchon, no primeiro turno, e depois em Macron para barrar a extrema direita. Na zona rural, foi diferente, mas a variável ‘lugar de residência’ sozinha não explica tudo, temos de olhar menos o tamanho das cidades e mais o modo de vida das pessoas”, explica.

Parisienses passam por banca de jornal noticiando reeleição de Macron  Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Ele diz que, ao contrário do que se pode pensar, as classes populares que moram nas zonas rurais não são formadas principalmente de agricultores, mas de empregados de pequenas empresas, não sindicalizados, mais conservadores e temerosos de imigrantes, mesmo que não convivam com eles.

“Nas grandes cidades e suas periferias, esses mesmos trabalhadores em geral têm ligações com sindicatos, são imigrantes ou descendentes deles, não dependem tanto de carro e gastam menos com energia para o aquecimento, por exemplo.”

Outro fator importante, diz Sawicki, é o nível do diploma. “Quanto mais diplomado, a partir de dois anos de estudos superiores, menor a tendência a votar no Reunião Nacional”.

A professora de sociologia política Frédérique Matonti, também da Paris 1 concorda. “É preciso olhar os mapas eleitorais em detalhe, para entender como eles funcionam. Para mim, o dado mais marcante é que o voto da extrema direita é o voto dos que não têm diploma, moram afastados dos serviços públicos e têm dificuldades econômicas, como encher o tanque do carro”.

Abstenção e falsa simetria

Segundo Sawicki, este grande poder concentrado nas mãos de uma só pessoa, quem nem sempre está em consonância com as questões que são importantes para o povo, é uma das causas da forte abstenção. “Não somos uma democracia de compromisso, mas de maioria. Antes havia esta mise-em-scène entre a direita e a esquerda, que faziam parecer que, a cada eleição, era o destino do país que estava em jogo, mas nada mudava em substância. Esta diferença pouco visível entre esquerda e direita no poder é que deixou espaço para a extrema direita”, analisa.

No entanto, ao falar sobre o maior índice já alcançado pela extrema direita na França, ele pondera: “Não são 40% dos franceses que votaram Le Pen. Se a abstenção e os votos brancos e nulos entrarem na conta, vemos que Macron teve 38,5% dos votos, abstenção mais brancos e nulos somaram 34,2% e Marine Le Pen teve 27,3% dos votos”.

Sobre a alta abstenção dos jovens e o movimento “Nem Macron nem Le Pen”, que ocupou a Sorbonne dias antes da eleição, Sawicki deplora: “Foi triste, porque houve degradação das salas de aula e dos nossos equipamentos. Não vejo relação com a causa. Eles podem se manifestar contra a eleição, mas não precisam quebrar seu próprio local de estudo. Por causa disso, voltamos ao ensino à distância, depois de dois anos de pandemia”.

“Além disso, esta afirmação que equipara Macron e Le Pen é falsa. Marine Le Pen é comparável a Orbán e a Bolsonaro, eles não são democratas, representam um perigo para a democracia. A mensagem de equivalência que eles tentaram passar é inadmissível”, lamenta. “Vou mandar esses alunos irem fazer um estágio no Brasil para eles verem o que é a extrema direita no poder”, conclui.

PARIS - A reeleição de Emmanuel Macron para a presidência da França foi marcada pelo apoio em massa de eleitores de grandes centros urbanos ao presidente. A melhor votação da história da extrema direita no país, por sua vez, tem um forte componente do voto rural, já que pequenas cidades do interior aderiram em peso à candidatura de Marine Le Pen. Mais além da divisão geográfica, o resultado do voto francês do domingo indica também uma cisão entre as preferências políticas das classes mais baixas do país: os trabalhadores urbanos rechaçando Marine, enquanto os rurais a abraçam.

Com 58,5% dos votos válidos, Emmanuel Macron teve uma vantagem de 17 frente à sua rival, Marine Le Pen (41,5%). No entanto, disparidades significativas são perceptíveis a nível municipal: Macron obteve uma votação alta nas grandes cidades, chegando a 85,1% em Paris.

A mesma tendência foi vista em Rennes (84,1%), Nantes (81,1%), Bordeaux (80,1%), Lyon (79,8%), Grenoble (78,7%), Estrasburgo (77,6%), Toulouse (77,5%), Caen (76,7%) e Lille (76,6%).

A candidata do Reunião Nacional, por sua vez, alcançou índices muito baixos nas grandes metrópoles. Porém foi nas pequenas cidades, em boa parte do Nordeste da França, na faixa mediterrânea, na planície entre Bordeaux e Narbonne, na Córsega e nos departamentos e regiões ultramarinas que Le Pen obteve seus melhores índices.

Segundo o cientista político Frédéric Sawicki, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, esta diferença clara entre o voto das grandes cidades e das zonas rurais, que se vê em qualquer mapa com os resultados das eleições, mostra, sobretudo, uma ruptura grande entre as classes populares.

“As classes populares urbanas votaram principalmente em Mélenchon, no primeiro turno, e depois em Macron para barrar a extrema direita. Na zona rural, foi diferente, mas a variável ‘lugar de residência’ sozinha não explica tudo, temos de olhar menos o tamanho das cidades e mais o modo de vida das pessoas”, explica.

Parisienses passam por banca de jornal noticiando reeleição de Macron  Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Ele diz que, ao contrário do que se pode pensar, as classes populares que moram nas zonas rurais não são formadas principalmente de agricultores, mas de empregados de pequenas empresas, não sindicalizados, mais conservadores e temerosos de imigrantes, mesmo que não convivam com eles.

“Nas grandes cidades e suas periferias, esses mesmos trabalhadores em geral têm ligações com sindicatos, são imigrantes ou descendentes deles, não dependem tanto de carro e gastam menos com energia para o aquecimento, por exemplo.”

Outro fator importante, diz Sawicki, é o nível do diploma. “Quanto mais diplomado, a partir de dois anos de estudos superiores, menor a tendência a votar no Reunião Nacional”.

A professora de sociologia política Frédérique Matonti, também da Paris 1 concorda. “É preciso olhar os mapas eleitorais em detalhe, para entender como eles funcionam. Para mim, o dado mais marcante é que o voto da extrema direita é o voto dos que não têm diploma, moram afastados dos serviços públicos e têm dificuldades econômicas, como encher o tanque do carro”.

Abstenção e falsa simetria

Segundo Sawicki, este grande poder concentrado nas mãos de uma só pessoa, quem nem sempre está em consonância com as questões que são importantes para o povo, é uma das causas da forte abstenção. “Não somos uma democracia de compromisso, mas de maioria. Antes havia esta mise-em-scène entre a direita e a esquerda, que faziam parecer que, a cada eleição, era o destino do país que estava em jogo, mas nada mudava em substância. Esta diferença pouco visível entre esquerda e direita no poder é que deixou espaço para a extrema direita”, analisa.

No entanto, ao falar sobre o maior índice já alcançado pela extrema direita na França, ele pondera: “Não são 40% dos franceses que votaram Le Pen. Se a abstenção e os votos brancos e nulos entrarem na conta, vemos que Macron teve 38,5% dos votos, abstenção mais brancos e nulos somaram 34,2% e Marine Le Pen teve 27,3% dos votos”.

Sobre a alta abstenção dos jovens e o movimento “Nem Macron nem Le Pen”, que ocupou a Sorbonne dias antes da eleição, Sawicki deplora: “Foi triste, porque houve degradação das salas de aula e dos nossos equipamentos. Não vejo relação com a causa. Eles podem se manifestar contra a eleição, mas não precisam quebrar seu próprio local de estudo. Por causa disso, voltamos ao ensino à distância, depois de dois anos de pandemia”.

“Além disso, esta afirmação que equipara Macron e Le Pen é falsa. Marine Le Pen é comparável a Orbán e a Bolsonaro, eles não são democratas, representam um perigo para a democracia. A mensagem de equivalência que eles tentaram passar é inadmissível”, lamenta. “Vou mandar esses alunos irem fazer um estágio no Brasil para eles verem o que é a extrema direita no poder”, conclui.

PARIS - A reeleição de Emmanuel Macron para a presidência da França foi marcada pelo apoio em massa de eleitores de grandes centros urbanos ao presidente. A melhor votação da história da extrema direita no país, por sua vez, tem um forte componente do voto rural, já que pequenas cidades do interior aderiram em peso à candidatura de Marine Le Pen. Mais além da divisão geográfica, o resultado do voto francês do domingo indica também uma cisão entre as preferências políticas das classes mais baixas do país: os trabalhadores urbanos rechaçando Marine, enquanto os rurais a abraçam.

Com 58,5% dos votos válidos, Emmanuel Macron teve uma vantagem de 17 frente à sua rival, Marine Le Pen (41,5%). No entanto, disparidades significativas são perceptíveis a nível municipal: Macron obteve uma votação alta nas grandes cidades, chegando a 85,1% em Paris.

A mesma tendência foi vista em Rennes (84,1%), Nantes (81,1%), Bordeaux (80,1%), Lyon (79,8%), Grenoble (78,7%), Estrasburgo (77,6%), Toulouse (77,5%), Caen (76,7%) e Lille (76,6%).

A candidata do Reunião Nacional, por sua vez, alcançou índices muito baixos nas grandes metrópoles. Porém foi nas pequenas cidades, em boa parte do Nordeste da França, na faixa mediterrânea, na planície entre Bordeaux e Narbonne, na Córsega e nos departamentos e regiões ultramarinas que Le Pen obteve seus melhores índices.

Segundo o cientista político Frédéric Sawicki, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, esta diferença clara entre o voto das grandes cidades e das zonas rurais, que se vê em qualquer mapa com os resultados das eleições, mostra, sobretudo, uma ruptura grande entre as classes populares.

“As classes populares urbanas votaram principalmente em Mélenchon, no primeiro turno, e depois em Macron para barrar a extrema direita. Na zona rural, foi diferente, mas a variável ‘lugar de residência’ sozinha não explica tudo, temos de olhar menos o tamanho das cidades e mais o modo de vida das pessoas”, explica.

Parisienses passam por banca de jornal noticiando reeleição de Macron  Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Ele diz que, ao contrário do que se pode pensar, as classes populares que moram nas zonas rurais não são formadas principalmente de agricultores, mas de empregados de pequenas empresas, não sindicalizados, mais conservadores e temerosos de imigrantes, mesmo que não convivam com eles.

“Nas grandes cidades e suas periferias, esses mesmos trabalhadores em geral têm ligações com sindicatos, são imigrantes ou descendentes deles, não dependem tanto de carro e gastam menos com energia para o aquecimento, por exemplo.”

Outro fator importante, diz Sawicki, é o nível do diploma. “Quanto mais diplomado, a partir de dois anos de estudos superiores, menor a tendência a votar no Reunião Nacional”.

A professora de sociologia política Frédérique Matonti, também da Paris 1 concorda. “É preciso olhar os mapas eleitorais em detalhe, para entender como eles funcionam. Para mim, o dado mais marcante é que o voto da extrema direita é o voto dos que não têm diploma, moram afastados dos serviços públicos e têm dificuldades econômicas, como encher o tanque do carro”.

Abstenção e falsa simetria

Segundo Sawicki, este grande poder concentrado nas mãos de uma só pessoa, quem nem sempre está em consonância com as questões que são importantes para o povo, é uma das causas da forte abstenção. “Não somos uma democracia de compromisso, mas de maioria. Antes havia esta mise-em-scène entre a direita e a esquerda, que faziam parecer que, a cada eleição, era o destino do país que estava em jogo, mas nada mudava em substância. Esta diferença pouco visível entre esquerda e direita no poder é que deixou espaço para a extrema direita”, analisa.

No entanto, ao falar sobre o maior índice já alcançado pela extrema direita na França, ele pondera: “Não são 40% dos franceses que votaram Le Pen. Se a abstenção e os votos brancos e nulos entrarem na conta, vemos que Macron teve 38,5% dos votos, abstenção mais brancos e nulos somaram 34,2% e Marine Le Pen teve 27,3% dos votos”.

Sobre a alta abstenção dos jovens e o movimento “Nem Macron nem Le Pen”, que ocupou a Sorbonne dias antes da eleição, Sawicki deplora: “Foi triste, porque houve degradação das salas de aula e dos nossos equipamentos. Não vejo relação com a causa. Eles podem se manifestar contra a eleição, mas não precisam quebrar seu próprio local de estudo. Por causa disso, voltamos ao ensino à distância, depois de dois anos de pandemia”.

“Além disso, esta afirmação que equipara Macron e Le Pen é falsa. Marine Le Pen é comparável a Orbán e a Bolsonaro, eles não são democratas, representam um perigo para a democracia. A mensagem de equivalência que eles tentaram passar é inadmissível”, lamenta. “Vou mandar esses alunos irem fazer um estágio no Brasil para eles verem o que é a extrema direita no poder”, conclui.

PARIS - A reeleição de Emmanuel Macron para a presidência da França foi marcada pelo apoio em massa de eleitores de grandes centros urbanos ao presidente. A melhor votação da história da extrema direita no país, por sua vez, tem um forte componente do voto rural, já que pequenas cidades do interior aderiram em peso à candidatura de Marine Le Pen. Mais além da divisão geográfica, o resultado do voto francês do domingo indica também uma cisão entre as preferências políticas das classes mais baixas do país: os trabalhadores urbanos rechaçando Marine, enquanto os rurais a abraçam.

Com 58,5% dos votos válidos, Emmanuel Macron teve uma vantagem de 17 frente à sua rival, Marine Le Pen (41,5%). No entanto, disparidades significativas são perceptíveis a nível municipal: Macron obteve uma votação alta nas grandes cidades, chegando a 85,1% em Paris.

A mesma tendência foi vista em Rennes (84,1%), Nantes (81,1%), Bordeaux (80,1%), Lyon (79,8%), Grenoble (78,7%), Estrasburgo (77,6%), Toulouse (77,5%), Caen (76,7%) e Lille (76,6%).

A candidata do Reunião Nacional, por sua vez, alcançou índices muito baixos nas grandes metrópoles. Porém foi nas pequenas cidades, em boa parte do Nordeste da França, na faixa mediterrânea, na planície entre Bordeaux e Narbonne, na Córsega e nos departamentos e regiões ultramarinas que Le Pen obteve seus melhores índices.

Segundo o cientista político Frédéric Sawicki, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, esta diferença clara entre o voto das grandes cidades e das zonas rurais, que se vê em qualquer mapa com os resultados das eleições, mostra, sobretudo, uma ruptura grande entre as classes populares.

“As classes populares urbanas votaram principalmente em Mélenchon, no primeiro turno, e depois em Macron para barrar a extrema direita. Na zona rural, foi diferente, mas a variável ‘lugar de residência’ sozinha não explica tudo, temos de olhar menos o tamanho das cidades e mais o modo de vida das pessoas”, explica.

Parisienses passam por banca de jornal noticiando reeleição de Macron  Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Ele diz que, ao contrário do que se pode pensar, as classes populares que moram nas zonas rurais não são formadas principalmente de agricultores, mas de empregados de pequenas empresas, não sindicalizados, mais conservadores e temerosos de imigrantes, mesmo que não convivam com eles.

“Nas grandes cidades e suas periferias, esses mesmos trabalhadores em geral têm ligações com sindicatos, são imigrantes ou descendentes deles, não dependem tanto de carro e gastam menos com energia para o aquecimento, por exemplo.”

Outro fator importante, diz Sawicki, é o nível do diploma. “Quanto mais diplomado, a partir de dois anos de estudos superiores, menor a tendência a votar no Reunião Nacional”.

A professora de sociologia política Frédérique Matonti, também da Paris 1 concorda. “É preciso olhar os mapas eleitorais em detalhe, para entender como eles funcionam. Para mim, o dado mais marcante é que o voto da extrema direita é o voto dos que não têm diploma, moram afastados dos serviços públicos e têm dificuldades econômicas, como encher o tanque do carro”.

Abstenção e falsa simetria

Segundo Sawicki, este grande poder concentrado nas mãos de uma só pessoa, quem nem sempre está em consonância com as questões que são importantes para o povo, é uma das causas da forte abstenção. “Não somos uma democracia de compromisso, mas de maioria. Antes havia esta mise-em-scène entre a direita e a esquerda, que faziam parecer que, a cada eleição, era o destino do país que estava em jogo, mas nada mudava em substância. Esta diferença pouco visível entre esquerda e direita no poder é que deixou espaço para a extrema direita”, analisa.

No entanto, ao falar sobre o maior índice já alcançado pela extrema direita na França, ele pondera: “Não são 40% dos franceses que votaram Le Pen. Se a abstenção e os votos brancos e nulos entrarem na conta, vemos que Macron teve 38,5% dos votos, abstenção mais brancos e nulos somaram 34,2% e Marine Le Pen teve 27,3% dos votos”.

Sobre a alta abstenção dos jovens e o movimento “Nem Macron nem Le Pen”, que ocupou a Sorbonne dias antes da eleição, Sawicki deplora: “Foi triste, porque houve degradação das salas de aula e dos nossos equipamentos. Não vejo relação com a causa. Eles podem se manifestar contra a eleição, mas não precisam quebrar seu próprio local de estudo. Por causa disso, voltamos ao ensino à distância, depois de dois anos de pandemia”.

“Além disso, esta afirmação que equipara Macron e Le Pen é falsa. Marine Le Pen é comparável a Orbán e a Bolsonaro, eles não são democratas, representam um perigo para a democracia. A mensagem de equivalência que eles tentaram passar é inadmissível”, lamenta. “Vou mandar esses alunos irem fazer um estágio no Brasil para eles verem o que é a extrema direita no poder”, conclui.

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