Venezuela não divulga parciais e oposição acusa Maduro de interromper contagem para evitar derrota


Opositores afirmam que continuam sem acesso às atas eleitorais mais de quatro após fechamento das urnas e dizem que houve centros de votação onde seus fiscais de urna foram retirados

Por Carolina Marins, Isabel Gomes e Luiz Raatz
Atualização:

CARACAS - Depois de mais de quatro horas do fechamento das urnas, o Conselho Nacional Eleitoral não emitiu nenhuma parcial sobre a votação na Venezuela. Poucas autoridades do regime chavista deram declarações sobre o processo eleitoral, enquanto a oposição acusa o CNE de interromper o processo de transmissão de atas eleitorais, em uma tentativa aparente de fraudar a contagem.

Delsa Solórzano, uma das líderes da campanha opositora designada como fiscal de urna oficial da oposição no CNE, denunciou que foram paralisadas as transmissões de resultados de alguns centros eleitorais. Além disso, reiterou que a oposição continua sem acesso às atas eleitorais e há fiscais sendo retirados de centros de votação. A denúncia vem a público em meio à demora na divulgação de resultados e suspeitas de irregularidades.

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“Temos ido o tempo todo ao CNE e nos tem impedido o acesso”, disse em coletiva de imprensa pouco antes das 22h locais (23h de Brasília). “Nos disseram que era melhor eu ir embora em nome da minha segurança. A verdade é que não se permitiu a entrada dos fiscais no CNE”.

Os fiscais servem como olheiros dos partidos durante todo o processo eleitoral, mas especialmente no momento da totalização e apuração dos votos. Desde o momento de fechamento das urnas a oposição denuncia a dificuldade de acessar o Conselho Nacional Eleitoral, onde se está fazendo a totalização dos votos.

A líder do partido Encontro Cidadão, que forma a oposição venezuelana, Delsa Solórzano, em coletiva de imprensa Foto: Raul Arboleda/AFP
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Com as atas, que são emitidas ao fim da votação e da auditoria das urnas, a oposição espera fazer uma espécie de apuração paralela para comparar com os resultados a serem divulgados pelo CNE. O temor é de que o conselho, aparelhado por funcionários chavistas, altere os resultados das eleições de hoje. Mais cedo, Nicolás Maduro afirmou que respeitará os resultados “divulgados pelo CNE”.

“Há uma quantidade enorme de centros de votação onde estão retirando nossos fiscais. Há outros em que se estão negando transmitir o resultado das atas”, continuou a opositora. “O processo é: eles imprimem as atas e as transmitem, mas não querem transmitir as atas.”

Ela denunciou que o CNE paralisou a impressão e a transmissão das atas de alguns centros de votação, mas que “com as atas que temos, que são suficiente, que são numerosas, podemos ver o que está acontecendo no país”.

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“Ter a atas em mão é um direito legal que está previsto em todas as normativas legais venezuelana”, afirmou. “Não entregar a ata está totalmente à margem da lei.”

A opositora relembrou o referendo constitucional de 2007, em que o chavismo perdeu e chegou a reconhecer os resultados, mas depois utilizou de ferramentas para reverter o processo. “Não é a primeira vez que fazem isso. É um padrão”.

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“Não violem, não burlem os resultados. Nosso melhor instrumento é a verdade e estamos prontos para defendê-la até mesmo com nossas vidas”, concordou o porta-voz da campanha opositora Perkins Rocha na mesma coletiva de imprensa.

Para o cientista político venezuelano Xavier Rodríguez-Franco, a ditadura chavista começa a repetir o modus operandi das eleições de 2013, quando Maduro venceu por uma margem estreita e contestada as eleições contra Henrique Capriles. “Traz muitas reminiscências do que foi o processo eleitoral de 2013, que basicamente era atrasar a divulgação das atas, dificultar o acesso à sala de totalização, além das dificuldades de acesso à imprensa durante todo o dia”, afirmou.

“Atualmente se vivem horas muito críticas na Venezuela. Apesar de que se funciona o voto eletrônico e o processo automatizado de transmissão e totalização dos resultados, sempre tem sido uma constante a sequência de ações que parecem formar um padrão, especialmente quando há eleições que foram competitivas”, continua.

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Pedido de vigília

Mais cedo, a líder da oposição, Maria Corina Machado, pediu para que seus apoiadores façam uma vigília nos centros de votação para defender a apuração dos votos.

“Nenhum fiscal eleitoral deixa a seção eleitoral sem a ata da urna. Nossas testemunhas têm o direito de obter seu certificado. Esse é o momento mais crítico e o melhor modo de nos defender é estando presentes na seção eleitoral. O mundo está conosco”, disse ela na sede do seu comando nacional de campanha.

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A líder pediu para que os eleitores retornem aos centros de votação para acompanhar o momento da contagem dos votos. “Estas são as horas cruciais. Precisamos que os venezuelanos acompanhem as testemunhas e os membros das mesas eleitorais. Já estamos recebendo as atas e as estamos contando. Todos os venezuelanos têm o direito de testemunhar a contagem”, agregou.

Uma apoiadora do candidato opositor Edmundo González Urrutia participa de uma concentração de apoiadores da oposição no fechamento das urnas em Caracas Foto: Federico Parra/AFP

“Tivemos um dia histórico e enorme. Nunca visto nos últimos anos. Pedimos às testemunhas que permaneçam nos centros e recebam as atas”, acrescentou o candidato presidencial Edmundo Gonzalez.

“Aos cidadãos: vocês têm o direito de participar da verificação cidadã desse processo. Estamos mais do que satisfeitos com os resultados que obtivemos. Este dia terminará como começou, e celebraremos em paz”, continuou o candidato presidencial.

Os pedidos para que os eleitores não saíam dos centros de votação se reforçaram conforme o CNE continuava sem transmitir dados e a apuração entrava a madrugada.

“Venezuelanos, isso é até o fim. Isso significa que todos nós permaneceremos nos centros de votação até que os votos sejam contados e as atas sejam obtidas”, reforçou María Corina no X (antigo Twitter) perto das 23h locais (meia-noite em Brasília).

Reação internacional

Os governos do Uruguai, Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.

O movimento foi capitaneado pelo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e envolve governos de centro e centro-direita da região. Mulino reiterou que respeito à vontade do povo é fundamental para o governo da democracia.

O Panamá é um dos países mais afetados pelo êxodo de 7 milhões de venezuelanos, muitos dos quais tentam atravessar a selva de Darién, para chegar aos Estados Unidos.

Apoiadores do ditador Nicolás Maduro se reúnem do lado de fora do Palácio Miraflores para esperar os resultados Foto: Yuri Cortez/AFP

Governos sul-americanos de esquerda mais próximos do chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maduro trocou farpas recentemente, não subscrevem a nota.

Mas por meio de sua conta no X, a chancelaria da Colômbia se pronunciou mais tarde dizendo que “o Governo da Colômbia aguarda a divulgação dos resultados eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. A contagem dos votos deve ser feita com todas as garantias para todos os setores. Reafirmamos o nosso apoio à paz e à democracia no nosso país irmão”.

O Departamento de Estado americano subiu o tom das críticas à Venezuela em meio à demora na divulgação dos resultados da eleição presidencial. O subsecretário de Estado para América Latina, Brian Nichols, escreveu em sua conta no Twitter que as parciais precisam vir a público para garantir a credibilidade do processo eleitoral.

“Os eleitores venezuelanos compareceram em grande número para expressar sua vontade nas urnas. Cabe agora às autoridades eleitorais garantir a transparência e o acesso de todos os partidos políticos e da sociedade civil à tabulação dos votos e à publicação imediata dos resultados. A credibilidade do processo eleitoral depende disso”, disse Nichols.

O governo do Chile, liderado pelo esquerdista Gabriel Boric, se somou aos pedidos de respeito à vontade das urnas na Venezuela. “Fazemos um apelo firme para que a vontade do povo venezuelano seja respeitada e para que os resultados da eleição presidencial sejam garantidos. Estes são momentos decisivos na Venezuela e a democracia deve prevalecer acima de tudo”, disse o chanceler Alberto von Klaveren.

Em um post na rede social X, Boric defendeu que a entrega de resultados seja transparente e frisou que a comunidade internacional “não aceitaria outra coisa”.

A Ministra de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina Diana Mondino pediu que Nicolás Maduro reconhecesse a derrota em uma publicação na rede social X.

“Maduro: RECONHEÇA A DERROTA. A diferença de votos contra a ditadura chavista é esmagadora. Perderam em todos os estados por mais de 35%. Não há fraude ou violência que esconda a realidade “, disse a chanceler sem citar a fonte.

CARACAS - Depois de mais de quatro horas do fechamento das urnas, o Conselho Nacional Eleitoral não emitiu nenhuma parcial sobre a votação na Venezuela. Poucas autoridades do regime chavista deram declarações sobre o processo eleitoral, enquanto a oposição acusa o CNE de interromper o processo de transmissão de atas eleitorais, em uma tentativa aparente de fraudar a contagem.

Delsa Solórzano, uma das líderes da campanha opositora designada como fiscal de urna oficial da oposição no CNE, denunciou que foram paralisadas as transmissões de resultados de alguns centros eleitorais. Além disso, reiterou que a oposição continua sem acesso às atas eleitorais e há fiscais sendo retirados de centros de votação. A denúncia vem a público em meio à demora na divulgação de resultados e suspeitas de irregularidades.

“Temos ido o tempo todo ao CNE e nos tem impedido o acesso”, disse em coletiva de imprensa pouco antes das 22h locais (23h de Brasília). “Nos disseram que era melhor eu ir embora em nome da minha segurança. A verdade é que não se permitiu a entrada dos fiscais no CNE”.

Os fiscais servem como olheiros dos partidos durante todo o processo eleitoral, mas especialmente no momento da totalização e apuração dos votos. Desde o momento de fechamento das urnas a oposição denuncia a dificuldade de acessar o Conselho Nacional Eleitoral, onde se está fazendo a totalização dos votos.

A líder do partido Encontro Cidadão, que forma a oposição venezuelana, Delsa Solórzano, em coletiva de imprensa Foto: Raul Arboleda/AFP

Com as atas, que são emitidas ao fim da votação e da auditoria das urnas, a oposição espera fazer uma espécie de apuração paralela para comparar com os resultados a serem divulgados pelo CNE. O temor é de que o conselho, aparelhado por funcionários chavistas, altere os resultados das eleições de hoje. Mais cedo, Nicolás Maduro afirmou que respeitará os resultados “divulgados pelo CNE”.

“Há uma quantidade enorme de centros de votação onde estão retirando nossos fiscais. Há outros em que se estão negando transmitir o resultado das atas”, continuou a opositora. “O processo é: eles imprimem as atas e as transmitem, mas não querem transmitir as atas.”

Ela denunciou que o CNE paralisou a impressão e a transmissão das atas de alguns centros de votação, mas que “com as atas que temos, que são suficiente, que são numerosas, podemos ver o que está acontecendo no país”.

“Ter a atas em mão é um direito legal que está previsto em todas as normativas legais venezuelana”, afirmou. “Não entregar a ata está totalmente à margem da lei.”

A opositora relembrou o referendo constitucional de 2007, em que o chavismo perdeu e chegou a reconhecer os resultados, mas depois utilizou de ferramentas para reverter o processo. “Não é a primeira vez que fazem isso. É um padrão”.

“Não violem, não burlem os resultados. Nosso melhor instrumento é a verdade e estamos prontos para defendê-la até mesmo com nossas vidas”, concordou o porta-voz da campanha opositora Perkins Rocha na mesma coletiva de imprensa.

Para o cientista político venezuelano Xavier Rodríguez-Franco, a ditadura chavista começa a repetir o modus operandi das eleições de 2013, quando Maduro venceu por uma margem estreita e contestada as eleições contra Henrique Capriles. “Traz muitas reminiscências do que foi o processo eleitoral de 2013, que basicamente era atrasar a divulgação das atas, dificultar o acesso à sala de totalização, além das dificuldades de acesso à imprensa durante todo o dia”, afirmou.

“Atualmente se vivem horas muito críticas na Venezuela. Apesar de que se funciona o voto eletrônico e o processo automatizado de transmissão e totalização dos resultados, sempre tem sido uma constante a sequência de ações que parecem formar um padrão, especialmente quando há eleições que foram competitivas”, continua.

Pedido de vigília

Mais cedo, a líder da oposição, Maria Corina Machado, pediu para que seus apoiadores façam uma vigília nos centros de votação para defender a apuração dos votos.

“Nenhum fiscal eleitoral deixa a seção eleitoral sem a ata da urna. Nossas testemunhas têm o direito de obter seu certificado. Esse é o momento mais crítico e o melhor modo de nos defender é estando presentes na seção eleitoral. O mundo está conosco”, disse ela na sede do seu comando nacional de campanha.

A líder pediu para que os eleitores retornem aos centros de votação para acompanhar o momento da contagem dos votos. “Estas são as horas cruciais. Precisamos que os venezuelanos acompanhem as testemunhas e os membros das mesas eleitorais. Já estamos recebendo as atas e as estamos contando. Todos os venezuelanos têm o direito de testemunhar a contagem”, agregou.

Uma apoiadora do candidato opositor Edmundo González Urrutia participa de uma concentração de apoiadores da oposição no fechamento das urnas em Caracas Foto: Federico Parra/AFP

“Tivemos um dia histórico e enorme. Nunca visto nos últimos anos. Pedimos às testemunhas que permaneçam nos centros e recebam as atas”, acrescentou o candidato presidencial Edmundo Gonzalez.

“Aos cidadãos: vocês têm o direito de participar da verificação cidadã desse processo. Estamos mais do que satisfeitos com os resultados que obtivemos. Este dia terminará como começou, e celebraremos em paz”, continuou o candidato presidencial.

Os pedidos para que os eleitores não saíam dos centros de votação se reforçaram conforme o CNE continuava sem transmitir dados e a apuração entrava a madrugada.

“Venezuelanos, isso é até o fim. Isso significa que todos nós permaneceremos nos centros de votação até que os votos sejam contados e as atas sejam obtidas”, reforçou María Corina no X (antigo Twitter) perto das 23h locais (meia-noite em Brasília).

Reação internacional

Os governos do Uruguai, Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.

O movimento foi capitaneado pelo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e envolve governos de centro e centro-direita da região. Mulino reiterou que respeito à vontade do povo é fundamental para o governo da democracia.

O Panamá é um dos países mais afetados pelo êxodo de 7 milhões de venezuelanos, muitos dos quais tentam atravessar a selva de Darién, para chegar aos Estados Unidos.

Apoiadores do ditador Nicolás Maduro se reúnem do lado de fora do Palácio Miraflores para esperar os resultados Foto: Yuri Cortez/AFP

Governos sul-americanos de esquerda mais próximos do chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maduro trocou farpas recentemente, não subscrevem a nota.

Mas por meio de sua conta no X, a chancelaria da Colômbia se pronunciou mais tarde dizendo que “o Governo da Colômbia aguarda a divulgação dos resultados eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. A contagem dos votos deve ser feita com todas as garantias para todos os setores. Reafirmamos o nosso apoio à paz e à democracia no nosso país irmão”.

O Departamento de Estado americano subiu o tom das críticas à Venezuela em meio à demora na divulgação dos resultados da eleição presidencial. O subsecretário de Estado para América Latina, Brian Nichols, escreveu em sua conta no Twitter que as parciais precisam vir a público para garantir a credibilidade do processo eleitoral.

“Os eleitores venezuelanos compareceram em grande número para expressar sua vontade nas urnas. Cabe agora às autoridades eleitorais garantir a transparência e o acesso de todos os partidos políticos e da sociedade civil à tabulação dos votos e à publicação imediata dos resultados. A credibilidade do processo eleitoral depende disso”, disse Nichols.

O governo do Chile, liderado pelo esquerdista Gabriel Boric, se somou aos pedidos de respeito à vontade das urnas na Venezuela. “Fazemos um apelo firme para que a vontade do povo venezuelano seja respeitada e para que os resultados da eleição presidencial sejam garantidos. Estes são momentos decisivos na Venezuela e a democracia deve prevalecer acima de tudo”, disse o chanceler Alberto von Klaveren.

Em um post na rede social X, Boric defendeu que a entrega de resultados seja transparente e frisou que a comunidade internacional “não aceitaria outra coisa”.

A Ministra de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina Diana Mondino pediu que Nicolás Maduro reconhecesse a derrota em uma publicação na rede social X.

“Maduro: RECONHEÇA A DERROTA. A diferença de votos contra a ditadura chavista é esmagadora. Perderam em todos os estados por mais de 35%. Não há fraude ou violência que esconda a realidade “, disse a chanceler sem citar a fonte.

CARACAS - Depois de mais de quatro horas do fechamento das urnas, o Conselho Nacional Eleitoral não emitiu nenhuma parcial sobre a votação na Venezuela. Poucas autoridades do regime chavista deram declarações sobre o processo eleitoral, enquanto a oposição acusa o CNE de interromper o processo de transmissão de atas eleitorais, em uma tentativa aparente de fraudar a contagem.

Delsa Solórzano, uma das líderes da campanha opositora designada como fiscal de urna oficial da oposição no CNE, denunciou que foram paralisadas as transmissões de resultados de alguns centros eleitorais. Além disso, reiterou que a oposição continua sem acesso às atas eleitorais e há fiscais sendo retirados de centros de votação. A denúncia vem a público em meio à demora na divulgação de resultados e suspeitas de irregularidades.

“Temos ido o tempo todo ao CNE e nos tem impedido o acesso”, disse em coletiva de imprensa pouco antes das 22h locais (23h de Brasília). “Nos disseram que era melhor eu ir embora em nome da minha segurança. A verdade é que não se permitiu a entrada dos fiscais no CNE”.

Os fiscais servem como olheiros dos partidos durante todo o processo eleitoral, mas especialmente no momento da totalização e apuração dos votos. Desde o momento de fechamento das urnas a oposição denuncia a dificuldade de acessar o Conselho Nacional Eleitoral, onde se está fazendo a totalização dos votos.

A líder do partido Encontro Cidadão, que forma a oposição venezuelana, Delsa Solórzano, em coletiva de imprensa Foto: Raul Arboleda/AFP

Com as atas, que são emitidas ao fim da votação e da auditoria das urnas, a oposição espera fazer uma espécie de apuração paralela para comparar com os resultados a serem divulgados pelo CNE. O temor é de que o conselho, aparelhado por funcionários chavistas, altere os resultados das eleições de hoje. Mais cedo, Nicolás Maduro afirmou que respeitará os resultados “divulgados pelo CNE”.

“Há uma quantidade enorme de centros de votação onde estão retirando nossos fiscais. Há outros em que se estão negando transmitir o resultado das atas”, continuou a opositora. “O processo é: eles imprimem as atas e as transmitem, mas não querem transmitir as atas.”

Ela denunciou que o CNE paralisou a impressão e a transmissão das atas de alguns centros de votação, mas que “com as atas que temos, que são suficiente, que são numerosas, podemos ver o que está acontecendo no país”.

“Ter a atas em mão é um direito legal que está previsto em todas as normativas legais venezuelana”, afirmou. “Não entregar a ata está totalmente à margem da lei.”

A opositora relembrou o referendo constitucional de 2007, em que o chavismo perdeu e chegou a reconhecer os resultados, mas depois utilizou de ferramentas para reverter o processo. “Não é a primeira vez que fazem isso. É um padrão”.

“Não violem, não burlem os resultados. Nosso melhor instrumento é a verdade e estamos prontos para defendê-la até mesmo com nossas vidas”, concordou o porta-voz da campanha opositora Perkins Rocha na mesma coletiva de imprensa.

Para o cientista político venezuelano Xavier Rodríguez-Franco, a ditadura chavista começa a repetir o modus operandi das eleições de 2013, quando Maduro venceu por uma margem estreita e contestada as eleições contra Henrique Capriles. “Traz muitas reminiscências do que foi o processo eleitoral de 2013, que basicamente era atrasar a divulgação das atas, dificultar o acesso à sala de totalização, além das dificuldades de acesso à imprensa durante todo o dia”, afirmou.

“Atualmente se vivem horas muito críticas na Venezuela. Apesar de que se funciona o voto eletrônico e o processo automatizado de transmissão e totalização dos resultados, sempre tem sido uma constante a sequência de ações que parecem formar um padrão, especialmente quando há eleições que foram competitivas”, continua.

Pedido de vigília

Mais cedo, a líder da oposição, Maria Corina Machado, pediu para que seus apoiadores façam uma vigília nos centros de votação para defender a apuração dos votos.

“Nenhum fiscal eleitoral deixa a seção eleitoral sem a ata da urna. Nossas testemunhas têm o direito de obter seu certificado. Esse é o momento mais crítico e o melhor modo de nos defender é estando presentes na seção eleitoral. O mundo está conosco”, disse ela na sede do seu comando nacional de campanha.

A líder pediu para que os eleitores retornem aos centros de votação para acompanhar o momento da contagem dos votos. “Estas são as horas cruciais. Precisamos que os venezuelanos acompanhem as testemunhas e os membros das mesas eleitorais. Já estamos recebendo as atas e as estamos contando. Todos os venezuelanos têm o direito de testemunhar a contagem”, agregou.

Uma apoiadora do candidato opositor Edmundo González Urrutia participa de uma concentração de apoiadores da oposição no fechamento das urnas em Caracas Foto: Federico Parra/AFP

“Tivemos um dia histórico e enorme. Nunca visto nos últimos anos. Pedimos às testemunhas que permaneçam nos centros e recebam as atas”, acrescentou o candidato presidencial Edmundo Gonzalez.

“Aos cidadãos: vocês têm o direito de participar da verificação cidadã desse processo. Estamos mais do que satisfeitos com os resultados que obtivemos. Este dia terminará como começou, e celebraremos em paz”, continuou o candidato presidencial.

Os pedidos para que os eleitores não saíam dos centros de votação se reforçaram conforme o CNE continuava sem transmitir dados e a apuração entrava a madrugada.

“Venezuelanos, isso é até o fim. Isso significa que todos nós permaneceremos nos centros de votação até que os votos sejam contados e as atas sejam obtidas”, reforçou María Corina no X (antigo Twitter) perto das 23h locais (meia-noite em Brasília).

Reação internacional

Os governos do Uruguai, Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.

O movimento foi capitaneado pelo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e envolve governos de centro e centro-direita da região. Mulino reiterou que respeito à vontade do povo é fundamental para o governo da democracia.

O Panamá é um dos países mais afetados pelo êxodo de 7 milhões de venezuelanos, muitos dos quais tentam atravessar a selva de Darién, para chegar aos Estados Unidos.

Apoiadores do ditador Nicolás Maduro se reúnem do lado de fora do Palácio Miraflores para esperar os resultados Foto: Yuri Cortez/AFP

Governos sul-americanos de esquerda mais próximos do chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maduro trocou farpas recentemente, não subscrevem a nota.

Mas por meio de sua conta no X, a chancelaria da Colômbia se pronunciou mais tarde dizendo que “o Governo da Colômbia aguarda a divulgação dos resultados eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. A contagem dos votos deve ser feita com todas as garantias para todos os setores. Reafirmamos o nosso apoio à paz e à democracia no nosso país irmão”.

O Departamento de Estado americano subiu o tom das críticas à Venezuela em meio à demora na divulgação dos resultados da eleição presidencial. O subsecretário de Estado para América Latina, Brian Nichols, escreveu em sua conta no Twitter que as parciais precisam vir a público para garantir a credibilidade do processo eleitoral.

“Os eleitores venezuelanos compareceram em grande número para expressar sua vontade nas urnas. Cabe agora às autoridades eleitorais garantir a transparência e o acesso de todos os partidos políticos e da sociedade civil à tabulação dos votos e à publicação imediata dos resultados. A credibilidade do processo eleitoral depende disso”, disse Nichols.

O governo do Chile, liderado pelo esquerdista Gabriel Boric, se somou aos pedidos de respeito à vontade das urnas na Venezuela. “Fazemos um apelo firme para que a vontade do povo venezuelano seja respeitada e para que os resultados da eleição presidencial sejam garantidos. Estes são momentos decisivos na Venezuela e a democracia deve prevalecer acima de tudo”, disse o chanceler Alberto von Klaveren.

Em um post na rede social X, Boric defendeu que a entrega de resultados seja transparente e frisou que a comunidade internacional “não aceitaria outra coisa”.

A Ministra de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina Diana Mondino pediu que Nicolás Maduro reconhecesse a derrota em uma publicação na rede social X.

“Maduro: RECONHEÇA A DERROTA. A diferença de votos contra a ditadura chavista é esmagadora. Perderam em todos os estados por mais de 35%. Não há fraude ou violência que esconda a realidade “, disse a chanceler sem citar a fonte.

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