WASHINGTON - O presidente americano, Joe Biden, teve sua primeira conversa por telefone com o presidente da China, Xi Jinping, e, segundo a Casa Branca, pressionou o líder chinês sobre comércio e a repressão de Pequim aos ativistas pela democracia em Hong Kong, além de outras questões de direitos humanos.
Os líderes das principais economias do mundo falaram na quarta-feira, 10, poucas horas depois de Biden anunciar planos para uma força-tarefa do Pentágono para revisar a estratégia de segurança nacional dos EUA na China, e depois que o novo presidente americano anunciou novas sanções contra o regime militar de Mianmar após o golpe deste mês no país do sudeste asiático.
Um comunicado da Casa Branca afirma que Biden levantou preocupações sobre as "práticas econômicas coercitivas e injustas de Pequim". Biden também pressionou Xi sobre a repressão de Pequim em Hong Kong, os abusos dos direitos humanos contra os uigures e as minorias étnicas em Xinjiang e suas ações contra Taiwan.
Os dois líderes também conversaram, de acordo com o comunicado da Casa Branca, sobre a pandemia da covid-19 e os "desafios comuns" colocados pela segurança global de saúde e mudanças climáticas.
Nesta quinta-feira, 11, Biden disse que passou “duas horas” ao telefone com Xi. "Se não fizermos nada, eles (chineses) nos ultrapassarão", afirmou o presidente americano a repórteres no Salão Oval.
Na versão chinesa da conversa, Xi ressaltou a necessidade de cooperação entre as duas potências e alertou para que os americanos não interfiram em assuntos relacionados à soberania da China e seus interesses, especialmente em Hong Kong e Taiwan.
Hu Xijin, editor-chefe do tabloide Global Times, com forte ligação com o governo chinês, disse que a ligação de duas horas entre os dois era uma “mensagem muito positiva” e mostrava que os dois líderes buscaram uma “comunicação em profundidade”. “O tempo de conversa significa que é muito mais do que uma cortesia. Os dois líderes se conheceram no passado e obviamente tiveram uma comunicação profunda desta vez. O fato de a conversa ter acontecido é muito construtivo”, escreveu Xijin no Twitter.
Mensagem
Biden, que havia lidado com o líder chinês quando ele atuou como vice-presidente de Barack Obama, usou suas três primeiras semanas na Casa Branca para fazer várias ligações para outros líderes na região do Indo-Pacífico. Ele tentou enviar a mensagem de que teria uma abordagem radicalmente diferente para a China do que o ex-presidente Donald Trump, que colocou as questões comerciais e econômicas acima de tudo nas relações EUA-China.
Com o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, no fim do mês passado, Biden destacou o compromisso dos EUA em proteger as Ilhas Senkaku, um grupo de ilhotas desabitadas administradas por Tóquio, mas reivindicadas por Pequim.
Em sua ligação com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, Biden enfatizou a necessidade de "cooperação estreita para promover um Indo-Pacífico livre e aberto".
E em sua ligação com o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, na semana passada, o presidente destacou que a aliança das duas nações é essencial para a estabilidade na região, disse a Casa Branca.
Os principais assessores de Biden têm ouvido repetidamente de seus colegas da Ásia-Pacífico que ficaram desanimados com a retórica frequentemente severa de Trump dirigida aos aliados, falando sobre a redução dos níveis de tropas na Coreia do Sul e estranhas interações com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, de acordo com um alto funcionário do governo que falou sob condição de anonimato para discutir as ligações privadas.
Os aliados na região deixaram claro que desejam uma abordagem mais determinada e firme para os confrontos futuros, de acordo com a fonte.
Exercícios militares americanos aumentam tensão no Mar da China
Recentemente, os EUA iniciaram exercícios militares com dois porta-aviões e um navio de guerra no Mar da China, em um território disputado por vários países asiáticos e motivo de tensão constante entre americanos e chineses.
Segundo a Marinha dos EUA, os porta-aviões Theodore Roosevelt e Nimitz “fizeram uma série de exercícios com o objetivo de aumentar a operação” militar americana no local. Na semana passada, o navio USS John S. McCain havia circulado pela região, o que provocou reação de Pequim.
“A embarcação americana entrou em águas territoriais das Ilhas Xisha sem autorização”, protestou o Exército chinês, referindo-se às chamadas Ilhas Paracelso, um arquipélago de corais. O governo da China disse, na ocasião, que “expulsou” o navio, o que foi negado pelos americanos.
Outros países vizinhos, como Filipinas, Malásia, Brunei, Indonésia, Cingapura e Vietnã também questionam a soberania chinesa na região, uma rota-chave do comércio marítimo mundial, por onde passa anualmente um volume de carga no valor de US$ 5,3 trilhões (cerca de R$ 16,39 trilhões).
Os EUA também contestam as reivindicações territoriais chinesas, acusando Pequim de militarizar o Mar da China e intimidando vizinhos. “Estamos empenhados em garantir o uso legal do mar de que todas as nações desfrutam, de acordo com a lei internacional”, disse o contra-almirante Jim Kirk, comandante do Nimitz, em comunicado.
O Ministério das Relações Exteriores da China respondeu dizendo que tomará “as medidas necessárias para salvaguardar resolutamente a soberania e segurança nacional”. Esse foi o primeiro exercício militar dos EUA no local desde junho de 2020 e o primeiro no governo Biden. / AP e AFP