Em Israel, resultados da vacinação apontam caminho para sair da pandemia


Casos de covid-19 caíram rapidamente entre pessoas vacinadas, segundo estudos no país; é a evidência mais forte de que um programa robusto de vacinação pode domar a crise sanitária

Por Isabel Kershner
Atualização:

JERUSALEM – Em um teste de grandes proporções para o combate à pandemia do coronavírus, a vacinação em Israel mostrou que um programa robusto de imunização pode ter um impacto rápido e poderoso. 

Os casos de covid-19 e hospitalizações caíram dramaticamente entre pessoas que foram vacinadas dentro de poucas semanas, segundo novos estudos em Israel. O ritmo rápido de vacinação fez do país uma espécie de laboratório para o mundo. Dados preliminares sugerem que as vacinas funcionam, na prática, da mesma forma que ocorreu nos testes clínicos. 

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“Dizemos, com cautela, que a mágica começou”, escreveu no Twitter o biólogo Eran Segal, doInstituto Weizmann de Ciência, coautor de um novo estudo sobre o impacto da vacina em Israel. As boas notícias sobre a vacinação dificilmente significam um passeio sem obstáculos até o futuro pós-pandêmico. 

Uma profissional de saúde palestina é vacinada em Hebron, na Cisjordânia, com vacinas fornecidas por Israel Foto: Hazem Bader/AFP

Enquanto o mundo corre para barrar o vírus antes que mutações mais perigosas se espalhem, a escassez de vacinas deve impedir outros países de replicarem o sucesso de Israel, o mesmo de impedir o surgimento de novas variantes. 

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Até Israel, que superou o ritmo de vacinação em outros países, está longe da linha de chegada. O país prorrogou seu terceiro lockdown de abrangência nacional nesta quinta-feira, 4. Ainda assim, pesquisadores têm esperança na capacidade da vacina em desacelerar os casos entre israelenses vacinados. 

“Acho bastante persuasivo que estamos vendo efeitos reais de vacinação na população”, disse o epidemiologista William Hanage, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, que não participou do estudo israelense. 

Um número crescente de vacinas têm demonstrado eficácia contra a covid-19 e protegem especialmente contra casos graves. Alguns testes sugerem que as vacians podem ter o potencial de retardar a transmissão do vírus. 

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O novo estudo israelense analisou estatísticas de saúde para pessoas de 60 anos ou mais, que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech porque pertenciam a grupo de risco. Com os dados de seis semanas de campanha, quando a maioria das pessoas nessa idade já havia sido vacinada, o estudo estimou que o número de novos casos de covid-19 caiu 41% em relação a três semanas antes. 

Esse grupo também teve uma queda de 31% nas hospitaçizações devido ao coronavírus, e de 24% nos pacientes que tiveram casos críticos da doença. 

Parte da importância do estudo está no fato de que os autores conseguiram isolar outros fatores, inclusive o lockdown, que também reduz o número de infecções. Os pesquisadores dizem que, mesmo levando essas circunstâncias em consideração, as vacinas tiveram um impacto considerável. 

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Novos dados, divulgados na quinta-feira, 4, por uma das maiores redes de saúde em Israel, sugerem que a proteção da vacina na prática pode ser tão boa quanto o que foi identificado nos teste clínicos. 

A vacina teve eficácia de 95% nos testes. Pesquisadores alertaram em novembro que esses números poderiam ser menor com a vacinação no mundo real. Isso porque os voluntários que fizeram os testes podem não representar a população como um todo, por exemplo. A administração da vacina Pfizer-BioNTech é desafiadora em escala nacional, uma vez que deve ser mantida em baixa temperatura até momentos antes de ser aplicada. 

Israelensesrecebem a vacina contra covid-19 em um ginário na cidade de Hod Hasharon, na região central de Israel Foto: Jack Guez/AFP
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O Serviço de Saúde Maccabi anunciou nesta quinta que, de 416.900 pessoas vacinadas, apenas 254 tiveram covid-19 após a segunda dose. Além disso, todos os casos foram de baixa intensidade. Ao comparar esses dados, os pesquisadores estimaram que a vacina tenha eficácia de 91%. 

“Os dados continuam a ser bastante encorajadores e a alta eficácia da vacina foi mantida e permanece estável”, disse o diretor da divisão de Dados e Saúde Digital do Maccabi, Anat Ekka-Zohar. 

Os resultados são notáveis, dizem especialistas, porque Israel está lidando com uma nova cepa do coronavírus que preocupa autoridades. A variante B.1.1.7, hoje é responsável por mais de 80% dos testes no país.

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Identificado pela primeira vez no Reino Unido, em dezembro, essa mutação já se espalhou por outros 72 países e pode ser até 50% mais transmissível que outras variantes. 

Israel lidera o mundo em termos de vacinação dos cidadãos. Até agora, mais de um terço da população de mais de nove milhões recebeu a primeira dose, e cerca de dois milhões de pessoas receberam a segunda. 

O primeiro público-alvo foram cidadãos com mais de 60 anos, grupo que representa 95% das mais de 5 mil mortes por covid-19 em Israel. Segundo o Ministério da Saúde israelense, 84% desse grupo foi vacinado. 

Relativamente pequeno e com um sistema de saúde altamente digitalizado e universal, Israel se tornou um laboratório atrativo para a Pfizer. Como resultado, o país fez um acordo com a farmacêutica, oferecendo dados em troca de um suprimento estável de vacinas. 

Apesar dos bons resultados, Israel permanece vulnerável. Após queda no número de novos casos em janeiro, a média de infectados está subindo novamente. A taxa de contágio da variante B.1.1.7 pode ser um dos motivos, assim como a baixa adesão do último lockdown em relação aos anteriores. E alguns palestinos nos territórios ocupado ainda aguardam as vacinas, o que tornas eles e os israelenses menos protegidos contra novos surtos. 

Não há como prever o que ocorreria se uma variante mais perigosa começasse a se espalhar em Israel. Uma mutação identificada na África do Sul não só é mais contagiosa, como possivelmente pode ser mais resistente a vacinas

Pessoas esperam pela vacina contra o coronavírus em um ginásio na cidadeNetivot, em Israel, nesta quinta, 4; procura pela vacina caiu na última semana Foto: REUTERS/Amir Cohen

Ao mesmo tempo, o programa de vacinação israelense parece ter chegado a um nó pois os números de novos vacinados caiu dramaticamente na última semana, sugerindo que o entusiasmo inicial pode estar minguando. A desaceleração deixou alguns centros de vacinação desertos. 

A campanha de vacinação encontra resitência entre alguns grupo, particularmente os judeus ultraortodoxos e cidadãos árabes, duas comunidades que atingidas fortemente pelo vírus. 

O governo e redes de saúde estão lançando novos esforços para trazer mais pessoas à vacinação. O sistema de saúde em Israel disponibilizou a vacina para qualquer pessoas com 16 anos ou mais nesta semana. Especialistas nas equipes do governo recomendam deixar apenas professores vacinados voltarem às salas de aula. 

Um incentivo adicional, uma vez que as restrições do lockdown sejam amenizadas, será a recomendação de limitar o acesso a eventos culturais e religiosas àqueles que já tenham completado a vacinação, tenham se recuperado da covid-19 ou tenham algum teste negativo recente. 

Hagai Levine, epidemiologista da Universidade Hebraica Hadassah em Jerusalém, alertou que pesquisadores observaram apenas tendências gerais no país, em vez de acompanhar individualmente pessoas vacinadas. 

Como resultado, o estudo levanta uma série de perguntas que não são respondidas. Não está claro, por exemplo, porque os pesquisadores só observaram um declínio em número de casos, doenças severas e hospitalização três semanas após o início da campanha. No estudo clínico, pesquisadores viram os primeiros resultados cerca de 10 dias após a primeira dose. 

É possível que o impacto tenha sido mais lento em Israel porque a campanha de vacinação foi direcionada primeiro aos mais velhos, cujo sistema imunológico pode levar mais tempo para criar anticorpos. 

“A mensagem para o mundo é de que, mesmo que você vacine numa velocidade insana como Israel, é preciso ter paciência”, disse Hagai Rossman, coautor do estudo de Weizmann. “Não há varinha mágica.”

Outros países podem não ter os mesmos resultados que Israel registrou. Manter a vacina resfriada – ela deve ser armazenada -60ºC para manter a eficácia – durante o transporte pode ser difícil em alguns locais. 

Ainda assim, o Dr. Hanage diz que outros países devem se inspirar nos resultados israelenses e vê-los como incentivo para vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível. 

“Eu realmente acho que os resultados recentes devem ser bastante reconfortantes”, ele disse. “De forma geral, acho que são boas notícias.”

JERUSALEM – Em um teste de grandes proporções para o combate à pandemia do coronavírus, a vacinação em Israel mostrou que um programa robusto de imunização pode ter um impacto rápido e poderoso. 

Os casos de covid-19 e hospitalizações caíram dramaticamente entre pessoas que foram vacinadas dentro de poucas semanas, segundo novos estudos em Israel. O ritmo rápido de vacinação fez do país uma espécie de laboratório para o mundo. Dados preliminares sugerem que as vacinas funcionam, na prática, da mesma forma que ocorreu nos testes clínicos. 

“Dizemos, com cautela, que a mágica começou”, escreveu no Twitter o biólogo Eran Segal, doInstituto Weizmann de Ciência, coautor de um novo estudo sobre o impacto da vacina em Israel. As boas notícias sobre a vacinação dificilmente significam um passeio sem obstáculos até o futuro pós-pandêmico. 

Uma profissional de saúde palestina é vacinada em Hebron, na Cisjordânia, com vacinas fornecidas por Israel Foto: Hazem Bader/AFP

Enquanto o mundo corre para barrar o vírus antes que mutações mais perigosas se espalhem, a escassez de vacinas deve impedir outros países de replicarem o sucesso de Israel, o mesmo de impedir o surgimento de novas variantes. 

Até Israel, que superou o ritmo de vacinação em outros países, está longe da linha de chegada. O país prorrogou seu terceiro lockdown de abrangência nacional nesta quinta-feira, 4. Ainda assim, pesquisadores têm esperança na capacidade da vacina em desacelerar os casos entre israelenses vacinados. 

“Acho bastante persuasivo que estamos vendo efeitos reais de vacinação na população”, disse o epidemiologista William Hanage, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, que não participou do estudo israelense. 

Um número crescente de vacinas têm demonstrado eficácia contra a covid-19 e protegem especialmente contra casos graves. Alguns testes sugerem que as vacians podem ter o potencial de retardar a transmissão do vírus. 

O novo estudo israelense analisou estatísticas de saúde para pessoas de 60 anos ou mais, que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech porque pertenciam a grupo de risco. Com os dados de seis semanas de campanha, quando a maioria das pessoas nessa idade já havia sido vacinada, o estudo estimou que o número de novos casos de covid-19 caiu 41% em relação a três semanas antes. 

Esse grupo também teve uma queda de 31% nas hospitaçizações devido ao coronavírus, e de 24% nos pacientes que tiveram casos críticos da doença. 

Parte da importância do estudo está no fato de que os autores conseguiram isolar outros fatores, inclusive o lockdown, que também reduz o número de infecções. Os pesquisadores dizem que, mesmo levando essas circunstâncias em consideração, as vacinas tiveram um impacto considerável. 

Novos dados, divulgados na quinta-feira, 4, por uma das maiores redes de saúde em Israel, sugerem que a proteção da vacina na prática pode ser tão boa quanto o que foi identificado nos teste clínicos. 

A vacina teve eficácia de 95% nos testes. Pesquisadores alertaram em novembro que esses números poderiam ser menor com a vacinação no mundo real. Isso porque os voluntários que fizeram os testes podem não representar a população como um todo, por exemplo. A administração da vacina Pfizer-BioNTech é desafiadora em escala nacional, uma vez que deve ser mantida em baixa temperatura até momentos antes de ser aplicada. 

Israelensesrecebem a vacina contra covid-19 em um ginário na cidade de Hod Hasharon, na região central de Israel Foto: Jack Guez/AFP

O Serviço de Saúde Maccabi anunciou nesta quinta que, de 416.900 pessoas vacinadas, apenas 254 tiveram covid-19 após a segunda dose. Além disso, todos os casos foram de baixa intensidade. Ao comparar esses dados, os pesquisadores estimaram que a vacina tenha eficácia de 91%. 

“Os dados continuam a ser bastante encorajadores e a alta eficácia da vacina foi mantida e permanece estável”, disse o diretor da divisão de Dados e Saúde Digital do Maccabi, Anat Ekka-Zohar. 

Os resultados são notáveis, dizem especialistas, porque Israel está lidando com uma nova cepa do coronavírus que preocupa autoridades. A variante B.1.1.7, hoje é responsável por mais de 80% dos testes no país.

Identificado pela primeira vez no Reino Unido, em dezembro, essa mutação já se espalhou por outros 72 países e pode ser até 50% mais transmissível que outras variantes. 

Israel lidera o mundo em termos de vacinação dos cidadãos. Até agora, mais de um terço da população de mais de nove milhões recebeu a primeira dose, e cerca de dois milhões de pessoas receberam a segunda. 

O primeiro público-alvo foram cidadãos com mais de 60 anos, grupo que representa 95% das mais de 5 mil mortes por covid-19 em Israel. Segundo o Ministério da Saúde israelense, 84% desse grupo foi vacinado. 

Relativamente pequeno e com um sistema de saúde altamente digitalizado e universal, Israel se tornou um laboratório atrativo para a Pfizer. Como resultado, o país fez um acordo com a farmacêutica, oferecendo dados em troca de um suprimento estável de vacinas. 

Apesar dos bons resultados, Israel permanece vulnerável. Após queda no número de novos casos em janeiro, a média de infectados está subindo novamente. A taxa de contágio da variante B.1.1.7 pode ser um dos motivos, assim como a baixa adesão do último lockdown em relação aos anteriores. E alguns palestinos nos territórios ocupado ainda aguardam as vacinas, o que tornas eles e os israelenses menos protegidos contra novos surtos. 

Não há como prever o que ocorreria se uma variante mais perigosa começasse a se espalhar em Israel. Uma mutação identificada na África do Sul não só é mais contagiosa, como possivelmente pode ser mais resistente a vacinas

Pessoas esperam pela vacina contra o coronavírus em um ginásio na cidadeNetivot, em Israel, nesta quinta, 4; procura pela vacina caiu na última semana Foto: REUTERS/Amir Cohen

Ao mesmo tempo, o programa de vacinação israelense parece ter chegado a um nó pois os números de novos vacinados caiu dramaticamente na última semana, sugerindo que o entusiasmo inicial pode estar minguando. A desaceleração deixou alguns centros de vacinação desertos. 

A campanha de vacinação encontra resitência entre alguns grupo, particularmente os judeus ultraortodoxos e cidadãos árabes, duas comunidades que atingidas fortemente pelo vírus. 

O governo e redes de saúde estão lançando novos esforços para trazer mais pessoas à vacinação. O sistema de saúde em Israel disponibilizou a vacina para qualquer pessoas com 16 anos ou mais nesta semana. Especialistas nas equipes do governo recomendam deixar apenas professores vacinados voltarem às salas de aula. 

Um incentivo adicional, uma vez que as restrições do lockdown sejam amenizadas, será a recomendação de limitar o acesso a eventos culturais e religiosas àqueles que já tenham completado a vacinação, tenham se recuperado da covid-19 ou tenham algum teste negativo recente. 

Hagai Levine, epidemiologista da Universidade Hebraica Hadassah em Jerusalém, alertou que pesquisadores observaram apenas tendências gerais no país, em vez de acompanhar individualmente pessoas vacinadas. 

Como resultado, o estudo levanta uma série de perguntas que não são respondidas. Não está claro, por exemplo, porque os pesquisadores só observaram um declínio em número de casos, doenças severas e hospitalização três semanas após o início da campanha. No estudo clínico, pesquisadores viram os primeiros resultados cerca de 10 dias após a primeira dose. 

É possível que o impacto tenha sido mais lento em Israel porque a campanha de vacinação foi direcionada primeiro aos mais velhos, cujo sistema imunológico pode levar mais tempo para criar anticorpos. 

“A mensagem para o mundo é de que, mesmo que você vacine numa velocidade insana como Israel, é preciso ter paciência”, disse Hagai Rossman, coautor do estudo de Weizmann. “Não há varinha mágica.”

Outros países podem não ter os mesmos resultados que Israel registrou. Manter a vacina resfriada – ela deve ser armazenada -60ºC para manter a eficácia – durante o transporte pode ser difícil em alguns locais. 

Ainda assim, o Dr. Hanage diz que outros países devem se inspirar nos resultados israelenses e vê-los como incentivo para vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível. 

“Eu realmente acho que os resultados recentes devem ser bastante reconfortantes”, ele disse. “De forma geral, acho que são boas notícias.”

JERUSALEM – Em um teste de grandes proporções para o combate à pandemia do coronavírus, a vacinação em Israel mostrou que um programa robusto de imunização pode ter um impacto rápido e poderoso. 

Os casos de covid-19 e hospitalizações caíram dramaticamente entre pessoas que foram vacinadas dentro de poucas semanas, segundo novos estudos em Israel. O ritmo rápido de vacinação fez do país uma espécie de laboratório para o mundo. Dados preliminares sugerem que as vacinas funcionam, na prática, da mesma forma que ocorreu nos testes clínicos. 

“Dizemos, com cautela, que a mágica começou”, escreveu no Twitter o biólogo Eran Segal, doInstituto Weizmann de Ciência, coautor de um novo estudo sobre o impacto da vacina em Israel. As boas notícias sobre a vacinação dificilmente significam um passeio sem obstáculos até o futuro pós-pandêmico. 

Uma profissional de saúde palestina é vacinada em Hebron, na Cisjordânia, com vacinas fornecidas por Israel Foto: Hazem Bader/AFP

Enquanto o mundo corre para barrar o vírus antes que mutações mais perigosas se espalhem, a escassez de vacinas deve impedir outros países de replicarem o sucesso de Israel, o mesmo de impedir o surgimento de novas variantes. 

Até Israel, que superou o ritmo de vacinação em outros países, está longe da linha de chegada. O país prorrogou seu terceiro lockdown de abrangência nacional nesta quinta-feira, 4. Ainda assim, pesquisadores têm esperança na capacidade da vacina em desacelerar os casos entre israelenses vacinados. 

“Acho bastante persuasivo que estamos vendo efeitos reais de vacinação na população”, disse o epidemiologista William Hanage, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, que não participou do estudo israelense. 

Um número crescente de vacinas têm demonstrado eficácia contra a covid-19 e protegem especialmente contra casos graves. Alguns testes sugerem que as vacians podem ter o potencial de retardar a transmissão do vírus. 

O novo estudo israelense analisou estatísticas de saúde para pessoas de 60 anos ou mais, que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech porque pertenciam a grupo de risco. Com os dados de seis semanas de campanha, quando a maioria das pessoas nessa idade já havia sido vacinada, o estudo estimou que o número de novos casos de covid-19 caiu 41% em relação a três semanas antes. 

Esse grupo também teve uma queda de 31% nas hospitaçizações devido ao coronavírus, e de 24% nos pacientes que tiveram casos críticos da doença. 

Parte da importância do estudo está no fato de que os autores conseguiram isolar outros fatores, inclusive o lockdown, que também reduz o número de infecções. Os pesquisadores dizem que, mesmo levando essas circunstâncias em consideração, as vacinas tiveram um impacto considerável. 

Novos dados, divulgados na quinta-feira, 4, por uma das maiores redes de saúde em Israel, sugerem que a proteção da vacina na prática pode ser tão boa quanto o que foi identificado nos teste clínicos. 

A vacina teve eficácia de 95% nos testes. Pesquisadores alertaram em novembro que esses números poderiam ser menor com a vacinação no mundo real. Isso porque os voluntários que fizeram os testes podem não representar a população como um todo, por exemplo. A administração da vacina Pfizer-BioNTech é desafiadora em escala nacional, uma vez que deve ser mantida em baixa temperatura até momentos antes de ser aplicada. 

Israelensesrecebem a vacina contra covid-19 em um ginário na cidade de Hod Hasharon, na região central de Israel Foto: Jack Guez/AFP

O Serviço de Saúde Maccabi anunciou nesta quinta que, de 416.900 pessoas vacinadas, apenas 254 tiveram covid-19 após a segunda dose. Além disso, todos os casos foram de baixa intensidade. Ao comparar esses dados, os pesquisadores estimaram que a vacina tenha eficácia de 91%. 

“Os dados continuam a ser bastante encorajadores e a alta eficácia da vacina foi mantida e permanece estável”, disse o diretor da divisão de Dados e Saúde Digital do Maccabi, Anat Ekka-Zohar. 

Os resultados são notáveis, dizem especialistas, porque Israel está lidando com uma nova cepa do coronavírus que preocupa autoridades. A variante B.1.1.7, hoje é responsável por mais de 80% dos testes no país.

Identificado pela primeira vez no Reino Unido, em dezembro, essa mutação já se espalhou por outros 72 países e pode ser até 50% mais transmissível que outras variantes. 

Israel lidera o mundo em termos de vacinação dos cidadãos. Até agora, mais de um terço da população de mais de nove milhões recebeu a primeira dose, e cerca de dois milhões de pessoas receberam a segunda. 

O primeiro público-alvo foram cidadãos com mais de 60 anos, grupo que representa 95% das mais de 5 mil mortes por covid-19 em Israel. Segundo o Ministério da Saúde israelense, 84% desse grupo foi vacinado. 

Relativamente pequeno e com um sistema de saúde altamente digitalizado e universal, Israel se tornou um laboratório atrativo para a Pfizer. Como resultado, o país fez um acordo com a farmacêutica, oferecendo dados em troca de um suprimento estável de vacinas. 

Apesar dos bons resultados, Israel permanece vulnerável. Após queda no número de novos casos em janeiro, a média de infectados está subindo novamente. A taxa de contágio da variante B.1.1.7 pode ser um dos motivos, assim como a baixa adesão do último lockdown em relação aos anteriores. E alguns palestinos nos territórios ocupado ainda aguardam as vacinas, o que tornas eles e os israelenses menos protegidos contra novos surtos. 

Não há como prever o que ocorreria se uma variante mais perigosa começasse a se espalhar em Israel. Uma mutação identificada na África do Sul não só é mais contagiosa, como possivelmente pode ser mais resistente a vacinas

Pessoas esperam pela vacina contra o coronavírus em um ginásio na cidadeNetivot, em Israel, nesta quinta, 4; procura pela vacina caiu na última semana Foto: REUTERS/Amir Cohen

Ao mesmo tempo, o programa de vacinação israelense parece ter chegado a um nó pois os números de novos vacinados caiu dramaticamente na última semana, sugerindo que o entusiasmo inicial pode estar minguando. A desaceleração deixou alguns centros de vacinação desertos. 

A campanha de vacinação encontra resitência entre alguns grupo, particularmente os judeus ultraortodoxos e cidadãos árabes, duas comunidades que atingidas fortemente pelo vírus. 

O governo e redes de saúde estão lançando novos esforços para trazer mais pessoas à vacinação. O sistema de saúde em Israel disponibilizou a vacina para qualquer pessoas com 16 anos ou mais nesta semana. Especialistas nas equipes do governo recomendam deixar apenas professores vacinados voltarem às salas de aula. 

Um incentivo adicional, uma vez que as restrições do lockdown sejam amenizadas, será a recomendação de limitar o acesso a eventos culturais e religiosas àqueles que já tenham completado a vacinação, tenham se recuperado da covid-19 ou tenham algum teste negativo recente. 

Hagai Levine, epidemiologista da Universidade Hebraica Hadassah em Jerusalém, alertou que pesquisadores observaram apenas tendências gerais no país, em vez de acompanhar individualmente pessoas vacinadas. 

Como resultado, o estudo levanta uma série de perguntas que não são respondidas. Não está claro, por exemplo, porque os pesquisadores só observaram um declínio em número de casos, doenças severas e hospitalização três semanas após o início da campanha. No estudo clínico, pesquisadores viram os primeiros resultados cerca de 10 dias após a primeira dose. 

É possível que o impacto tenha sido mais lento em Israel porque a campanha de vacinação foi direcionada primeiro aos mais velhos, cujo sistema imunológico pode levar mais tempo para criar anticorpos. 

“A mensagem para o mundo é de que, mesmo que você vacine numa velocidade insana como Israel, é preciso ter paciência”, disse Hagai Rossman, coautor do estudo de Weizmann. “Não há varinha mágica.”

Outros países podem não ter os mesmos resultados que Israel registrou. Manter a vacina resfriada – ela deve ser armazenada -60ºC para manter a eficácia – durante o transporte pode ser difícil em alguns locais. 

Ainda assim, o Dr. Hanage diz que outros países devem se inspirar nos resultados israelenses e vê-los como incentivo para vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível. 

“Eu realmente acho que os resultados recentes devem ser bastante reconfortantes”, ele disse. “De forma geral, acho que são boas notícias.”

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