LONDRES - A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, não tem a confiança de seu próprio partido, e muito menos do país. Desde que assumiu o cargo em 6 de setembro, seu grande plano financeiro afundou a economia britânica, ela viu sua aprovação nas pesquisas despencar para níveis históricos e nesta quarta-feira, 19, viu a queda de sua secretária do Interior. O momento, porém, é delicado para o Partido Conservador, que não tem muitas formas de retirar uma premiê recém-empossada e muito menos opções para substituí-la.
Não há boas opções. A questão é se elas são piores para o partido do que manter Truss no poder. Independente do que acontecer, constituirá um importante ponto de inflexão para os conservadores, um partido que já foi liderado liderado por nomes como Margaret Thatcher e Winston Churchill.
Os conservadores lideram o governo desde 2010. Apesar do impacto da saída do Reino Unido da União Europeia, o então primeiro-ministro Boris Johnson conquistou a maioria do partido em 2019. Porém, seu governo desmoronou em meio a uma série de escândalos, culminando na sua renúncia no mês passado. O partido escolheu Truss após uma prolongada disputa de liderança, mas seu curto período no cargo não trouxe a estabilidade que seus apoiadores buscavam. Quais são as opções do partido?
Renúncia
De acordo com as regras atuais, o Reino Unido deve realizar sua próxima eleição geral até janeiro de 2025. Mas os conservadores estão profundamente impopulares, com algumas previsões mostrando que o partido poderia ser quase aniquilado se uma eleição fosse realizada hoje. Substituir Truss seria a opção mais lógica, e o caminho mais óbvio para ela seria renunciar.
Todos os três antecessores de Truss - David Cameron, Theresa May e Johnson - renunciaram sob pressão de seu partido. “Seria como se a liderança de Truss nunca tivesse acontecido”, disse Jon Tonge, professor de política da Universidade de Liverpool. “Uma solução tão elegante, quando você tem tantas pessoas com ambições grandes dentro do partido, pode ser difícil.”
A questão é se Truss renunciaria. Nesta quarta-feira, 19, durante as a sessão de perguntas à premiê, uma tradição política em que o primeiro-ministro responde a questionamentos de membros do Parlamento, ela se declarou “uma lutadora, não uma desistente”. Porém, isso não significa que ela não faria uma reversão na rota. Johnson, que também negou constantemente deixar o cargo, renunciou apenas depois que dezenas de membros de seu governo se demitiram.
Algumas pesquisas sugerem que a maioria dos membros do Partido Conservador agora quer que ela renuncie. Isso é crucial porque, sob as regras atuais, os membros do Partido Conservador acabariam escolhendo seu sucessor.
Mas aqui é onde as coisas ficam complicadas. Embora os membros conservadores do Parlamento possam selecionar os candidatos, os árbitros finais são os mais de 170.000 membros do partido que pagam a filiação.
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Muitas vezes, esses membros estão fora de sintonia não apenas com seus próprios políticos eleitos, mas também com o público em geral. Uma pesquisa sugere que os membros do partido querem que Johnson retorne ao cargo de primeiro-ministro, um cenário que pode prejudicar ainda mais o Partido Conservador nas eleições.
Outra opção seria recorrer ao líder do comitê conservador de 1922. Se pelo menos metade dos parlamentares do partido quiserem a saída de Truss, o que já parece ser o caso, eles podem escrever para o líder do comitê, Graham Brady, que seria obrigado a informar a primeira-ministra que ela perdeu seu parlamento. Cartas também poderiam ser enviadas para outros membros seniores do comitê, o que tornaria insustentável para Truss se manter no poder.
Rasgar as regras
Dentro da elite do partido, alguns esperam uma chapa de Rishi Sunak e Penny Mordaunt, dois líderes que podem ser mais palatáveis entre o eleitorado mais amplo.
Mas se Truss não quiser sair, o que pode ser feito? Sob as regras estabelecidas pelo comitê conservador de 1922, Truss está imune a um voto de desconfiança em seu primeiro ano de liderança. Uma possível resposta neste caso seria rasgar as regras.
Pode parecer uma rebeldia, mas Michael Gove, um membro conservador do Parlamento, sugeriu um “conclave papal” da elite do partido no qual o alto escalão discute o próximo líder em particular. Tonge disse que não havia consenso sobre quais poderiam ser as mudanças nas regras, no entanto.
“Fala-se em cortar os membros do Partido Conservador, mas uma das poucas razões para ser membro do Partido Conservador é ter um voto na disputa pela liderança, para que isso não seja subestimado”, disse ele. “Você alienaria os membros do Partido Conservador que já estão bastante irritados, francamente.”
Eleições gerais
Se os conservadores forçarem a saída de Truss, o partido enfrentará uma forte crítica: isso não é democrático.
Uma eleição reprimiria essas críticas. Truss poderia convocar uma ela mesma, ou, enfrentando um voto de desconfiança apresentado pelo Partido Trabalhista de oposição, os parlamentares conservadores poderiam ficar do lado da oposição para forçar sua saída. Se Truss perdesse um voto de desconfiança, ela deveria renunciar ou pedir ao rei Charles III para dissolver o Parlamento e convocar eleições gerais.
Alternativamente, se Truss fosse retirada e nenhum sucessor pudesse ser encontrado, uma eleição seria forçada por causa das normas constitucionais.
É improvável que Truss ganhe uma eleição. Uma pesquisa apontou que apenas 1 em cada 10 eleitores tinha uma opinião favorável sobre ela. Outra sugere que pelo menos 10 membros do governo britânico perderiam seus assentos no Parlamento em uma eleição realizada hoje, com uma vitória histórica para os trabalhistas.
Também não está claro se um sucessor poderia fazer muito melhor. Truss é impopular, mas o líder trabalhista Keir Starmer é “consideravelmente menos impopular” do que todos os seus rivais conservadores, incluindo Sunak e Mordaunt, de acordo com outra pesquisa./W.POST