TEERÃ - Israel disparou mísseis em pontos específicos do centro do Irã menos de uma semana depois de Teerã lançar um ataque sem precedentes de mísseis e drones em direção ao território israelense.
Não ficou clara a extensão dos danos causados pelo ataque, aparentemente limitado a instalações militares e de pesquisa nuclear. Autoridades militares israelenses ouvidas por veículos americanos disseram que a intenção era sinalizar ao Irã que Israel tinha capacidade para atacar dentro do país. Segundo essas autoridades, que falaram em condição de anonimato, o ataque foi “cuidadosamente calibrado”.
As explosões foram ouvidas na manhã de sexta (pelo horário local), dia 19 de abril, quando o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, completa 85 anos, e aconteceram em Isfahan, na região central do país. Apesar da tensão, o impacto parece ter sido limitado, sem maiores estragos. “Os relatórios indicam que não houve grandes danos nem explosões extensas causadas pelo impacto de uma ameaça aérea”, afirmou a agência Irna. Ainda de acordo com a imprensa iraniana, as instalações nucleares de Isfahan estão “completamente seguras”.
Terceira cidade mais importante do Irã, Isfahan é estrategicamente importante para o país, abrigando vários locais associados ao seu programa nuclear e centros de pesquisa e desenvolvimento militar e bases militares. De acordo com o jornal iraniano Tasnim, as instalações nucleares estão “completamente seguras”, informaram citando uma “fonte confiável”.
Em meio à tensão, os voos para Isfahan, Teerã e Shiraz foram suspensos, segundo informações da estatal iraniana Mehr TV. Ainda de acordo com a imprensa local, os sistemas de defesa aérea foram ativados em várias cidades do país e moradores relataram ter ouvido as sirenes.
Do lado israelense. o Exército acionou as sirenes de alerta no norte do país, na fronteira com o Líbano, após relatos de explosões no Irã e na Síria, mas disseram não ter “nada a comentar”.
Segundo o porta-voz da agência espacial iraniana, Hossein Dalirian, vários drones “foram abatidos com sucesso pela defesa aérea do país, e não há relatos de um ataque com mísseis por enquanto”, postou no X (antigo Twitter).
As autoridades iranianas disseram que os drones foram lançados possivelmente de dentro do Irã, e que seus sistemas de radar não detectaram aeronaves não identificadas entrando no espaço aéreo iraniano. E confirmaram que um grupo separado de pequenos drones foi abatido na região de Tabriz, cerca de 500 quilômetros ao norte de Isfahan.
Agências de notícias iranianas informaram que explosões foram ouvidas perto de ambas as cidades, acrescentando que instalações nucleares em Isfahan não foram atingidas.
Sites de rastreamento de voos mostraram que aviões civis chegaram a desviar suas rotas para longe da área, e veículos de notícias iranianos informaram que vários aeroportos haviam sido fechados. Mas em poucas horas a TV estatal iraniana transmitiu imagens da retomada da vida normal em Isfahã, e a agência de aviação do Irã disse que estava suspendendo as restrições de voo.
Tensão no Oriente Médio
A retaliação de Israel ocorre em um momento de máxima tensão no Oriente Médio, com receios de uma escalada regional da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, que já passa dos seis meses.
O governo do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu já havia afirmado que conduziria uma resposta militar ao Irã após os ataques realizados no fim de semana, quando o Teerã lançou um ataque sem precedentes a Israel, com mais de 300 drones e mísseis (quase todos interceptados no ar).
O ataque lançado pelo Irã foi em retaliação após um um bombardeio atribuído a Israel ao complexo de sua embaixada na Síria, no início do mês. Na ocasião, pelo menos 16 pessoas morreram, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária iraniana, entre os quais dois comandantes.
De acordo com a AFP, os Estados Unidos receberam aviso prévio do ataque de Israel ao Irã, mas não endossaram a operação nem tiveram qualquer participação em sua execução, informaram autoridades americanas citadas pela mídia do país.
As redes de televisão NBC e CNN, citando fontes familiarizadas com o assunto e um oficial americano, respectivamente, disseram que Israel havia fornecido a Washington um aviso prévio do ataque.
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Sanções
O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, vinha pressionando Netanyahu a não retaliar para não arriscar a escalada de um conflito mais amplo na região. Por outro lado, os EUA anunciaram na quinta-feira, 18, novas sanções contra o programa de drones do Irã com o objetivo de reduzir a capacidade do país de produzir os veículos não tripulados.
As sanções também tentarão impedir as exportações da indústria do aço do Irã, que geram bilhões de dólares ao país. “Que fique claro para todos aqueles que permitem ou apoiam os ataques do Irã: os Estados Unidos estão comprometidos com a segurança de Israel. Estamos comprometidos com a segurança de nosso pessoal e dos nossos parceiros na região. E não hesitaremos em tomar todas as medidas necessárias para responsabilizá-los”, declarou Biden no anúncio das sanções.
Em comunicado, o governo britânico indicou que vai sancionar “várias organizações militares, indivíduos e entidades envolvidas na indústria de drones e mísseis iranianos”.
As sanções dos EUA visam a executivos de um fabricante de motores que fornece peças para a produção dos drones Shahad-131 do Irã, usados no ataque a Israel, além de empresas que prestam serviços para motores e de indivíduos associados ao fornecimento dos drones a grupos aliados a Teerã. Previamente ao anúncio americano e britânico, o bloco europeu afirmou em comunicado que “tomará medidas restritivas adicionais contra o Irã, especialmente em relação a veículos aéreos não tripulados e mísseis”.
Não ficou claro, porém, como as medidas ocidentais poderão conter o país. Em outubro passado, o governo Biden anunciou sanções similares ao programa de drones iraniano, que autoridades disseram à época ter como objetivo frustrar a habilidade do país de produzir exatamente o tipo de armas usadas contra Israel.
Reações
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, que está presidindo uma reunião de seus colegas do G-7 na ilha de Capri, pediu uma “redução da escalada” após relatos do ataque.
”Pedimos a todos que tenham cautela e evitem uma escalada. O G-7 quer uma redução total da escalada em uma região sob grande tensão”, disse o ministro italiano à televisão pública RAI.
A ministra canadense das Relações Exteriores, Mélanie Joly, disse ter sido “informada sobre as explosões de ontem à noite no Irã” e afirmou que eles estavam “acompanhando a situação de perto”. ”Abordaremos a questão com os ministros das Relações Exteriores durante a sessão do G7″, escreveu ela na mídia social.
Omã, que há muito tempo desempenha um papel de mediador entre o Irã e as potências ocidentais, condenou na sexta-feira o “ataque israelense” à República Islâmica depois que a mídia local relatou explosões perto da cidade de Isfahan.
O Sultanato de Omã “condena o ataque israelense desta manhã em Isfahan (...) e as repetidas agressões militares de Israel na região”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Estado do Golfo em uma declaração publicada no site de rede social X.
Na véspera, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse a diplomatas britânicos e alemães que iria responder ao ataque iraniano contra o território israelense. O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, por sua vez, alertou que a “menor invasão” de Israel teria uma retaliação “maciça”.
A crise escala desde que a representação diplomática de Teerã em Damasco, na Síria, foi alvo do ataque que matou comandantes da Guarda Revolucionária Iraniana, no começo do mês. O Irã culpou Israel e retaliou com mais de 300 mísseis e drones no último fim de semana, elevando o risco de uma guerra aberta no Oriente Médio./Com NY Times, AFP e AP