LONDRES - Em seu último grande discurso como primeiro-ministra do Reino Unido, a conservadora Theresa May expressou nesta quarta-feira, 17, preocupação com a crescente polarização da sociedade britânica e instou a classe política a buscar uma saída comum sobre o controvertido processo da saída do país da União Europeia - o Brexit.
May entregará as chaves da residência oficial de Downing Street na próxima quarta-feira, 24, a Boris Johnson ou a Jeremy Hunt, os candidatos a sucedê-la como líder do Partido Conservador e no cargo de premiê. Nos últimos dias, o partido tem endurecido suas posições sobre o Brexit.
"Temos razões para estarmos seriamente preocupados, tanto em casa como lá fora, em substância e tom. Estou preocupada com o estado de política", disse May em um discurso no Instituto Real de Assuntos Internacionais - Chatam House, no centro de Londres.
O Partido Conservador anunciará na terça-feira, 23, o vencedor da disputa, na qual o ex-prefeito de Londres, Johnson, é apresentado como o claro favorito para obter a maioria dos votos dos 160 mil militantes "tories" chamados às urnas.
No dia seguinte, May participará de sua última sessão na Câmara dos Comuns antes de se dirigir ao Palácio de Buckingham para oferecer sua renúncia à rainha Elizabeth II. Em seguida, a monarca nomeará o próximo chefe do executivo.
Johnson e Hunt disseram nos últimos dias que a polêmica cláusula para se evitar uma fronteira com a Irlanda do Norte, uma das exigências da UE para aceitar uma saída negociada do Reino Unido do bloco da UE, está "morta".
O endurecimento da posição do partido mais uma vez gerou temores de que o próximo primeiro-ministro leve o país a uma ruptura abrupta, possibilidade que nenhum dos candidatos descartará.
Essa perspectiva atingiu a libra nos últimos dias, cujo valor oficial em relação ao euro hoje foi de € 1.1062 - seu nível mais baixo este ano -, mas em algumas casas de câmbio ele foi colocado abaixo de € 1.
May, que foi forçada a anunciar sua renúncia depois que o Parlamento derrubou o acordo de saída que ela havia alcançado com Bruxelas pela terceira vez, insistiu sobre a necessidade de o país estar preparado para "fazer concessões".
"Isso não significa abrir mão de seus valores e convicções", disse a chefe do governo, advertindo que o discurso político no Reino Unido caiu para o "ressentimento" e a "amargura tribal".
"As palavras têm conseqüências. E as palavras mal-intencionados, se não são questionadas, são o primeiro passo para irregularidades e para um lugar muito mais escuro, no qual o ódio e o preconceito conduzem não só o que as pessoas dizem, mas o que elas fazem".
Balanço
Ao fazer um balanço de seus três anos no governo britânico, May, de 62 anos,filha de um vigário da Igreja Anglicana, disse que seu maior arrependimento é o de não ter sido capaz de realizar o "Brexit".
"Alguns argumentam deveríamos ter retirado o Reino Unido da União Européia em 29 de março sem um acordo", disse May, que, no entanto, enfatizou seu compromisso em encontrar "um caminho sustentável de longo prazo" para o Reino Unido.
Após o discurso, um porta-voz de Downing Street ponderou que as críticas sobre a "falta de vontade" e de "compromisso" e "pragmatismo" da classe política britânica não eram dirigidas a nenhum dos seus possíveis sucessores, tampouco os comentários sobre o populismo se referiam a algum agente internacional em particular.
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Um tribunal de Londres decidiu convocar o ex-chanceler Boris Johnson, candidato favorito para substituir a primeira-ministra Theresa May, acusado de ter mentido deliberadamente durante a campanha do referendo de 2016 sobre o Brexit.
"A primeira-ministra obviamente teve a oportunidade de direcionar seu discurso a pessoas específicas e, muito notoriamente, decidiu não fazer isso", disse o porta-voz.
No Partido Trabalhista, o legislador David Lammy rotulou as palavras de May de "ocas", que em sua opinião tem promovido em Downing Street uma "agenda com retórica populista". / EFE