Na tarde deste sábado, véspera das eleições legislativas da Argentina, milhares de manifestantes foram à Praça de Maio, em Buenos Aires, para pedir justiça após a morte do ativista Santiago Maldonado e protestar contra o presidente Mauricio Macri.
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Gritos que costumam ressoar em marchas que recordam os desaparecidos da última ditadura argentina (1976-1983) foram usados para homenagear Maldonado. O caso do ativista, cujo corpo foi reconhecido na noite de sexta-feira, dominou as discussões políticas nos últimos dois meses e gerou comentários da ex-presidente Dilma Rousseff e do mandatário boliviano, Evo Morales.
Peritos envolvidos na autópsia afirmaram, na manhã deste sábado, 21, que não há sinais de lesões no cadáver e as análises prévias indicam que Maldonado morreu afogado. O jovem de 28 anos havia desaparecido no começo de agosto, durante um protesto organizado por índios mapuches por direito a terras no sul da Argentina. Seu corpo foi encontrado na última terça-feira em um rio na região da Patagônia.
Apesar da autópsia indicar morte por afogamento, grande parte dos argentinos acredita que Maldonado foi assassinado – índios que participaram do protesto em agosto afirmam que o jovem foi espancado e detido pela Gendarmería (polícia militar que responde ao Ministério de Segurança). Essa ligação entre a Gendarmería e o Poder Executivo fez com que argentinos responsabilizassem o presidente Macri pela morte.
O irmão de Maldonado, Sergio, publicou uma carta em que diz esperar que os “culpados paguem pelo que fizeram”. Na sexta, ele chamou o presidente de hipócrita, após Macri ter telefonado para a família.
O assunto repercutiu fora da Argentina e a ex-presidente Dilma Rousseff escreveu nas redes sociais que o caso “revolta o continente sul-americano, que não aceita o terrorismo de estado nem o ataque aos direitos humanos”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, também falou sobre a morte do argentino: “Que esse assassinato covarde e condenável seja esclarecido”.
No protesto deste sábado, os manifestantes, em grande parte integrantes de movimentos sociais e militantes de partidos de esquerda, pediam a renúncia da ministra de Segurança, Patricia Bullrich, e o fim da polícia militar. Prédios que circundam a Praça de Maio foram pichados com frases como “policiais assassinos” e “o Estado é o único assassino” e vitrines de lojas foram quebradas.O líder mapuche Facundo Jones Huala, que está preso por supostamente ter incendiado uma propriedade rural, afirmou para a rádio Rebelde que haverá vingança.
A argentina Barbara Ganier, de 39 anos, viajou de La Plata (60 quilômetros ao sul de Buenos Aires) para a capital para participar do protesto deste sábado na Praça de Maio. “Hoje tínhamos de sair para a rua para denunciar que os policiais mataram Maldonado”, afirmou. Ela disse acreditar que o PRO (partido de Mauricio Macri) poderá perder votos nas eleições de amanhã por causa da morte do ativista.
Barbara votará em Cristina Kirchner. A ex-presidente concorre a uma cadeira no Senado pela Província de Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado do país. As eleições de amanhã, que renovarão metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, são vistas como um teste de popularidade para Cristina e Macri, que fez campanha pelo candidato Esteban Bullrich, seu ex-ministro de Educação.
Caso Cristina seja a mais votada na província, ganhará força para as eleições presidenciais de 2019. Se Bullrich vencer, porém, Macri começa a próxima corrida presidencial um passo a frente de sua rival.