Um tribunal do Reino Unido condenou, nesta segunda-feira, 21, à prisão perpétua sem chance de libertação uma ex-enfermeira neonatal que matou sete bebês sob seus cuidados e tentou matar outros seis em um hospital no norte da Inglaterra. O caso provocou grande comoção no Reino Unido.
Lucy Letby, de 33 anos, se recusou a comparecer ao tribunal para enfrentar os pais enlutados e alegou inocência durante o longo julgamento, que começou em outubro de 2022. A mulher foi condenada à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, uma pena incomum na legislação inglesa e a sentença mais severa possível sob a lei britânica.
O juiz James Goss disse que o número de assassinatos e tentativas e a natureza dos assassinatos cometidos por uma enfermeira neonatal encarregada de cuidar dos bebês mais frágeis forneciam as “circunstâncias excepcionais” necessárias para impor a chamada “ordem vitalícia”, que é excepcionalmente rara.
“Atuou de maneira completamente contrária aos instintos humanos normais, que são cuidar dos bebês, e em violação flagrante da confiança que todos os cidadãos depositam nos profissionais da saúde”, declarou Goss. Ele ainda destacou que a enfermeira “não tem remorso” e que houve “uma malevolência que beira o sadismo” em sua ação.
Letby trabalhava na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Countess of Chester, noroeste da Inglaterra, onde aconteceram os assassinatos, entre junho de 2015 e junho de 2016. A enfermeira foi acusada de injetar ar nos bebês por via intravenosa e com sondas nasogástricas, além de administrar doses excessivas de leite às vítimas.
Durante o processo, uma mãe explicou que, ao comparecer à UTI para levar leite para um de seus gêmeos prematuros em agosto de 2015, o ouviu gritar e percebeu que o bebê tinha sangue ao redor da boca. Letby a tranquilizou e recomendou que retornasse para o quarto.
De acordo com a acusação, a enfermeira tinha acabado de introduzir um utensílio médico até o fundo da garganta do bebê. Também havia injetado ar. A criança morreu poucas horas depois.
Letby atacava bebês depois que os pais saíam, quando a enfermeira-chefe estava ausente ou durante a noite, quando ela ficava sozinha. Em algumas ocasiões, ela participava nos esforços coletivos para salvar os recém-nascidos e, inclusive, apoiava os pais desesperados. Também escrevia cartas aos pais em luto.
Durante o julgamento de 10 meses de Letby, os promotores disseram que em 2015 o hospital começou a ver um aumento significativo no número de bebês que estavam morrendo ou sofrendo declínios repentinos em sua saúde sem motivo aparente. Alguns sofreram “sérios colapsos catastróficos”, mas sobreviveram após a ajuda da equipe médica. Letby foi finalmente removida das funções da linha de frente no final de junho de 2016 e foi presa em sua casa em julho de 2018.
Ausência de acusada provocou revolta
“Acho que nunca vamos superar o fato de que nossa filha foi torturada até que ela não tivesse mais resistência e tudo o que ela passou em sua curta vida foi deliberadamente feito por alguém que deveria protegê-la e ajudá-la a vir. casa onde ela pertencia”, disse a mãe de uma menina identificada como Criança I em um comunicado lido no tribunal.
A ausência de Letby, que é permitida nos tribunais britânicos durante a sentença, alimentou a raiva das famílias das vítimas, que queriam que ela ouvisse as declarações sobre a devastação causada por seus crimes. “Você pensou que era seu direito brincar de Deus com a vida de nossos filhos”, disse a mãe de gêmeos, um dos quais foi assassinado e o outro que Letby tentou matar, em declaração ao tribunal.
Políticos e defensores das vítimas pediram mudanças na lei para forçar os criminosos a comparecerem para serem sentenciados depois que vários condenados de alto perfil optaram por não enfrentar suas vítimas nos últimos meses.
O primeiro-ministro Rishi Sunak, que chamou os crimes de “chocantes e angustiantes”, disse que seu governo apresentará “oportunamente” seu plano de exigir que os condenados compareçam às suas sentenças.
“É covarde que pessoas que cometem crimes tão horrendos não enfrentem suas vítimas e não ouçam em primeira mão o impacto que seus crimes tiveram sobre elas, suas famílias e entes queridos”, disse Sunak./AFP e AP.