THE WASHINGTON POST - Dois dias depois de fugir para a Polônia por conta de uma guerra que devastou sua cidade, três gerações de mulheres Sinitsyna embarcaram em um trem de volta à Ucrânia na noite do sábado, 12.
Zhanna Sinitsyna, a avó, estava com medo de voltar para a casa em Mikolaiv, uma das cidades ucranianas sob forte bombardeio das forças russas. Mas as três não conseguiram encontrar um lugar para dormir na Polônia, e Zhanna não se sentia bem desde que partiu do seu país.
“Em minha alma, Mikolaiv é minha casa”, disse a mulher de 49 anos, enrolada em um xale azul para se aquecer enquanto esperava um trem atrasado de Kiev, do lado de fora da estação de trem de Przemysl, perto da fronteira entre Polônia e Ucrânia. “E eu preciso estar em casa.”
As Sinitsynas se juntariam aos 220 mil ucranianos que retornaram ao país nas últimas duas semanas, segundo o guarda de fronteira da Ucrânia. Na noite de sábado, elas eram três das mais de 100 pessoas, a maioria ucranianos, esperando na fila da estação para embarcar em um trem para Kiev.
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Um prédio no distrito de Obolon foi atacado por bombardeios nesta segunda-feira. Em Donetsk, 20 morreram em um ataque ucraniano.
Motivações
As razões para voltar à Ucrânia variam. Alguns estavam viajando para o exterior quando a guerra começou e estavam ansiosos para voltar. Outros moravam no exterior e queriam ser pagos mais uma vez antes de retornar à sua terra natal. Outros, depois de ouvir os apelos do presidente Volodmir Zelenski para que combatentes estrangeiros e ucranianos se alistassem, foram lutar.
Enquanto estavam na fila, as três mulheres ficaram surpresas com tantas pessoas que estavam indo direto para uma guerra brutal. As duas Sinitsynas mais novas – Nadiia, 30 anos, e sua filha de 12 anos, Kira – não queriam ir para casa.
Em sua viagem para fora da Ucrânia, a família viu explosões e ouviu tiros. Nadiia disse que temia pela segurança de Kira e esperava encontrar trabalho na cidade polonesa de Poznan, no oeste da Polônia, para poder enviar dinheiro para Mykolaiv.
Mas os únicos lugares livres para dormir eram longe da cidade, ou seja, longe de qualquer trabalho também. Todo o resto era muito caro.
Kira gostou de estar no exterior pela primeira vez em sua vida e tinha esperança de ficar mais alguns meses na Polônia. Mas Zhanna as convenceu a voltar.
Ainda assim, Zhanna tinha medo de voltar para casa, perto da segunda maior usina nuclear do país, após autoridades ucranianas alertarem que poderia se tornar um alvo russo. Mas seu filho de 19 anos e o marido ainda estavam lá, defendendo a cidade, e ela queria estar lá para apoiá-los como pudesse.
Outros casos
A professora Vira Lapchuk, de 52 anos, também fugiu após o início da guerra, quando sua escola interrompeu as aulas na cidade de Rivne, no oeste da Ucrânia. Seu filho na Polônia a convenceu de que era mais seguro ficar com ele, mesmo que a guerra ainda não tivesse chegado à sua cidade, então ela deixou o país.
Depois de pouco mais de uma semana longe de casa, ela percebeu que precisava voltar. “Não tenho medo”, disse Vira. Tremendo um pouco, ela disse que esperava voltar ao trabalho com seus alunos, que precisavam dela para trazer uma sensação de calma.
Até agora, ninguém que ela conhece foi morto ou ferido na guerra. Enquanto sua cidade permanece segura, ela disse sentir que é seu dever ajudar aqueles em perigo ou crianças que estão com medo.
De volta para lutar
Espalhados pela fila de maioria de mulheres e crianças, havia homens jovens e de meia-idade viajando sozinhos. Um carregava um mochilão nas costas. Outro se inclinou sobre o corrimão da escada para a estação, falando ao telefone. Um terceiro, Oleksii Zvieriev, usava uma roupa das crores da bandeira da Ucrânia, azul e amarelo, da cabeça aos pés, sapatos e chapéu.
Zvieriev é de Brovary, subúrbio de Kiev. No dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, ele estava trabalhando, dirigindo um caminhão pela Europa. Mas decidiu: voltaria e lutar assim que o trabalho estivesse concluído. Sábado foi esse dia.
“É difícil falar sobre as emoções de voltar a uma guerra”, disse Zvieriev. “Tenho amigos sentados em porões me dizendo que estão ouvindo explosões o tempo todo. Não consigo parar de me preocupar.”
Nos primeiros dias da guerra, ele soube que dois de seus amigos que se juntaram à luta foram mortos. Um tinha 25 anos. O outro tinha 40. Se seu caminhão, ele agonizou por não estar lá ajudando.
Acima de tudo ele se preocupa por não estar lá para apoiar sua família quando o mundo deles desmoronou. Zvieriev disse que mal podia esperar para voltar a se juntar à guarda nacional.
Enquanto o atraso do trem continuava, um bebê chorou de frio. Kira Sinitsyna apertou as mãos firmemente em torno de um chocolate quente. Um trabalhador humanitário começou a cantar e tocar violão.
Zhanna Sinitsyna, a avó de Kira, olhou para a fila, depois para as pessoas saindo do trem em que ela logo embarcaria. Eles pareciam exaustos. Ela também estava.
Eles haviam levado um dia para ir de Mykolaiv até a fronteira polonesa não muito tempo atrás. Ao entrar novamente na zona de guerra, ela se preocupa não apenas com sua própria família, mas também com as mães russas. Ela só quer que isso acabe.