A Rússia vive um momento de instabilidade neste sábado, 24, por conta da rebelião armada instigada pelo chefe do Grupo Wagner, Ievegni Prigozhin.
Generais russos acusaram o chefe do grupo mercenário de montar um golpe contra o presidente Vladimir Putin. Apesar das desavenças dos últimos meses, Prigozhin era aliado de Putin e foi importante na conquista da cidade de Bakhmut, na Ucrânia.
Durante a noite, houve relatos de movimentos militares em uma área do sul da Rússia perto da fronteira com a Ucrânia. Prigozhin chegou a afirmar ter o controle de partes do quartel-general do comando militar no sul da Rússia e disse que estava a caminho de Moscou, mas ordenou o fim da marcha horas depois, graças a uma negociação com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Putin.
Segundo declaração do gabinete de Lukashenko, um cessar-fogo foi mediado para que o chefe do Grupo Wagner negocie com o governo russo.
Em um discurso nacional antes do fim do motim ser anunciado, Putin chamou as ações das forças de Wagner de “uma facada nas costas de nosso país e de nosso povo” e prometeu “ações decisivas.
Não está claro o tamanho do território que o Grupo Wagner chegou a ocupar. Mas o motim representa a ameaça mais grave ao poder do presidente russo desde que ele chegou ao Kremlin, em 1999, e acontece no momento em que suas tropas lidam com uma contraofensiva da Ucrânia na guerra.
O que está acontecendo?
Prigozhin acusou nesta sexta-feira, 23, os militares russos de atacar os acampamentos de seus combatentes – uma informação que não pôde ser verificada de forma independente. E também descreveu a invasão da Ucrânia como uma “farsa” perpetrada por uma elite russa corrupta.
O líder do grupo mercenário afirmou que todo o seu batalhão estaria se preparando para uma ofensiva contra o ministério da Defesa da Rússia, embora tenha dito que não se tratava de um “golpe militar”.
Imagens de vídeo mostraram veículos blindados do exército russo na cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, perto da linha de frente da guerra na Ucrânia, onde os combatentes de Prigozhin estavam operando.
Vídeos que foram verificados pelo The New York Times mostraram dezenas de soldados saindo de veículos militares e apontando suas armas para o complexo que forma o posto de comando militar no sul da Rússia.
O governador da região de Rostov pediu aos moradores que ficassem em casa e garantiu que as autoridades estavam “fazendo todo o necessário” para manter a segurança. Na região de Voronezh, ao norte de Rostov, o governador local afirmou que um comboio de equipamentos militares se movia ao longo de uma rodovia local. Não estava claro em que direção ele estava se movendo.
Ao longo do sábado, governadores locais, membros do Kremlin e deputados russos declararam lealdade a Putin. Nenhuma figura proeminente declarou apoio ao chefe do grupo Wagner. Lukashenko, presidente de Belarus, disse mediar um cessar-fogo e a crise entre o grupo paramilitar e as Forças Armadas da Rússia diminuiu. Prigozhin anunciou o fim da marcha a Moscou e o retorno das suas tropas à Ucrânia.
Saiba mais sobre a rebelião armada na Rússia
Quem é Prigozhin?
O empresário e líder do Grupo Wagner faz parte da elite russa e do circulo de oligarcas que tem um forte vinculo com o presidente Vladimir Putin. Em 2018, ele foi um dos 13 russos indiciados por um júri federal nos Estados Unidos sob acusação de terem interferido nas eleições americanas de 2016.
O Grupo Wagner surgiu pela primeira vez durante a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Desde então, exerceu influência em nome de Moscou na Síria, Líbia, República Centro-Africana, Sudão, Mali e Moçambique.
Qual é a reclamação do Grupo Wagner
Nos últimos meses, Prigozhin lançou acusações contra a liderança militar da Rússia. Ele culpa os generais russos por não fornecerem munição suficiente às suas forças e por ignorarem as lutas dos soldados.
O Kremlin tentou botar panos quentes nos comentários do líder do Grupo Wagner por meses, mesmo quando alguns analistas disseram que Prigozhin estava alavancando a sua liderança política, possivelmente ameaçando o controle de Putin no poder.
Mas a paciência do oficial havia claramente evaporado na manhã de sábado, quando o procurador-geral do país anunciou que Prigozhin estava sendo investigado por acusações que acarretavam pena máxima de 20 anos de prisão.
Mais tarde, durante o discurso televisionado, Putin abordou a situação em Rostov-on-Don dizendo que “ações decisivas” seriam tomadas para estabilizar a região. Ele disse que o funcionamento de instituições militares e civis na cidade de um milhão de habitantes no sul da Rússia “foi essencialmente bloqueado”.
“Ações que dividem nossa unidade são, em essência, derrotismo perante o próprio povo”, disse Putin./NYT