Entenda a estratégia democrata de chamar Trump e os republicanos de ‘esquisitos e bizarros’


Os democratas finalmente responderam os republicanos, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Por Jessica Bennett

Durante anos, o movimento MAGA abordou a política da mesma forma que um valentão abordaria um pátio de escola, empregando rótulos tão desagradáveis que pareciam expressamente escolhidos para atrair o tipo de pessoa que enfiava nerds no armário no sexto ano da escola. E, durante anos, os democratas seguiram o mantra de responder por cima, e não por baixo, tentando ser os adultos na sala: defendendo-se com fatos, com contexto, com explicações sérias das quais ninguém se lembra (isso quando eles se defendem).

O problema é que seguir o caminho mais nobre só funciona se a política for um esporte praticado principalmente por pessoas que agem como adultos, coisa que ela não é. Além disso, fatos e contexto não criam mensagens particularmente fortes.

Eis que entra em cena “esquisito”.

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O candidato presidencial republicano Donald Trump participa de um comício em Charlotte, Carolina do Norte  Foto: Matt Kelley/AP

Nas duas semanas mais recentes, enquanto memes de “fedelhos” e coco tomavam conta da internet e Kamala Harris se aproximava de Donald Trump nas pesquisas, os democratas finalmente responderam por baixo, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Nova estratégia

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Notei “esquisito” pela primeira vez em um comunicado à imprensa divulgado pelo time de Kamala Harris na semana passada, no qual sua equipe de comunicação, recém-libertada da sintaxe de baby boomer do candidato anterior, recapitulou uma entrevista de Trump na Fox News. Perguntando “Está tudo bem com Donald Trump?”, a campanha de Harris detalhou uma lista de conclusões da entrevista. Entre elas: “Trump é velho e bem esquisitão?”

Pouco tempo depois, a campanha enviou outro e-mail, desta vez desejando um “Feliz Dia Mundial da FIV a todos, exceto JD Vance” — uma desculpa para destacar as declarações do candidato republicano à vice-presidência a respeito do aborto, bem como seus comentários esquisitos envolvendo “donas de gatos sem filhos”. Isso foi seguido por uma publicação no X, proclamando: “JD Vance é esquisito e sinistro”.

Estranho e sinistro. Palavras simples e contundentes. Não é uma ameaça à democracia ou à “alma da América”, nem mesmo “perigoso”. Não, no vernáculo progressista do momento, Trump e seu partido são apenas um bando de esquisitões, fazendo propostas políticas esquisitas, comentários esquisitos a respeito das mulheres, escolhas de moda esquisitas e escolhas de calçados ainda mais esquisitas, e promovendo conspirações ainda mais estranhas. E, claro, como sabe qualquer aluno do sexto ano que foi chamado de esquisito — ou pior, “sinistro” — por seus colegas, vai ser necessário muita sorte para sair dessa pela força dos argumentos.

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O candidato a vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, J.D. Vance, aceita a nomeação na convenção republicana em Milwaulkee, Estados Unidos  Foto: Anna Moneymaker/AFP

O Projeto Esquisito começou há alguns meses, informou o Politico, com o governador de Minnesota, Tim Walz, que vinha usando a palavra em discursos e entrevistas na forma de “pessoas esquisitas do outro lado” e “simplesmente esquisitos” e “esses caras são esquisitos mesmo”. É difícil dizer se a adoção sustentada da palavra foi coordenada ou orgânica — o grupo Harris se recusou a comentar — mas, na semana passada, ela ganhou força rapidamente.

Em rápida sucessão, Pete Buttigieg disse que Trump estava ficando “mais velho e esquisito”, Chuck Schumer chamou Vance de “esquisito” e “errático” e Brian Schatz, um senador do Havaí, escreveu no X: “Atribuir votos extras a certas pessoas com base no tamanho de suas famílias é esquisito. Proibir certos livros nas bibliotecas é esquisito. O governo estar no quarto das pessoas é esquisito. O governo estar na sala de exames é esquisito. Chamar isso de “esquisito” não é uma provocação de pátio de escola, e sim uma observação.” E assim por diante.

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Tudo isso me fez lembrar de uma frase frequentemente repetida por Gloria Steinem, segundo a qual o que as mulheres mais temem dos homens é a violência, mas o que os homens mais temem das mulheres é serem ridicularizados. “Esquisito” é o jeito democrata de caçoar — e parece que isso está irritando os republicanos.

Harris não é a primeira política a usar “esquisito”, disse-me o linguista Ben Zimmer — por um breve momento, este foi um epíteto popular (junto com “bizarro” e “estranho”) durante a campanha presidencial de 1992, quando os republicanos, em particular George H. W. Bush, o usaram contra seus adversários, incluindo Ross Perot (que era reconhecidamente bem esquisito). Mas “esquisito” tem um efeito diferente na era dos memes, lacradas e facadas, particularmente contra um político que, apesar de todas as baboseiras e mentiras, é extremamente eficaz em emplacar apelidos. Pense um pouco: Hillary desonesta. Joe soneca. Fake news. Há algum equivalente democrata real? (Desculpe a quem tentou emplacar “republicanalhas”.)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Doral, Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP
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Mas “esquisito”... “esquisito” é simples, fácil de aplicar, mas não é nobre ou pretensioso. “Esquisito” é uma alfinetada incômoda o suficiente para colocar seu alvo em desvantagem sem ser ativamente maldosa — “um ataque dissimulado”, como o linguista cognitivo George Lakoff me disse. “Esquisito” é algo um pouco brincalhão e meio divertido de dizer; já é uma palavra que todos nós conhecemos, então não parece muito forçada.

E, o mais importante, assim como “sinistro” — que tem um impacto especial quando dito por uma mulher a um homem — você não pode realmente se defender de ser chamado de esquisito. É específico o suficiente para ser condenatório, mas sem um caminho claro para uma resposta. “É um pouco impossível de responder”, disse Grant Barrett, um lexicógrafo e apresentador de rádio que é editor de “Hatchet Jobs and Hardball: The Oxford Dictionary of American Political Slang”. “O simples fato de a acusação ser feita é o suficiente para manchar você.”

Esquisito é interessante, explicou Jeffrey Nathaniel Parker, um sociólogo da Universidade de Nova Orleans, porque sua utilidade está na sua capacidade de transformar alguém no outro. Da mesma forma que os movimentos autoritários se alimentam do medo, ele disse, eles têm sido historicamente insistentes em fazer distinções entre grupos internos e externos — essencialmente, mantendo certas normas e rotulando todo o resto como desvio.

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Então, embora esquisito, para muitos, possa ser visto como motivo de orgulho e algo totalmente bom de ser — evoca criatividade e pensamento livre, como em “Mantenha Portland esquisita” — em um movimento que é centrado em manter o status quo ou retornar às normas, “esquisito” de repente se torna pejorativo.

“Particularmente, se alguém for realmente sensível em relação a isso e insistir que não é esquisito, que é totalmente normal, que o esquisito é você, fica parecendo ‘que a dama faz demasiados protestos’”, disse Parker.

Há algo ligeiramente sombrio na descida da política americana rumo a um vale-tudo de insultos de parquinho? Certamente. Como Michael Sandel, o filósofo político, disse ao meu colega Thomas Friedman, “esquisito” é “não apenas uma fuga da substância”, mas também uma palavra que corre o risco de alienar os eleitores que já acham que a esquerda os menospreza.

Do ponto de vista linguístico, há também uma linha tênue entre cativante e constrangedor, entre uma resposta orgânica decolando por meio dos esforços das massas — veja o caso do “fedelho” — e uma estratégia coordenada que começa a parecer... bem, meio forçada.

Mas, depois de anos assistindo os democratas serem brutalizados, linguisticamente falando, “esquisito” — e todo o floreio juvenil que a campanha de Harris traz (aquele ponto de interrogação!) — usado como um ataque parece muito suave e extremamente satisfatório.

Te pego no parquinho depois da saída? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Durante anos, o movimento MAGA abordou a política da mesma forma que um valentão abordaria um pátio de escola, empregando rótulos tão desagradáveis que pareciam expressamente escolhidos para atrair o tipo de pessoa que enfiava nerds no armário no sexto ano da escola. E, durante anos, os democratas seguiram o mantra de responder por cima, e não por baixo, tentando ser os adultos na sala: defendendo-se com fatos, com contexto, com explicações sérias das quais ninguém se lembra (isso quando eles se defendem).

O problema é que seguir o caminho mais nobre só funciona se a política for um esporte praticado principalmente por pessoas que agem como adultos, coisa que ela não é. Além disso, fatos e contexto não criam mensagens particularmente fortes.

Eis que entra em cena “esquisito”.

O candidato presidencial republicano Donald Trump participa de um comício em Charlotte, Carolina do Norte  Foto: Matt Kelley/AP

Nas duas semanas mais recentes, enquanto memes de “fedelhos” e coco tomavam conta da internet e Kamala Harris se aproximava de Donald Trump nas pesquisas, os democratas finalmente responderam por baixo, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Nova estratégia

Notei “esquisito” pela primeira vez em um comunicado à imprensa divulgado pelo time de Kamala Harris na semana passada, no qual sua equipe de comunicação, recém-libertada da sintaxe de baby boomer do candidato anterior, recapitulou uma entrevista de Trump na Fox News. Perguntando “Está tudo bem com Donald Trump?”, a campanha de Harris detalhou uma lista de conclusões da entrevista. Entre elas: “Trump é velho e bem esquisitão?”

Pouco tempo depois, a campanha enviou outro e-mail, desta vez desejando um “Feliz Dia Mundial da FIV a todos, exceto JD Vance” — uma desculpa para destacar as declarações do candidato republicano à vice-presidência a respeito do aborto, bem como seus comentários esquisitos envolvendo “donas de gatos sem filhos”. Isso foi seguido por uma publicação no X, proclamando: “JD Vance é esquisito e sinistro”.

Estranho e sinistro. Palavras simples e contundentes. Não é uma ameaça à democracia ou à “alma da América”, nem mesmo “perigoso”. Não, no vernáculo progressista do momento, Trump e seu partido são apenas um bando de esquisitões, fazendo propostas políticas esquisitas, comentários esquisitos a respeito das mulheres, escolhas de moda esquisitas e escolhas de calçados ainda mais esquisitas, e promovendo conspirações ainda mais estranhas. E, claro, como sabe qualquer aluno do sexto ano que foi chamado de esquisito — ou pior, “sinistro” — por seus colegas, vai ser necessário muita sorte para sair dessa pela força dos argumentos.

O candidato a vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, J.D. Vance, aceita a nomeação na convenção republicana em Milwaulkee, Estados Unidos  Foto: Anna Moneymaker/AFP

O Projeto Esquisito começou há alguns meses, informou o Politico, com o governador de Minnesota, Tim Walz, que vinha usando a palavra em discursos e entrevistas na forma de “pessoas esquisitas do outro lado” e “simplesmente esquisitos” e “esses caras são esquisitos mesmo”. É difícil dizer se a adoção sustentada da palavra foi coordenada ou orgânica — o grupo Harris se recusou a comentar — mas, na semana passada, ela ganhou força rapidamente.

Em rápida sucessão, Pete Buttigieg disse que Trump estava ficando “mais velho e esquisito”, Chuck Schumer chamou Vance de “esquisito” e “errático” e Brian Schatz, um senador do Havaí, escreveu no X: “Atribuir votos extras a certas pessoas com base no tamanho de suas famílias é esquisito. Proibir certos livros nas bibliotecas é esquisito. O governo estar no quarto das pessoas é esquisito. O governo estar na sala de exames é esquisito. Chamar isso de “esquisito” não é uma provocação de pátio de escola, e sim uma observação.” E assim por diante.

Tudo isso me fez lembrar de uma frase frequentemente repetida por Gloria Steinem, segundo a qual o que as mulheres mais temem dos homens é a violência, mas o que os homens mais temem das mulheres é serem ridicularizados. “Esquisito” é o jeito democrata de caçoar — e parece que isso está irritando os republicanos.

Harris não é a primeira política a usar “esquisito”, disse-me o linguista Ben Zimmer — por um breve momento, este foi um epíteto popular (junto com “bizarro” e “estranho”) durante a campanha presidencial de 1992, quando os republicanos, em particular George H. W. Bush, o usaram contra seus adversários, incluindo Ross Perot (que era reconhecidamente bem esquisito). Mas “esquisito” tem um efeito diferente na era dos memes, lacradas e facadas, particularmente contra um político que, apesar de todas as baboseiras e mentiras, é extremamente eficaz em emplacar apelidos. Pense um pouco: Hillary desonesta. Joe soneca. Fake news. Há algum equivalente democrata real? (Desculpe a quem tentou emplacar “republicanalhas”.)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Doral, Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Mas “esquisito”... “esquisito” é simples, fácil de aplicar, mas não é nobre ou pretensioso. “Esquisito” é uma alfinetada incômoda o suficiente para colocar seu alvo em desvantagem sem ser ativamente maldosa — “um ataque dissimulado”, como o linguista cognitivo George Lakoff me disse. “Esquisito” é algo um pouco brincalhão e meio divertido de dizer; já é uma palavra que todos nós conhecemos, então não parece muito forçada.

E, o mais importante, assim como “sinistro” — que tem um impacto especial quando dito por uma mulher a um homem — você não pode realmente se defender de ser chamado de esquisito. É específico o suficiente para ser condenatório, mas sem um caminho claro para uma resposta. “É um pouco impossível de responder”, disse Grant Barrett, um lexicógrafo e apresentador de rádio que é editor de “Hatchet Jobs and Hardball: The Oxford Dictionary of American Political Slang”. “O simples fato de a acusação ser feita é o suficiente para manchar você.”

Esquisito é interessante, explicou Jeffrey Nathaniel Parker, um sociólogo da Universidade de Nova Orleans, porque sua utilidade está na sua capacidade de transformar alguém no outro. Da mesma forma que os movimentos autoritários se alimentam do medo, ele disse, eles têm sido historicamente insistentes em fazer distinções entre grupos internos e externos — essencialmente, mantendo certas normas e rotulando todo o resto como desvio.

Então, embora esquisito, para muitos, possa ser visto como motivo de orgulho e algo totalmente bom de ser — evoca criatividade e pensamento livre, como em “Mantenha Portland esquisita” — em um movimento que é centrado em manter o status quo ou retornar às normas, “esquisito” de repente se torna pejorativo.

“Particularmente, se alguém for realmente sensível em relação a isso e insistir que não é esquisito, que é totalmente normal, que o esquisito é você, fica parecendo ‘que a dama faz demasiados protestos’”, disse Parker.

Há algo ligeiramente sombrio na descida da política americana rumo a um vale-tudo de insultos de parquinho? Certamente. Como Michael Sandel, o filósofo político, disse ao meu colega Thomas Friedman, “esquisito” é “não apenas uma fuga da substância”, mas também uma palavra que corre o risco de alienar os eleitores que já acham que a esquerda os menospreza.

Do ponto de vista linguístico, há também uma linha tênue entre cativante e constrangedor, entre uma resposta orgânica decolando por meio dos esforços das massas — veja o caso do “fedelho” — e uma estratégia coordenada que começa a parecer... bem, meio forçada.

Mas, depois de anos assistindo os democratas serem brutalizados, linguisticamente falando, “esquisito” — e todo o floreio juvenil que a campanha de Harris traz (aquele ponto de interrogação!) — usado como um ataque parece muito suave e extremamente satisfatório.

Te pego no parquinho depois da saída? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Durante anos, o movimento MAGA abordou a política da mesma forma que um valentão abordaria um pátio de escola, empregando rótulos tão desagradáveis que pareciam expressamente escolhidos para atrair o tipo de pessoa que enfiava nerds no armário no sexto ano da escola. E, durante anos, os democratas seguiram o mantra de responder por cima, e não por baixo, tentando ser os adultos na sala: defendendo-se com fatos, com contexto, com explicações sérias das quais ninguém se lembra (isso quando eles se defendem).

O problema é que seguir o caminho mais nobre só funciona se a política for um esporte praticado principalmente por pessoas que agem como adultos, coisa que ela não é. Além disso, fatos e contexto não criam mensagens particularmente fortes.

Eis que entra em cena “esquisito”.

O candidato presidencial republicano Donald Trump participa de um comício em Charlotte, Carolina do Norte  Foto: Matt Kelley/AP

Nas duas semanas mais recentes, enquanto memes de “fedelhos” e coco tomavam conta da internet e Kamala Harris se aproximava de Donald Trump nas pesquisas, os democratas finalmente responderam por baixo, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Nova estratégia

Notei “esquisito” pela primeira vez em um comunicado à imprensa divulgado pelo time de Kamala Harris na semana passada, no qual sua equipe de comunicação, recém-libertada da sintaxe de baby boomer do candidato anterior, recapitulou uma entrevista de Trump na Fox News. Perguntando “Está tudo bem com Donald Trump?”, a campanha de Harris detalhou uma lista de conclusões da entrevista. Entre elas: “Trump é velho e bem esquisitão?”

Pouco tempo depois, a campanha enviou outro e-mail, desta vez desejando um “Feliz Dia Mundial da FIV a todos, exceto JD Vance” — uma desculpa para destacar as declarações do candidato republicano à vice-presidência a respeito do aborto, bem como seus comentários esquisitos envolvendo “donas de gatos sem filhos”. Isso foi seguido por uma publicação no X, proclamando: “JD Vance é esquisito e sinistro”.

Estranho e sinistro. Palavras simples e contundentes. Não é uma ameaça à democracia ou à “alma da América”, nem mesmo “perigoso”. Não, no vernáculo progressista do momento, Trump e seu partido são apenas um bando de esquisitões, fazendo propostas políticas esquisitas, comentários esquisitos a respeito das mulheres, escolhas de moda esquisitas e escolhas de calçados ainda mais esquisitas, e promovendo conspirações ainda mais estranhas. E, claro, como sabe qualquer aluno do sexto ano que foi chamado de esquisito — ou pior, “sinistro” — por seus colegas, vai ser necessário muita sorte para sair dessa pela força dos argumentos.

O candidato a vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, J.D. Vance, aceita a nomeação na convenção republicana em Milwaulkee, Estados Unidos  Foto: Anna Moneymaker/AFP

O Projeto Esquisito começou há alguns meses, informou o Politico, com o governador de Minnesota, Tim Walz, que vinha usando a palavra em discursos e entrevistas na forma de “pessoas esquisitas do outro lado” e “simplesmente esquisitos” e “esses caras são esquisitos mesmo”. É difícil dizer se a adoção sustentada da palavra foi coordenada ou orgânica — o grupo Harris se recusou a comentar — mas, na semana passada, ela ganhou força rapidamente.

Em rápida sucessão, Pete Buttigieg disse que Trump estava ficando “mais velho e esquisito”, Chuck Schumer chamou Vance de “esquisito” e “errático” e Brian Schatz, um senador do Havaí, escreveu no X: “Atribuir votos extras a certas pessoas com base no tamanho de suas famílias é esquisito. Proibir certos livros nas bibliotecas é esquisito. O governo estar no quarto das pessoas é esquisito. O governo estar na sala de exames é esquisito. Chamar isso de “esquisito” não é uma provocação de pátio de escola, e sim uma observação.” E assim por diante.

Tudo isso me fez lembrar de uma frase frequentemente repetida por Gloria Steinem, segundo a qual o que as mulheres mais temem dos homens é a violência, mas o que os homens mais temem das mulheres é serem ridicularizados. “Esquisito” é o jeito democrata de caçoar — e parece que isso está irritando os republicanos.

Harris não é a primeira política a usar “esquisito”, disse-me o linguista Ben Zimmer — por um breve momento, este foi um epíteto popular (junto com “bizarro” e “estranho”) durante a campanha presidencial de 1992, quando os republicanos, em particular George H. W. Bush, o usaram contra seus adversários, incluindo Ross Perot (que era reconhecidamente bem esquisito). Mas “esquisito” tem um efeito diferente na era dos memes, lacradas e facadas, particularmente contra um político que, apesar de todas as baboseiras e mentiras, é extremamente eficaz em emplacar apelidos. Pense um pouco: Hillary desonesta. Joe soneca. Fake news. Há algum equivalente democrata real? (Desculpe a quem tentou emplacar “republicanalhas”.)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Doral, Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Mas “esquisito”... “esquisito” é simples, fácil de aplicar, mas não é nobre ou pretensioso. “Esquisito” é uma alfinetada incômoda o suficiente para colocar seu alvo em desvantagem sem ser ativamente maldosa — “um ataque dissimulado”, como o linguista cognitivo George Lakoff me disse. “Esquisito” é algo um pouco brincalhão e meio divertido de dizer; já é uma palavra que todos nós conhecemos, então não parece muito forçada.

E, o mais importante, assim como “sinistro” — que tem um impacto especial quando dito por uma mulher a um homem — você não pode realmente se defender de ser chamado de esquisito. É específico o suficiente para ser condenatório, mas sem um caminho claro para uma resposta. “É um pouco impossível de responder”, disse Grant Barrett, um lexicógrafo e apresentador de rádio que é editor de “Hatchet Jobs and Hardball: The Oxford Dictionary of American Political Slang”. “O simples fato de a acusação ser feita é o suficiente para manchar você.”

Esquisito é interessante, explicou Jeffrey Nathaniel Parker, um sociólogo da Universidade de Nova Orleans, porque sua utilidade está na sua capacidade de transformar alguém no outro. Da mesma forma que os movimentos autoritários se alimentam do medo, ele disse, eles têm sido historicamente insistentes em fazer distinções entre grupos internos e externos — essencialmente, mantendo certas normas e rotulando todo o resto como desvio.

Então, embora esquisito, para muitos, possa ser visto como motivo de orgulho e algo totalmente bom de ser — evoca criatividade e pensamento livre, como em “Mantenha Portland esquisita” — em um movimento que é centrado em manter o status quo ou retornar às normas, “esquisito” de repente se torna pejorativo.

“Particularmente, se alguém for realmente sensível em relação a isso e insistir que não é esquisito, que é totalmente normal, que o esquisito é você, fica parecendo ‘que a dama faz demasiados protestos’”, disse Parker.

Há algo ligeiramente sombrio na descida da política americana rumo a um vale-tudo de insultos de parquinho? Certamente. Como Michael Sandel, o filósofo político, disse ao meu colega Thomas Friedman, “esquisito” é “não apenas uma fuga da substância”, mas também uma palavra que corre o risco de alienar os eleitores que já acham que a esquerda os menospreza.

Do ponto de vista linguístico, há também uma linha tênue entre cativante e constrangedor, entre uma resposta orgânica decolando por meio dos esforços das massas — veja o caso do “fedelho” — e uma estratégia coordenada que começa a parecer... bem, meio forçada.

Mas, depois de anos assistindo os democratas serem brutalizados, linguisticamente falando, “esquisito” — e todo o floreio juvenil que a campanha de Harris traz (aquele ponto de interrogação!) — usado como um ataque parece muito suave e extremamente satisfatório.

Te pego no parquinho depois da saída? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Durante anos, o movimento MAGA abordou a política da mesma forma que um valentão abordaria um pátio de escola, empregando rótulos tão desagradáveis que pareciam expressamente escolhidos para atrair o tipo de pessoa que enfiava nerds no armário no sexto ano da escola. E, durante anos, os democratas seguiram o mantra de responder por cima, e não por baixo, tentando ser os adultos na sala: defendendo-se com fatos, com contexto, com explicações sérias das quais ninguém se lembra (isso quando eles se defendem).

O problema é que seguir o caminho mais nobre só funciona se a política for um esporte praticado principalmente por pessoas que agem como adultos, coisa que ela não é. Além disso, fatos e contexto não criam mensagens particularmente fortes.

Eis que entra em cena “esquisito”.

O candidato presidencial republicano Donald Trump participa de um comício em Charlotte, Carolina do Norte  Foto: Matt Kelley/AP

Nas duas semanas mais recentes, enquanto memes de “fedelhos” e coco tomavam conta da internet e Kamala Harris se aproximava de Donald Trump nas pesquisas, os democratas finalmente responderam por baixo, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Nova estratégia

Notei “esquisito” pela primeira vez em um comunicado à imprensa divulgado pelo time de Kamala Harris na semana passada, no qual sua equipe de comunicação, recém-libertada da sintaxe de baby boomer do candidato anterior, recapitulou uma entrevista de Trump na Fox News. Perguntando “Está tudo bem com Donald Trump?”, a campanha de Harris detalhou uma lista de conclusões da entrevista. Entre elas: “Trump é velho e bem esquisitão?”

Pouco tempo depois, a campanha enviou outro e-mail, desta vez desejando um “Feliz Dia Mundial da FIV a todos, exceto JD Vance” — uma desculpa para destacar as declarações do candidato republicano à vice-presidência a respeito do aborto, bem como seus comentários esquisitos envolvendo “donas de gatos sem filhos”. Isso foi seguido por uma publicação no X, proclamando: “JD Vance é esquisito e sinistro”.

Estranho e sinistro. Palavras simples e contundentes. Não é uma ameaça à democracia ou à “alma da América”, nem mesmo “perigoso”. Não, no vernáculo progressista do momento, Trump e seu partido são apenas um bando de esquisitões, fazendo propostas políticas esquisitas, comentários esquisitos a respeito das mulheres, escolhas de moda esquisitas e escolhas de calçados ainda mais esquisitas, e promovendo conspirações ainda mais estranhas. E, claro, como sabe qualquer aluno do sexto ano que foi chamado de esquisito — ou pior, “sinistro” — por seus colegas, vai ser necessário muita sorte para sair dessa pela força dos argumentos.

O candidato a vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, J.D. Vance, aceita a nomeação na convenção republicana em Milwaulkee, Estados Unidos  Foto: Anna Moneymaker/AFP

O Projeto Esquisito começou há alguns meses, informou o Politico, com o governador de Minnesota, Tim Walz, que vinha usando a palavra em discursos e entrevistas na forma de “pessoas esquisitas do outro lado” e “simplesmente esquisitos” e “esses caras são esquisitos mesmo”. É difícil dizer se a adoção sustentada da palavra foi coordenada ou orgânica — o grupo Harris se recusou a comentar — mas, na semana passada, ela ganhou força rapidamente.

Em rápida sucessão, Pete Buttigieg disse que Trump estava ficando “mais velho e esquisito”, Chuck Schumer chamou Vance de “esquisito” e “errático” e Brian Schatz, um senador do Havaí, escreveu no X: “Atribuir votos extras a certas pessoas com base no tamanho de suas famílias é esquisito. Proibir certos livros nas bibliotecas é esquisito. O governo estar no quarto das pessoas é esquisito. O governo estar na sala de exames é esquisito. Chamar isso de “esquisito” não é uma provocação de pátio de escola, e sim uma observação.” E assim por diante.

Tudo isso me fez lembrar de uma frase frequentemente repetida por Gloria Steinem, segundo a qual o que as mulheres mais temem dos homens é a violência, mas o que os homens mais temem das mulheres é serem ridicularizados. “Esquisito” é o jeito democrata de caçoar — e parece que isso está irritando os republicanos.

Harris não é a primeira política a usar “esquisito”, disse-me o linguista Ben Zimmer — por um breve momento, este foi um epíteto popular (junto com “bizarro” e “estranho”) durante a campanha presidencial de 1992, quando os republicanos, em particular George H. W. Bush, o usaram contra seus adversários, incluindo Ross Perot (que era reconhecidamente bem esquisito). Mas “esquisito” tem um efeito diferente na era dos memes, lacradas e facadas, particularmente contra um político que, apesar de todas as baboseiras e mentiras, é extremamente eficaz em emplacar apelidos. Pense um pouco: Hillary desonesta. Joe soneca. Fake news. Há algum equivalente democrata real? (Desculpe a quem tentou emplacar “republicanalhas”.)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Doral, Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Mas “esquisito”... “esquisito” é simples, fácil de aplicar, mas não é nobre ou pretensioso. “Esquisito” é uma alfinetada incômoda o suficiente para colocar seu alvo em desvantagem sem ser ativamente maldosa — “um ataque dissimulado”, como o linguista cognitivo George Lakoff me disse. “Esquisito” é algo um pouco brincalhão e meio divertido de dizer; já é uma palavra que todos nós conhecemos, então não parece muito forçada.

E, o mais importante, assim como “sinistro” — que tem um impacto especial quando dito por uma mulher a um homem — você não pode realmente se defender de ser chamado de esquisito. É específico o suficiente para ser condenatório, mas sem um caminho claro para uma resposta. “É um pouco impossível de responder”, disse Grant Barrett, um lexicógrafo e apresentador de rádio que é editor de “Hatchet Jobs and Hardball: The Oxford Dictionary of American Political Slang”. “O simples fato de a acusação ser feita é o suficiente para manchar você.”

Esquisito é interessante, explicou Jeffrey Nathaniel Parker, um sociólogo da Universidade de Nova Orleans, porque sua utilidade está na sua capacidade de transformar alguém no outro. Da mesma forma que os movimentos autoritários se alimentam do medo, ele disse, eles têm sido historicamente insistentes em fazer distinções entre grupos internos e externos — essencialmente, mantendo certas normas e rotulando todo o resto como desvio.

Então, embora esquisito, para muitos, possa ser visto como motivo de orgulho e algo totalmente bom de ser — evoca criatividade e pensamento livre, como em “Mantenha Portland esquisita” — em um movimento que é centrado em manter o status quo ou retornar às normas, “esquisito” de repente se torna pejorativo.

“Particularmente, se alguém for realmente sensível em relação a isso e insistir que não é esquisito, que é totalmente normal, que o esquisito é você, fica parecendo ‘que a dama faz demasiados protestos’”, disse Parker.

Há algo ligeiramente sombrio na descida da política americana rumo a um vale-tudo de insultos de parquinho? Certamente. Como Michael Sandel, o filósofo político, disse ao meu colega Thomas Friedman, “esquisito” é “não apenas uma fuga da substância”, mas também uma palavra que corre o risco de alienar os eleitores que já acham que a esquerda os menospreza.

Do ponto de vista linguístico, há também uma linha tênue entre cativante e constrangedor, entre uma resposta orgânica decolando por meio dos esforços das massas — veja o caso do “fedelho” — e uma estratégia coordenada que começa a parecer... bem, meio forçada.

Mas, depois de anos assistindo os democratas serem brutalizados, linguisticamente falando, “esquisito” — e todo o floreio juvenil que a campanha de Harris traz (aquele ponto de interrogação!) — usado como um ataque parece muito suave e extremamente satisfatório.

Te pego no parquinho depois da saída? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Durante anos, o movimento MAGA abordou a política da mesma forma que um valentão abordaria um pátio de escola, empregando rótulos tão desagradáveis que pareciam expressamente escolhidos para atrair o tipo de pessoa que enfiava nerds no armário no sexto ano da escola. E, durante anos, os democratas seguiram o mantra de responder por cima, e não por baixo, tentando ser os adultos na sala: defendendo-se com fatos, com contexto, com explicações sérias das quais ninguém se lembra (isso quando eles se defendem).

O problema é que seguir o caminho mais nobre só funciona se a política for um esporte praticado principalmente por pessoas que agem como adultos, coisa que ela não é. Além disso, fatos e contexto não criam mensagens particularmente fortes.

Eis que entra em cena “esquisito”.

O candidato presidencial republicano Donald Trump participa de um comício em Charlotte, Carolina do Norte  Foto: Matt Kelley/AP

Nas duas semanas mais recentes, enquanto memes de “fedelhos” e coco tomavam conta da internet e Kamala Harris se aproximava de Donald Trump nas pesquisas, os democratas finalmente responderam por baixo, empregando golpes verbais tão deliciosamente mesquinhos que podem até funcionar.

Nova estratégia

Notei “esquisito” pela primeira vez em um comunicado à imprensa divulgado pelo time de Kamala Harris na semana passada, no qual sua equipe de comunicação, recém-libertada da sintaxe de baby boomer do candidato anterior, recapitulou uma entrevista de Trump na Fox News. Perguntando “Está tudo bem com Donald Trump?”, a campanha de Harris detalhou uma lista de conclusões da entrevista. Entre elas: “Trump é velho e bem esquisitão?”

Pouco tempo depois, a campanha enviou outro e-mail, desta vez desejando um “Feliz Dia Mundial da FIV a todos, exceto JD Vance” — uma desculpa para destacar as declarações do candidato republicano à vice-presidência a respeito do aborto, bem como seus comentários esquisitos envolvendo “donas de gatos sem filhos”. Isso foi seguido por uma publicação no X, proclamando: “JD Vance é esquisito e sinistro”.

Estranho e sinistro. Palavras simples e contundentes. Não é uma ameaça à democracia ou à “alma da América”, nem mesmo “perigoso”. Não, no vernáculo progressista do momento, Trump e seu partido são apenas um bando de esquisitões, fazendo propostas políticas esquisitas, comentários esquisitos a respeito das mulheres, escolhas de moda esquisitas e escolhas de calçados ainda mais esquisitas, e promovendo conspirações ainda mais estranhas. E, claro, como sabe qualquer aluno do sexto ano que foi chamado de esquisito — ou pior, “sinistro” — por seus colegas, vai ser necessário muita sorte para sair dessa pela força dos argumentos.

O candidato a vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, J.D. Vance, aceita a nomeação na convenção republicana em Milwaulkee, Estados Unidos  Foto: Anna Moneymaker/AFP

O Projeto Esquisito começou há alguns meses, informou o Politico, com o governador de Minnesota, Tim Walz, que vinha usando a palavra em discursos e entrevistas na forma de “pessoas esquisitas do outro lado” e “simplesmente esquisitos” e “esses caras são esquisitos mesmo”. É difícil dizer se a adoção sustentada da palavra foi coordenada ou orgânica — o grupo Harris se recusou a comentar — mas, na semana passada, ela ganhou força rapidamente.

Em rápida sucessão, Pete Buttigieg disse que Trump estava ficando “mais velho e esquisito”, Chuck Schumer chamou Vance de “esquisito” e “errático” e Brian Schatz, um senador do Havaí, escreveu no X: “Atribuir votos extras a certas pessoas com base no tamanho de suas famílias é esquisito. Proibir certos livros nas bibliotecas é esquisito. O governo estar no quarto das pessoas é esquisito. O governo estar na sala de exames é esquisito. Chamar isso de “esquisito” não é uma provocação de pátio de escola, e sim uma observação.” E assim por diante.

Tudo isso me fez lembrar de uma frase frequentemente repetida por Gloria Steinem, segundo a qual o que as mulheres mais temem dos homens é a violência, mas o que os homens mais temem das mulheres é serem ridicularizados. “Esquisito” é o jeito democrata de caçoar — e parece que isso está irritando os republicanos.

Harris não é a primeira política a usar “esquisito”, disse-me o linguista Ben Zimmer — por um breve momento, este foi um epíteto popular (junto com “bizarro” e “estranho”) durante a campanha presidencial de 1992, quando os republicanos, em particular George H. W. Bush, o usaram contra seus adversários, incluindo Ross Perot (que era reconhecidamente bem esquisito). Mas “esquisito” tem um efeito diferente na era dos memes, lacradas e facadas, particularmente contra um político que, apesar de todas as baboseiras e mentiras, é extremamente eficaz em emplacar apelidos. Pense um pouco: Hillary desonesta. Joe soneca. Fake news. Há algum equivalente democrata real? (Desculpe a quem tentou emplacar “republicanalhas”.)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Doral, Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Mas “esquisito”... “esquisito” é simples, fácil de aplicar, mas não é nobre ou pretensioso. “Esquisito” é uma alfinetada incômoda o suficiente para colocar seu alvo em desvantagem sem ser ativamente maldosa — “um ataque dissimulado”, como o linguista cognitivo George Lakoff me disse. “Esquisito” é algo um pouco brincalhão e meio divertido de dizer; já é uma palavra que todos nós conhecemos, então não parece muito forçada.

E, o mais importante, assim como “sinistro” — que tem um impacto especial quando dito por uma mulher a um homem — você não pode realmente se defender de ser chamado de esquisito. É específico o suficiente para ser condenatório, mas sem um caminho claro para uma resposta. “É um pouco impossível de responder”, disse Grant Barrett, um lexicógrafo e apresentador de rádio que é editor de “Hatchet Jobs and Hardball: The Oxford Dictionary of American Political Slang”. “O simples fato de a acusação ser feita é o suficiente para manchar você.”

Esquisito é interessante, explicou Jeffrey Nathaniel Parker, um sociólogo da Universidade de Nova Orleans, porque sua utilidade está na sua capacidade de transformar alguém no outro. Da mesma forma que os movimentos autoritários se alimentam do medo, ele disse, eles têm sido historicamente insistentes em fazer distinções entre grupos internos e externos — essencialmente, mantendo certas normas e rotulando todo o resto como desvio.

Então, embora esquisito, para muitos, possa ser visto como motivo de orgulho e algo totalmente bom de ser — evoca criatividade e pensamento livre, como em “Mantenha Portland esquisita” — em um movimento que é centrado em manter o status quo ou retornar às normas, “esquisito” de repente se torna pejorativo.

“Particularmente, se alguém for realmente sensível em relação a isso e insistir que não é esquisito, que é totalmente normal, que o esquisito é você, fica parecendo ‘que a dama faz demasiados protestos’”, disse Parker.

Há algo ligeiramente sombrio na descida da política americana rumo a um vale-tudo de insultos de parquinho? Certamente. Como Michael Sandel, o filósofo político, disse ao meu colega Thomas Friedman, “esquisito” é “não apenas uma fuga da substância”, mas também uma palavra que corre o risco de alienar os eleitores que já acham que a esquerda os menospreza.

Do ponto de vista linguístico, há também uma linha tênue entre cativante e constrangedor, entre uma resposta orgânica decolando por meio dos esforços das massas — veja o caso do “fedelho” — e uma estratégia coordenada que começa a parecer... bem, meio forçada.

Mas, depois de anos assistindo os democratas serem brutalizados, linguisticamente falando, “esquisito” — e todo o floreio juvenil que a campanha de Harris traz (aquele ponto de interrogação!) — usado como um ataque parece muito suave e extremamente satisfatório.

Te pego no parquinho depois da saída? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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