A China anunciou nesta quarta-feira, 17, o envio de tropas militares para participar do exercício Vostok, promovido pela Rússia entre os dias 30 deste mês e 5 de setembro. O exercício vai contar com outros países, como Índia, Belarus, Mongólia e Tadjiquistão, e deverá contar com mais de cem mil soldados no total, e equipamento militar de ponta dos países envolvidos.
O exercício levantou temores devido às tensões atuais entre a China e os Estados Unidos, somadas à guerra na Ucrânia, que opôs a Rússia e o Ocidente.
Segundo o Ministério da Defesa da China, o exercício não tem relação com o cenário geopolítico atual e faz parte de uma cooperação bilateral com os russos. A Rússia havia divulgado o exercício em julho, mas sem os países participantes. A quantidade de forças mobilizadas para participar do treinamento segue desconhecido.
A cooperação não é a primeira entre os militares da China e da Rússia – eles estiveram juntos, por exemplo, no exercício Vostok de 2018 – e exercícios militares acontecem regularmente, mas desta vez as atenções para eles são maiores pelo cenário geopolítico atual. Abaixo, saiba mais sobre o que são e o que significa essa parceria:
O que são esses exercícios militares?
O exercício Vostok faz parte de uma série de exercícios militares da Rússia, realizada em larga escala todos os anos. A série é dividida em quatro treinamentos a partir dos comandos estratégicos do país (Leste, Cáucaso, Central e Ocidental). Cada um dos comandos dá nome a um treinamento. O “Vostok” significa leste.
Esses exercícios são realizados desde o período soviético. Em 2018, o exercício Vostok chamou atenção pelo número de forças mobilizadas (cerca de 300 mil militares, 36 mil veículos terrestres e mil aviões de guerra). Naquele momento, foi a maior mobilização do país desde o fim da Guerra Fria e também a primeira vez que a China enviou tropas para participar – num movimento de reaproximação entre os dois países que hoje se mostram cada vez mais parceiros.
No ano passado, a Rússia realizou o exercício Zapad, com mais de 200 mil militares. O Zapad acontece na fronteira ocidental e, em 2021, ocorreu no território de Belarus.
Yang Jin, especialista em assuntos russos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou ao jornal South China Monring Post que o exercício não tem nada a ver com a guerra na Ucrânia e a situação de Taiwan, dizendo que era “uma demonstração de força [militar]” e refletia “a alta do nível das relações bilaterais”.
Yang disse que em 2018, a China enviou 3,5 mil soldados, e deve enviar cerca de dez mil desta vez. Mas “é provável que a escala dos próximos exercícios seja reduzida a cerca de cem mil soldados por causa da guerra na Ucrânia”, disse Yang.
Onde o exercício militar vai ser realizado?
O distrito militar leste da Rússia inclui parte da Sibéria e tem sede em Khabarovsk, perto da fronteira chinesa. Os militares irão atuar em 13 campos de treinamento do distrito, localizados longe da Ucrânia, onde forças russas continuam em combate.
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Por que o exercício militar vai ser realizado?
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, a parceria militar entre os países que participarão do treinamento, que não possui só a China, tem o propósito de manutenção da segurança do Oriente.
O Ministério da Defesa da China informou por meio de um comunicado que o exercício visa “aprofundar a cooperação pragmática e amigável com os militares dos países participantes, aumentar o nível de coordenação estratégica de todas as partes participantes e melhorar a capacidade de lidar com várias ameaças de segurança”.
De acordo com a agência de notícias Reuters, o exercício também parece ter a intenção de enviar uma mensagem de que a Rússia continua focada na defesa de todo o seu território, apesar da guerra com a Ucrânia, e com a mesma capacidade militar.
O comunicado divulgado em julho pela Rússia enfatiza que os exercícios militares não são afetados pela guerra e que nenhuma atividade de treinamento ou cooperação internacional foi cancelada por causa do conflito. O país ainda ressalta que eles serão realizados com todas as tropas, armas e equipamentos necessários.
“Chamamos atenção para o fato de que apenas uma parte das Forças Armadas da Federação Russa está envolvida na operação militar especial (na Ucrânia), cujo número é suficiente para cumprir todas as tarefas estabelecidas pelo Comandante Supremo- chefe”, diz o comunicado.
Quais foram as outras vezes que os militares da China treinaram com a Rússia?
A primeira vez que a China enviou militares para participar dos exercícios Vostok foi em 2018. Na época, o país tentava construir uma relação bilateral mais firme com a Rússia e teve oportunidade de aprender táticas e estratégias de combate.
Desde então, a cooperação militar aumentou e a atuação conjunta dos militares russos e chineses se tornou constante. Segundo o jornal nipo-britânico Financial Times, os dois países conduzem treinamentos militares no Mar do Japão/Mar do Leste com armas nucleares desde 2019.
Em agosto do ano passado, as tropas russas e chinesas estiveram juntas em exercícios no centro-norte da China, com mais de 10 mil soldados reunidos. O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, elogiou os exercícios na ocasião e sugeriu que eles poderiam ser desenvolvidos mais vezes.
Dois meses depois, em outubro de 2021, os dois países voltaram a realizar exercícios militares em conjunto, desta vez no Mar do Japão/Mar do Leste. No mês seguinte, militares da Coreia do Sul afirmaram que haviam identificado dois aviões de guerra chineses e sete russos dentro da sua zona de identificação de defesa aérea. Pequim se pronunciou sobre o assunto e disse se tratar de um treinamento regular.
Pouco antes da invasão da Ucrânia pela Rússia no dia 24 de fevereiro, Pequim e Moscou anunciaram uma parceria “sem limites”, embora não haja informações sobre a China cooperar militarmente com a Rússia na invasão.
Em maio, com a guerra na Ucrânia em curso, os dois países também realizaram exercícios militares em conjunto no nordeste asiático. Eles lançaram bombas em mares da região e realizaram treinamento com caças. Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, estava em uma visita oficial à Tóquio, e o treinamento foi visto como uma provocação pelo Japão.