Entender a complexa mentalidade de Putin é crucial para compreender a guerra na Ucrânia; leia análise


Desvendar a charada da psique do presidente russo agora é questão de vida ou morte, enquanto a guerra se arrasta e o mundo se preocupa com o perigo de uma escalada do conflito

Por David Ignatius

THE WASHINGTON POST - Enquanto a guerra na Ucrânia completa um mês de combates brutais, Vladimir Putin está obcecado com o país que ataca, irritado com seus generais, paranoico a respeito de seus inimigos domésticos e no exterior e embrulha seus feitos sanguinários numa terminologia quase mística, em sua visão sobre o passado e o futuro da Rússia.

Putin exibiu sua mentalidade num estádio na semana passada, ao invocar um santo-guerreiro cristão-ortodoxo russo que se referia às suas próprias batalhas com “trovoadas” que “glorificavam a Rússia”.

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“Foi assim na época dele; é assim hoje e assim sempre será”, afirmou Putin a respeito de Fedor Ushakov, um almirante do século 18 que tinha a reputação de jamais ter sido derrotado em batalha e foi canonizado em 2001, pouco após Putin virar presidente.

Em imagem de 2019, Vladimir Putin treina com equipe de judô em Sochi Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV

As breves declarações de Putin serviram como lembrete de que sua personalidade é mais complexa — e talvez mais perigosa — do que o estereótipo comum que se tem dele, enquanto ex-agente da KGB que pretende ressuscitar a União Soviética. Putin não é só isso — é um fiel da Igreja Ortodoxa Russa, em vez de ateu, com uma ideologia mais próxima ao fascismo de Benito Mussolini do que ao comunismo de Vladimir Lênin.

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Desvendar a charada da psique de Putin neste momento é questão de vida ou morte, enquanto a guerra na Ucrânia se arrasta e o mundo se preocupa com o perigo do presidente russo escalar o conflito com armas químicas ou até mesmo nucleares. Especialistas afirmam que Putin não é irracional no sentido clínico comum. Mas ele entrou num campo em que suas decisões são orientadas por um senso grandioso a respeito de seu lugar na história russa. Na cabeça dele, sua missão é transcendental.

O discurso no concerto é um bom lugar para começar a decodificar a aparência de Putin. O evento foi rotulado como uma celebração do aniversário do referendo de março de 2014, na Crimeia, endossando os elos da península com a Rússia depois que forças russas tomaram o território da Ucrânia. Putin usou o evento como um comício motivacional na esteira da brutal invasão à Ucrânia que ele lançou em 24 de fevereiro.

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Putin descreveu o sangrento ataque como uma salvação para a Ucrânia — e falou de um dever religioso “de livrar essas pessoas do sofrimento”. De maneira estarrecedora, ele citou a Bíblia para justificar sua blitzkrieg: “Recordo as palavras das Sagradas Escrituras: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.”

As palavras de Putin soam perversas, até blasfemas, para nós no Ocidente. O Exército de Putin bombardeou hospitais, shopping centers e teatros de ópera na Ucrânia. Mas esta distorção é evidentemente a crença de Putin.

Em nome de Deus

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A religiosidade de Putin é um aspecto pouco notado mas muito poderoso de sua personalidade. A mãe de Putin, Maria, foi uma mulher “profundamente religiosa”, de acordo com o biógrafo Steven Lee Myers, que sobreviveu ao cerco de Leningrado na 2.ª Guerra depois de implorar ajuda sob uma pilha de cadáveres. Quando seu filho Vladimir nasceu, em 1952, ela “batizou secretamente o menino”, escreve Myers.

Relata-se que Putin usa uma pequena cruz de alumínio que lhe foi dada pela mãe, de acordo com uma biografia publicada em 2012, de Chris Hutchins e Alexander Korobko. Ele não permitia que a cruz fosse vista quando trabalhava para a KGB, mas quando foi para Israel, em 1993, de acordo com os autores, Putin afirmou: “Coloquei a cruz em meu pescoço e desde então nunca mais tirei”.

A paixão de Putin pela Igreja Ortodoxa Russa fundamenta o senso de “unidade” entre a Rússia e a Ucrânia que ele expressou num divagante ensaio que escreveu em julho de 2021, um prenúncio do violento ataque que se seguiria. Putin notou que as raízes de sua fé estavam em Kiev, onde São Vladimir, no ano 988, deixou de ser pagão e se tornou cristão-ortodoxo. Os fiéis cristãos-ortodoxos foram com frequência oprimidos nos séculos subsequentes, mas persistiram na Rússia e na Ucrânia, escreveu Putin. “Somos um único povo”, proclamou ele.

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Apesar de Putin com frequência se mostrar nostálgico em relação à URSS, seu ensaio de julho atacou os soviéticos por eles terem criado o que Putin qualificou como um falso senso de identidade distinta, consagrado numa república distinta extirpada da “Mãe Rússia”. “Os bolcheviques trataram o povo russo como material inexaurível para seus experimentos sociais”, escreveu Putin. “Um fato é cristalino: a Rússia foi roubada.”

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O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou o governo americano de atrapalhar as negociações com a Ucrânia

No lugar do comunismo, Putin propôs o que o professor de Yale Timothy Snyder descreveu como um “fascismo russo”, cujo guru ideológico foi o filósofo Ivan Ilian, que fugiu da Rússia em 1922, depois da Revolução Bolchevique, e visitou a Itália antes de se estabelecer na Alemanha. Ilian admirava o ditador italiano Mussolini e louvava os fascistas por captar o “espírito” popular, ou dukh. Ilian considerava a Rússia uma vítima perpétua do Ocidente, que precisava de um líder “másculo”, que se tornaria “o órgão vivo da Rússia”, de acordo com Snyder.

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Putin abraçou este ideal místico russo. “A partir de 2005, Putin começou a restabelecer Ilian enquanto filósofo da corte no Kremlin”, escreve Snyder. Ele trouxe os restos de Ilian de volta à Rússia, colocou flores em seu túmulo e o citou em artigos, como o ensaio de 2012 explicando a visão de Ilian de que “a Rússia, enquanto organismo espiritual, serve não apenas às nações ortodoxas… mas a todas as nações do mundo”.

No cerne da visão de mundo de Putin há um senso de que a Rússia foi humilhada por uma conspiração do Ocidente. Na visão de Putin, os “países euro-atlânticos” perderam seu arrimo espiritual, de acordo com o biógrafo Myers. “Eles negam princípios morais e todas as identidades: nacionais, culturais, religiosas e até sexuais” e estão num “caminho direto para a degradação e o primitivismo”, afirmou Putin num discurso de 2013 citado por Myers. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

THE WASHINGTON POST - Enquanto a guerra na Ucrânia completa um mês de combates brutais, Vladimir Putin está obcecado com o país que ataca, irritado com seus generais, paranoico a respeito de seus inimigos domésticos e no exterior e embrulha seus feitos sanguinários numa terminologia quase mística, em sua visão sobre o passado e o futuro da Rússia.

Putin exibiu sua mentalidade num estádio na semana passada, ao invocar um santo-guerreiro cristão-ortodoxo russo que se referia às suas próprias batalhas com “trovoadas” que “glorificavam a Rússia”.

“Foi assim na época dele; é assim hoje e assim sempre será”, afirmou Putin a respeito de Fedor Ushakov, um almirante do século 18 que tinha a reputação de jamais ter sido derrotado em batalha e foi canonizado em 2001, pouco após Putin virar presidente.

Em imagem de 2019, Vladimir Putin treina com equipe de judô em Sochi Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV

As breves declarações de Putin serviram como lembrete de que sua personalidade é mais complexa — e talvez mais perigosa — do que o estereótipo comum que se tem dele, enquanto ex-agente da KGB que pretende ressuscitar a União Soviética. Putin não é só isso — é um fiel da Igreja Ortodoxa Russa, em vez de ateu, com uma ideologia mais próxima ao fascismo de Benito Mussolini do que ao comunismo de Vladimir Lênin.

Desvendar a charada da psique de Putin neste momento é questão de vida ou morte, enquanto a guerra na Ucrânia se arrasta e o mundo se preocupa com o perigo do presidente russo escalar o conflito com armas químicas ou até mesmo nucleares. Especialistas afirmam que Putin não é irracional no sentido clínico comum. Mas ele entrou num campo em que suas decisões são orientadas por um senso grandioso a respeito de seu lugar na história russa. Na cabeça dele, sua missão é transcendental.

O discurso no concerto é um bom lugar para começar a decodificar a aparência de Putin. O evento foi rotulado como uma celebração do aniversário do referendo de março de 2014, na Crimeia, endossando os elos da península com a Rússia depois que forças russas tomaram o território da Ucrânia. Putin usou o evento como um comício motivacional na esteira da brutal invasão à Ucrânia que ele lançou em 24 de fevereiro.

Putin descreveu o sangrento ataque como uma salvação para a Ucrânia — e falou de um dever religioso “de livrar essas pessoas do sofrimento”. De maneira estarrecedora, ele citou a Bíblia para justificar sua blitzkrieg: “Recordo as palavras das Sagradas Escrituras: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.”

As palavras de Putin soam perversas, até blasfemas, para nós no Ocidente. O Exército de Putin bombardeou hospitais, shopping centers e teatros de ópera na Ucrânia. Mas esta distorção é evidentemente a crença de Putin.

Em nome de Deus

A religiosidade de Putin é um aspecto pouco notado mas muito poderoso de sua personalidade. A mãe de Putin, Maria, foi uma mulher “profundamente religiosa”, de acordo com o biógrafo Steven Lee Myers, que sobreviveu ao cerco de Leningrado na 2.ª Guerra depois de implorar ajuda sob uma pilha de cadáveres. Quando seu filho Vladimir nasceu, em 1952, ela “batizou secretamente o menino”, escreve Myers.

Relata-se que Putin usa uma pequena cruz de alumínio que lhe foi dada pela mãe, de acordo com uma biografia publicada em 2012, de Chris Hutchins e Alexander Korobko. Ele não permitia que a cruz fosse vista quando trabalhava para a KGB, mas quando foi para Israel, em 1993, de acordo com os autores, Putin afirmou: “Coloquei a cruz em meu pescoço e desde então nunca mais tirei”.

A paixão de Putin pela Igreja Ortodoxa Russa fundamenta o senso de “unidade” entre a Rússia e a Ucrânia que ele expressou num divagante ensaio que escreveu em julho de 2021, um prenúncio do violento ataque que se seguiria. Putin notou que as raízes de sua fé estavam em Kiev, onde São Vladimir, no ano 988, deixou de ser pagão e se tornou cristão-ortodoxo. Os fiéis cristãos-ortodoxos foram com frequência oprimidos nos séculos subsequentes, mas persistiram na Rússia e na Ucrânia, escreveu Putin. “Somos um único povo”, proclamou ele.

Apesar de Putin com frequência se mostrar nostálgico em relação à URSS, seu ensaio de julho atacou os soviéticos por eles terem criado o que Putin qualificou como um falso senso de identidade distinta, consagrado numa república distinta extirpada da “Mãe Rússia”. “Os bolcheviques trataram o povo russo como material inexaurível para seus experimentos sociais”, escreveu Putin. “Um fato é cristalino: a Rússia foi roubada.”

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O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou o governo americano de atrapalhar as negociações com a Ucrânia

No lugar do comunismo, Putin propôs o que o professor de Yale Timothy Snyder descreveu como um “fascismo russo”, cujo guru ideológico foi o filósofo Ivan Ilian, que fugiu da Rússia em 1922, depois da Revolução Bolchevique, e visitou a Itália antes de se estabelecer na Alemanha. Ilian admirava o ditador italiano Mussolini e louvava os fascistas por captar o “espírito” popular, ou dukh. Ilian considerava a Rússia uma vítima perpétua do Ocidente, que precisava de um líder “másculo”, que se tornaria “o órgão vivo da Rússia”, de acordo com Snyder.

Putin abraçou este ideal místico russo. “A partir de 2005, Putin começou a restabelecer Ilian enquanto filósofo da corte no Kremlin”, escreve Snyder. Ele trouxe os restos de Ilian de volta à Rússia, colocou flores em seu túmulo e o citou em artigos, como o ensaio de 2012 explicando a visão de Ilian de que “a Rússia, enquanto organismo espiritual, serve não apenas às nações ortodoxas… mas a todas as nações do mundo”.

No cerne da visão de mundo de Putin há um senso de que a Rússia foi humilhada por uma conspiração do Ocidente. Na visão de Putin, os “países euro-atlânticos” perderam seu arrimo espiritual, de acordo com o biógrafo Myers. “Eles negam princípios morais e todas as identidades: nacionais, culturais, religiosas e até sexuais” e estão num “caminho direto para a degradação e o primitivismo”, afirmou Putin num discurso de 2013 citado por Myers. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

THE WASHINGTON POST - Enquanto a guerra na Ucrânia completa um mês de combates brutais, Vladimir Putin está obcecado com o país que ataca, irritado com seus generais, paranoico a respeito de seus inimigos domésticos e no exterior e embrulha seus feitos sanguinários numa terminologia quase mística, em sua visão sobre o passado e o futuro da Rússia.

Putin exibiu sua mentalidade num estádio na semana passada, ao invocar um santo-guerreiro cristão-ortodoxo russo que se referia às suas próprias batalhas com “trovoadas” que “glorificavam a Rússia”.

“Foi assim na época dele; é assim hoje e assim sempre será”, afirmou Putin a respeito de Fedor Ushakov, um almirante do século 18 que tinha a reputação de jamais ter sido derrotado em batalha e foi canonizado em 2001, pouco após Putin virar presidente.

Em imagem de 2019, Vladimir Putin treina com equipe de judô em Sochi Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV

As breves declarações de Putin serviram como lembrete de que sua personalidade é mais complexa — e talvez mais perigosa — do que o estereótipo comum que se tem dele, enquanto ex-agente da KGB que pretende ressuscitar a União Soviética. Putin não é só isso — é um fiel da Igreja Ortodoxa Russa, em vez de ateu, com uma ideologia mais próxima ao fascismo de Benito Mussolini do que ao comunismo de Vladimir Lênin.

Desvendar a charada da psique de Putin neste momento é questão de vida ou morte, enquanto a guerra na Ucrânia se arrasta e o mundo se preocupa com o perigo do presidente russo escalar o conflito com armas químicas ou até mesmo nucleares. Especialistas afirmam que Putin não é irracional no sentido clínico comum. Mas ele entrou num campo em que suas decisões são orientadas por um senso grandioso a respeito de seu lugar na história russa. Na cabeça dele, sua missão é transcendental.

O discurso no concerto é um bom lugar para começar a decodificar a aparência de Putin. O evento foi rotulado como uma celebração do aniversário do referendo de março de 2014, na Crimeia, endossando os elos da península com a Rússia depois que forças russas tomaram o território da Ucrânia. Putin usou o evento como um comício motivacional na esteira da brutal invasão à Ucrânia que ele lançou em 24 de fevereiro.

Putin descreveu o sangrento ataque como uma salvação para a Ucrânia — e falou de um dever religioso “de livrar essas pessoas do sofrimento”. De maneira estarrecedora, ele citou a Bíblia para justificar sua blitzkrieg: “Recordo as palavras das Sagradas Escrituras: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.”

As palavras de Putin soam perversas, até blasfemas, para nós no Ocidente. O Exército de Putin bombardeou hospitais, shopping centers e teatros de ópera na Ucrânia. Mas esta distorção é evidentemente a crença de Putin.

Em nome de Deus

A religiosidade de Putin é um aspecto pouco notado mas muito poderoso de sua personalidade. A mãe de Putin, Maria, foi uma mulher “profundamente religiosa”, de acordo com o biógrafo Steven Lee Myers, que sobreviveu ao cerco de Leningrado na 2.ª Guerra depois de implorar ajuda sob uma pilha de cadáveres. Quando seu filho Vladimir nasceu, em 1952, ela “batizou secretamente o menino”, escreve Myers.

Relata-se que Putin usa uma pequena cruz de alumínio que lhe foi dada pela mãe, de acordo com uma biografia publicada em 2012, de Chris Hutchins e Alexander Korobko. Ele não permitia que a cruz fosse vista quando trabalhava para a KGB, mas quando foi para Israel, em 1993, de acordo com os autores, Putin afirmou: “Coloquei a cruz em meu pescoço e desde então nunca mais tirei”.

A paixão de Putin pela Igreja Ortodoxa Russa fundamenta o senso de “unidade” entre a Rússia e a Ucrânia que ele expressou num divagante ensaio que escreveu em julho de 2021, um prenúncio do violento ataque que se seguiria. Putin notou que as raízes de sua fé estavam em Kiev, onde São Vladimir, no ano 988, deixou de ser pagão e se tornou cristão-ortodoxo. Os fiéis cristãos-ortodoxos foram com frequência oprimidos nos séculos subsequentes, mas persistiram na Rússia e na Ucrânia, escreveu Putin. “Somos um único povo”, proclamou ele.

Apesar de Putin com frequência se mostrar nostálgico em relação à URSS, seu ensaio de julho atacou os soviéticos por eles terem criado o que Putin qualificou como um falso senso de identidade distinta, consagrado numa república distinta extirpada da “Mãe Rússia”. “Os bolcheviques trataram o povo russo como material inexaurível para seus experimentos sociais”, escreveu Putin. “Um fato é cristalino: a Rússia foi roubada.”

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O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou o governo americano de atrapalhar as negociações com a Ucrânia

No lugar do comunismo, Putin propôs o que o professor de Yale Timothy Snyder descreveu como um “fascismo russo”, cujo guru ideológico foi o filósofo Ivan Ilian, que fugiu da Rússia em 1922, depois da Revolução Bolchevique, e visitou a Itália antes de se estabelecer na Alemanha. Ilian admirava o ditador italiano Mussolini e louvava os fascistas por captar o “espírito” popular, ou dukh. Ilian considerava a Rússia uma vítima perpétua do Ocidente, que precisava de um líder “másculo”, que se tornaria “o órgão vivo da Rússia”, de acordo com Snyder.

Putin abraçou este ideal místico russo. “A partir de 2005, Putin começou a restabelecer Ilian enquanto filósofo da corte no Kremlin”, escreve Snyder. Ele trouxe os restos de Ilian de volta à Rússia, colocou flores em seu túmulo e o citou em artigos, como o ensaio de 2012 explicando a visão de Ilian de que “a Rússia, enquanto organismo espiritual, serve não apenas às nações ortodoxas… mas a todas as nações do mundo”.

No cerne da visão de mundo de Putin há um senso de que a Rússia foi humilhada por uma conspiração do Ocidente. Na visão de Putin, os “países euro-atlânticos” perderam seu arrimo espiritual, de acordo com o biógrafo Myers. “Eles negam princípios morais e todas as identidades: nacionais, culturais, religiosas e até sexuais” e estão num “caminho direto para a degradação e o primitivismo”, afirmou Putin num discurso de 2013 citado por Myers. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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