Erros de cálculo do Kremlin são trágicos


Interpretação de que Otan e União Europeia constituíam ameaças levou líderes russos a decisões equivocadas

Por Anders Fogh Rasmussen e Project Syndicate

A agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma das maiores tragédias do nosso tempo, não apenas por seu terrível custo em vidas humanas, mas também porque não tem o menor sentido. Na realidade, os líderes russos julgaram de maneira fundamentalmente equivocada as intenções do Ocidente e criaram um confronto inteiramente desnecessário. A Rússia e o Ocidente - com economias estreitamente interligadas e vários objetivos políticos coincidentes na Europa e além dela - têm muito a ganhar com a cooperação pacífica. Mas, em vez de colaborar com as potências ocidentais para promover a prosperidade comum, o Kremlin voltou-se para seus parceiros no exterior. A razão era simples: a Rússia considerava a gradativa ampliação da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - alcançada mediante suas políticas de "vizinhança" e de "portas abertas", respectivamente - tentativas cuidadosamente orquestradas de cerceá-la e ameaçá-la. Segundo a retórica do Kremlin, recebendo em seu círculo ex-países soviéticos, a UE e a OTAN procuravam explicitamente enfraquecer a Rússia. Essa interpretação acabou levando a Rússia a responder à pretensão da Ucrânia de assinar um acordo de associação à UE com a anexação da Crimeia e com a criação de um "conflito congelado" no leste ucraniano. Mas a interpretação da Rússia estava evidentemente errada - e posso dizer isso com plena autoridade. Como primeiro-ministro da Dinamarca, presidi a cúpula da UE de 2002 em Copenhague, na qual os líderes europeus concordaram em uma ampliação do bloco jamais empreendida antes. Posteriormente, como secretário-geral da Otan, passei cinco anos presidindo o Conselho Otan-Rússia pela cooperação com a nossa maior vizinha.Ameaça. A verdade é que as jovens democracias da Europa Central e Oriental procuravam aderir à UE e à OTAN - trabalhando arduamente para obter o status de membros - porque ansiavam pela paz, pelo progresso e pela prosperidade. Foram as ambições daqueles países - e não uma vingança contra a Rússia - que levaram à ampliação da UE e da Otan. A Rússia não deveria lamentar a decisão dos seus vizinhos de aderir à UE e à Otan, que, afinal, preparavam o terreno para o progresso econômico e o aumento da segurança na região. A UE e a Otan apoiaram a criação de fortes instituições democráticas com bases no estado de direito e no respeito às minorias, o surgimento de economias viáveis e dinâmicas e a solução pacífica de disputas relativas às questões de fronteiras. A segurança e a prosperidade da Europa Central e Oriental beneficiam a todos - principalmente à Rússia. Hoje, a UE é o maior mercado externo da Rússia, enquanto uma importante parcela de suas exportações se dirige aos países membros que aderiram ao bloco em 2004. E a fronteira da Rússia com a UE, longe de representar uma ameaça, é a mais estável e segura. Na realidade, nenhum aliado da Otan atacaria a Rússia, pois tal decisão desafiaria um dogma fundamental do direito internacional: o respeito pela soberania dos outros países. No caso de disputas de fronteira, os membros da Otan têm o compromisso de encontrar soluções não violentas. Em suma, graças à UE e à OTAN, a estabilidade de suas fronteiras ocidentais, que a Rússia buscou durante séculos, agora foi atingida. Moscou deveria estar comemorando - e aproveitando a oportunidade para aprofundar seus laços com o Ocidente.Kremlin. Quando me tornei secretário-geral da Otan, em 2009, identifiquei como uma das principais prioridades o fortalecimento das relações com a Rússia. No final do ano seguinte, pareceu que estávamos realizando importantes progressos para o estreitamento da cooperação. Na terceira cúpula do Conselho Otan- Rússia, o então presidente russo, Dmitri Medvedev, e seus colegas de outros 28 países emitiram um comunicado conjunto no qual prometiam elaborar uma "verdadeira parceria estratégica". Mas, cinco anos mais tarde, a Rússia está longe de ser nosso parceiro estratégico. Ela é nosso problema estratégico. Na realidade, a atual doutrina militar russa refere-se à Otan como uma das principais ameaças externas à segurança da Federação Russa. Está na hora de redefinir a relação da Rússia com o Ocidente. Como primeiro passo, a UE, os Estados Unidos e os outros membros da Otan demonstrariam claramente que a cooperação vale a pena - e o confronto tem seus custos. Isso significa a continuação das sanções econômicas contra a Rússia e da ajuda econômica à Ucrânia. Do ponto de vista da segurança, a Otan deveria intensificar a defesa do seu território, enquanto os aliados da Otan ajudam a Ucrânia a melhorar sua capacidade de defesa. A UE e os Estados Unidos precisam manter-se firmes e unidos em sua política em relação à Rússia. Essa estratégia oferece a melhor chance de pôr fim ao atual confronto - e de obrigar a Rússia a se empenhar na cooperação de maneira construtiva. Evidentemente, para que a cooperação funcione, a Rússia precisa recuperar a confiança que quebrou, demonstrando seu empenho em obedecer aos tratados e às normas internacionais de comportamento com as quais concordou no passado. Quanto à Rússia hoje, a pacificação não levará à paz - ao contrário, uma estratégia conciliadora só prolongará o conflito. Quanto mais cedo o Ocidente convencer os líderes da Rússia de que não recuará, mais cedo o conflito se encerrará. Somente então a Rússia retornará ao caminho da cooperação construtiva com a UE, a Otan e os EUA - e a um futuro mais próspero. / Tradução de Anna CapovillaANDERS FOGH É EX-PRIMEIRO-MINISTRO DA DINAMARCA, EX-SECRETÁRIO-GERAL DA OTAN E PRESIDENTE DA RASMUSSEN GLOBAL

A agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma das maiores tragédias do nosso tempo, não apenas por seu terrível custo em vidas humanas, mas também porque não tem o menor sentido. Na realidade, os líderes russos julgaram de maneira fundamentalmente equivocada as intenções do Ocidente e criaram um confronto inteiramente desnecessário. A Rússia e o Ocidente - com economias estreitamente interligadas e vários objetivos políticos coincidentes na Europa e além dela - têm muito a ganhar com a cooperação pacífica. Mas, em vez de colaborar com as potências ocidentais para promover a prosperidade comum, o Kremlin voltou-se para seus parceiros no exterior. A razão era simples: a Rússia considerava a gradativa ampliação da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - alcançada mediante suas políticas de "vizinhança" e de "portas abertas", respectivamente - tentativas cuidadosamente orquestradas de cerceá-la e ameaçá-la. Segundo a retórica do Kremlin, recebendo em seu círculo ex-países soviéticos, a UE e a OTAN procuravam explicitamente enfraquecer a Rússia. Essa interpretação acabou levando a Rússia a responder à pretensão da Ucrânia de assinar um acordo de associação à UE com a anexação da Crimeia e com a criação de um "conflito congelado" no leste ucraniano. Mas a interpretação da Rússia estava evidentemente errada - e posso dizer isso com plena autoridade. Como primeiro-ministro da Dinamarca, presidi a cúpula da UE de 2002 em Copenhague, na qual os líderes europeus concordaram em uma ampliação do bloco jamais empreendida antes. Posteriormente, como secretário-geral da Otan, passei cinco anos presidindo o Conselho Otan-Rússia pela cooperação com a nossa maior vizinha.Ameaça. A verdade é que as jovens democracias da Europa Central e Oriental procuravam aderir à UE e à OTAN - trabalhando arduamente para obter o status de membros - porque ansiavam pela paz, pelo progresso e pela prosperidade. Foram as ambições daqueles países - e não uma vingança contra a Rússia - que levaram à ampliação da UE e da Otan. A Rússia não deveria lamentar a decisão dos seus vizinhos de aderir à UE e à Otan, que, afinal, preparavam o terreno para o progresso econômico e o aumento da segurança na região. A UE e a Otan apoiaram a criação de fortes instituições democráticas com bases no estado de direito e no respeito às minorias, o surgimento de economias viáveis e dinâmicas e a solução pacífica de disputas relativas às questões de fronteiras. A segurança e a prosperidade da Europa Central e Oriental beneficiam a todos - principalmente à Rússia. Hoje, a UE é o maior mercado externo da Rússia, enquanto uma importante parcela de suas exportações se dirige aos países membros que aderiram ao bloco em 2004. E a fronteira da Rússia com a UE, longe de representar uma ameaça, é a mais estável e segura. Na realidade, nenhum aliado da Otan atacaria a Rússia, pois tal decisão desafiaria um dogma fundamental do direito internacional: o respeito pela soberania dos outros países. No caso de disputas de fronteira, os membros da Otan têm o compromisso de encontrar soluções não violentas. Em suma, graças à UE e à OTAN, a estabilidade de suas fronteiras ocidentais, que a Rússia buscou durante séculos, agora foi atingida. Moscou deveria estar comemorando - e aproveitando a oportunidade para aprofundar seus laços com o Ocidente.Kremlin. Quando me tornei secretário-geral da Otan, em 2009, identifiquei como uma das principais prioridades o fortalecimento das relações com a Rússia. No final do ano seguinte, pareceu que estávamos realizando importantes progressos para o estreitamento da cooperação. Na terceira cúpula do Conselho Otan- Rússia, o então presidente russo, Dmitri Medvedev, e seus colegas de outros 28 países emitiram um comunicado conjunto no qual prometiam elaborar uma "verdadeira parceria estratégica". Mas, cinco anos mais tarde, a Rússia está longe de ser nosso parceiro estratégico. Ela é nosso problema estratégico. Na realidade, a atual doutrina militar russa refere-se à Otan como uma das principais ameaças externas à segurança da Federação Russa. Está na hora de redefinir a relação da Rússia com o Ocidente. Como primeiro passo, a UE, os Estados Unidos e os outros membros da Otan demonstrariam claramente que a cooperação vale a pena - e o confronto tem seus custos. Isso significa a continuação das sanções econômicas contra a Rússia e da ajuda econômica à Ucrânia. Do ponto de vista da segurança, a Otan deveria intensificar a defesa do seu território, enquanto os aliados da Otan ajudam a Ucrânia a melhorar sua capacidade de defesa. A UE e os Estados Unidos precisam manter-se firmes e unidos em sua política em relação à Rússia. Essa estratégia oferece a melhor chance de pôr fim ao atual confronto - e de obrigar a Rússia a se empenhar na cooperação de maneira construtiva. Evidentemente, para que a cooperação funcione, a Rússia precisa recuperar a confiança que quebrou, demonstrando seu empenho em obedecer aos tratados e às normas internacionais de comportamento com as quais concordou no passado. Quanto à Rússia hoje, a pacificação não levará à paz - ao contrário, uma estratégia conciliadora só prolongará o conflito. Quanto mais cedo o Ocidente convencer os líderes da Rússia de que não recuará, mais cedo o conflito se encerrará. Somente então a Rússia retornará ao caminho da cooperação construtiva com a UE, a Otan e os EUA - e a um futuro mais próspero. / Tradução de Anna CapovillaANDERS FOGH É EX-PRIMEIRO-MINISTRO DA DINAMARCA, EX-SECRETÁRIO-GERAL DA OTAN E PRESIDENTE DA RASMUSSEN GLOBAL

A agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma das maiores tragédias do nosso tempo, não apenas por seu terrível custo em vidas humanas, mas também porque não tem o menor sentido. Na realidade, os líderes russos julgaram de maneira fundamentalmente equivocada as intenções do Ocidente e criaram um confronto inteiramente desnecessário. A Rússia e o Ocidente - com economias estreitamente interligadas e vários objetivos políticos coincidentes na Europa e além dela - têm muito a ganhar com a cooperação pacífica. Mas, em vez de colaborar com as potências ocidentais para promover a prosperidade comum, o Kremlin voltou-se para seus parceiros no exterior. A razão era simples: a Rússia considerava a gradativa ampliação da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - alcançada mediante suas políticas de "vizinhança" e de "portas abertas", respectivamente - tentativas cuidadosamente orquestradas de cerceá-la e ameaçá-la. Segundo a retórica do Kremlin, recebendo em seu círculo ex-países soviéticos, a UE e a OTAN procuravam explicitamente enfraquecer a Rússia. Essa interpretação acabou levando a Rússia a responder à pretensão da Ucrânia de assinar um acordo de associação à UE com a anexação da Crimeia e com a criação de um "conflito congelado" no leste ucraniano. Mas a interpretação da Rússia estava evidentemente errada - e posso dizer isso com plena autoridade. Como primeiro-ministro da Dinamarca, presidi a cúpula da UE de 2002 em Copenhague, na qual os líderes europeus concordaram em uma ampliação do bloco jamais empreendida antes. Posteriormente, como secretário-geral da Otan, passei cinco anos presidindo o Conselho Otan-Rússia pela cooperação com a nossa maior vizinha.Ameaça. A verdade é que as jovens democracias da Europa Central e Oriental procuravam aderir à UE e à OTAN - trabalhando arduamente para obter o status de membros - porque ansiavam pela paz, pelo progresso e pela prosperidade. Foram as ambições daqueles países - e não uma vingança contra a Rússia - que levaram à ampliação da UE e da Otan. A Rússia não deveria lamentar a decisão dos seus vizinhos de aderir à UE e à Otan, que, afinal, preparavam o terreno para o progresso econômico e o aumento da segurança na região. A UE e a Otan apoiaram a criação de fortes instituições democráticas com bases no estado de direito e no respeito às minorias, o surgimento de economias viáveis e dinâmicas e a solução pacífica de disputas relativas às questões de fronteiras. A segurança e a prosperidade da Europa Central e Oriental beneficiam a todos - principalmente à Rússia. Hoje, a UE é o maior mercado externo da Rússia, enquanto uma importante parcela de suas exportações se dirige aos países membros que aderiram ao bloco em 2004. E a fronteira da Rússia com a UE, longe de representar uma ameaça, é a mais estável e segura. Na realidade, nenhum aliado da Otan atacaria a Rússia, pois tal decisão desafiaria um dogma fundamental do direito internacional: o respeito pela soberania dos outros países. No caso de disputas de fronteira, os membros da Otan têm o compromisso de encontrar soluções não violentas. Em suma, graças à UE e à OTAN, a estabilidade de suas fronteiras ocidentais, que a Rússia buscou durante séculos, agora foi atingida. Moscou deveria estar comemorando - e aproveitando a oportunidade para aprofundar seus laços com o Ocidente.Kremlin. Quando me tornei secretário-geral da Otan, em 2009, identifiquei como uma das principais prioridades o fortalecimento das relações com a Rússia. No final do ano seguinte, pareceu que estávamos realizando importantes progressos para o estreitamento da cooperação. Na terceira cúpula do Conselho Otan- Rússia, o então presidente russo, Dmitri Medvedev, e seus colegas de outros 28 países emitiram um comunicado conjunto no qual prometiam elaborar uma "verdadeira parceria estratégica". Mas, cinco anos mais tarde, a Rússia está longe de ser nosso parceiro estratégico. Ela é nosso problema estratégico. Na realidade, a atual doutrina militar russa refere-se à Otan como uma das principais ameaças externas à segurança da Federação Russa. Está na hora de redefinir a relação da Rússia com o Ocidente. Como primeiro passo, a UE, os Estados Unidos e os outros membros da Otan demonstrariam claramente que a cooperação vale a pena - e o confronto tem seus custos. Isso significa a continuação das sanções econômicas contra a Rússia e da ajuda econômica à Ucrânia. Do ponto de vista da segurança, a Otan deveria intensificar a defesa do seu território, enquanto os aliados da Otan ajudam a Ucrânia a melhorar sua capacidade de defesa. A UE e os Estados Unidos precisam manter-se firmes e unidos em sua política em relação à Rússia. Essa estratégia oferece a melhor chance de pôr fim ao atual confronto - e de obrigar a Rússia a se empenhar na cooperação de maneira construtiva. Evidentemente, para que a cooperação funcione, a Rússia precisa recuperar a confiança que quebrou, demonstrando seu empenho em obedecer aos tratados e às normas internacionais de comportamento com as quais concordou no passado. Quanto à Rússia hoje, a pacificação não levará à paz - ao contrário, uma estratégia conciliadora só prolongará o conflito. Quanto mais cedo o Ocidente convencer os líderes da Rússia de que não recuará, mais cedo o conflito se encerrará. Somente então a Rússia retornará ao caminho da cooperação construtiva com a UE, a Otan e os EUA - e a um futuro mais próspero. / Tradução de Anna CapovillaANDERS FOGH É EX-PRIMEIRO-MINISTRO DA DINAMARCA, EX-SECRETÁRIO-GERAL DA OTAN E PRESIDENTE DA RASMUSSEN GLOBAL

A agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma das maiores tragédias do nosso tempo, não apenas por seu terrível custo em vidas humanas, mas também porque não tem o menor sentido. Na realidade, os líderes russos julgaram de maneira fundamentalmente equivocada as intenções do Ocidente e criaram um confronto inteiramente desnecessário. A Rússia e o Ocidente - com economias estreitamente interligadas e vários objetivos políticos coincidentes na Europa e além dela - têm muito a ganhar com a cooperação pacífica. Mas, em vez de colaborar com as potências ocidentais para promover a prosperidade comum, o Kremlin voltou-se para seus parceiros no exterior. A razão era simples: a Rússia considerava a gradativa ampliação da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - alcançada mediante suas políticas de "vizinhança" e de "portas abertas", respectivamente - tentativas cuidadosamente orquestradas de cerceá-la e ameaçá-la. Segundo a retórica do Kremlin, recebendo em seu círculo ex-países soviéticos, a UE e a OTAN procuravam explicitamente enfraquecer a Rússia. Essa interpretação acabou levando a Rússia a responder à pretensão da Ucrânia de assinar um acordo de associação à UE com a anexação da Crimeia e com a criação de um "conflito congelado" no leste ucraniano. Mas a interpretação da Rússia estava evidentemente errada - e posso dizer isso com plena autoridade. Como primeiro-ministro da Dinamarca, presidi a cúpula da UE de 2002 em Copenhague, na qual os líderes europeus concordaram em uma ampliação do bloco jamais empreendida antes. Posteriormente, como secretário-geral da Otan, passei cinco anos presidindo o Conselho Otan-Rússia pela cooperação com a nossa maior vizinha.Ameaça. A verdade é que as jovens democracias da Europa Central e Oriental procuravam aderir à UE e à OTAN - trabalhando arduamente para obter o status de membros - porque ansiavam pela paz, pelo progresso e pela prosperidade. Foram as ambições daqueles países - e não uma vingança contra a Rússia - que levaram à ampliação da UE e da Otan. A Rússia não deveria lamentar a decisão dos seus vizinhos de aderir à UE e à Otan, que, afinal, preparavam o terreno para o progresso econômico e o aumento da segurança na região. A UE e a Otan apoiaram a criação de fortes instituições democráticas com bases no estado de direito e no respeito às minorias, o surgimento de economias viáveis e dinâmicas e a solução pacífica de disputas relativas às questões de fronteiras. A segurança e a prosperidade da Europa Central e Oriental beneficiam a todos - principalmente à Rússia. Hoje, a UE é o maior mercado externo da Rússia, enquanto uma importante parcela de suas exportações se dirige aos países membros que aderiram ao bloco em 2004. E a fronteira da Rússia com a UE, longe de representar uma ameaça, é a mais estável e segura. Na realidade, nenhum aliado da Otan atacaria a Rússia, pois tal decisão desafiaria um dogma fundamental do direito internacional: o respeito pela soberania dos outros países. No caso de disputas de fronteira, os membros da Otan têm o compromisso de encontrar soluções não violentas. Em suma, graças à UE e à OTAN, a estabilidade de suas fronteiras ocidentais, que a Rússia buscou durante séculos, agora foi atingida. Moscou deveria estar comemorando - e aproveitando a oportunidade para aprofundar seus laços com o Ocidente.Kremlin. Quando me tornei secretário-geral da Otan, em 2009, identifiquei como uma das principais prioridades o fortalecimento das relações com a Rússia. No final do ano seguinte, pareceu que estávamos realizando importantes progressos para o estreitamento da cooperação. Na terceira cúpula do Conselho Otan- Rússia, o então presidente russo, Dmitri Medvedev, e seus colegas de outros 28 países emitiram um comunicado conjunto no qual prometiam elaborar uma "verdadeira parceria estratégica". Mas, cinco anos mais tarde, a Rússia está longe de ser nosso parceiro estratégico. Ela é nosso problema estratégico. Na realidade, a atual doutrina militar russa refere-se à Otan como uma das principais ameaças externas à segurança da Federação Russa. Está na hora de redefinir a relação da Rússia com o Ocidente. Como primeiro passo, a UE, os Estados Unidos e os outros membros da Otan demonstrariam claramente que a cooperação vale a pena - e o confronto tem seus custos. Isso significa a continuação das sanções econômicas contra a Rússia e da ajuda econômica à Ucrânia. Do ponto de vista da segurança, a Otan deveria intensificar a defesa do seu território, enquanto os aliados da Otan ajudam a Ucrânia a melhorar sua capacidade de defesa. A UE e os Estados Unidos precisam manter-se firmes e unidos em sua política em relação à Rússia. Essa estratégia oferece a melhor chance de pôr fim ao atual confronto - e de obrigar a Rússia a se empenhar na cooperação de maneira construtiva. Evidentemente, para que a cooperação funcione, a Rússia precisa recuperar a confiança que quebrou, demonstrando seu empenho em obedecer aos tratados e às normas internacionais de comportamento com as quais concordou no passado. Quanto à Rússia hoje, a pacificação não levará à paz - ao contrário, uma estratégia conciliadora só prolongará o conflito. Quanto mais cedo o Ocidente convencer os líderes da Rússia de que não recuará, mais cedo o conflito se encerrará. Somente então a Rússia retornará ao caminho da cooperação construtiva com a UE, a Otan e os EUA - e a um futuro mais próspero. / Tradução de Anna CapovillaANDERS FOGH É EX-PRIMEIRO-MINISTRO DA DINAMARCA, EX-SECRETÁRIO-GERAL DA OTAN E PRESIDENTE DA RASMUSSEN GLOBAL

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