Escândalo no kirchnerismo ameaça campanha de Sergio Massa na reta final de eleições na Argentina


Imagens do chefe de Gabinete do governo de Buenos Aires aproveitando as férias com uma modelo em iate na Espanha viralizaram e se somam a outros dois escândalos no peronismo

Por Carolina Marins
Atualização:

Na reta final das campanhas para o primeiro turno das eleições na Argentina, fotos de um membro do governo aproveitando férias luxuosas na Espanha enquanto os números de pobreza do país saltam respingaram no candidato peronista Sergio Massa. As imagens publicadas se espalharam na redes sociais e fizeram do ministro-candidato um alvo no debate presidencial do último domingo, 1º, enquanto ele luta para conseguir uma vaga no segundo turno.

No último sábado, 30, a modelo Sofía Clerici publicou em seu Instagram fotos junto com Martín Insaurralde, kirchnerista que até então era chefe de Gabinete da província de Buenos Aires e disputava um cargo de vereador em Lomas de Zamora, uma cidade-chave da grande Buenos Aires. Nas imagens, o político aparece não apenas em um iate de luxo em Marbella, na Espanha, mas rodeado de champanhe, bolsas Louis Vuitton e relógios Rolex.

Clerici chegou a apagar as imagens minutos depois, mas rapidamente elas viralizaram na rede social X (antigo Twitter). Poucas horas depois, Insaurralde renunciou de seu cargo e nesta segunda-feira, 2, desistiu da corrida eleitoral, a pedido de Sergio Massa, segundo os jornais argentinos. O escândalo ameaça não apenas a corrida presidencial peronista, mas coloca em xeque a vitória de Axel Kicillof na província de Buenos Aires, até então dada como certa.

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O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, durante o debate presidencial deste domingo, 1º Foto: Tomas F. Cuesta/AP

Os opositores de Massa logo se pronunciaram nas redes. “Quando os políticos dizem que a despesa pública é sagrada e que nada pode ser cortado, é porque estão se preocupando com os negócios que lhes permitem viver como monarcas”, escreveu o libertário Javier Milei. Logo em seu discurso de apresentação no debate, a candidata Myriam Bregman, do Frente de Esquerda e da Unidade dos Trabalhadores, disparou “Enquanto o povo passa fome, eles vão nos seus luxuosos iates passear pela Europa”.

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“Massa, explique aos argentinos como sendo o pior ministro da Economia, você pode ser presidente”, lançou Patricia Bullrich, candidata pela oposição do Juntos pela Mudança. “Como você pode se dividir em duas pessoas com tanto cinismo. Você aumentou 40 impostos e agora quer fazer uma lei criminal, já tem o primeiro, implique Insaurralde”. Mas analistas admitem que esperavam que o escândalo fosse mais explorado do que realmente foi no debate de ontem.

Ao fim do debate presidencial, ocorrido na empobrecida província de Santiago del Estero, Massa pediu abertamente a renúncia do chefe de Gabinete de Buenos Aires: “Insaurralde cometeu um erro grave, renunciou (ao cargo no gabinete) e tem que renunciar à candidatura”. De acordo com o jornal argentino Clarín, nos bastidores Massa pressionou para a queda do político.

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“Como não quero ser utilizado para afetar o espaço político no processo eleitoral, hoje apresentei a minha demissão do cargo de Chefe de Gabinete da Província”, disse Insaurralde ao renunciar no mesmo sábado.

A província em risco

Com a improbabilidade de Massa vencer as eleições presidenciais, já que em um cenário de segundo turno ele perderia para Milei e para Bullrich, o peronismo aposta todas as fichas nas eleições para a província de Buenos Aires. E é justamente nesta eleição que o peronismo pode sofrer a sua derrota mais dramática.

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A chapa peronista do União pela Pátria venceu as primárias para o governo de Buenos Aires, com Axel Kicillof recebendo mais de 36% dos votos contra o Juntos pela Mudança (32,92%) pela sua reeleição. A diferença, porém, foi pequena e não seria impossível uma virada da oposição.

O União pela Pátria também disputa a prefeitura da cidade de Buenos Aires, mas com menores probabilidades de vitória, já que Jorge Macri, primo de Mauricio Macri, lidera a corrida. A província de Buenos Aires, que tem o maior eleitorado do país, foi uma das poucas onde ganhou Sergio Massa na primárias.

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Para saber como este escândalo afetará o peronismo nas próximas semanas será necessário esperar a reação das próprias lideranças peronistas, defende Facundo Cruz, cientista político e coordenador geral do Instituto Pulsar da Universidade de Buenos Aires.

“Sergio Massa reagiu rapidamente [ao escândalo]”, aponta Cruz. “Ontem deu declarações à imprensa sobre o que aconteceu com Insaurralde e não só aplaudiu sua renúncia à liderança de gabinete, mas foi mais longe e pediu-lhe que desistisse da lista de vereadores em Lomas de Zamora. Então já estamos vendo mais um Sergio Massa que de alguma forma busca se consolidar como o líder do peronismo e aquele que dita as diretrizes para os demais dirigentes”.

O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, com o governador de Buenos Aires e candidato à reeleição, Axel Kicillof Foto: Juan Mabromata/AFP
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Kicillof, que é próximo de Insaurralde, foi rápido em aceitar sua renúncia de sua equipe. Mas nas redes sociais as críticas giravam em torno da renúncia ter partido do próprio chefe de Gabinete e não uma demissão direta por Kicillof.

De acordo com jornais argentinos, logo após o debate eleitoral, toda a cúpula peronista, incluindo Massa e Cristina Kirchner, se reuniram para decidir o que fazer no caso. Logo em seguida, Massa buscou se distanciar do candidato a vereador que aparece no fim de sua cédula eleitoral. Hoje, um vídeo viralizou nas redes mostrando um cartaz de Insaurralde junto o candidato peronista para a prefeitura de Lomas e Zamora sendo retirado às pressas na cidade.

Outros escândalos

O escândalo se soma a outros dois dentro do peronismo. Há poucas semanas foi preso Julio “Chocolate” Rigau, um influente político do Partido Justicialista (PJ) que foi pego sacando dinheiro de ao menos 48 cartões de débito pertencentes a funcionários da Assembleia Legislativa de Buenos Aires. Estima-se que ele arrecadava mais 27,5 milhões de pesos (cerca de R$ 400 mil no câmbio oficial) por mês com a ação, mas ainda não se sabe para o que o dinheiro era destinado.

O caso ainda está sendo investigado, mas Rigau já foi solto e os juízes que ordenaram sua soltura também passaram a ser investigados. A Justiça argentina busca descobrir se “Chocolate” Rigau agia sozinho ou se fazia parte de um esquema muito maior de corrupção na câmara baixa da província. A casa é presidida por Federico Otermín, atual candidato a prefeito de Lomas de Zamora e braço direito do mesmo Insaurralde.

Aos dois escândalos acrescentam um anterior, envolvendo a instituição estatal Banco de la Nación Argentina. No início de setembro, se descobriu que a gerente geral María del Carmen Barrios havia contratado a clarividente e numeróloga Verónica Laura Asad, conhecida como Pitty, para atuar durante seis meses para a instituição.

O Banco de la Nación Argentina é atualmente comandado por Silvina Batakis, ex-ministra da Economia nomeada por Alberto Fernández em 2022 que sobreviveu apenas 24 dias para dar lugar a Massa no cargo. María del Carmen Barrios foi afastada nesta segunda da gerência do banco, a pedido direto de Massa, segundo os jornais argentinos.

“Parece-me que todo o escândalo, tanto o de Martín Insaurralde como o de ‘Chocolate’ Rigau, é mais um elemento que sustenta esta agenda de discussão sobre a ‘casta política’”, aponta Facundo Cruz. “Até que ponto isso vai modificar as preferências dos cidadãos? Parece-me que temos que esperar que o tema se arrefeça porque ainda está quente. Acho que devíamos deixar passar umas duas semanas, para ver se os estudos de opinião mudam de alguma forma as tendências.”

Na reta final das campanhas para o primeiro turno das eleições na Argentina, fotos de um membro do governo aproveitando férias luxuosas na Espanha enquanto os números de pobreza do país saltam respingaram no candidato peronista Sergio Massa. As imagens publicadas se espalharam na redes sociais e fizeram do ministro-candidato um alvo no debate presidencial do último domingo, 1º, enquanto ele luta para conseguir uma vaga no segundo turno.

No último sábado, 30, a modelo Sofía Clerici publicou em seu Instagram fotos junto com Martín Insaurralde, kirchnerista que até então era chefe de Gabinete da província de Buenos Aires e disputava um cargo de vereador em Lomas de Zamora, uma cidade-chave da grande Buenos Aires. Nas imagens, o político aparece não apenas em um iate de luxo em Marbella, na Espanha, mas rodeado de champanhe, bolsas Louis Vuitton e relógios Rolex.

Clerici chegou a apagar as imagens minutos depois, mas rapidamente elas viralizaram na rede social X (antigo Twitter). Poucas horas depois, Insaurralde renunciou de seu cargo e nesta segunda-feira, 2, desistiu da corrida eleitoral, a pedido de Sergio Massa, segundo os jornais argentinos. O escândalo ameaça não apenas a corrida presidencial peronista, mas coloca em xeque a vitória de Axel Kicillof na província de Buenos Aires, até então dada como certa.

O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, durante o debate presidencial deste domingo, 1º Foto: Tomas F. Cuesta/AP

Os opositores de Massa logo se pronunciaram nas redes. “Quando os políticos dizem que a despesa pública é sagrada e que nada pode ser cortado, é porque estão se preocupando com os negócios que lhes permitem viver como monarcas”, escreveu o libertário Javier Milei. Logo em seu discurso de apresentação no debate, a candidata Myriam Bregman, do Frente de Esquerda e da Unidade dos Trabalhadores, disparou “Enquanto o povo passa fome, eles vão nos seus luxuosos iates passear pela Europa”.

“Massa, explique aos argentinos como sendo o pior ministro da Economia, você pode ser presidente”, lançou Patricia Bullrich, candidata pela oposição do Juntos pela Mudança. “Como você pode se dividir em duas pessoas com tanto cinismo. Você aumentou 40 impostos e agora quer fazer uma lei criminal, já tem o primeiro, implique Insaurralde”. Mas analistas admitem que esperavam que o escândalo fosse mais explorado do que realmente foi no debate de ontem.

Ao fim do debate presidencial, ocorrido na empobrecida província de Santiago del Estero, Massa pediu abertamente a renúncia do chefe de Gabinete de Buenos Aires: “Insaurralde cometeu um erro grave, renunciou (ao cargo no gabinete) e tem que renunciar à candidatura”. De acordo com o jornal argentino Clarín, nos bastidores Massa pressionou para a queda do político.

“Como não quero ser utilizado para afetar o espaço político no processo eleitoral, hoje apresentei a minha demissão do cargo de Chefe de Gabinete da Província”, disse Insaurralde ao renunciar no mesmo sábado.

A província em risco

Com a improbabilidade de Massa vencer as eleições presidenciais, já que em um cenário de segundo turno ele perderia para Milei e para Bullrich, o peronismo aposta todas as fichas nas eleições para a província de Buenos Aires. E é justamente nesta eleição que o peronismo pode sofrer a sua derrota mais dramática.

A chapa peronista do União pela Pátria venceu as primárias para o governo de Buenos Aires, com Axel Kicillof recebendo mais de 36% dos votos contra o Juntos pela Mudança (32,92%) pela sua reeleição. A diferença, porém, foi pequena e não seria impossível uma virada da oposição.

O União pela Pátria também disputa a prefeitura da cidade de Buenos Aires, mas com menores probabilidades de vitória, já que Jorge Macri, primo de Mauricio Macri, lidera a corrida. A província de Buenos Aires, que tem o maior eleitorado do país, foi uma das poucas onde ganhou Sergio Massa na primárias.

Para saber como este escândalo afetará o peronismo nas próximas semanas será necessário esperar a reação das próprias lideranças peronistas, defende Facundo Cruz, cientista político e coordenador geral do Instituto Pulsar da Universidade de Buenos Aires.

“Sergio Massa reagiu rapidamente [ao escândalo]”, aponta Cruz. “Ontem deu declarações à imprensa sobre o que aconteceu com Insaurralde e não só aplaudiu sua renúncia à liderança de gabinete, mas foi mais longe e pediu-lhe que desistisse da lista de vereadores em Lomas de Zamora. Então já estamos vendo mais um Sergio Massa que de alguma forma busca se consolidar como o líder do peronismo e aquele que dita as diretrizes para os demais dirigentes”.

O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, com o governador de Buenos Aires e candidato à reeleição, Axel Kicillof Foto: Juan Mabromata/AFP

Kicillof, que é próximo de Insaurralde, foi rápido em aceitar sua renúncia de sua equipe. Mas nas redes sociais as críticas giravam em torno da renúncia ter partido do próprio chefe de Gabinete e não uma demissão direta por Kicillof.

De acordo com jornais argentinos, logo após o debate eleitoral, toda a cúpula peronista, incluindo Massa e Cristina Kirchner, se reuniram para decidir o que fazer no caso. Logo em seguida, Massa buscou se distanciar do candidato a vereador que aparece no fim de sua cédula eleitoral. Hoje, um vídeo viralizou nas redes mostrando um cartaz de Insaurralde junto o candidato peronista para a prefeitura de Lomas e Zamora sendo retirado às pressas na cidade.

Outros escândalos

O escândalo se soma a outros dois dentro do peronismo. Há poucas semanas foi preso Julio “Chocolate” Rigau, um influente político do Partido Justicialista (PJ) que foi pego sacando dinheiro de ao menos 48 cartões de débito pertencentes a funcionários da Assembleia Legislativa de Buenos Aires. Estima-se que ele arrecadava mais 27,5 milhões de pesos (cerca de R$ 400 mil no câmbio oficial) por mês com a ação, mas ainda não se sabe para o que o dinheiro era destinado.

O caso ainda está sendo investigado, mas Rigau já foi solto e os juízes que ordenaram sua soltura também passaram a ser investigados. A Justiça argentina busca descobrir se “Chocolate” Rigau agia sozinho ou se fazia parte de um esquema muito maior de corrupção na câmara baixa da província. A casa é presidida por Federico Otermín, atual candidato a prefeito de Lomas de Zamora e braço direito do mesmo Insaurralde.

Aos dois escândalos acrescentam um anterior, envolvendo a instituição estatal Banco de la Nación Argentina. No início de setembro, se descobriu que a gerente geral María del Carmen Barrios havia contratado a clarividente e numeróloga Verónica Laura Asad, conhecida como Pitty, para atuar durante seis meses para a instituição.

O Banco de la Nación Argentina é atualmente comandado por Silvina Batakis, ex-ministra da Economia nomeada por Alberto Fernández em 2022 que sobreviveu apenas 24 dias para dar lugar a Massa no cargo. María del Carmen Barrios foi afastada nesta segunda da gerência do banco, a pedido direto de Massa, segundo os jornais argentinos.

“Parece-me que todo o escândalo, tanto o de Martín Insaurralde como o de ‘Chocolate’ Rigau, é mais um elemento que sustenta esta agenda de discussão sobre a ‘casta política’”, aponta Facundo Cruz. “Até que ponto isso vai modificar as preferências dos cidadãos? Parece-me que temos que esperar que o tema se arrefeça porque ainda está quente. Acho que devíamos deixar passar umas duas semanas, para ver se os estudos de opinião mudam de alguma forma as tendências.”

Na reta final das campanhas para o primeiro turno das eleições na Argentina, fotos de um membro do governo aproveitando férias luxuosas na Espanha enquanto os números de pobreza do país saltam respingaram no candidato peronista Sergio Massa. As imagens publicadas se espalharam na redes sociais e fizeram do ministro-candidato um alvo no debate presidencial do último domingo, 1º, enquanto ele luta para conseguir uma vaga no segundo turno.

No último sábado, 30, a modelo Sofía Clerici publicou em seu Instagram fotos junto com Martín Insaurralde, kirchnerista que até então era chefe de Gabinete da província de Buenos Aires e disputava um cargo de vereador em Lomas de Zamora, uma cidade-chave da grande Buenos Aires. Nas imagens, o político aparece não apenas em um iate de luxo em Marbella, na Espanha, mas rodeado de champanhe, bolsas Louis Vuitton e relógios Rolex.

Clerici chegou a apagar as imagens minutos depois, mas rapidamente elas viralizaram na rede social X (antigo Twitter). Poucas horas depois, Insaurralde renunciou de seu cargo e nesta segunda-feira, 2, desistiu da corrida eleitoral, a pedido de Sergio Massa, segundo os jornais argentinos. O escândalo ameaça não apenas a corrida presidencial peronista, mas coloca em xeque a vitória de Axel Kicillof na província de Buenos Aires, até então dada como certa.

O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, durante o debate presidencial deste domingo, 1º Foto: Tomas F. Cuesta/AP

Os opositores de Massa logo se pronunciaram nas redes. “Quando os políticos dizem que a despesa pública é sagrada e que nada pode ser cortado, é porque estão se preocupando com os negócios que lhes permitem viver como monarcas”, escreveu o libertário Javier Milei. Logo em seu discurso de apresentação no debate, a candidata Myriam Bregman, do Frente de Esquerda e da Unidade dos Trabalhadores, disparou “Enquanto o povo passa fome, eles vão nos seus luxuosos iates passear pela Europa”.

“Massa, explique aos argentinos como sendo o pior ministro da Economia, você pode ser presidente”, lançou Patricia Bullrich, candidata pela oposição do Juntos pela Mudança. “Como você pode se dividir em duas pessoas com tanto cinismo. Você aumentou 40 impostos e agora quer fazer uma lei criminal, já tem o primeiro, implique Insaurralde”. Mas analistas admitem que esperavam que o escândalo fosse mais explorado do que realmente foi no debate de ontem.

Ao fim do debate presidencial, ocorrido na empobrecida província de Santiago del Estero, Massa pediu abertamente a renúncia do chefe de Gabinete de Buenos Aires: “Insaurralde cometeu um erro grave, renunciou (ao cargo no gabinete) e tem que renunciar à candidatura”. De acordo com o jornal argentino Clarín, nos bastidores Massa pressionou para a queda do político.

“Como não quero ser utilizado para afetar o espaço político no processo eleitoral, hoje apresentei a minha demissão do cargo de Chefe de Gabinete da Província”, disse Insaurralde ao renunciar no mesmo sábado.

A província em risco

Com a improbabilidade de Massa vencer as eleições presidenciais, já que em um cenário de segundo turno ele perderia para Milei e para Bullrich, o peronismo aposta todas as fichas nas eleições para a província de Buenos Aires. E é justamente nesta eleição que o peronismo pode sofrer a sua derrota mais dramática.

A chapa peronista do União pela Pátria venceu as primárias para o governo de Buenos Aires, com Axel Kicillof recebendo mais de 36% dos votos contra o Juntos pela Mudança (32,92%) pela sua reeleição. A diferença, porém, foi pequena e não seria impossível uma virada da oposição.

O União pela Pátria também disputa a prefeitura da cidade de Buenos Aires, mas com menores probabilidades de vitória, já que Jorge Macri, primo de Mauricio Macri, lidera a corrida. A província de Buenos Aires, que tem o maior eleitorado do país, foi uma das poucas onde ganhou Sergio Massa na primárias.

Para saber como este escândalo afetará o peronismo nas próximas semanas será necessário esperar a reação das próprias lideranças peronistas, defende Facundo Cruz, cientista político e coordenador geral do Instituto Pulsar da Universidade de Buenos Aires.

“Sergio Massa reagiu rapidamente [ao escândalo]”, aponta Cruz. “Ontem deu declarações à imprensa sobre o que aconteceu com Insaurralde e não só aplaudiu sua renúncia à liderança de gabinete, mas foi mais longe e pediu-lhe que desistisse da lista de vereadores em Lomas de Zamora. Então já estamos vendo mais um Sergio Massa que de alguma forma busca se consolidar como o líder do peronismo e aquele que dita as diretrizes para os demais dirigentes”.

O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, com o governador de Buenos Aires e candidato à reeleição, Axel Kicillof Foto: Juan Mabromata/AFP

Kicillof, que é próximo de Insaurralde, foi rápido em aceitar sua renúncia de sua equipe. Mas nas redes sociais as críticas giravam em torno da renúncia ter partido do próprio chefe de Gabinete e não uma demissão direta por Kicillof.

De acordo com jornais argentinos, logo após o debate eleitoral, toda a cúpula peronista, incluindo Massa e Cristina Kirchner, se reuniram para decidir o que fazer no caso. Logo em seguida, Massa buscou se distanciar do candidato a vereador que aparece no fim de sua cédula eleitoral. Hoje, um vídeo viralizou nas redes mostrando um cartaz de Insaurralde junto o candidato peronista para a prefeitura de Lomas e Zamora sendo retirado às pressas na cidade.

Outros escândalos

O escândalo se soma a outros dois dentro do peronismo. Há poucas semanas foi preso Julio “Chocolate” Rigau, um influente político do Partido Justicialista (PJ) que foi pego sacando dinheiro de ao menos 48 cartões de débito pertencentes a funcionários da Assembleia Legislativa de Buenos Aires. Estima-se que ele arrecadava mais 27,5 milhões de pesos (cerca de R$ 400 mil no câmbio oficial) por mês com a ação, mas ainda não se sabe para o que o dinheiro era destinado.

O caso ainda está sendo investigado, mas Rigau já foi solto e os juízes que ordenaram sua soltura também passaram a ser investigados. A Justiça argentina busca descobrir se “Chocolate” Rigau agia sozinho ou se fazia parte de um esquema muito maior de corrupção na câmara baixa da província. A casa é presidida por Federico Otermín, atual candidato a prefeito de Lomas de Zamora e braço direito do mesmo Insaurralde.

Aos dois escândalos acrescentam um anterior, envolvendo a instituição estatal Banco de la Nación Argentina. No início de setembro, se descobriu que a gerente geral María del Carmen Barrios havia contratado a clarividente e numeróloga Verónica Laura Asad, conhecida como Pitty, para atuar durante seis meses para a instituição.

O Banco de la Nación Argentina é atualmente comandado por Silvina Batakis, ex-ministra da Economia nomeada por Alberto Fernández em 2022 que sobreviveu apenas 24 dias para dar lugar a Massa no cargo. María del Carmen Barrios foi afastada nesta segunda da gerência do banco, a pedido direto de Massa, segundo os jornais argentinos.

“Parece-me que todo o escândalo, tanto o de Martín Insaurralde como o de ‘Chocolate’ Rigau, é mais um elemento que sustenta esta agenda de discussão sobre a ‘casta política’”, aponta Facundo Cruz. “Até que ponto isso vai modificar as preferências dos cidadãos? Parece-me que temos que esperar que o tema se arrefeça porque ainda está quente. Acho que devíamos deixar passar umas duas semanas, para ver se os estudos de opinião mudam de alguma forma as tendências.”

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