Espiões russos no Brasil: como Putin renovou programa soviético na América Latina para treiná-los


Serviços de espionagem russos são acusados de coleta de informações, manipulação e assassinatos; países latino-americanos são pilares importantes para o sucesso da espionagem

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

A descoberta recente de três espiões russos disfarçados de cidadãos brasileiros para coletar informações nos Estados Unidos e na Europa chamou a atenção para uma das maiores redes de espionagem mundiais. Com modernização após a invasão na Geórgia em 2008, quando uma série de falhas ficou evidente, os serviços de inteligência russos – em especial o seu braço militar, o GRU – se tornaram um dos projetos mais estruturados do governo de Vladimir Putin, ele mesmo um espião antes de se tornar presidente. Desde então, eles acumulam acusações de operações de espionagem, manipulação de informações e assassinatos.

Para isso, a inserção de espiões disfarçados de cidadãos comuns para coletar informações – à lá James Bond ou aos agentes secretos soviéticos retratados na série The Americans – é uma parte crucial da estrutura. Nos últimos meses, descobriu-se que o Brasil e outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são pilares importantes para o sucesso da espionagem.

São através dos passaportes destes países, obtidos com facilidade e vistos como “simpáticos” no mundo, que os russos se camuflam em uma “vida comum”, onde casam, têm filhos, um emprego simples, à espera da oportunidade de servir ao Kremlin. O método, considerado ilegal, mas amplamente utilizado por diversos países, acontece em paralelo a outras formas de coletar informações, como espionagem cibernética e o trabalho realizado por diplomatas.

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Imagem mostra dois agentes russos acusados de tentarem assassinar o ex-oficial de inteligência russo, Serguei Skripal, em 2008. Skripal fez o papel de agente duplo e foi alvo de operações do GRU Foto: Cedida / via REUTERS

Com o isolamento crescente da Rússia no cenário internacional, os serviços de espionagem se tornaram o instrumento mais forte utilizado para coletar informações secretas e influenciar processos para servir aos interesses russos. As operações mais agressivas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU, órgão do Ministério da Defesa da Rússia com ampla autonomia.

Entre a lista de acusações contra o órgão, estão a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano, ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.

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De acordo com analistas, o GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, que sucedeu a KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que havia sido perdida durante a década de 90.

“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney.

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Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.

Reestruturação da espionagem russa

O programa atual de espionagem da Rússia não seria possível sem o apoio do presidente, Vladimir Putin, ex-funcionário da KGB e diretor da FSB antes da chegada ao Kremlin. Quando a Rússia iniciou a modernização dos serviços militares após perceber falhas nas informações coletadas na invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro após oito anos na presidência, mas mantinha grande influência sobre o governo do aliado Dmitri Medvedev. Ao retornar ao Kremlin em 2012, as agências tinham autonomia e o apoio dele para operar.

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“A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. O Putin, além de ter conseguido a recuperação econômica nos anos 2000, provém dos serviços de segurança e deu prioridade a isso”, afirma o historiador e professor da USP, Angelo Segrillo, especialista em Rússia.

Presidente russo, Vladimir Putin, durante videoconferência com o Conselho de Segurança, em imagem do dia 31 de março. Ex-espião, Putin estruturou sistema de espionagem moderno da Rússia Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via EFE

Um relatório do serviço de pesquisa do Congresso dos EUA publicado em 2021 indica que a estrutura atual do GRU permite total autonomia e que o órgão se reporte diretamente a Putin. As atividades desenvolvidas pelo serviço se especializaram em áreas desregulamentadas – como zonas de guerra e na internet – e para atuar de maneira mais agressiva, enquanto o FSB está ligado à inteligência interna e dos países que fazem fronteira com a Rússia e o SVR, a informações mais diplomáticas.

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Analistas e pesquisadores notaram no relatório do Congresso americano que a cultura organizacional e a competição entre agências de espionagem podem influenciar a disposição dos russos de conduzir operações agressivas e muitas vezes imprudentes, como forma de justificar a atuação para o alto poder do Kremlin.

Em uma reportagem do Washington Post publicada em 2018, o opositor russo Gennadi Gudkov, que serviu a KGB e depois na FSB, disse que os agentes do GRU se referem a si mesmos como “caras durões que agem”. “‘Precisa que batamos em alguém? Nós vamos acabar com ele’”, disse ele. “’Precisa que tomemos a Crimeia? Vamos tomar a Crimeia.” Para eles, vale-tudo em favor de Moscou.

Influência nas escolas e espiões espalhados

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Nos últimos 11 anos, os serviços de espionagem russos ampliaram a presença e a influência nas próprias instituições russas para construir a atual estrutura. O GRU, junto com o FSB e o SVR, passou a patrocinar programas de educação militar em escolas públicas de Moscou que visam incutir respeito pelos serviços de espionagem e aumentar o conhecimento em informática e matemática de potenciais recrutas.

Historicamente, os espiões russos são chamados de razvedchik, o que os distingue dos espiões estrangeiros, chamados de shpion. Enquanto o primeiro serve à pátria e tem uma missão, o segundo é visto como inimigo. Putin, por exemplo, era um razvedchik.

Imagem mostra alunos da Escola de Cadetes General Yermolov e membros de um clube patriótico militar juvenil durante um treinamento nos arredores de Stavropol, Rússia, em 8 de fevereiro de 2017. Serviços de espionagem aumentaram a influência nas escolas nos últimos anos Foto: Eduard Korniyenko/Reuters

A propaganda estatal russa, que constantemente promove o patriotismo e um antagonismo com o Ocidente, também serviu de instrumento para a espionagem do país. As agências passaram a ser vistas como caminho para jovens brilhantes e a ter um prestígio interno que facilita o recrutamento. “A Rússia tem um forte senso de patriotismo, e esse apelo é utilizado desde a União Soviética para cooptar espiões”, disse Segrillo.

“Isso serve até para cooptar russos que saíram do país por discordarem de posições políticas, mas que aceitam colaborar para a espionagem por esse aspecto”, acrescentou.

Inserção nos países

Os recrutados para o GRU são treinados na Academia Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países, onde se integram à sociedade para obter cargos no qual possam fornecer informações ao Kremlin.

Foi essa a trajetória de Serguei Cherkasov, o espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O espião vivia em São Paulo e no Rio e usava o nome falso de Victor Muller Ferreira. A identidade foi utilizada para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao conseguir um cargo no Tribunal Internacional em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e deportado para o Brasil.

Na análise de Segrillo, essa prática, utilizada por diversos países na história, se aproveita de brechas na burocracia para obter cidadania nas nações da América Latina, da pluralidade da sociedade desses países, com grandes comunidades de imigrantes, e da simpatia desfrutada no exterior. “Chegar com um passaporte russo nos EUA desperta muito mais desconfiança do que chegar com um passaporte brasileiro”, afirmou.

Imagem de 2017 mostra russo Serguei Cherkasov, espião que se disfarçava de cidadão brasileiro. Inserção de espiões com passaportes falsos é prática comum na Rússia Foto: U.S. Justice Department

O alcance desses espiões no mundo é desconhecido, mas operações recentes ajudaram a desmantelar redes de espionagem russa na Europa e nos EUA, levando à descoberta de pelo menos mais dois russos disfarçados de brasileiros. Apesar das investigações e das prisões recentes, um relatório da Rusi avalia que os serviços de espionagem obtiveram mais êxito na Ucrânia do que os militares no campo de batalha.

Segundo o documento, o FSB rapidamente dominou a opinião de populações em áreas ocupadas da Ucrânia antes da guerra. No mesmo período, o órgão também obteve HDs dos computadores do governo ucraniano que os auxiliaram a identificar indivíduos pró-Kiev que foram presos e interrogados. “É evidente que serviços especiais russos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia antes da invasão”, afirma o relatório.

Os serviços de espionagem também tiveram grande sucesso na primeira incursão russa na Ucrânia, em 2014, quando anexou a Crimeia. Graças à espionagem, o exército russo possuía informações sobre bases militares estratégicas, zonas desguarnecidas e conseguiu implementar propaganda falsa na região, destaca o relatório do Congresso dos EUA sobre as atividades do GRU.

Prestígio com Putin

Graças a essa estrutura, a Rússia mantém uma rede enorme de informações em um momento de isolamento diplomático, no qual poucos países se sentem seguros de confiar suas informações. “A Rússia hoje depende muito da espionagem para seus objetivos políticos. Em parte porque não tem muitos amigos e não é vista como confiável, portanto precisa contar com a espionagem para obter informações estrangeiras”, avaliou o analista William Courtney.

Em 2018, Putin expressou o respeito pelo GRU durante a comemoração do centenário da fundação da primeira agência de espionagem russa. O serviço estava sob a atenção internacional após a tentativa de assassinato de Serguei Skripal, ex-oficial de inteligência militar russo que atuou como um agente duplo para os serviços de inteligência britânicos, mas não impediu Putin de rasgar elogios. “Como supremo comandante, é claro que sei sem exagero sobre suas habilidades únicas, incluindo em condução de operações especiais”, disse o presidente russo, conforme registrado pela agência Reuters na época.

Para os analistas, a defesa do presidente foi surpreendentemente forte. Isso mostrou que Putin não tinha planos de desistir de implantar sua agência de inteligência militar centenária como uma de suas principais armas para afirmar a influência russa no exterior. “E isso é mais perigoso do que na época da União Soviética porque a Rússia é mais aberta, com mais negócios no mundo. Ou seja, com mais oportunidades de inserir oficiais de inteligência”, declarou Courtney.

A descoberta recente de três espiões russos disfarçados de cidadãos brasileiros para coletar informações nos Estados Unidos e na Europa chamou a atenção para uma das maiores redes de espionagem mundiais. Com modernização após a invasão na Geórgia em 2008, quando uma série de falhas ficou evidente, os serviços de inteligência russos – em especial o seu braço militar, o GRU – se tornaram um dos projetos mais estruturados do governo de Vladimir Putin, ele mesmo um espião antes de se tornar presidente. Desde então, eles acumulam acusações de operações de espionagem, manipulação de informações e assassinatos.

Para isso, a inserção de espiões disfarçados de cidadãos comuns para coletar informações – à lá James Bond ou aos agentes secretos soviéticos retratados na série The Americans – é uma parte crucial da estrutura. Nos últimos meses, descobriu-se que o Brasil e outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são pilares importantes para o sucesso da espionagem.

São através dos passaportes destes países, obtidos com facilidade e vistos como “simpáticos” no mundo, que os russos se camuflam em uma “vida comum”, onde casam, têm filhos, um emprego simples, à espera da oportunidade de servir ao Kremlin. O método, considerado ilegal, mas amplamente utilizado por diversos países, acontece em paralelo a outras formas de coletar informações, como espionagem cibernética e o trabalho realizado por diplomatas.

Imagem mostra dois agentes russos acusados de tentarem assassinar o ex-oficial de inteligência russo, Serguei Skripal, em 2008. Skripal fez o papel de agente duplo e foi alvo de operações do GRU Foto: Cedida / via REUTERS

Com o isolamento crescente da Rússia no cenário internacional, os serviços de espionagem se tornaram o instrumento mais forte utilizado para coletar informações secretas e influenciar processos para servir aos interesses russos. As operações mais agressivas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU, órgão do Ministério da Defesa da Rússia com ampla autonomia.

Entre a lista de acusações contra o órgão, estão a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano, ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.

De acordo com analistas, o GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, que sucedeu a KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que havia sido perdida durante a década de 90.

“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney.

Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.

Reestruturação da espionagem russa

O programa atual de espionagem da Rússia não seria possível sem o apoio do presidente, Vladimir Putin, ex-funcionário da KGB e diretor da FSB antes da chegada ao Kremlin. Quando a Rússia iniciou a modernização dos serviços militares após perceber falhas nas informações coletadas na invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro após oito anos na presidência, mas mantinha grande influência sobre o governo do aliado Dmitri Medvedev. Ao retornar ao Kremlin em 2012, as agências tinham autonomia e o apoio dele para operar.

“A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. O Putin, além de ter conseguido a recuperação econômica nos anos 2000, provém dos serviços de segurança e deu prioridade a isso”, afirma o historiador e professor da USP, Angelo Segrillo, especialista em Rússia.

Presidente russo, Vladimir Putin, durante videoconferência com o Conselho de Segurança, em imagem do dia 31 de março. Ex-espião, Putin estruturou sistema de espionagem moderno da Rússia Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via EFE

Um relatório do serviço de pesquisa do Congresso dos EUA publicado em 2021 indica que a estrutura atual do GRU permite total autonomia e que o órgão se reporte diretamente a Putin. As atividades desenvolvidas pelo serviço se especializaram em áreas desregulamentadas – como zonas de guerra e na internet – e para atuar de maneira mais agressiva, enquanto o FSB está ligado à inteligência interna e dos países que fazem fronteira com a Rússia e o SVR, a informações mais diplomáticas.

Analistas e pesquisadores notaram no relatório do Congresso americano que a cultura organizacional e a competição entre agências de espionagem podem influenciar a disposição dos russos de conduzir operações agressivas e muitas vezes imprudentes, como forma de justificar a atuação para o alto poder do Kremlin.

Em uma reportagem do Washington Post publicada em 2018, o opositor russo Gennadi Gudkov, que serviu a KGB e depois na FSB, disse que os agentes do GRU se referem a si mesmos como “caras durões que agem”. “‘Precisa que batamos em alguém? Nós vamos acabar com ele’”, disse ele. “’Precisa que tomemos a Crimeia? Vamos tomar a Crimeia.” Para eles, vale-tudo em favor de Moscou.

Influência nas escolas e espiões espalhados

Nos últimos 11 anos, os serviços de espionagem russos ampliaram a presença e a influência nas próprias instituições russas para construir a atual estrutura. O GRU, junto com o FSB e o SVR, passou a patrocinar programas de educação militar em escolas públicas de Moscou que visam incutir respeito pelos serviços de espionagem e aumentar o conhecimento em informática e matemática de potenciais recrutas.

Historicamente, os espiões russos são chamados de razvedchik, o que os distingue dos espiões estrangeiros, chamados de shpion. Enquanto o primeiro serve à pátria e tem uma missão, o segundo é visto como inimigo. Putin, por exemplo, era um razvedchik.

Imagem mostra alunos da Escola de Cadetes General Yermolov e membros de um clube patriótico militar juvenil durante um treinamento nos arredores de Stavropol, Rússia, em 8 de fevereiro de 2017. Serviços de espionagem aumentaram a influência nas escolas nos últimos anos Foto: Eduard Korniyenko/Reuters

A propaganda estatal russa, que constantemente promove o patriotismo e um antagonismo com o Ocidente, também serviu de instrumento para a espionagem do país. As agências passaram a ser vistas como caminho para jovens brilhantes e a ter um prestígio interno que facilita o recrutamento. “A Rússia tem um forte senso de patriotismo, e esse apelo é utilizado desde a União Soviética para cooptar espiões”, disse Segrillo.

“Isso serve até para cooptar russos que saíram do país por discordarem de posições políticas, mas que aceitam colaborar para a espionagem por esse aspecto”, acrescentou.

Inserção nos países

Os recrutados para o GRU são treinados na Academia Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países, onde se integram à sociedade para obter cargos no qual possam fornecer informações ao Kremlin.

Foi essa a trajetória de Serguei Cherkasov, o espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O espião vivia em São Paulo e no Rio e usava o nome falso de Victor Muller Ferreira. A identidade foi utilizada para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao conseguir um cargo no Tribunal Internacional em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e deportado para o Brasil.

Na análise de Segrillo, essa prática, utilizada por diversos países na história, se aproveita de brechas na burocracia para obter cidadania nas nações da América Latina, da pluralidade da sociedade desses países, com grandes comunidades de imigrantes, e da simpatia desfrutada no exterior. “Chegar com um passaporte russo nos EUA desperta muito mais desconfiança do que chegar com um passaporte brasileiro”, afirmou.

Imagem de 2017 mostra russo Serguei Cherkasov, espião que se disfarçava de cidadão brasileiro. Inserção de espiões com passaportes falsos é prática comum na Rússia Foto: U.S. Justice Department

O alcance desses espiões no mundo é desconhecido, mas operações recentes ajudaram a desmantelar redes de espionagem russa na Europa e nos EUA, levando à descoberta de pelo menos mais dois russos disfarçados de brasileiros. Apesar das investigações e das prisões recentes, um relatório da Rusi avalia que os serviços de espionagem obtiveram mais êxito na Ucrânia do que os militares no campo de batalha.

Segundo o documento, o FSB rapidamente dominou a opinião de populações em áreas ocupadas da Ucrânia antes da guerra. No mesmo período, o órgão também obteve HDs dos computadores do governo ucraniano que os auxiliaram a identificar indivíduos pró-Kiev que foram presos e interrogados. “É evidente que serviços especiais russos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia antes da invasão”, afirma o relatório.

Os serviços de espionagem também tiveram grande sucesso na primeira incursão russa na Ucrânia, em 2014, quando anexou a Crimeia. Graças à espionagem, o exército russo possuía informações sobre bases militares estratégicas, zonas desguarnecidas e conseguiu implementar propaganda falsa na região, destaca o relatório do Congresso dos EUA sobre as atividades do GRU.

Prestígio com Putin

Graças a essa estrutura, a Rússia mantém uma rede enorme de informações em um momento de isolamento diplomático, no qual poucos países se sentem seguros de confiar suas informações. “A Rússia hoje depende muito da espionagem para seus objetivos políticos. Em parte porque não tem muitos amigos e não é vista como confiável, portanto precisa contar com a espionagem para obter informações estrangeiras”, avaliou o analista William Courtney.

Em 2018, Putin expressou o respeito pelo GRU durante a comemoração do centenário da fundação da primeira agência de espionagem russa. O serviço estava sob a atenção internacional após a tentativa de assassinato de Serguei Skripal, ex-oficial de inteligência militar russo que atuou como um agente duplo para os serviços de inteligência britânicos, mas não impediu Putin de rasgar elogios. “Como supremo comandante, é claro que sei sem exagero sobre suas habilidades únicas, incluindo em condução de operações especiais”, disse o presidente russo, conforme registrado pela agência Reuters na época.

Para os analistas, a defesa do presidente foi surpreendentemente forte. Isso mostrou que Putin não tinha planos de desistir de implantar sua agência de inteligência militar centenária como uma de suas principais armas para afirmar a influência russa no exterior. “E isso é mais perigoso do que na época da União Soviética porque a Rússia é mais aberta, com mais negócios no mundo. Ou seja, com mais oportunidades de inserir oficiais de inteligência”, declarou Courtney.

A descoberta recente de três espiões russos disfarçados de cidadãos brasileiros para coletar informações nos Estados Unidos e na Europa chamou a atenção para uma das maiores redes de espionagem mundiais. Com modernização após a invasão na Geórgia em 2008, quando uma série de falhas ficou evidente, os serviços de inteligência russos – em especial o seu braço militar, o GRU – se tornaram um dos projetos mais estruturados do governo de Vladimir Putin, ele mesmo um espião antes de se tornar presidente. Desde então, eles acumulam acusações de operações de espionagem, manipulação de informações e assassinatos.

Para isso, a inserção de espiões disfarçados de cidadãos comuns para coletar informações – à lá James Bond ou aos agentes secretos soviéticos retratados na série The Americans – é uma parte crucial da estrutura. Nos últimos meses, descobriu-se que o Brasil e outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são pilares importantes para o sucesso da espionagem.

São através dos passaportes destes países, obtidos com facilidade e vistos como “simpáticos” no mundo, que os russos se camuflam em uma “vida comum”, onde casam, têm filhos, um emprego simples, à espera da oportunidade de servir ao Kremlin. O método, considerado ilegal, mas amplamente utilizado por diversos países, acontece em paralelo a outras formas de coletar informações, como espionagem cibernética e o trabalho realizado por diplomatas.

Imagem mostra dois agentes russos acusados de tentarem assassinar o ex-oficial de inteligência russo, Serguei Skripal, em 2008. Skripal fez o papel de agente duplo e foi alvo de operações do GRU Foto: Cedida / via REUTERS

Com o isolamento crescente da Rússia no cenário internacional, os serviços de espionagem se tornaram o instrumento mais forte utilizado para coletar informações secretas e influenciar processos para servir aos interesses russos. As operações mais agressivas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU, órgão do Ministério da Defesa da Rússia com ampla autonomia.

Entre a lista de acusações contra o órgão, estão a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano, ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.

De acordo com analistas, o GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, que sucedeu a KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que havia sido perdida durante a década de 90.

“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney.

Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.

Reestruturação da espionagem russa

O programa atual de espionagem da Rússia não seria possível sem o apoio do presidente, Vladimir Putin, ex-funcionário da KGB e diretor da FSB antes da chegada ao Kremlin. Quando a Rússia iniciou a modernização dos serviços militares após perceber falhas nas informações coletadas na invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro após oito anos na presidência, mas mantinha grande influência sobre o governo do aliado Dmitri Medvedev. Ao retornar ao Kremlin em 2012, as agências tinham autonomia e o apoio dele para operar.

“A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. O Putin, além de ter conseguido a recuperação econômica nos anos 2000, provém dos serviços de segurança e deu prioridade a isso”, afirma o historiador e professor da USP, Angelo Segrillo, especialista em Rússia.

Presidente russo, Vladimir Putin, durante videoconferência com o Conselho de Segurança, em imagem do dia 31 de março. Ex-espião, Putin estruturou sistema de espionagem moderno da Rússia Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via EFE

Um relatório do serviço de pesquisa do Congresso dos EUA publicado em 2021 indica que a estrutura atual do GRU permite total autonomia e que o órgão se reporte diretamente a Putin. As atividades desenvolvidas pelo serviço se especializaram em áreas desregulamentadas – como zonas de guerra e na internet – e para atuar de maneira mais agressiva, enquanto o FSB está ligado à inteligência interna e dos países que fazem fronteira com a Rússia e o SVR, a informações mais diplomáticas.

Analistas e pesquisadores notaram no relatório do Congresso americano que a cultura organizacional e a competição entre agências de espionagem podem influenciar a disposição dos russos de conduzir operações agressivas e muitas vezes imprudentes, como forma de justificar a atuação para o alto poder do Kremlin.

Em uma reportagem do Washington Post publicada em 2018, o opositor russo Gennadi Gudkov, que serviu a KGB e depois na FSB, disse que os agentes do GRU se referem a si mesmos como “caras durões que agem”. “‘Precisa que batamos em alguém? Nós vamos acabar com ele’”, disse ele. “’Precisa que tomemos a Crimeia? Vamos tomar a Crimeia.” Para eles, vale-tudo em favor de Moscou.

Influência nas escolas e espiões espalhados

Nos últimos 11 anos, os serviços de espionagem russos ampliaram a presença e a influência nas próprias instituições russas para construir a atual estrutura. O GRU, junto com o FSB e o SVR, passou a patrocinar programas de educação militar em escolas públicas de Moscou que visam incutir respeito pelos serviços de espionagem e aumentar o conhecimento em informática e matemática de potenciais recrutas.

Historicamente, os espiões russos são chamados de razvedchik, o que os distingue dos espiões estrangeiros, chamados de shpion. Enquanto o primeiro serve à pátria e tem uma missão, o segundo é visto como inimigo. Putin, por exemplo, era um razvedchik.

Imagem mostra alunos da Escola de Cadetes General Yermolov e membros de um clube patriótico militar juvenil durante um treinamento nos arredores de Stavropol, Rússia, em 8 de fevereiro de 2017. Serviços de espionagem aumentaram a influência nas escolas nos últimos anos Foto: Eduard Korniyenko/Reuters

A propaganda estatal russa, que constantemente promove o patriotismo e um antagonismo com o Ocidente, também serviu de instrumento para a espionagem do país. As agências passaram a ser vistas como caminho para jovens brilhantes e a ter um prestígio interno que facilita o recrutamento. “A Rússia tem um forte senso de patriotismo, e esse apelo é utilizado desde a União Soviética para cooptar espiões”, disse Segrillo.

“Isso serve até para cooptar russos que saíram do país por discordarem de posições políticas, mas que aceitam colaborar para a espionagem por esse aspecto”, acrescentou.

Inserção nos países

Os recrutados para o GRU são treinados na Academia Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países, onde se integram à sociedade para obter cargos no qual possam fornecer informações ao Kremlin.

Foi essa a trajetória de Serguei Cherkasov, o espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O espião vivia em São Paulo e no Rio e usava o nome falso de Victor Muller Ferreira. A identidade foi utilizada para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao conseguir um cargo no Tribunal Internacional em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e deportado para o Brasil.

Na análise de Segrillo, essa prática, utilizada por diversos países na história, se aproveita de brechas na burocracia para obter cidadania nas nações da América Latina, da pluralidade da sociedade desses países, com grandes comunidades de imigrantes, e da simpatia desfrutada no exterior. “Chegar com um passaporte russo nos EUA desperta muito mais desconfiança do que chegar com um passaporte brasileiro”, afirmou.

Imagem de 2017 mostra russo Serguei Cherkasov, espião que se disfarçava de cidadão brasileiro. Inserção de espiões com passaportes falsos é prática comum na Rússia Foto: U.S. Justice Department

O alcance desses espiões no mundo é desconhecido, mas operações recentes ajudaram a desmantelar redes de espionagem russa na Europa e nos EUA, levando à descoberta de pelo menos mais dois russos disfarçados de brasileiros. Apesar das investigações e das prisões recentes, um relatório da Rusi avalia que os serviços de espionagem obtiveram mais êxito na Ucrânia do que os militares no campo de batalha.

Segundo o documento, o FSB rapidamente dominou a opinião de populações em áreas ocupadas da Ucrânia antes da guerra. No mesmo período, o órgão também obteve HDs dos computadores do governo ucraniano que os auxiliaram a identificar indivíduos pró-Kiev que foram presos e interrogados. “É evidente que serviços especiais russos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia antes da invasão”, afirma o relatório.

Os serviços de espionagem também tiveram grande sucesso na primeira incursão russa na Ucrânia, em 2014, quando anexou a Crimeia. Graças à espionagem, o exército russo possuía informações sobre bases militares estratégicas, zonas desguarnecidas e conseguiu implementar propaganda falsa na região, destaca o relatório do Congresso dos EUA sobre as atividades do GRU.

Prestígio com Putin

Graças a essa estrutura, a Rússia mantém uma rede enorme de informações em um momento de isolamento diplomático, no qual poucos países se sentem seguros de confiar suas informações. “A Rússia hoje depende muito da espionagem para seus objetivos políticos. Em parte porque não tem muitos amigos e não é vista como confiável, portanto precisa contar com a espionagem para obter informações estrangeiras”, avaliou o analista William Courtney.

Em 2018, Putin expressou o respeito pelo GRU durante a comemoração do centenário da fundação da primeira agência de espionagem russa. O serviço estava sob a atenção internacional após a tentativa de assassinato de Serguei Skripal, ex-oficial de inteligência militar russo que atuou como um agente duplo para os serviços de inteligência britânicos, mas não impediu Putin de rasgar elogios. “Como supremo comandante, é claro que sei sem exagero sobre suas habilidades únicas, incluindo em condução de operações especiais”, disse o presidente russo, conforme registrado pela agência Reuters na época.

Para os analistas, a defesa do presidente foi surpreendentemente forte. Isso mostrou que Putin não tinha planos de desistir de implantar sua agência de inteligência militar centenária como uma de suas principais armas para afirmar a influência russa no exterior. “E isso é mais perigoso do que na época da União Soviética porque a Rússia é mais aberta, com mais negócios no mundo. Ou seja, com mais oportunidades de inserir oficiais de inteligência”, declarou Courtney.

A descoberta recente de três espiões russos disfarçados de cidadãos brasileiros para coletar informações nos Estados Unidos e na Europa chamou a atenção para uma das maiores redes de espionagem mundiais. Com modernização após a invasão na Geórgia em 2008, quando uma série de falhas ficou evidente, os serviços de inteligência russos – em especial o seu braço militar, o GRU – se tornaram um dos projetos mais estruturados do governo de Vladimir Putin, ele mesmo um espião antes de se tornar presidente. Desde então, eles acumulam acusações de operações de espionagem, manipulação de informações e assassinatos.

Para isso, a inserção de espiões disfarçados de cidadãos comuns para coletar informações – à lá James Bond ou aos agentes secretos soviéticos retratados na série The Americans – é uma parte crucial da estrutura. Nos últimos meses, descobriu-se que o Brasil e outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são pilares importantes para o sucesso da espionagem.

São através dos passaportes destes países, obtidos com facilidade e vistos como “simpáticos” no mundo, que os russos se camuflam em uma “vida comum”, onde casam, têm filhos, um emprego simples, à espera da oportunidade de servir ao Kremlin. O método, considerado ilegal, mas amplamente utilizado por diversos países, acontece em paralelo a outras formas de coletar informações, como espionagem cibernética e o trabalho realizado por diplomatas.

Imagem mostra dois agentes russos acusados de tentarem assassinar o ex-oficial de inteligência russo, Serguei Skripal, em 2008. Skripal fez o papel de agente duplo e foi alvo de operações do GRU Foto: Cedida / via REUTERS

Com o isolamento crescente da Rússia no cenário internacional, os serviços de espionagem se tornaram o instrumento mais forte utilizado para coletar informações secretas e influenciar processos para servir aos interesses russos. As operações mais agressivas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU, órgão do Ministério da Defesa da Rússia com ampla autonomia.

Entre a lista de acusações contra o órgão, estão a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano, ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.

De acordo com analistas, o GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, que sucedeu a KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que havia sido perdida durante a década de 90.

“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney.

Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.

Reestruturação da espionagem russa

O programa atual de espionagem da Rússia não seria possível sem o apoio do presidente, Vladimir Putin, ex-funcionário da KGB e diretor da FSB antes da chegada ao Kremlin. Quando a Rússia iniciou a modernização dos serviços militares após perceber falhas nas informações coletadas na invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro após oito anos na presidência, mas mantinha grande influência sobre o governo do aliado Dmitri Medvedev. Ao retornar ao Kremlin em 2012, as agências tinham autonomia e o apoio dele para operar.

“A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. O Putin, além de ter conseguido a recuperação econômica nos anos 2000, provém dos serviços de segurança e deu prioridade a isso”, afirma o historiador e professor da USP, Angelo Segrillo, especialista em Rússia.

Presidente russo, Vladimir Putin, durante videoconferência com o Conselho de Segurança, em imagem do dia 31 de março. Ex-espião, Putin estruturou sistema de espionagem moderno da Rússia Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via EFE

Um relatório do serviço de pesquisa do Congresso dos EUA publicado em 2021 indica que a estrutura atual do GRU permite total autonomia e que o órgão se reporte diretamente a Putin. As atividades desenvolvidas pelo serviço se especializaram em áreas desregulamentadas – como zonas de guerra e na internet – e para atuar de maneira mais agressiva, enquanto o FSB está ligado à inteligência interna e dos países que fazem fronteira com a Rússia e o SVR, a informações mais diplomáticas.

Analistas e pesquisadores notaram no relatório do Congresso americano que a cultura organizacional e a competição entre agências de espionagem podem influenciar a disposição dos russos de conduzir operações agressivas e muitas vezes imprudentes, como forma de justificar a atuação para o alto poder do Kremlin.

Em uma reportagem do Washington Post publicada em 2018, o opositor russo Gennadi Gudkov, que serviu a KGB e depois na FSB, disse que os agentes do GRU se referem a si mesmos como “caras durões que agem”. “‘Precisa que batamos em alguém? Nós vamos acabar com ele’”, disse ele. “’Precisa que tomemos a Crimeia? Vamos tomar a Crimeia.” Para eles, vale-tudo em favor de Moscou.

Influência nas escolas e espiões espalhados

Nos últimos 11 anos, os serviços de espionagem russos ampliaram a presença e a influência nas próprias instituições russas para construir a atual estrutura. O GRU, junto com o FSB e o SVR, passou a patrocinar programas de educação militar em escolas públicas de Moscou que visam incutir respeito pelos serviços de espionagem e aumentar o conhecimento em informática e matemática de potenciais recrutas.

Historicamente, os espiões russos são chamados de razvedchik, o que os distingue dos espiões estrangeiros, chamados de shpion. Enquanto o primeiro serve à pátria e tem uma missão, o segundo é visto como inimigo. Putin, por exemplo, era um razvedchik.

Imagem mostra alunos da Escola de Cadetes General Yermolov e membros de um clube patriótico militar juvenil durante um treinamento nos arredores de Stavropol, Rússia, em 8 de fevereiro de 2017. Serviços de espionagem aumentaram a influência nas escolas nos últimos anos Foto: Eduard Korniyenko/Reuters

A propaganda estatal russa, que constantemente promove o patriotismo e um antagonismo com o Ocidente, também serviu de instrumento para a espionagem do país. As agências passaram a ser vistas como caminho para jovens brilhantes e a ter um prestígio interno que facilita o recrutamento. “A Rússia tem um forte senso de patriotismo, e esse apelo é utilizado desde a União Soviética para cooptar espiões”, disse Segrillo.

“Isso serve até para cooptar russos que saíram do país por discordarem de posições políticas, mas que aceitam colaborar para a espionagem por esse aspecto”, acrescentou.

Inserção nos países

Os recrutados para o GRU são treinados na Academia Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países, onde se integram à sociedade para obter cargos no qual possam fornecer informações ao Kremlin.

Foi essa a trajetória de Serguei Cherkasov, o espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O espião vivia em São Paulo e no Rio e usava o nome falso de Victor Muller Ferreira. A identidade foi utilizada para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao conseguir um cargo no Tribunal Internacional em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e deportado para o Brasil.

Na análise de Segrillo, essa prática, utilizada por diversos países na história, se aproveita de brechas na burocracia para obter cidadania nas nações da América Latina, da pluralidade da sociedade desses países, com grandes comunidades de imigrantes, e da simpatia desfrutada no exterior. “Chegar com um passaporte russo nos EUA desperta muito mais desconfiança do que chegar com um passaporte brasileiro”, afirmou.

Imagem de 2017 mostra russo Serguei Cherkasov, espião que se disfarçava de cidadão brasileiro. Inserção de espiões com passaportes falsos é prática comum na Rússia Foto: U.S. Justice Department

O alcance desses espiões no mundo é desconhecido, mas operações recentes ajudaram a desmantelar redes de espionagem russa na Europa e nos EUA, levando à descoberta de pelo menos mais dois russos disfarçados de brasileiros. Apesar das investigações e das prisões recentes, um relatório da Rusi avalia que os serviços de espionagem obtiveram mais êxito na Ucrânia do que os militares no campo de batalha.

Segundo o documento, o FSB rapidamente dominou a opinião de populações em áreas ocupadas da Ucrânia antes da guerra. No mesmo período, o órgão também obteve HDs dos computadores do governo ucraniano que os auxiliaram a identificar indivíduos pró-Kiev que foram presos e interrogados. “É evidente que serviços especiais russos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia antes da invasão”, afirma o relatório.

Os serviços de espionagem também tiveram grande sucesso na primeira incursão russa na Ucrânia, em 2014, quando anexou a Crimeia. Graças à espionagem, o exército russo possuía informações sobre bases militares estratégicas, zonas desguarnecidas e conseguiu implementar propaganda falsa na região, destaca o relatório do Congresso dos EUA sobre as atividades do GRU.

Prestígio com Putin

Graças a essa estrutura, a Rússia mantém uma rede enorme de informações em um momento de isolamento diplomático, no qual poucos países se sentem seguros de confiar suas informações. “A Rússia hoje depende muito da espionagem para seus objetivos políticos. Em parte porque não tem muitos amigos e não é vista como confiável, portanto precisa contar com a espionagem para obter informações estrangeiras”, avaliou o analista William Courtney.

Em 2018, Putin expressou o respeito pelo GRU durante a comemoração do centenário da fundação da primeira agência de espionagem russa. O serviço estava sob a atenção internacional após a tentativa de assassinato de Serguei Skripal, ex-oficial de inteligência militar russo que atuou como um agente duplo para os serviços de inteligência britânicos, mas não impediu Putin de rasgar elogios. “Como supremo comandante, é claro que sei sem exagero sobre suas habilidades únicas, incluindo em condução de operações especiais”, disse o presidente russo, conforme registrado pela agência Reuters na época.

Para os analistas, a defesa do presidente foi surpreendentemente forte. Isso mostrou que Putin não tinha planos de desistir de implantar sua agência de inteligência militar centenária como uma de suas principais armas para afirmar a influência russa no exterior. “E isso é mais perigoso do que na época da União Soviética porque a Rússia é mais aberta, com mais negócios no mundo. Ou seja, com mais oportunidades de inserir oficiais de inteligência”, declarou Courtney.

A descoberta recente de três espiões russos disfarçados de cidadãos brasileiros para coletar informações nos Estados Unidos e na Europa chamou a atenção para uma das maiores redes de espionagem mundiais. Com modernização após a invasão na Geórgia em 2008, quando uma série de falhas ficou evidente, os serviços de inteligência russos – em especial o seu braço militar, o GRU – se tornaram um dos projetos mais estruturados do governo de Vladimir Putin, ele mesmo um espião antes de se tornar presidente. Desde então, eles acumulam acusações de operações de espionagem, manipulação de informações e assassinatos.

Para isso, a inserção de espiões disfarçados de cidadãos comuns para coletar informações – à lá James Bond ou aos agentes secretos soviéticos retratados na série The Americans – é uma parte crucial da estrutura. Nos últimos meses, descobriu-se que o Brasil e outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são pilares importantes para o sucesso da espionagem.

São através dos passaportes destes países, obtidos com facilidade e vistos como “simpáticos” no mundo, que os russos se camuflam em uma “vida comum”, onde casam, têm filhos, um emprego simples, à espera da oportunidade de servir ao Kremlin. O método, considerado ilegal, mas amplamente utilizado por diversos países, acontece em paralelo a outras formas de coletar informações, como espionagem cibernética e o trabalho realizado por diplomatas.

Imagem mostra dois agentes russos acusados de tentarem assassinar o ex-oficial de inteligência russo, Serguei Skripal, em 2008. Skripal fez o papel de agente duplo e foi alvo de operações do GRU Foto: Cedida / via REUTERS

Com o isolamento crescente da Rússia no cenário internacional, os serviços de espionagem se tornaram o instrumento mais forte utilizado para coletar informações secretas e influenciar processos para servir aos interesses russos. As operações mais agressivas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU, órgão do Ministério da Defesa da Rússia com ampla autonomia.

Entre a lista de acusações contra o órgão, estão a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano, ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.

De acordo com analistas, o GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, que sucedeu a KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que havia sido perdida durante a década de 90.

“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney.

Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.

Reestruturação da espionagem russa

O programa atual de espionagem da Rússia não seria possível sem o apoio do presidente, Vladimir Putin, ex-funcionário da KGB e diretor da FSB antes da chegada ao Kremlin. Quando a Rússia iniciou a modernização dos serviços militares após perceber falhas nas informações coletadas na invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro após oito anos na presidência, mas mantinha grande influência sobre o governo do aliado Dmitri Medvedev. Ao retornar ao Kremlin em 2012, as agências tinham autonomia e o apoio dele para operar.

“A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. O Putin, além de ter conseguido a recuperação econômica nos anos 2000, provém dos serviços de segurança e deu prioridade a isso”, afirma o historiador e professor da USP, Angelo Segrillo, especialista em Rússia.

Presidente russo, Vladimir Putin, durante videoconferência com o Conselho de Segurança, em imagem do dia 31 de março. Ex-espião, Putin estruturou sistema de espionagem moderno da Rússia Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via EFE

Um relatório do serviço de pesquisa do Congresso dos EUA publicado em 2021 indica que a estrutura atual do GRU permite total autonomia e que o órgão se reporte diretamente a Putin. As atividades desenvolvidas pelo serviço se especializaram em áreas desregulamentadas – como zonas de guerra e na internet – e para atuar de maneira mais agressiva, enquanto o FSB está ligado à inteligência interna e dos países que fazem fronteira com a Rússia e o SVR, a informações mais diplomáticas.

Analistas e pesquisadores notaram no relatório do Congresso americano que a cultura organizacional e a competição entre agências de espionagem podem influenciar a disposição dos russos de conduzir operações agressivas e muitas vezes imprudentes, como forma de justificar a atuação para o alto poder do Kremlin.

Em uma reportagem do Washington Post publicada em 2018, o opositor russo Gennadi Gudkov, que serviu a KGB e depois na FSB, disse que os agentes do GRU se referem a si mesmos como “caras durões que agem”. “‘Precisa que batamos em alguém? Nós vamos acabar com ele’”, disse ele. “’Precisa que tomemos a Crimeia? Vamos tomar a Crimeia.” Para eles, vale-tudo em favor de Moscou.

Influência nas escolas e espiões espalhados

Nos últimos 11 anos, os serviços de espionagem russos ampliaram a presença e a influência nas próprias instituições russas para construir a atual estrutura. O GRU, junto com o FSB e o SVR, passou a patrocinar programas de educação militar em escolas públicas de Moscou que visam incutir respeito pelos serviços de espionagem e aumentar o conhecimento em informática e matemática de potenciais recrutas.

Historicamente, os espiões russos são chamados de razvedchik, o que os distingue dos espiões estrangeiros, chamados de shpion. Enquanto o primeiro serve à pátria e tem uma missão, o segundo é visto como inimigo. Putin, por exemplo, era um razvedchik.

Imagem mostra alunos da Escola de Cadetes General Yermolov e membros de um clube patriótico militar juvenil durante um treinamento nos arredores de Stavropol, Rússia, em 8 de fevereiro de 2017. Serviços de espionagem aumentaram a influência nas escolas nos últimos anos Foto: Eduard Korniyenko/Reuters

A propaganda estatal russa, que constantemente promove o patriotismo e um antagonismo com o Ocidente, também serviu de instrumento para a espionagem do país. As agências passaram a ser vistas como caminho para jovens brilhantes e a ter um prestígio interno que facilita o recrutamento. “A Rússia tem um forte senso de patriotismo, e esse apelo é utilizado desde a União Soviética para cooptar espiões”, disse Segrillo.

“Isso serve até para cooptar russos que saíram do país por discordarem de posições políticas, mas que aceitam colaborar para a espionagem por esse aspecto”, acrescentou.

Inserção nos países

Os recrutados para o GRU são treinados na Academia Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países, onde se integram à sociedade para obter cargos no qual possam fornecer informações ao Kremlin.

Foi essa a trajetória de Serguei Cherkasov, o espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O espião vivia em São Paulo e no Rio e usava o nome falso de Victor Muller Ferreira. A identidade foi utilizada para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao conseguir um cargo no Tribunal Internacional em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e deportado para o Brasil.

Na análise de Segrillo, essa prática, utilizada por diversos países na história, se aproveita de brechas na burocracia para obter cidadania nas nações da América Latina, da pluralidade da sociedade desses países, com grandes comunidades de imigrantes, e da simpatia desfrutada no exterior. “Chegar com um passaporte russo nos EUA desperta muito mais desconfiança do que chegar com um passaporte brasileiro”, afirmou.

Imagem de 2017 mostra russo Serguei Cherkasov, espião que se disfarçava de cidadão brasileiro. Inserção de espiões com passaportes falsos é prática comum na Rússia Foto: U.S. Justice Department

O alcance desses espiões no mundo é desconhecido, mas operações recentes ajudaram a desmantelar redes de espionagem russa na Europa e nos EUA, levando à descoberta de pelo menos mais dois russos disfarçados de brasileiros. Apesar das investigações e das prisões recentes, um relatório da Rusi avalia que os serviços de espionagem obtiveram mais êxito na Ucrânia do que os militares no campo de batalha.

Segundo o documento, o FSB rapidamente dominou a opinião de populações em áreas ocupadas da Ucrânia antes da guerra. No mesmo período, o órgão também obteve HDs dos computadores do governo ucraniano que os auxiliaram a identificar indivíduos pró-Kiev que foram presos e interrogados. “É evidente que serviços especiais russos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia antes da invasão”, afirma o relatório.

Os serviços de espionagem também tiveram grande sucesso na primeira incursão russa na Ucrânia, em 2014, quando anexou a Crimeia. Graças à espionagem, o exército russo possuía informações sobre bases militares estratégicas, zonas desguarnecidas e conseguiu implementar propaganda falsa na região, destaca o relatório do Congresso dos EUA sobre as atividades do GRU.

Prestígio com Putin

Graças a essa estrutura, a Rússia mantém uma rede enorme de informações em um momento de isolamento diplomático, no qual poucos países se sentem seguros de confiar suas informações. “A Rússia hoje depende muito da espionagem para seus objetivos políticos. Em parte porque não tem muitos amigos e não é vista como confiável, portanto precisa contar com a espionagem para obter informações estrangeiras”, avaliou o analista William Courtney.

Em 2018, Putin expressou o respeito pelo GRU durante a comemoração do centenário da fundação da primeira agência de espionagem russa. O serviço estava sob a atenção internacional após a tentativa de assassinato de Serguei Skripal, ex-oficial de inteligência militar russo que atuou como um agente duplo para os serviços de inteligência britânicos, mas não impediu Putin de rasgar elogios. “Como supremo comandante, é claro que sei sem exagero sobre suas habilidades únicas, incluindo em condução de operações especiais”, disse o presidente russo, conforme registrado pela agência Reuters na época.

Para os analistas, a defesa do presidente foi surpreendentemente forte. Isso mostrou que Putin não tinha planos de desistir de implantar sua agência de inteligência militar centenária como uma de suas principais armas para afirmar a influência russa no exterior. “E isso é mais perigoso do que na época da União Soviética porque a Rússia é mais aberta, com mais negócios no mundo. Ou seja, com mais oportunidades de inserir oficiais de inteligência”, declarou Courtney.

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