TAMPA, EUA — O furacão Milton provocou chuvas, tornados e ventos na costa dos EUA nesta quarta-feira, 9, em sua marcha constante e potencialmente catastrófica em direção à Flórida, onde as autoridades fizeram um último apelo aos residentes para deixarem suas casas ou lidarem com baixas chances de sobrevivência.
O Centro Nacional de Furacões dos EUA enfatizou que ainda não era certo onde Milton atingiria a costa na noite desta quarta-feira, pois a trajetória da tempestade poderia “oscilar”, mas toda a região de Tampa e pontos ao sul do Estado estavam sob risco grave. Ventos de mais de 100 km/h começaram a atingir a costa na tarde de quarta-feira.
“É isso, pessoal,” disse Cathie Perkins, diretora de gerenciamento de emergências no Condado de Pinellas, que fica na península que forma Tampa Bay. “Aqueles de vocês que foram atingidos pelo furacão Helene, isso será um nocaute. Vocês precisam sair, e precisam sair agora.”
Milton, que mudou várias vezes de intensidade enquanto se aproximava da Flórida, era um furacão de categoria 3 na tarde desta quarta-feira. Esperava-se que permanecesse como um furacão após tocar a terra e atravessar o Estado, incluindo a densamente povoada área de Orlando, até quinta-feira, 10.
Tampa Bay não sofre um impacto direto de um grande furacão há mais de um século. Os moradores não deveriam se sentir aliviados com as indicações de que Milton poderia atingir a costa ao sul de Tampa, disse Perkins: “Todos em Tampa Bay devem assumir que seremos o ponto zero.”
Milton ameaçou comunidades que ainda se recuperam do furacão Helene, que há duas semanas inundou ruas e casas no oeste da Flórida e deixou pelo menos 230 mortos. Em muitos lugares ao longo da costa, as prefeituras correram para recolher e descartar destroços do furacão anterior, antes que os ventos e a maré de tempestade de Milton pudessem lançá-los ao redor e agravar os danos.
Com a tempestade mais fraca, mas crescendo em tamanho, a maré era projetada para atingir até 3,6 metros em Tampa Bay e até 4 metros mais ao sul, entre Sarasota e Fort Myers.
Mary Ann Fairman, de 84 anos, estava entre as cerca de 1.000 pessoas em um abrigo em West Bradenton. Ela ficou em casa durante o furacão Helene, mas desta vez levou cobertores, lanches e produtos de higiene pessoal e saiu. “O Golfo está praticamente no nosso quintal,” disse ela.
No Condado de Pasco, lar de mais de meio milhão de pessoas em comunidades dormitórios para Tampa e St. Petersburg, as autoridades disseram pouco antes do meio-dia que estavam se preparando para retirar os ônibus das estradas.
“Esta é sua última chance se você precisar ir para um abrigo,” disseram em um comunicado. “Depois disso, você precisará encontrar uma maneira de chegar ao abrigo ou estar preparado para enfrentar a tempestade.”
A famosa ponte Sunshine Skyway, que atravessa a foz de Tampa Bay, fechou por volta do meio-dia. Outras grandes pontes também foram fechadas.
“Ontem eu disse que o relógio estava correndo. Hoje estou dizendo que o alarme realmente está tocando. As pessoas precisam chegar ao seu local seguro,” disse Ken Graham, diretor do Serviço Nacional de Meteorologia.
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‘Haverá fatalidades, não há como evitar’
Em uma coletiva de imprensa em Tallahassee, o governador Ron DeSantis descreveu o envio de vários recursos, incluindo 9 mil membros da Guarda Nacional da Flórida e de outros Estados; mais de 50 mil trabalhadores de concessionárias de Estados tão distantes quanto a Califórnia; e carros da patrulha rodoviária com sirenes para escoltar caminhões de gasolina e reabastecer os postos, permitindo que as pessoas enchessem seus tanques antes de evacuar.
“Infelizmente, haverá fatalidades. Não acho que haja como evitar isso,” disse DeSantis.
Milton estava centrado a cerca de 240 quilômetros a sudoeste de Tampa na tarde de quarta-feira, com ventos máximos sustentados de 209 km/h, informou o centro de furacões.
Chuvas fortes e tornados atingiram partes do sul da Flórida na manhã de quarta-feira, com as condições piorando. Esperava-se de 15 a 31 centímetros de chuva, com até 46 centímetros em alguns lugares, trazendo o risco de inundações catastróficas.
Um tornado tocou o solo na manhã de quarta-feira na pouco povoada região dos Everglades e atravessou a Interestadual 75. Outro tornado aparente tocou o solo em Fort Myers, quebrando galhos de árvores e destruindo o toldo de um posto de gasolina.
As autoridades emitiram ordens obrigatórias de evacuação em 15 condados da Flórida, com uma população total de cerca de 7,2 milhões de pessoas. As autoridades alertaram que quem ficasse para trás teria que se virar, pois não se esperava que os socorristas arriscassem suas vidas tentando resgatar pessoas no auge da tempestade.
O prefeito de St. Petersburg, Ken Welch, disse aos moradores que esperassem longos cortes de energia e o possível desligamento do sistema de esgoto.
“Temos um longo caminho pela frente, mas vamos nos recuperar e reconstruir,” disse Welch. “Mas, nas próximas horas, nosso foco é manter todos seguros, e podemos fazer isso.”
Voos cancelados e parques fechados
Em Charlotte Harbor, cerca de 160 quilômetros ao sul de Tampa, as nuvens rodopiavam e os ventos aumentavam enquanto Josh Parks colocava roupas e outros pertences em seu Kia. Duas semanas atrás, a maré de Helene trouxe cerca de 1,5 metros de água ao bairro, e as ruas ainda estão cheias de móveis encharcados, drywall arrancado e outros destroços.
Parks, um técnico automotivo, planejava fugir para a casa de sua filha no interior e disse que sua colega de quarto já havia saído. “Eu disse a ela para arrumar as coisas como se não fosse voltar,” disse ele.
No início da tarde, as companhias aéreas já haviam cancelado cerca de 1,9 mil voos, com mais de 80% deles nos três grandes aeroportos que foram fechados pela tempestade, e outro, o Aeroporto Internacional de Miami, que permaneceu aberto. O SeaWorld foi fechado durante toda a quarta-feira, e a Disney World e o Universal Orlando fecharam à tarde.
Linda e Bob Shaffer, do nordeste da Pensilvânia, estavam passeando pelo resort da Universal antes de se recolherem em seu condomínio alugado, com lanches, lanternas e um baralho de cartas.
“Estamos apenas matando o tempo até termos que ficar nos olhando pelas próximas 24 horas,” disse Linda Shaffer.
Na área de Gulfport, na região de Tampa Bay, Christian Burke e sua mãe ficaram em sua casa de concreto de três andares com vista para a baía. Burke disse que seu pai projetou essa casa pensando em um furacão de categoria 5 — e agora eles vão testá-la.
Quando um veículo da polícia passou incentivando que as pessoas saíssem, Burke reconheceu que ficar não era uma boa ideia, mas disse que “não está subestimando essa tempestade nem um pouco” — ele apenas acredita que a casa que seu pai construiu vai aguentar.
Cerca de 1.700 pessoas se abrigaram na Gibbs High School em St. Petersburg, incluindo Trokon Nagbe e seu marido, Morris Kulp. Eles dormiram no chão porque não trouxeram suas próprias camas dobráveis. “Não é o Hilton ou o Marriott,” disse Kulp, “mas com certeza é apreciado.”/Associated Press.