Estados Unidos e Guiana anunciam exercícios militares aéreos no Essequibo


Embaixada dos EUA em Georgetown diz se tratar de ‘operações de rotina’ com objetivo de aprimorar parceria militar; analistas dizem que anúncio demonstra alinhamento dos EUA com Guiana

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

As Forças Militares dos Estados Unidos conduzirão exercícios militares com as Forças de Defesa da Guiana (GDF, na sigla em inglês) na região do Essequibo nesta quinta-feira, 7, anunciou a embaixada dos EUA em Georgetown. Em um comunicado, o órgão diz se tratar de “operações de rotina” com o objetivo de aprimorar a parceria militar entre os dois países e “fortalecer a cooperação regional”. Segundo analistas, o anúncio demonstra o alinhamento dos EUA com a Guiana em meio às tensões com a Venezuela.

Os exercícios são anunciados no momento em que as tensões em torno da região, reivindicada pela Venezuela e pela Guiana, crescem após os resultados do plebiscito venezuelano no domingo, 3, considerarem o Essequibo como parte de seu território. A região é rica em petróleo e corresponde a 70% da área da Guiana hoje.

Na avaliação do diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University (Washington), Salvador Raza, os exercícios atuais não se tratam de rotineiros, apesar do anúncio. Ele, que atuou na cooperação militar dos EUA na Guiana, destaca que é a primeira vez que os americanos farão uma operação com o país que envolve aeronaves. “Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

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O professor da ESPM e analista em segurança internacional, Gunther Rudzit, concorda. “Este anúncio não é rotineiro, uma vez que as forças armadas americanas estiveram em julho na Guiana fazendo exercícios co juntos planejados há algum tempo. Por isto, este novo treinamento, inclusive com aeronaves, é um claro sinal de Washington para Caracas que eles estão dispostos a defender a Guiana”, avaliou.

As operações serão conduzidas pelo Comando Sul dos EUA, que possui acordos de cooperação militar com a GDF para “preparação de desastres, segurança aérea e marítima e combate a organizações criminosas transnacionais”. “Os EUA seguem comprometidos em ser um parceiro de segurança confiável para a Guiana”, informa o comunicado.

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As atividades são condizentes com as declarações do presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, de que tem buscado os aliados para assegurar a defesa da região no “pior cenário possível”, referindo-se a um conflito armado entre ambos países. Elas também são anunciadas um dia após o sumiço de um helicóptero militar guianense enquanto sobrevoava o Essequibo. As autoridades descartam, por ora, que o sumiço seja resultado de um ataque e citam que as condições climáticas da região eram ruins.

As autoridades de Defesa americanas e guianenses se reuniram dias antes do plebiscito da Venezuela para discutir o futuro da aliança. Os dois países têm um acordo de cooperação militar desde 2022.

A aliança com os EUA é vista pela Venezuela como sinal verde da Guiana para a presença militar americana na região. Na quarta-feira, 6, a ditadura chavista chamou o comportamento do vizinho de “errático e ameaçador” para a paz na região e acusou a Guiana de agir “sob o mandato da ExxonMobil”, a gigante petrolífera americana que explora o petróleo na região.

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Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que os americanos seguirão incentivando a Venezuela e a Guiana a seguir com os diálogos para uma resolução pacífica do conflito. “Isso não é algo que será acordado através de um referendo”, disse.

Após o plebiscito, o ditador Nicolás Maduro anunciou a criação do Estado de Guiana Essequiba, nomeou um interventor e ordenou à estatal PDVSA que distribua licenças para exploração de petróleo na região. Um novo mapa do país, com a área anexada, também foi apresentado e vai ser distribuído em todo o país. “A Guiana deve saber que resolveremos isso da maneira mais fácil ou resolveremos...”, disse Maduro, sem concluir a frase.

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As movimentações de Maduro foram criticadas por Arfaan Ali, que chamou a Venezuela de “nação fora da lei” por não respeitar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que alertou a Venezuela no dia 1º para interromper qualquer ação que altere o controle da Guiana sobre um território disputado.

Os dois países, no entanto, dizem em público querer resolver o conflito pelas vias diplomáticas. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Imagem aérea de abril deste ano mostra região do Essequibo, pertencente hoje à Guiana. Área é reivindicada pela Venezuela há décadas Foto: Martín SILVA/AFP
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Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

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Conselho de Segurança abordará crise entre Venezuela e Guiana

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira, 7, a portas fechadas para abordar o conflito territorial entre Venezuela e Guiana, segundo a agenda oficial. A reunião foi um pedido do governo guianense feito na quarta-feira.

Em carta à qual a Agência de notícias France-Press teve acesso, o chanceler Hugh Hilton Todd solicita ao Conselho de Segurança “uma reunião urgente” para abordar o conflito em Essequibo. O ministro guianense relata “as ações empreendidas” pela Venezuela “para anexar formalmente e incorporar ao território venezuelano a região de Guiana Essequiba, que constitui mais de dois terços do território soberano” do país.

As ações adotadas pela Venezuela “não farão mais do que agravar ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta para a paz e a segurança da Guiana, e mais amplamente ameaça à paz e à segurança de toda a região”, conclui o chanceler em sua carta ao Conselho de Segurança.

A Venezuela alega que Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e faz um apelo ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899 que definia os limites atuais. /Com AFP

As Forças Militares dos Estados Unidos conduzirão exercícios militares com as Forças de Defesa da Guiana (GDF, na sigla em inglês) na região do Essequibo nesta quinta-feira, 7, anunciou a embaixada dos EUA em Georgetown. Em um comunicado, o órgão diz se tratar de “operações de rotina” com o objetivo de aprimorar a parceria militar entre os dois países e “fortalecer a cooperação regional”. Segundo analistas, o anúncio demonstra o alinhamento dos EUA com a Guiana em meio às tensões com a Venezuela.

Os exercícios são anunciados no momento em que as tensões em torno da região, reivindicada pela Venezuela e pela Guiana, crescem após os resultados do plebiscito venezuelano no domingo, 3, considerarem o Essequibo como parte de seu território. A região é rica em petróleo e corresponde a 70% da área da Guiana hoje.

Na avaliação do diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University (Washington), Salvador Raza, os exercícios atuais não se tratam de rotineiros, apesar do anúncio. Ele, que atuou na cooperação militar dos EUA na Guiana, destaca que é a primeira vez que os americanos farão uma operação com o país que envolve aeronaves. “Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

O professor da ESPM e analista em segurança internacional, Gunther Rudzit, concorda. “Este anúncio não é rotineiro, uma vez que as forças armadas americanas estiveram em julho na Guiana fazendo exercícios co juntos planejados há algum tempo. Por isto, este novo treinamento, inclusive com aeronaves, é um claro sinal de Washington para Caracas que eles estão dispostos a defender a Guiana”, avaliou.

As operações serão conduzidas pelo Comando Sul dos EUA, que possui acordos de cooperação militar com a GDF para “preparação de desastres, segurança aérea e marítima e combate a organizações criminosas transnacionais”. “Os EUA seguem comprometidos em ser um parceiro de segurança confiável para a Guiana”, informa o comunicado.

As atividades são condizentes com as declarações do presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, de que tem buscado os aliados para assegurar a defesa da região no “pior cenário possível”, referindo-se a um conflito armado entre ambos países. Elas também são anunciadas um dia após o sumiço de um helicóptero militar guianense enquanto sobrevoava o Essequibo. As autoridades descartam, por ora, que o sumiço seja resultado de um ataque e citam que as condições climáticas da região eram ruins.

As autoridades de Defesa americanas e guianenses se reuniram dias antes do plebiscito da Venezuela para discutir o futuro da aliança. Os dois países têm um acordo de cooperação militar desde 2022.

A aliança com os EUA é vista pela Venezuela como sinal verde da Guiana para a presença militar americana na região. Na quarta-feira, 6, a ditadura chavista chamou o comportamento do vizinho de “errático e ameaçador” para a paz na região e acusou a Guiana de agir “sob o mandato da ExxonMobil”, a gigante petrolífera americana que explora o petróleo na região.

Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que os americanos seguirão incentivando a Venezuela e a Guiana a seguir com os diálogos para uma resolução pacífica do conflito. “Isso não é algo que será acordado através de um referendo”, disse.

Após o plebiscito, o ditador Nicolás Maduro anunciou a criação do Estado de Guiana Essequiba, nomeou um interventor e ordenou à estatal PDVSA que distribua licenças para exploração de petróleo na região. Um novo mapa do país, com a área anexada, também foi apresentado e vai ser distribuído em todo o país. “A Guiana deve saber que resolveremos isso da maneira mais fácil ou resolveremos...”, disse Maduro, sem concluir a frase.

As movimentações de Maduro foram criticadas por Arfaan Ali, que chamou a Venezuela de “nação fora da lei” por não respeitar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que alertou a Venezuela no dia 1º para interromper qualquer ação que altere o controle da Guiana sobre um território disputado.

Os dois países, no entanto, dizem em público querer resolver o conflito pelas vias diplomáticas. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Imagem aérea de abril deste ano mostra região do Essequibo, pertencente hoje à Guiana. Área é reivindicada pela Venezuela há décadas Foto: Martín SILVA/AFP

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

Conselho de Segurança abordará crise entre Venezuela e Guiana

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira, 7, a portas fechadas para abordar o conflito territorial entre Venezuela e Guiana, segundo a agenda oficial. A reunião foi um pedido do governo guianense feito na quarta-feira.

Em carta à qual a Agência de notícias France-Press teve acesso, o chanceler Hugh Hilton Todd solicita ao Conselho de Segurança “uma reunião urgente” para abordar o conflito em Essequibo. O ministro guianense relata “as ações empreendidas” pela Venezuela “para anexar formalmente e incorporar ao território venezuelano a região de Guiana Essequiba, que constitui mais de dois terços do território soberano” do país.

As ações adotadas pela Venezuela “não farão mais do que agravar ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta para a paz e a segurança da Guiana, e mais amplamente ameaça à paz e à segurança de toda a região”, conclui o chanceler em sua carta ao Conselho de Segurança.

A Venezuela alega que Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e faz um apelo ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899 que definia os limites atuais. /Com AFP

As Forças Militares dos Estados Unidos conduzirão exercícios militares com as Forças de Defesa da Guiana (GDF, na sigla em inglês) na região do Essequibo nesta quinta-feira, 7, anunciou a embaixada dos EUA em Georgetown. Em um comunicado, o órgão diz se tratar de “operações de rotina” com o objetivo de aprimorar a parceria militar entre os dois países e “fortalecer a cooperação regional”. Segundo analistas, o anúncio demonstra o alinhamento dos EUA com a Guiana em meio às tensões com a Venezuela.

Os exercícios são anunciados no momento em que as tensões em torno da região, reivindicada pela Venezuela e pela Guiana, crescem após os resultados do plebiscito venezuelano no domingo, 3, considerarem o Essequibo como parte de seu território. A região é rica em petróleo e corresponde a 70% da área da Guiana hoje.

Na avaliação do diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University (Washington), Salvador Raza, os exercícios atuais não se tratam de rotineiros, apesar do anúncio. Ele, que atuou na cooperação militar dos EUA na Guiana, destaca que é a primeira vez que os americanos farão uma operação com o país que envolve aeronaves. “Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

O professor da ESPM e analista em segurança internacional, Gunther Rudzit, concorda. “Este anúncio não é rotineiro, uma vez que as forças armadas americanas estiveram em julho na Guiana fazendo exercícios co juntos planejados há algum tempo. Por isto, este novo treinamento, inclusive com aeronaves, é um claro sinal de Washington para Caracas que eles estão dispostos a defender a Guiana”, avaliou.

As operações serão conduzidas pelo Comando Sul dos EUA, que possui acordos de cooperação militar com a GDF para “preparação de desastres, segurança aérea e marítima e combate a organizações criminosas transnacionais”. “Os EUA seguem comprometidos em ser um parceiro de segurança confiável para a Guiana”, informa o comunicado.

As atividades são condizentes com as declarações do presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, de que tem buscado os aliados para assegurar a defesa da região no “pior cenário possível”, referindo-se a um conflito armado entre ambos países. Elas também são anunciadas um dia após o sumiço de um helicóptero militar guianense enquanto sobrevoava o Essequibo. As autoridades descartam, por ora, que o sumiço seja resultado de um ataque e citam que as condições climáticas da região eram ruins.

As autoridades de Defesa americanas e guianenses se reuniram dias antes do plebiscito da Venezuela para discutir o futuro da aliança. Os dois países têm um acordo de cooperação militar desde 2022.

A aliança com os EUA é vista pela Venezuela como sinal verde da Guiana para a presença militar americana na região. Na quarta-feira, 6, a ditadura chavista chamou o comportamento do vizinho de “errático e ameaçador” para a paz na região e acusou a Guiana de agir “sob o mandato da ExxonMobil”, a gigante petrolífera americana que explora o petróleo na região.

Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que os americanos seguirão incentivando a Venezuela e a Guiana a seguir com os diálogos para uma resolução pacífica do conflito. “Isso não é algo que será acordado através de um referendo”, disse.

Após o plebiscito, o ditador Nicolás Maduro anunciou a criação do Estado de Guiana Essequiba, nomeou um interventor e ordenou à estatal PDVSA que distribua licenças para exploração de petróleo na região. Um novo mapa do país, com a área anexada, também foi apresentado e vai ser distribuído em todo o país. “A Guiana deve saber que resolveremos isso da maneira mais fácil ou resolveremos...”, disse Maduro, sem concluir a frase.

As movimentações de Maduro foram criticadas por Arfaan Ali, que chamou a Venezuela de “nação fora da lei” por não respeitar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que alertou a Venezuela no dia 1º para interromper qualquer ação que altere o controle da Guiana sobre um território disputado.

Os dois países, no entanto, dizem em público querer resolver o conflito pelas vias diplomáticas. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Imagem aérea de abril deste ano mostra região do Essequibo, pertencente hoje à Guiana. Área é reivindicada pela Venezuela há décadas Foto: Martín SILVA/AFP

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

Conselho de Segurança abordará crise entre Venezuela e Guiana

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira, 7, a portas fechadas para abordar o conflito territorial entre Venezuela e Guiana, segundo a agenda oficial. A reunião foi um pedido do governo guianense feito na quarta-feira.

Em carta à qual a Agência de notícias France-Press teve acesso, o chanceler Hugh Hilton Todd solicita ao Conselho de Segurança “uma reunião urgente” para abordar o conflito em Essequibo. O ministro guianense relata “as ações empreendidas” pela Venezuela “para anexar formalmente e incorporar ao território venezuelano a região de Guiana Essequiba, que constitui mais de dois terços do território soberano” do país.

As ações adotadas pela Venezuela “não farão mais do que agravar ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta para a paz e a segurança da Guiana, e mais amplamente ameaça à paz e à segurança de toda a região”, conclui o chanceler em sua carta ao Conselho de Segurança.

A Venezuela alega que Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e faz um apelo ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899 que definia os limites atuais. /Com AFP

As Forças Militares dos Estados Unidos conduzirão exercícios militares com as Forças de Defesa da Guiana (GDF, na sigla em inglês) na região do Essequibo nesta quinta-feira, 7, anunciou a embaixada dos EUA em Georgetown. Em um comunicado, o órgão diz se tratar de “operações de rotina” com o objetivo de aprimorar a parceria militar entre os dois países e “fortalecer a cooperação regional”. Segundo analistas, o anúncio demonstra o alinhamento dos EUA com a Guiana em meio às tensões com a Venezuela.

Os exercícios são anunciados no momento em que as tensões em torno da região, reivindicada pela Venezuela e pela Guiana, crescem após os resultados do plebiscito venezuelano no domingo, 3, considerarem o Essequibo como parte de seu território. A região é rica em petróleo e corresponde a 70% da área da Guiana hoje.

Na avaliação do diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University (Washington), Salvador Raza, os exercícios atuais não se tratam de rotineiros, apesar do anúncio. Ele, que atuou na cooperação militar dos EUA na Guiana, destaca que é a primeira vez que os americanos farão uma operação com o país que envolve aeronaves. “Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

O professor da ESPM e analista em segurança internacional, Gunther Rudzit, concorda. “Este anúncio não é rotineiro, uma vez que as forças armadas americanas estiveram em julho na Guiana fazendo exercícios co juntos planejados há algum tempo. Por isto, este novo treinamento, inclusive com aeronaves, é um claro sinal de Washington para Caracas que eles estão dispostos a defender a Guiana”, avaliou.

As operações serão conduzidas pelo Comando Sul dos EUA, que possui acordos de cooperação militar com a GDF para “preparação de desastres, segurança aérea e marítima e combate a organizações criminosas transnacionais”. “Os EUA seguem comprometidos em ser um parceiro de segurança confiável para a Guiana”, informa o comunicado.

As atividades são condizentes com as declarações do presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, de que tem buscado os aliados para assegurar a defesa da região no “pior cenário possível”, referindo-se a um conflito armado entre ambos países. Elas também são anunciadas um dia após o sumiço de um helicóptero militar guianense enquanto sobrevoava o Essequibo. As autoridades descartam, por ora, que o sumiço seja resultado de um ataque e citam que as condições climáticas da região eram ruins.

As autoridades de Defesa americanas e guianenses se reuniram dias antes do plebiscito da Venezuela para discutir o futuro da aliança. Os dois países têm um acordo de cooperação militar desde 2022.

A aliança com os EUA é vista pela Venezuela como sinal verde da Guiana para a presença militar americana na região. Na quarta-feira, 6, a ditadura chavista chamou o comportamento do vizinho de “errático e ameaçador” para a paz na região e acusou a Guiana de agir “sob o mandato da ExxonMobil”, a gigante petrolífera americana que explora o petróleo na região.

Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que os americanos seguirão incentivando a Venezuela e a Guiana a seguir com os diálogos para uma resolução pacífica do conflito. “Isso não é algo que será acordado através de um referendo”, disse.

Após o plebiscito, o ditador Nicolás Maduro anunciou a criação do Estado de Guiana Essequiba, nomeou um interventor e ordenou à estatal PDVSA que distribua licenças para exploração de petróleo na região. Um novo mapa do país, com a área anexada, também foi apresentado e vai ser distribuído em todo o país. “A Guiana deve saber que resolveremos isso da maneira mais fácil ou resolveremos...”, disse Maduro, sem concluir a frase.

As movimentações de Maduro foram criticadas por Arfaan Ali, que chamou a Venezuela de “nação fora da lei” por não respeitar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que alertou a Venezuela no dia 1º para interromper qualquer ação que altere o controle da Guiana sobre um território disputado.

Os dois países, no entanto, dizem em público querer resolver o conflito pelas vias diplomáticas. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Imagem aérea de abril deste ano mostra região do Essequibo, pertencente hoje à Guiana. Área é reivindicada pela Venezuela há décadas Foto: Martín SILVA/AFP

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

Conselho de Segurança abordará crise entre Venezuela e Guiana

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira, 7, a portas fechadas para abordar o conflito territorial entre Venezuela e Guiana, segundo a agenda oficial. A reunião foi um pedido do governo guianense feito na quarta-feira.

Em carta à qual a Agência de notícias France-Press teve acesso, o chanceler Hugh Hilton Todd solicita ao Conselho de Segurança “uma reunião urgente” para abordar o conflito em Essequibo. O ministro guianense relata “as ações empreendidas” pela Venezuela “para anexar formalmente e incorporar ao território venezuelano a região de Guiana Essequiba, que constitui mais de dois terços do território soberano” do país.

As ações adotadas pela Venezuela “não farão mais do que agravar ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta para a paz e a segurança da Guiana, e mais amplamente ameaça à paz e à segurança de toda a região”, conclui o chanceler em sua carta ao Conselho de Segurança.

A Venezuela alega que Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e faz um apelo ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899 que definia os limites atuais. /Com AFP

As Forças Militares dos Estados Unidos conduzirão exercícios militares com as Forças de Defesa da Guiana (GDF, na sigla em inglês) na região do Essequibo nesta quinta-feira, 7, anunciou a embaixada dos EUA em Georgetown. Em um comunicado, o órgão diz se tratar de “operações de rotina” com o objetivo de aprimorar a parceria militar entre os dois países e “fortalecer a cooperação regional”. Segundo analistas, o anúncio demonstra o alinhamento dos EUA com a Guiana em meio às tensões com a Venezuela.

Os exercícios são anunciados no momento em que as tensões em torno da região, reivindicada pela Venezuela e pela Guiana, crescem após os resultados do plebiscito venezuelano no domingo, 3, considerarem o Essequibo como parte de seu território. A região é rica em petróleo e corresponde a 70% da área da Guiana hoje.

Na avaliação do diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University (Washington), Salvador Raza, os exercícios atuais não se tratam de rotineiros, apesar do anúncio. Ele, que atuou na cooperação militar dos EUA na Guiana, destaca que é a primeira vez que os americanos farão uma operação com o país que envolve aeronaves. “Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

O professor da ESPM e analista em segurança internacional, Gunther Rudzit, concorda. “Este anúncio não é rotineiro, uma vez que as forças armadas americanas estiveram em julho na Guiana fazendo exercícios co juntos planejados há algum tempo. Por isto, este novo treinamento, inclusive com aeronaves, é um claro sinal de Washington para Caracas que eles estão dispostos a defender a Guiana”, avaliou.

As operações serão conduzidas pelo Comando Sul dos EUA, que possui acordos de cooperação militar com a GDF para “preparação de desastres, segurança aérea e marítima e combate a organizações criminosas transnacionais”. “Os EUA seguem comprometidos em ser um parceiro de segurança confiável para a Guiana”, informa o comunicado.

As atividades são condizentes com as declarações do presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, de que tem buscado os aliados para assegurar a defesa da região no “pior cenário possível”, referindo-se a um conflito armado entre ambos países. Elas também são anunciadas um dia após o sumiço de um helicóptero militar guianense enquanto sobrevoava o Essequibo. As autoridades descartam, por ora, que o sumiço seja resultado de um ataque e citam que as condições climáticas da região eram ruins.

As autoridades de Defesa americanas e guianenses se reuniram dias antes do plebiscito da Venezuela para discutir o futuro da aliança. Os dois países têm um acordo de cooperação militar desde 2022.

A aliança com os EUA é vista pela Venezuela como sinal verde da Guiana para a presença militar americana na região. Na quarta-feira, 6, a ditadura chavista chamou o comportamento do vizinho de “errático e ameaçador” para a paz na região e acusou a Guiana de agir “sob o mandato da ExxonMobil”, a gigante petrolífera americana que explora o petróleo na região.

Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que os americanos seguirão incentivando a Venezuela e a Guiana a seguir com os diálogos para uma resolução pacífica do conflito. “Isso não é algo que será acordado através de um referendo”, disse.

Após o plebiscito, o ditador Nicolás Maduro anunciou a criação do Estado de Guiana Essequiba, nomeou um interventor e ordenou à estatal PDVSA que distribua licenças para exploração de petróleo na região. Um novo mapa do país, com a área anexada, também foi apresentado e vai ser distribuído em todo o país. “A Guiana deve saber que resolveremos isso da maneira mais fácil ou resolveremos...”, disse Maduro, sem concluir a frase.

As movimentações de Maduro foram criticadas por Arfaan Ali, que chamou a Venezuela de “nação fora da lei” por não respeitar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que alertou a Venezuela no dia 1º para interromper qualquer ação que altere o controle da Guiana sobre um território disputado.

Os dois países, no entanto, dizem em público querer resolver o conflito pelas vias diplomáticas. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Imagem aérea de abril deste ano mostra região do Essequibo, pertencente hoje à Guiana. Área é reivindicada pela Venezuela há décadas Foto: Martín SILVA/AFP

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

Conselho de Segurança abordará crise entre Venezuela e Guiana

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira, 7, a portas fechadas para abordar o conflito territorial entre Venezuela e Guiana, segundo a agenda oficial. A reunião foi um pedido do governo guianense feito na quarta-feira.

Em carta à qual a Agência de notícias France-Press teve acesso, o chanceler Hugh Hilton Todd solicita ao Conselho de Segurança “uma reunião urgente” para abordar o conflito em Essequibo. O ministro guianense relata “as ações empreendidas” pela Venezuela “para anexar formalmente e incorporar ao território venezuelano a região de Guiana Essequiba, que constitui mais de dois terços do território soberano” do país.

As ações adotadas pela Venezuela “não farão mais do que agravar ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta para a paz e a segurança da Guiana, e mais amplamente ameaça à paz e à segurança de toda a região”, conclui o chanceler em sua carta ao Conselho de Segurança.

A Venezuela alega que Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e faz um apelo ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899 que definia os limites atuais. /Com AFP

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