Países aumentam cerco econômico a Putin e congelam ativos do Banco Central da Rússia


Reino Unido, Japão, França e Canadá imobilizaram os ativos russos no país; Suíça abandonou sua tradicional neutralidade e também congelou os ativos da Rússia e de Putin

Por Fernanda Simas

Depois de os Estados Unidos proibirem, nesta segunda-feira, 28, todas as transações com o Banco Central da Rússia, sanção de efeito imediato e sem precedentes, que limitará a capacidade de Moscou para defender sua moeda e apoiar sua economia, diversos países adotaram medidas semelhantes. Reino Unido, Japão, França e Canadá congelaram ativos do fundo soberano da Rússia. 

Até a Suíça abandonou sua tradicional neutralidade e congelou os ativos russos no país. A decisão foi tomada em coordenação com vários aliados de Washington, em resposta à invasão da Ucrânia. “Esta decisão tem o efeito imobilizar todos os ativos que o Banco Central da Rússia tem nos Estados Unidos ou que estão nas mãos de cidadãos americanos”, detalhou um comunicado do Departamento do Tesouro.

Desde a invasão da Ucrânia, ose outras potências começaram a impor sanções à Rússia, mas o governo de Vladimir Putin continuou agindo como se essas punições não importassem. Agora, as sanções internacionais visam cortar ainda mais Moscou da economia global. Analistas explicam que a adesão de outros países, principalmente a China, e a amplitude das sanções são determinantes para definir se Moscou sofrerá o impacto.  

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Clientes fazem fila para fechar suas contas no banco russo Sberbank, em Praga, capital checa; invasão da Ucrânia pela Rússia terá impacto na economia mundial. Foto: Michal Cizek/AFP - 25/02/2022

“A ação sem precedentes que estamos tomando hoje limitará significativamente a capacidade da Rússia de usar ativos para financiar suas atividades de guerra desestabilizadoras e direcionar os fundos de que Putin e seu círculo próximo dependem para permitir sua invasão da Ucrânia”, disse a secretária do Tesouro Janet Yellen, ao anunciar o congelamento de ativos do Banco Central Russo que são mantidos nos EUA, impondo sanções ao Fundo Russo de Investimento Direto, um fundo soberano administrado por um aliado próximo do presidente Putin.

Como resultado das sanções, os americanos estão impedidos de participar de quaisquer transações envolvendo o Banco Central da Rússia, o Fundo Nacional de Riqueza da Rússia ou o Ministério das Finanças da Rússia.

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A resposta econômica tem sido a mais adequada para os países do Ocidente neste momento da guerra. Mas impactar o governo Putin sem impactar outros países não é uma conta fácil e por isso cada passo é tomado com cautela. 

“A economia russa não é dependente, isso dificulta o impacto de sanções. O volume de sua dívida externa representa hoje 21% do PIB no máximo. Na maioria dos países ocidentais, esse valor ultrapassa 90%. A Rússia hoje tem um caixa de US$ 643 bilhões. Impor sanções a Argentina ou Brasil, ou Itália, que são economias vinculadas ao endividamento externo, é uma coisa, mas a Rússia está mais preparada”, afirma o professor de Geoeconomia Internacional da ESPM-SP Leonardo Trevisan.

Restos de um foguete são vistos em estrada nos arredores deKharkiv, na Ucrânia. Rússia inciou ataque ao país nesta madrugada. Foto: Sergey Bobok/AFP - 24/2/2022
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O governo Putin passou os últimos anos reforçando suas defesas contra sanções, acumulando US$ 643 bilhões em reservas em moeda estrangeira, em parte desviando suas receitas de petróleo e gás. Novas restrições dos EUA e seus aliados contra a venda de rublos para a Rússia visam, então, minar a capacidade do país de apoiar sua moeda diante de novas sanções ao seu setor financeiro.

Por isso, que o anúncio desta segunda representa uma escalada das sanções dos EUA, embora o Departamento do Tesouro tenha dito que estava fazendo uma isenção para garantir que as transações relacionadas às exportações de energia da Rússia possam continuar. 

A cotação do rublo desabou nesta segunda-feira e registrou valores mínimos em relação ao dólar e ao euro na abertura no mercado de câmbio em Moscou. Para defender a economia e a moeda nacional, o Banco Central da Rússia anunciou que dobrará a taxa básica de juros para 20%, o maior patamar desde 2003. As Bolsas europeias operam em forte queda e a Bolsa russa não abrirá.

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As operações para defender o rublo, em franca queda, “não serão mais possíveis e a 'fortaleza Rússia' se encontra indefesa”, disse um funcionário de alto escalão do governo americano.

 A mesma fonte considerou que essas sanções coordenadas vão deflagrar um “círculo vicioso” para a economia russa e antecipou: “A inflação certamente vai disparar, o poder aquisitivo entrará em colapso, os investimentos entrarão em colapso”.

Russos fazem filas nos caixas eletrônicos do Alfa Bank, em Moscou, após desvalorização do rublo, em 27 de fevereiro Foto: Victor Berzkin/AP
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Ação coordenada

O governo da Suíça congelou os ativos da Rússia e também de uma série de líderes russos, como Putin, o premiê Mikhail Mishustin e o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, com efeito imediato. As sanções serão implementadas em coordenação com a UE, com o congelamento de ativos e o veto a novos negócios com os alvos.

O país ainda informou que suspendeu em parte um acordo de 2009 para facilitar vistos a cidadãos da Rússia. Além disso, fechará o espaço aéreo para aeronaves russas a partir desta segunda-feira.

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O governo do Reino Unido também anunciou o congelamento de ativos do Banco Central da Rússia “a fim de evitar que o BC russo use reservas estrangeiras para minar o impacto de sanções já impostas” e “limitar a capacidade de o BC russo fazer transações no mercado cambial a fim de apoiar o rublo”, disse o comunicado do governo britânico.

O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, informou nesta segunda que o país está se preparando para confiscar todos os bens de autoridades e líderes empresariais russos que estão sendo alvo de sanções da UE. Le Maire disse que o país está em processo de listagem de propriedades, incluindo ativos financeiros, imóveis, iates e carros de luxo.

As autoridades francesas também estão tentando identificar outros indivíduos russos que poderiam ser adicionados à lista da UE de pessoas alvo de sanções devido à “sua proximidade com a liderança russa”, acrescentou. "Vamos conseguir meios legais para confiscar todos esses bens", afirmou Le Maire, após reunião especial de defesa sobre a Ucrânia no palácio presidencial francês.

"O problema de dizer que os ativos serão congelados é que para isso é preciso encontrar os ativos, tem um trabalho a ser feito. O que sabemos, de fato, sobre a situação de Putin são conexões estabelecidas pelo Pandora Papers. Uma possível companheira dele, Svetlana Krivonogikh, tem uma empresa de fachada nas Ilhas Virgens Britânicas e, com isso, comprou um apartemento em Monte Carlo. Ela tem uma origem muito pobre na Rússia então seria difícil ter comprado aquilo tudo sem o fato de ter tido um affair com Putin", afirma o professor Trevisan. "Já com os oligarcas russos, a situação é outra. Sabemos que possuem ativos e onde estão muitos dos bens que podem ser congelados."

O Canadá também adotou medidas similares contra a economia russa. De acordo com os bloqueios, instituições financeiras canadenses estão proibidas de negociar ativos com o Banco Central russo e fundos soberanos do país. 

Na Ásia, a resposta econômica á invasão da Ucrânia veio por parte do Japão. O Banco do Japão anunciou o congelamento das reservas cambiais em moeda estrangeira do Banco Central da Rússia no valor total de 4 trilhões a 5 trilhões de ienes. Com isso, há um impedimento para que as reservas cambiais denominadas em ienes sejam remetidas para a Rússia e outras instituições financeiras.

Sistema Swift

No sábado 26, a Comissão Europeia, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos removeram alguns bancos russos do sistema de global de pagamentos internacionais Swift, essencialmente impedindo-os de transações internacionais, e imporiam novas restrições ao Banco Central da Rússia para impedi-lo de usar suas grandes reservas internacionais para evitar sanções.

Essa decisão foi tomada depois de muitas críticas e questionamentos aos líderes ocidentais porque a retirada da Rússia do sistema Swift poderia impactar mais fortemente a economia russa. O sistema é uma das mais importantes redes de transações financeiras e bancárias usada por 11 mil bancos em 200 países para realização de pagamentos entre eles.

Mas banir o país todo do sistema também teria implicações importantes na economia mundial, por isso alguns bancos foram removidos. 

O Kremlin já tinha em mente a possibilidade de expulsão do sistema Swift após as ameaças de retaliação em 2014, quando anexou a Crimeia, e possui um sistema próprio que poderia ser usado, o spfs. Do ponto de vista dos negócios, a Rússia é o quinto maior parceiro comercial da UE e fonte de 35% do gás usado na Europa. Retirar o país do sistema Swift tornaria ainda mais difícil para os compradores internacionais pagar a energia. 

Além disso, é preciso avaliar o fator China. O país de Xi Jinping possui o sistema cips que poderia passar a ser usado em transações com a Rússia. Por fim, o dólar poderia perder força e as criptomoedas ganharem mais espaço em transações internacionais. 

Em pronunciamento na Casa Branca, o presidente americano, Joe Biden, anuncia sanções a instituições russas em resposta à decisão de Moscou de reconhecer regiões separatistas da Ucrânia como independentes Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Fator China

As sanções, segundo líderes europeus, afetam ao menos 70% do sistema financeiro russo. Mas o papel da China é crucial para verificar se, a médio e longo prazos, essas medidas vão ferir o governo Putin. 

“Se não existisse a China, as sanções iniciais dariam certo. Biden disse que os russos teriam uma enorme dificuldade em fazer negócios em dólar, libra, euro e iene. Só esqueceu de falar do yuan. É preciso lembrar que a Ásia já tem negociações diretas em yuan e, em fevereiro, Putin e Xi Jinping fecharam um acordo de cooperação ilimitado”, explica Trevisan. 

Outra possibilidade levantada no pacote de sanções econômicas seria congelar bens na ordem de US$ 1 trilhão de russos no exterior. Mas, segundo Trevisan, isso também pode afetar os países que aplicam as sanções, em uma eventual retaliação russa. “O que acontece? O reverso pode ser verdadeiro e inúmeras empresas fizeram investimentos na Rússia, redes hoteleiras, por exemplo.”

“As sanções sempre podem ser burladas no mundo capitalista, que dá um jeito de as coisas chegarem onde devem chegar. No fim, a população acaba sofrendo mais do que os próprios governantes. Os russos vão direcionar as questões econômicas para a China, que será como uma espécie de retaguarda”, avalia o professor de pós-graduação de política e relações internacionais da FESP-SP Filipe Giuseppe Ribeiro. 

Apoio militar

Em adição às sanções, o Canadá destacou que tem aumentado o suporte financeiro à Ucrânia, incluindo treinamento militar no país, até US$ 620 milhões em empréstimos and repasse de quase US$ 10 milhões em equipamento e munição militares.

Seu navegador não suporta esse video.

Uma reunião ‘extraordinária e de emergência’ da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada para a manhã da próxima segunda-feira. A resolução foi aprovada no Conselho de Segurança, através de um mecanismo que não prevê o veto dos membros permanentes.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que seu país participará do esforço europeu para levar equipamentos militares para a Ucrânia, por meio de um centro na Polônia. A França também fornecerá mais ajuda humanitária à Ucrânia nos próximos dias, disse Le Drian.

A Suíça diz que reafirma sua solidariedade com a Ucrânia e seu povo e entregará ajuda para as pessoas que fugiram para a Polônia. /Com informações da AFP e do NYT

Depois de os Estados Unidos proibirem, nesta segunda-feira, 28, todas as transações com o Banco Central da Rússia, sanção de efeito imediato e sem precedentes, que limitará a capacidade de Moscou para defender sua moeda e apoiar sua economia, diversos países adotaram medidas semelhantes. Reino Unido, Japão, França e Canadá congelaram ativos do fundo soberano da Rússia. 

Até a Suíça abandonou sua tradicional neutralidade e congelou os ativos russos no país. A decisão foi tomada em coordenação com vários aliados de Washington, em resposta à invasão da Ucrânia. “Esta decisão tem o efeito imobilizar todos os ativos que o Banco Central da Rússia tem nos Estados Unidos ou que estão nas mãos de cidadãos americanos”, detalhou um comunicado do Departamento do Tesouro.

Desde a invasão da Ucrânia, ose outras potências começaram a impor sanções à Rússia, mas o governo de Vladimir Putin continuou agindo como se essas punições não importassem. Agora, as sanções internacionais visam cortar ainda mais Moscou da economia global. Analistas explicam que a adesão de outros países, principalmente a China, e a amplitude das sanções são determinantes para definir se Moscou sofrerá o impacto.  

Clientes fazem fila para fechar suas contas no banco russo Sberbank, em Praga, capital checa; invasão da Ucrânia pela Rússia terá impacto na economia mundial. Foto: Michal Cizek/AFP - 25/02/2022

“A ação sem precedentes que estamos tomando hoje limitará significativamente a capacidade da Rússia de usar ativos para financiar suas atividades de guerra desestabilizadoras e direcionar os fundos de que Putin e seu círculo próximo dependem para permitir sua invasão da Ucrânia”, disse a secretária do Tesouro Janet Yellen, ao anunciar o congelamento de ativos do Banco Central Russo que são mantidos nos EUA, impondo sanções ao Fundo Russo de Investimento Direto, um fundo soberano administrado por um aliado próximo do presidente Putin.

Como resultado das sanções, os americanos estão impedidos de participar de quaisquer transações envolvendo o Banco Central da Rússia, o Fundo Nacional de Riqueza da Rússia ou o Ministério das Finanças da Rússia.

A resposta econômica tem sido a mais adequada para os países do Ocidente neste momento da guerra. Mas impactar o governo Putin sem impactar outros países não é uma conta fácil e por isso cada passo é tomado com cautela. 

“A economia russa não é dependente, isso dificulta o impacto de sanções. O volume de sua dívida externa representa hoje 21% do PIB no máximo. Na maioria dos países ocidentais, esse valor ultrapassa 90%. A Rússia hoje tem um caixa de US$ 643 bilhões. Impor sanções a Argentina ou Brasil, ou Itália, que são economias vinculadas ao endividamento externo, é uma coisa, mas a Rússia está mais preparada”, afirma o professor de Geoeconomia Internacional da ESPM-SP Leonardo Trevisan.

Restos de um foguete são vistos em estrada nos arredores deKharkiv, na Ucrânia. Rússia inciou ataque ao país nesta madrugada. Foto: Sergey Bobok/AFP - 24/2/2022

O governo Putin passou os últimos anos reforçando suas defesas contra sanções, acumulando US$ 643 bilhões em reservas em moeda estrangeira, em parte desviando suas receitas de petróleo e gás. Novas restrições dos EUA e seus aliados contra a venda de rublos para a Rússia visam, então, minar a capacidade do país de apoiar sua moeda diante de novas sanções ao seu setor financeiro.

Por isso, que o anúncio desta segunda representa uma escalada das sanções dos EUA, embora o Departamento do Tesouro tenha dito que estava fazendo uma isenção para garantir que as transações relacionadas às exportações de energia da Rússia possam continuar. 

A cotação do rublo desabou nesta segunda-feira e registrou valores mínimos em relação ao dólar e ao euro na abertura no mercado de câmbio em Moscou. Para defender a economia e a moeda nacional, o Banco Central da Rússia anunciou que dobrará a taxa básica de juros para 20%, o maior patamar desde 2003. As Bolsas europeias operam em forte queda e a Bolsa russa não abrirá.

As operações para defender o rublo, em franca queda, “não serão mais possíveis e a 'fortaleza Rússia' se encontra indefesa”, disse um funcionário de alto escalão do governo americano.

 A mesma fonte considerou que essas sanções coordenadas vão deflagrar um “círculo vicioso” para a economia russa e antecipou: “A inflação certamente vai disparar, o poder aquisitivo entrará em colapso, os investimentos entrarão em colapso”.

Russos fazem filas nos caixas eletrônicos do Alfa Bank, em Moscou, após desvalorização do rublo, em 27 de fevereiro Foto: Victor Berzkin/AP

Ação coordenada

O governo da Suíça congelou os ativos da Rússia e também de uma série de líderes russos, como Putin, o premiê Mikhail Mishustin e o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, com efeito imediato. As sanções serão implementadas em coordenação com a UE, com o congelamento de ativos e o veto a novos negócios com os alvos.

O país ainda informou que suspendeu em parte um acordo de 2009 para facilitar vistos a cidadãos da Rússia. Além disso, fechará o espaço aéreo para aeronaves russas a partir desta segunda-feira.

O governo do Reino Unido também anunciou o congelamento de ativos do Banco Central da Rússia “a fim de evitar que o BC russo use reservas estrangeiras para minar o impacto de sanções já impostas” e “limitar a capacidade de o BC russo fazer transações no mercado cambial a fim de apoiar o rublo”, disse o comunicado do governo britânico.

O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, informou nesta segunda que o país está se preparando para confiscar todos os bens de autoridades e líderes empresariais russos que estão sendo alvo de sanções da UE. Le Maire disse que o país está em processo de listagem de propriedades, incluindo ativos financeiros, imóveis, iates e carros de luxo.

As autoridades francesas também estão tentando identificar outros indivíduos russos que poderiam ser adicionados à lista da UE de pessoas alvo de sanções devido à “sua proximidade com a liderança russa”, acrescentou. "Vamos conseguir meios legais para confiscar todos esses bens", afirmou Le Maire, após reunião especial de defesa sobre a Ucrânia no palácio presidencial francês.

"O problema de dizer que os ativos serão congelados é que para isso é preciso encontrar os ativos, tem um trabalho a ser feito. O que sabemos, de fato, sobre a situação de Putin são conexões estabelecidas pelo Pandora Papers. Uma possível companheira dele, Svetlana Krivonogikh, tem uma empresa de fachada nas Ilhas Virgens Britânicas e, com isso, comprou um apartemento em Monte Carlo. Ela tem uma origem muito pobre na Rússia então seria difícil ter comprado aquilo tudo sem o fato de ter tido um affair com Putin", afirma o professor Trevisan. "Já com os oligarcas russos, a situação é outra. Sabemos que possuem ativos e onde estão muitos dos bens que podem ser congelados."

O Canadá também adotou medidas similares contra a economia russa. De acordo com os bloqueios, instituições financeiras canadenses estão proibidas de negociar ativos com o Banco Central russo e fundos soberanos do país. 

Na Ásia, a resposta econômica á invasão da Ucrânia veio por parte do Japão. O Banco do Japão anunciou o congelamento das reservas cambiais em moeda estrangeira do Banco Central da Rússia no valor total de 4 trilhões a 5 trilhões de ienes. Com isso, há um impedimento para que as reservas cambiais denominadas em ienes sejam remetidas para a Rússia e outras instituições financeiras.

Sistema Swift

No sábado 26, a Comissão Europeia, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos removeram alguns bancos russos do sistema de global de pagamentos internacionais Swift, essencialmente impedindo-os de transações internacionais, e imporiam novas restrições ao Banco Central da Rússia para impedi-lo de usar suas grandes reservas internacionais para evitar sanções.

Essa decisão foi tomada depois de muitas críticas e questionamentos aos líderes ocidentais porque a retirada da Rússia do sistema Swift poderia impactar mais fortemente a economia russa. O sistema é uma das mais importantes redes de transações financeiras e bancárias usada por 11 mil bancos em 200 países para realização de pagamentos entre eles.

Mas banir o país todo do sistema também teria implicações importantes na economia mundial, por isso alguns bancos foram removidos. 

O Kremlin já tinha em mente a possibilidade de expulsão do sistema Swift após as ameaças de retaliação em 2014, quando anexou a Crimeia, e possui um sistema próprio que poderia ser usado, o spfs. Do ponto de vista dos negócios, a Rússia é o quinto maior parceiro comercial da UE e fonte de 35% do gás usado na Europa. Retirar o país do sistema Swift tornaria ainda mais difícil para os compradores internacionais pagar a energia. 

Além disso, é preciso avaliar o fator China. O país de Xi Jinping possui o sistema cips que poderia passar a ser usado em transações com a Rússia. Por fim, o dólar poderia perder força e as criptomoedas ganharem mais espaço em transações internacionais. 

Em pronunciamento na Casa Branca, o presidente americano, Joe Biden, anuncia sanções a instituições russas em resposta à decisão de Moscou de reconhecer regiões separatistas da Ucrânia como independentes Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Fator China

As sanções, segundo líderes europeus, afetam ao menos 70% do sistema financeiro russo. Mas o papel da China é crucial para verificar se, a médio e longo prazos, essas medidas vão ferir o governo Putin. 

“Se não existisse a China, as sanções iniciais dariam certo. Biden disse que os russos teriam uma enorme dificuldade em fazer negócios em dólar, libra, euro e iene. Só esqueceu de falar do yuan. É preciso lembrar que a Ásia já tem negociações diretas em yuan e, em fevereiro, Putin e Xi Jinping fecharam um acordo de cooperação ilimitado”, explica Trevisan. 

Outra possibilidade levantada no pacote de sanções econômicas seria congelar bens na ordem de US$ 1 trilhão de russos no exterior. Mas, segundo Trevisan, isso também pode afetar os países que aplicam as sanções, em uma eventual retaliação russa. “O que acontece? O reverso pode ser verdadeiro e inúmeras empresas fizeram investimentos na Rússia, redes hoteleiras, por exemplo.”

“As sanções sempre podem ser burladas no mundo capitalista, que dá um jeito de as coisas chegarem onde devem chegar. No fim, a população acaba sofrendo mais do que os próprios governantes. Os russos vão direcionar as questões econômicas para a China, que será como uma espécie de retaguarda”, avalia o professor de pós-graduação de política e relações internacionais da FESP-SP Filipe Giuseppe Ribeiro. 

Apoio militar

Em adição às sanções, o Canadá destacou que tem aumentado o suporte financeiro à Ucrânia, incluindo treinamento militar no país, até US$ 620 milhões em empréstimos and repasse de quase US$ 10 milhões em equipamento e munição militares.

Seu navegador não suporta esse video.

Uma reunião ‘extraordinária e de emergência’ da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada para a manhã da próxima segunda-feira. A resolução foi aprovada no Conselho de Segurança, através de um mecanismo que não prevê o veto dos membros permanentes.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que seu país participará do esforço europeu para levar equipamentos militares para a Ucrânia, por meio de um centro na Polônia. A França também fornecerá mais ajuda humanitária à Ucrânia nos próximos dias, disse Le Drian.

A Suíça diz que reafirma sua solidariedade com a Ucrânia e seu povo e entregará ajuda para as pessoas que fugiram para a Polônia. /Com informações da AFP e do NYT

Depois de os Estados Unidos proibirem, nesta segunda-feira, 28, todas as transações com o Banco Central da Rússia, sanção de efeito imediato e sem precedentes, que limitará a capacidade de Moscou para defender sua moeda e apoiar sua economia, diversos países adotaram medidas semelhantes. Reino Unido, Japão, França e Canadá congelaram ativos do fundo soberano da Rússia. 

Até a Suíça abandonou sua tradicional neutralidade e congelou os ativos russos no país. A decisão foi tomada em coordenação com vários aliados de Washington, em resposta à invasão da Ucrânia. “Esta decisão tem o efeito imobilizar todos os ativos que o Banco Central da Rússia tem nos Estados Unidos ou que estão nas mãos de cidadãos americanos”, detalhou um comunicado do Departamento do Tesouro.

Desde a invasão da Ucrânia, ose outras potências começaram a impor sanções à Rússia, mas o governo de Vladimir Putin continuou agindo como se essas punições não importassem. Agora, as sanções internacionais visam cortar ainda mais Moscou da economia global. Analistas explicam que a adesão de outros países, principalmente a China, e a amplitude das sanções são determinantes para definir se Moscou sofrerá o impacto.  

Clientes fazem fila para fechar suas contas no banco russo Sberbank, em Praga, capital checa; invasão da Ucrânia pela Rússia terá impacto na economia mundial. Foto: Michal Cizek/AFP - 25/02/2022

“A ação sem precedentes que estamos tomando hoje limitará significativamente a capacidade da Rússia de usar ativos para financiar suas atividades de guerra desestabilizadoras e direcionar os fundos de que Putin e seu círculo próximo dependem para permitir sua invasão da Ucrânia”, disse a secretária do Tesouro Janet Yellen, ao anunciar o congelamento de ativos do Banco Central Russo que são mantidos nos EUA, impondo sanções ao Fundo Russo de Investimento Direto, um fundo soberano administrado por um aliado próximo do presidente Putin.

Como resultado das sanções, os americanos estão impedidos de participar de quaisquer transações envolvendo o Banco Central da Rússia, o Fundo Nacional de Riqueza da Rússia ou o Ministério das Finanças da Rússia.

A resposta econômica tem sido a mais adequada para os países do Ocidente neste momento da guerra. Mas impactar o governo Putin sem impactar outros países não é uma conta fácil e por isso cada passo é tomado com cautela. 

“A economia russa não é dependente, isso dificulta o impacto de sanções. O volume de sua dívida externa representa hoje 21% do PIB no máximo. Na maioria dos países ocidentais, esse valor ultrapassa 90%. A Rússia hoje tem um caixa de US$ 643 bilhões. Impor sanções a Argentina ou Brasil, ou Itália, que são economias vinculadas ao endividamento externo, é uma coisa, mas a Rússia está mais preparada”, afirma o professor de Geoeconomia Internacional da ESPM-SP Leonardo Trevisan.

Restos de um foguete são vistos em estrada nos arredores deKharkiv, na Ucrânia. Rússia inciou ataque ao país nesta madrugada. Foto: Sergey Bobok/AFP - 24/2/2022

O governo Putin passou os últimos anos reforçando suas defesas contra sanções, acumulando US$ 643 bilhões em reservas em moeda estrangeira, em parte desviando suas receitas de petróleo e gás. Novas restrições dos EUA e seus aliados contra a venda de rublos para a Rússia visam, então, minar a capacidade do país de apoiar sua moeda diante de novas sanções ao seu setor financeiro.

Por isso, que o anúncio desta segunda representa uma escalada das sanções dos EUA, embora o Departamento do Tesouro tenha dito que estava fazendo uma isenção para garantir que as transações relacionadas às exportações de energia da Rússia possam continuar. 

A cotação do rublo desabou nesta segunda-feira e registrou valores mínimos em relação ao dólar e ao euro na abertura no mercado de câmbio em Moscou. Para defender a economia e a moeda nacional, o Banco Central da Rússia anunciou que dobrará a taxa básica de juros para 20%, o maior patamar desde 2003. As Bolsas europeias operam em forte queda e a Bolsa russa não abrirá.

As operações para defender o rublo, em franca queda, “não serão mais possíveis e a 'fortaleza Rússia' se encontra indefesa”, disse um funcionário de alto escalão do governo americano.

 A mesma fonte considerou que essas sanções coordenadas vão deflagrar um “círculo vicioso” para a economia russa e antecipou: “A inflação certamente vai disparar, o poder aquisitivo entrará em colapso, os investimentos entrarão em colapso”.

Russos fazem filas nos caixas eletrônicos do Alfa Bank, em Moscou, após desvalorização do rublo, em 27 de fevereiro Foto: Victor Berzkin/AP

Ação coordenada

O governo da Suíça congelou os ativos da Rússia e também de uma série de líderes russos, como Putin, o premiê Mikhail Mishustin e o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, com efeito imediato. As sanções serão implementadas em coordenação com a UE, com o congelamento de ativos e o veto a novos negócios com os alvos.

O país ainda informou que suspendeu em parte um acordo de 2009 para facilitar vistos a cidadãos da Rússia. Além disso, fechará o espaço aéreo para aeronaves russas a partir desta segunda-feira.

O governo do Reino Unido também anunciou o congelamento de ativos do Banco Central da Rússia “a fim de evitar que o BC russo use reservas estrangeiras para minar o impacto de sanções já impostas” e “limitar a capacidade de o BC russo fazer transações no mercado cambial a fim de apoiar o rublo”, disse o comunicado do governo britânico.

O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, informou nesta segunda que o país está se preparando para confiscar todos os bens de autoridades e líderes empresariais russos que estão sendo alvo de sanções da UE. Le Maire disse que o país está em processo de listagem de propriedades, incluindo ativos financeiros, imóveis, iates e carros de luxo.

As autoridades francesas também estão tentando identificar outros indivíduos russos que poderiam ser adicionados à lista da UE de pessoas alvo de sanções devido à “sua proximidade com a liderança russa”, acrescentou. "Vamos conseguir meios legais para confiscar todos esses bens", afirmou Le Maire, após reunião especial de defesa sobre a Ucrânia no palácio presidencial francês.

"O problema de dizer que os ativos serão congelados é que para isso é preciso encontrar os ativos, tem um trabalho a ser feito. O que sabemos, de fato, sobre a situação de Putin são conexões estabelecidas pelo Pandora Papers. Uma possível companheira dele, Svetlana Krivonogikh, tem uma empresa de fachada nas Ilhas Virgens Britânicas e, com isso, comprou um apartemento em Monte Carlo. Ela tem uma origem muito pobre na Rússia então seria difícil ter comprado aquilo tudo sem o fato de ter tido um affair com Putin", afirma o professor Trevisan. "Já com os oligarcas russos, a situação é outra. Sabemos que possuem ativos e onde estão muitos dos bens que podem ser congelados."

O Canadá também adotou medidas similares contra a economia russa. De acordo com os bloqueios, instituições financeiras canadenses estão proibidas de negociar ativos com o Banco Central russo e fundos soberanos do país. 

Na Ásia, a resposta econômica á invasão da Ucrânia veio por parte do Japão. O Banco do Japão anunciou o congelamento das reservas cambiais em moeda estrangeira do Banco Central da Rússia no valor total de 4 trilhões a 5 trilhões de ienes. Com isso, há um impedimento para que as reservas cambiais denominadas em ienes sejam remetidas para a Rússia e outras instituições financeiras.

Sistema Swift

No sábado 26, a Comissão Europeia, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos removeram alguns bancos russos do sistema de global de pagamentos internacionais Swift, essencialmente impedindo-os de transações internacionais, e imporiam novas restrições ao Banco Central da Rússia para impedi-lo de usar suas grandes reservas internacionais para evitar sanções.

Essa decisão foi tomada depois de muitas críticas e questionamentos aos líderes ocidentais porque a retirada da Rússia do sistema Swift poderia impactar mais fortemente a economia russa. O sistema é uma das mais importantes redes de transações financeiras e bancárias usada por 11 mil bancos em 200 países para realização de pagamentos entre eles.

Mas banir o país todo do sistema também teria implicações importantes na economia mundial, por isso alguns bancos foram removidos. 

O Kremlin já tinha em mente a possibilidade de expulsão do sistema Swift após as ameaças de retaliação em 2014, quando anexou a Crimeia, e possui um sistema próprio que poderia ser usado, o spfs. Do ponto de vista dos negócios, a Rússia é o quinto maior parceiro comercial da UE e fonte de 35% do gás usado na Europa. Retirar o país do sistema Swift tornaria ainda mais difícil para os compradores internacionais pagar a energia. 

Além disso, é preciso avaliar o fator China. O país de Xi Jinping possui o sistema cips que poderia passar a ser usado em transações com a Rússia. Por fim, o dólar poderia perder força e as criptomoedas ganharem mais espaço em transações internacionais. 

Em pronunciamento na Casa Branca, o presidente americano, Joe Biden, anuncia sanções a instituições russas em resposta à decisão de Moscou de reconhecer regiões separatistas da Ucrânia como independentes Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Fator China

As sanções, segundo líderes europeus, afetam ao menos 70% do sistema financeiro russo. Mas o papel da China é crucial para verificar se, a médio e longo prazos, essas medidas vão ferir o governo Putin. 

“Se não existisse a China, as sanções iniciais dariam certo. Biden disse que os russos teriam uma enorme dificuldade em fazer negócios em dólar, libra, euro e iene. Só esqueceu de falar do yuan. É preciso lembrar que a Ásia já tem negociações diretas em yuan e, em fevereiro, Putin e Xi Jinping fecharam um acordo de cooperação ilimitado”, explica Trevisan. 

Outra possibilidade levantada no pacote de sanções econômicas seria congelar bens na ordem de US$ 1 trilhão de russos no exterior. Mas, segundo Trevisan, isso também pode afetar os países que aplicam as sanções, em uma eventual retaliação russa. “O que acontece? O reverso pode ser verdadeiro e inúmeras empresas fizeram investimentos na Rússia, redes hoteleiras, por exemplo.”

“As sanções sempre podem ser burladas no mundo capitalista, que dá um jeito de as coisas chegarem onde devem chegar. No fim, a população acaba sofrendo mais do que os próprios governantes. Os russos vão direcionar as questões econômicas para a China, que será como uma espécie de retaguarda”, avalia o professor de pós-graduação de política e relações internacionais da FESP-SP Filipe Giuseppe Ribeiro. 

Apoio militar

Em adição às sanções, o Canadá destacou que tem aumentado o suporte financeiro à Ucrânia, incluindo treinamento militar no país, até US$ 620 milhões em empréstimos and repasse de quase US$ 10 milhões em equipamento e munição militares.

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Uma reunião ‘extraordinária e de emergência’ da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada para a manhã da próxima segunda-feira. A resolução foi aprovada no Conselho de Segurança, através de um mecanismo que não prevê o veto dos membros permanentes.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que seu país participará do esforço europeu para levar equipamentos militares para a Ucrânia, por meio de um centro na Polônia. A França também fornecerá mais ajuda humanitária à Ucrânia nos próximos dias, disse Le Drian.

A Suíça diz que reafirma sua solidariedade com a Ucrânia e seu povo e entregará ajuda para as pessoas que fugiram para a Polônia. /Com informações da AFP e do NYT

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