A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet L. Yellen, boicotará várias reuniões do Grupo dos 20 países (G-20) nesta semana para protestar contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, com a conferência do grupo em Washington surgindo como um teste chave para os líderes mundiais que condenaram a guerra.
Yellen participará da sessão de abertura da reunião dos ministros das Finanças do G-20 nesta quarta-feira, 20, para mostrar apoio ao ministro das Finanças da Ucrânia, que veio de Kiev para a conferência, segundo um funcionário do Departamento do Tesouro que falou sob condição de anonimato para compartilhar detalhes de planejamento interno. Entretanto, a secretária vai faltar outras sessões.
Além disso, a reunião do G-20 deve contar com a participação do ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, de forma virtual. Ele foi atingido por sanções norte-americanas no início deste ano.
As reuniões do G-20 nesta semana - as primeiras desde o início da guerra - surgem como um indicador de como os principais órgãos internacionais do mundo responderão à agressão russa. Muitos dos países do G-20 condenaram a Rússia, mas alguns de seus membros mais influentes, como China e Índia, não.
Além disso, muitas das nações mais ricas do mundo, incluindo grande parte da Europa, continuam fortemente dependentes do petróleo e do gás natural russos, mesmo após a invasão, destacando o quão profundamente a economia da Rússia está emaranhada com o resto do mundo, apesar das severas sanções que os Estados Unidos e seus aliados impuseram.
Nas reuniões em que irá participar, Yellen condenará a invasão da Rússia e pressionará para isolar a Rússia das instituições financeiras globais, disse o funcionário do Departamento do Tesouro. Nenhum país do Grupo dos Sete países industrializados (G-7) está participando de um boicote completo às reuniões, de acordo com uma fonte familiarizada com a agenda de Yellen que falou sob condição de anonimato, também para compartilhar detalhes do planejamento.
“Enquanto a secretária Yellen e nossos parceiros continuarão trabalhando em solidariedade para avançar nos importantes negócios do G-20, ela também expressará nossa forte condenação à brutalidade de Putin e deixará claro que os benefícios e privilégios das principais instituições econômicas do mundo são reservados para países que demonstram respeito pelos princípios fundamentais que sustentam a paz e a segurança em todo o planeta”, disse o funcionário do Departamento do Tesouro.
Alguns críticos sugeriram que Yellen deveria permanecer nas reuniões para confrontar a Rússia diretamente sobre as ações na Ucrânia, já que as reuniões representam uma oportunidade rara para as autoridades americanas desafiarem a postura de guerra do Kremlin. Yellen pode faltar às sessões do G-20 sobre finanças sustentáveis que o ministro russo deve participar, por exemplo.
“Acho que é um erro - entrar em qualquer fórum onde os EUA possam articular nossa posição é melhor do que ceder território ou ceder o campo de batalha para a Rússia”, disse Ariel Cohen, membro sênior do Centro da Eurásia do Conselho Atlântico. “Entendo que muitas delegações não são comunicadoras profissionais, mas podem ser treinadas. (…) Eles podem tornar a presença da Rússia indesejável.”
O dilema sobre a participação no G-20 reflete um problema mais amplo e crescente para os políticos dos EUA que esperam influenciar um mundo com concorrentes econômicos cada vez mais poderosos.
O grupo menor do G-7, formado por aliados próximos dos EUA, tem sido mais unificado na condenação da Rússia. Mas, à medida que países como China e Índia cresceram em poder econômico, os líderes do Ocidente ficaram cada vez mais forçados a colaborar com eles para influenciar o sistema econômico global. Isso aumenta a relevância do G-20, e torna a influência dos Estados Unidos mais difícil neste bloco.
“A questão de boicotar o G-20 – embora seja uma ação defensável e compreensível neste momento – levanta a questão de longo prazo de como gerenciar uma economia global com atores poderosos e diversos”, disse Mark Sobel, que passou quatro décadas trabalhando sobre questões econômicas internacionais no Departamento do Tesouro e agora é consultor sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “Para realmente orientar a economia global, você precisa de um grupo maior do que o G-7.”
O presidente norte-americano, Joe Biden, já havia pedido que a Rússia fosse expulsa do G-20 pela invasão da Ucrânia. O G-20 é composto por 20 das maiores economias do mundo. O grupo não tem um processo atual para expulsar seus membros, de acordo com Sobel, mas pode ser possível suspender a Rússia se surgir um consenso para fazê-lo.
Yellen também se reunirá esta semana com o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal e com autoridades econômicas internacionais, incluindo os ministros das Finanças da Arábia Saudita e da Itália, o governador do Banco da Inglaterra e o comissário europeu da economia.