Opinião|Estrategista democrata dá a melhor receita para Kamala Harris ganhar a eleição; saiba qual


Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, há três imperativos que vice-presidente deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro

Por James Carville*

Odeio dizer isso, mas Donald Trump continua o nome mais conhecido nos Estados Unidos. Desde que desceu aquela escada rolante dourada, em 2015, ele domina meios de telecomunicação e algoritmos. Amando-o ou odiando-o, as pessoas conhecem exatamente seu show.

É por isso que, apesar de todas as terríveis consequências de sua presidência, os índices de aprovação de Trump figuram ao redor de 45% há quase uma década. Suas políticas polarizadoras, a covid, os indiciamentos, seu vice e a cólera que ele distila nas redes sociais não importam, o juízo da opinião pública a respeito de Donald Trump já foi estabelecido.

E é esta precisamente a maior vantagem política da vice-presidente Kamala Harris nos próximos dois meses.

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Desde os anos 90, a história política nos mostra que, quando um presidente incumbente e popular não disputa a reeleição, nós temos uma eleição transformadora de fato. Se Bill Clinton triunfou em 1992 com uma mensagem de mudança versus mais do mesmo, se Barack Obama venceu em 2008 atrevendo-se a propagar esperança e se até Trump se aproveitou desse sentimento em 2016, com uma promessa vazia de ressuscitar os Estados Unidos dos velhos e bons tempos, a eleição de 2024 será vencida por quem encarnar a novidade e cheirar mal. A coisa é bastante simples: o pastor do amanhã conquistará as ovelhas.

Mas outra coisa não é tão simples: nós temos uma vice-presidente incumbente concorrendo contra um ex-presidente numa eleição transformadora. Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, para assegurar a vitória e enterrar a carreira política de Trump, há três imperativos que Kamala deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro.

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1. Ajudar Trump a prejudicar a si mesmo no(s) debate(s)

Os americanos adoram uma desgraça. Por isso se viciaram nas franquias “Dance Moms” e “Real Housewives”. Há pouco mais de dois meses, nós testemunhamos uma derrocada em tempo real, que ocasionou uma revolta humana contra a campanha de reeleição de um presidente na função dentro de seu próprio partido. Garanto que muitos eleitores estão salivando pelo segundo assalto. Mas desta vez a desgraça tem de acometer Trump, e cabe a Kamala desfraldá-la.

Sempre acreditei que uma boa piada vale mais que cem checagens de informação. De modo geral, Kamala tem divergido da maneira normal de incitar temores ao lidar com Trump; em vez de defini-lo como uma ameaça para os EUA, ela tem feito os eleitores dar risada e anuir afirmando que o ex-presidente e sua equipe “estão fora de si”. As pessoas riem quando pensam que uma política é capaz de entrar na mente de seu oponente — e gostam que ela o esteja chamando de estranho e desmiolado; e definindo uma imagem maior de Trump como um velho cansado. E já há alguma indicação de que a equipe de Kamala a está preparando justamente para isso.

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Kamala Harris discursa em um comício eleitoral em Savannah, Geórgia, em 29 de agosto. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

No debate de 10 de setembro, Kamala deve fazer exatamente o que a campanha de Trump mais teme: deixar Trump ser Trump. Ela poderia permitir que ele interrompesse suas falas. E poderia, mais do que lhe permitir, instigá-lo a vomitar suas teorias conspiratórias mais ensandecidas sobre a eleição passada. Poderia usar seu senso de humor em momentos críticos para irritá-lo e mostrar que ele não tem capacidade de atingi-la. E deveria ostentar os ataques pessoais como medalhas de honra. E toda vez que isso ocorrer, não importa o que ele disser, Kamala deveria responder com o seguinte refrão: eis a mesma cartilha velha e batida; meu foco é um novo rumo adiante.

2. Romper com as políticas do presidente Biden

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Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes na história dos EUA, retirando-nos nas garras da inflação e de uma doença contagiosa e estabelecendo parâmetros de progresso legislativo mesmo em meio ao impasse político. Mas Biden não está na disputa. Para se firmar como uma candidata inovadora, Kamala deve romper claramente e decisivamente com Biden definindo uma série de prioridades políticas que deverão orientar sua presidência.

Aqui vai uma ideia: faça isso em um Estado indefinido, pouco após o debate. Em um comício, defina uma lista de políticas para o “novo rumo adiante” que detalhem por que você está rompendo com o presidente na função nesses assuntos e esclareça de que forma essa mudança beneficiará o povo americano. E depois desse comício, convoque uma coletiva de imprensa para falar sobre isso, para que os meios de comunicação parem de reclamar sobre falta de acesso. Não evite suas discordâncias em relação ao presidente — incorpore-as com respeito e honestidade.

Kamala romper com Biden mais explicitamente não seria um insulto ao legado do presidente, da mesma forma que a agenda política objetivamente mais progressista de Biden não insultou a de Obama. Em vez disso, o rompimento de Kamala mostraria mais agudamente que ela é apaixonada por seus próprios ideais e representa mudança em vez de mais do mesmo.

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Kamala acena enquanto embarca no Air Force Two no Aeroporto Internacional de Pittsburgh. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

3. Demonstrar uma mentalidade clara de crescimento em relação às primárias democratas de 2020

O jogo de cintura político de Kamala ficará mais complicado até o Dia da Eleição. Ao mesmo tempo que tem de romper com Biden em relação a algumas políticas, Kamala tem um passivo inescapável: a campanha para indicação do Partido Democrata para a disputa presidencial de 2020, na qual ela e uma série de pré-candidatos aventaram posições mais exóticas dentro da legenda. Conforme mostrou a entrevista de Kamala à CNN, na semana passada, essa trama será citada consistentemente ao longo da campanha. É vital que ela responda a esses ataques sempre da mesma forma. A réplica pode ser simples: aprendi com o tempo que passei na Casa Branca. Minhas posições são essas. É pegar ou largar.

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A boa notícia é que, fazendo justamente isso, Kamala demonstraria possuir um atributo que falta a Trump: mentalidade de crescimento. (Ele acaba de consumar uma retumbante mudança de posição em relação ao referendo sobre aborto na Flórida — apenas a mais recente de suas muitas reviravoltas a respeito de direitos reprodutivos.) Clinton afirmou famosamente, “Quando se sentem inseguras, as pessoas preferem alguém forte e equivocado do que alguém fraco e correto”. Após quase uma década lidando com um homem que considera a si mesmo absolutamente perfeito, uma líder capaz de admitir abertamente uma mudança em seu entendimento seria percebida por muitos eleitores como uma brisa primaveril.

Nos meus cerca de 40 anos em gabinetes de guerra eleitoral, depois de qualquer derrota ou vitória nas urnas, uma coisa nunca mudou: o som mais estrondoso na política é o de uma única página sendo virada para o capítulo seguinte. Neste novembro, nós voltaremos a retroceder, sucumbindo à política do medo e do ódio? Ou, em vez disso, faremos a coisa mais audaciosa que somos capazes e novamente viraremos a página para um novo capítulo da vida americana? Eu sei que Kamala Harris representa esse capítulo seguinte. Se ela permanecer renovada, em breve o povo americano também o fará./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Odeio dizer isso, mas Donald Trump continua o nome mais conhecido nos Estados Unidos. Desde que desceu aquela escada rolante dourada, em 2015, ele domina meios de telecomunicação e algoritmos. Amando-o ou odiando-o, as pessoas conhecem exatamente seu show.

É por isso que, apesar de todas as terríveis consequências de sua presidência, os índices de aprovação de Trump figuram ao redor de 45% há quase uma década. Suas políticas polarizadoras, a covid, os indiciamentos, seu vice e a cólera que ele distila nas redes sociais não importam, o juízo da opinião pública a respeito de Donald Trump já foi estabelecido.

E é esta precisamente a maior vantagem política da vice-presidente Kamala Harris nos próximos dois meses.

Desde os anos 90, a história política nos mostra que, quando um presidente incumbente e popular não disputa a reeleição, nós temos uma eleição transformadora de fato. Se Bill Clinton triunfou em 1992 com uma mensagem de mudança versus mais do mesmo, se Barack Obama venceu em 2008 atrevendo-se a propagar esperança e se até Trump se aproveitou desse sentimento em 2016, com uma promessa vazia de ressuscitar os Estados Unidos dos velhos e bons tempos, a eleição de 2024 será vencida por quem encarnar a novidade e cheirar mal. A coisa é bastante simples: o pastor do amanhã conquistará as ovelhas.

Mas outra coisa não é tão simples: nós temos uma vice-presidente incumbente concorrendo contra um ex-presidente numa eleição transformadora. Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, para assegurar a vitória e enterrar a carreira política de Trump, há três imperativos que Kamala deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro.

1. Ajudar Trump a prejudicar a si mesmo no(s) debate(s)

Os americanos adoram uma desgraça. Por isso se viciaram nas franquias “Dance Moms” e “Real Housewives”. Há pouco mais de dois meses, nós testemunhamos uma derrocada em tempo real, que ocasionou uma revolta humana contra a campanha de reeleição de um presidente na função dentro de seu próprio partido. Garanto que muitos eleitores estão salivando pelo segundo assalto. Mas desta vez a desgraça tem de acometer Trump, e cabe a Kamala desfraldá-la.

Sempre acreditei que uma boa piada vale mais que cem checagens de informação. De modo geral, Kamala tem divergido da maneira normal de incitar temores ao lidar com Trump; em vez de defini-lo como uma ameaça para os EUA, ela tem feito os eleitores dar risada e anuir afirmando que o ex-presidente e sua equipe “estão fora de si”. As pessoas riem quando pensam que uma política é capaz de entrar na mente de seu oponente — e gostam que ela o esteja chamando de estranho e desmiolado; e definindo uma imagem maior de Trump como um velho cansado. E já há alguma indicação de que a equipe de Kamala a está preparando justamente para isso.

Kamala Harris discursa em um comício eleitoral em Savannah, Geórgia, em 29 de agosto. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

No debate de 10 de setembro, Kamala deve fazer exatamente o que a campanha de Trump mais teme: deixar Trump ser Trump. Ela poderia permitir que ele interrompesse suas falas. E poderia, mais do que lhe permitir, instigá-lo a vomitar suas teorias conspiratórias mais ensandecidas sobre a eleição passada. Poderia usar seu senso de humor em momentos críticos para irritá-lo e mostrar que ele não tem capacidade de atingi-la. E deveria ostentar os ataques pessoais como medalhas de honra. E toda vez que isso ocorrer, não importa o que ele disser, Kamala deveria responder com o seguinte refrão: eis a mesma cartilha velha e batida; meu foco é um novo rumo adiante.

2. Romper com as políticas do presidente Biden

Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes na história dos EUA, retirando-nos nas garras da inflação e de uma doença contagiosa e estabelecendo parâmetros de progresso legislativo mesmo em meio ao impasse político. Mas Biden não está na disputa. Para se firmar como uma candidata inovadora, Kamala deve romper claramente e decisivamente com Biden definindo uma série de prioridades políticas que deverão orientar sua presidência.

Aqui vai uma ideia: faça isso em um Estado indefinido, pouco após o debate. Em um comício, defina uma lista de políticas para o “novo rumo adiante” que detalhem por que você está rompendo com o presidente na função nesses assuntos e esclareça de que forma essa mudança beneficiará o povo americano. E depois desse comício, convoque uma coletiva de imprensa para falar sobre isso, para que os meios de comunicação parem de reclamar sobre falta de acesso. Não evite suas discordâncias em relação ao presidente — incorpore-as com respeito e honestidade.

Kamala romper com Biden mais explicitamente não seria um insulto ao legado do presidente, da mesma forma que a agenda política objetivamente mais progressista de Biden não insultou a de Obama. Em vez disso, o rompimento de Kamala mostraria mais agudamente que ela é apaixonada por seus próprios ideais e representa mudança em vez de mais do mesmo.

Kamala acena enquanto embarca no Air Force Two no Aeroporto Internacional de Pittsburgh. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

3. Demonstrar uma mentalidade clara de crescimento em relação às primárias democratas de 2020

O jogo de cintura político de Kamala ficará mais complicado até o Dia da Eleição. Ao mesmo tempo que tem de romper com Biden em relação a algumas políticas, Kamala tem um passivo inescapável: a campanha para indicação do Partido Democrata para a disputa presidencial de 2020, na qual ela e uma série de pré-candidatos aventaram posições mais exóticas dentro da legenda. Conforme mostrou a entrevista de Kamala à CNN, na semana passada, essa trama será citada consistentemente ao longo da campanha. É vital que ela responda a esses ataques sempre da mesma forma. A réplica pode ser simples: aprendi com o tempo que passei na Casa Branca. Minhas posições são essas. É pegar ou largar.

A boa notícia é que, fazendo justamente isso, Kamala demonstraria possuir um atributo que falta a Trump: mentalidade de crescimento. (Ele acaba de consumar uma retumbante mudança de posição em relação ao referendo sobre aborto na Flórida — apenas a mais recente de suas muitas reviravoltas a respeito de direitos reprodutivos.) Clinton afirmou famosamente, “Quando se sentem inseguras, as pessoas preferem alguém forte e equivocado do que alguém fraco e correto”. Após quase uma década lidando com um homem que considera a si mesmo absolutamente perfeito, uma líder capaz de admitir abertamente uma mudança em seu entendimento seria percebida por muitos eleitores como uma brisa primaveril.

Nos meus cerca de 40 anos em gabinetes de guerra eleitoral, depois de qualquer derrota ou vitória nas urnas, uma coisa nunca mudou: o som mais estrondoso na política é o de uma única página sendo virada para o capítulo seguinte. Neste novembro, nós voltaremos a retroceder, sucumbindo à política do medo e do ódio? Ou, em vez disso, faremos a coisa mais audaciosa que somos capazes e novamente viraremos a página para um novo capítulo da vida americana? Eu sei que Kamala Harris representa esse capítulo seguinte. Se ela permanecer renovada, em breve o povo americano também o fará./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Odeio dizer isso, mas Donald Trump continua o nome mais conhecido nos Estados Unidos. Desde que desceu aquela escada rolante dourada, em 2015, ele domina meios de telecomunicação e algoritmos. Amando-o ou odiando-o, as pessoas conhecem exatamente seu show.

É por isso que, apesar de todas as terríveis consequências de sua presidência, os índices de aprovação de Trump figuram ao redor de 45% há quase uma década. Suas políticas polarizadoras, a covid, os indiciamentos, seu vice e a cólera que ele distila nas redes sociais não importam, o juízo da opinião pública a respeito de Donald Trump já foi estabelecido.

E é esta precisamente a maior vantagem política da vice-presidente Kamala Harris nos próximos dois meses.

Desde os anos 90, a história política nos mostra que, quando um presidente incumbente e popular não disputa a reeleição, nós temos uma eleição transformadora de fato. Se Bill Clinton triunfou em 1992 com uma mensagem de mudança versus mais do mesmo, se Barack Obama venceu em 2008 atrevendo-se a propagar esperança e se até Trump se aproveitou desse sentimento em 2016, com uma promessa vazia de ressuscitar os Estados Unidos dos velhos e bons tempos, a eleição de 2024 será vencida por quem encarnar a novidade e cheirar mal. A coisa é bastante simples: o pastor do amanhã conquistará as ovelhas.

Mas outra coisa não é tão simples: nós temos uma vice-presidente incumbente concorrendo contra um ex-presidente numa eleição transformadora. Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, para assegurar a vitória e enterrar a carreira política de Trump, há três imperativos que Kamala deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro.

1. Ajudar Trump a prejudicar a si mesmo no(s) debate(s)

Os americanos adoram uma desgraça. Por isso se viciaram nas franquias “Dance Moms” e “Real Housewives”. Há pouco mais de dois meses, nós testemunhamos uma derrocada em tempo real, que ocasionou uma revolta humana contra a campanha de reeleição de um presidente na função dentro de seu próprio partido. Garanto que muitos eleitores estão salivando pelo segundo assalto. Mas desta vez a desgraça tem de acometer Trump, e cabe a Kamala desfraldá-la.

Sempre acreditei que uma boa piada vale mais que cem checagens de informação. De modo geral, Kamala tem divergido da maneira normal de incitar temores ao lidar com Trump; em vez de defini-lo como uma ameaça para os EUA, ela tem feito os eleitores dar risada e anuir afirmando que o ex-presidente e sua equipe “estão fora de si”. As pessoas riem quando pensam que uma política é capaz de entrar na mente de seu oponente — e gostam que ela o esteja chamando de estranho e desmiolado; e definindo uma imagem maior de Trump como um velho cansado. E já há alguma indicação de que a equipe de Kamala a está preparando justamente para isso.

Kamala Harris discursa em um comício eleitoral em Savannah, Geórgia, em 29 de agosto. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

No debate de 10 de setembro, Kamala deve fazer exatamente o que a campanha de Trump mais teme: deixar Trump ser Trump. Ela poderia permitir que ele interrompesse suas falas. E poderia, mais do que lhe permitir, instigá-lo a vomitar suas teorias conspiratórias mais ensandecidas sobre a eleição passada. Poderia usar seu senso de humor em momentos críticos para irritá-lo e mostrar que ele não tem capacidade de atingi-la. E deveria ostentar os ataques pessoais como medalhas de honra. E toda vez que isso ocorrer, não importa o que ele disser, Kamala deveria responder com o seguinte refrão: eis a mesma cartilha velha e batida; meu foco é um novo rumo adiante.

2. Romper com as políticas do presidente Biden

Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes na história dos EUA, retirando-nos nas garras da inflação e de uma doença contagiosa e estabelecendo parâmetros de progresso legislativo mesmo em meio ao impasse político. Mas Biden não está na disputa. Para se firmar como uma candidata inovadora, Kamala deve romper claramente e decisivamente com Biden definindo uma série de prioridades políticas que deverão orientar sua presidência.

Aqui vai uma ideia: faça isso em um Estado indefinido, pouco após o debate. Em um comício, defina uma lista de políticas para o “novo rumo adiante” que detalhem por que você está rompendo com o presidente na função nesses assuntos e esclareça de que forma essa mudança beneficiará o povo americano. E depois desse comício, convoque uma coletiva de imprensa para falar sobre isso, para que os meios de comunicação parem de reclamar sobre falta de acesso. Não evite suas discordâncias em relação ao presidente — incorpore-as com respeito e honestidade.

Kamala romper com Biden mais explicitamente não seria um insulto ao legado do presidente, da mesma forma que a agenda política objetivamente mais progressista de Biden não insultou a de Obama. Em vez disso, o rompimento de Kamala mostraria mais agudamente que ela é apaixonada por seus próprios ideais e representa mudança em vez de mais do mesmo.

Kamala acena enquanto embarca no Air Force Two no Aeroporto Internacional de Pittsburgh. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

3. Demonstrar uma mentalidade clara de crescimento em relação às primárias democratas de 2020

O jogo de cintura político de Kamala ficará mais complicado até o Dia da Eleição. Ao mesmo tempo que tem de romper com Biden em relação a algumas políticas, Kamala tem um passivo inescapável: a campanha para indicação do Partido Democrata para a disputa presidencial de 2020, na qual ela e uma série de pré-candidatos aventaram posições mais exóticas dentro da legenda. Conforme mostrou a entrevista de Kamala à CNN, na semana passada, essa trama será citada consistentemente ao longo da campanha. É vital que ela responda a esses ataques sempre da mesma forma. A réplica pode ser simples: aprendi com o tempo que passei na Casa Branca. Minhas posições são essas. É pegar ou largar.

A boa notícia é que, fazendo justamente isso, Kamala demonstraria possuir um atributo que falta a Trump: mentalidade de crescimento. (Ele acaba de consumar uma retumbante mudança de posição em relação ao referendo sobre aborto na Flórida — apenas a mais recente de suas muitas reviravoltas a respeito de direitos reprodutivos.) Clinton afirmou famosamente, “Quando se sentem inseguras, as pessoas preferem alguém forte e equivocado do que alguém fraco e correto”. Após quase uma década lidando com um homem que considera a si mesmo absolutamente perfeito, uma líder capaz de admitir abertamente uma mudança em seu entendimento seria percebida por muitos eleitores como uma brisa primaveril.

Nos meus cerca de 40 anos em gabinetes de guerra eleitoral, depois de qualquer derrota ou vitória nas urnas, uma coisa nunca mudou: o som mais estrondoso na política é o de uma única página sendo virada para o capítulo seguinte. Neste novembro, nós voltaremos a retroceder, sucumbindo à política do medo e do ódio? Ou, em vez disso, faremos a coisa mais audaciosa que somos capazes e novamente viraremos a página para um novo capítulo da vida americana? Eu sei que Kamala Harris representa esse capítulo seguinte. Se ela permanecer renovada, em breve o povo americano também o fará./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Odeio dizer isso, mas Donald Trump continua o nome mais conhecido nos Estados Unidos. Desde que desceu aquela escada rolante dourada, em 2015, ele domina meios de telecomunicação e algoritmos. Amando-o ou odiando-o, as pessoas conhecem exatamente seu show.

É por isso que, apesar de todas as terríveis consequências de sua presidência, os índices de aprovação de Trump figuram ao redor de 45% há quase uma década. Suas políticas polarizadoras, a covid, os indiciamentos, seu vice e a cólera que ele distila nas redes sociais não importam, o juízo da opinião pública a respeito de Donald Trump já foi estabelecido.

E é esta precisamente a maior vantagem política da vice-presidente Kamala Harris nos próximos dois meses.

Desde os anos 90, a história política nos mostra que, quando um presidente incumbente e popular não disputa a reeleição, nós temos uma eleição transformadora de fato. Se Bill Clinton triunfou em 1992 com uma mensagem de mudança versus mais do mesmo, se Barack Obama venceu em 2008 atrevendo-se a propagar esperança e se até Trump se aproveitou desse sentimento em 2016, com uma promessa vazia de ressuscitar os Estados Unidos dos velhos e bons tempos, a eleição de 2024 será vencida por quem encarnar a novidade e cheirar mal. A coisa é bastante simples: o pastor do amanhã conquistará as ovelhas.

Mas outra coisa não é tão simples: nós temos uma vice-presidente incumbente concorrendo contra um ex-presidente numa eleição transformadora. Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, para assegurar a vitória e enterrar a carreira política de Trump, há três imperativos que Kamala deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro.

1. Ajudar Trump a prejudicar a si mesmo no(s) debate(s)

Os americanos adoram uma desgraça. Por isso se viciaram nas franquias “Dance Moms” e “Real Housewives”. Há pouco mais de dois meses, nós testemunhamos uma derrocada em tempo real, que ocasionou uma revolta humana contra a campanha de reeleição de um presidente na função dentro de seu próprio partido. Garanto que muitos eleitores estão salivando pelo segundo assalto. Mas desta vez a desgraça tem de acometer Trump, e cabe a Kamala desfraldá-la.

Sempre acreditei que uma boa piada vale mais que cem checagens de informação. De modo geral, Kamala tem divergido da maneira normal de incitar temores ao lidar com Trump; em vez de defini-lo como uma ameaça para os EUA, ela tem feito os eleitores dar risada e anuir afirmando que o ex-presidente e sua equipe “estão fora de si”. As pessoas riem quando pensam que uma política é capaz de entrar na mente de seu oponente — e gostam que ela o esteja chamando de estranho e desmiolado; e definindo uma imagem maior de Trump como um velho cansado. E já há alguma indicação de que a equipe de Kamala a está preparando justamente para isso.

Kamala Harris discursa em um comício eleitoral em Savannah, Geórgia, em 29 de agosto. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

No debate de 10 de setembro, Kamala deve fazer exatamente o que a campanha de Trump mais teme: deixar Trump ser Trump. Ela poderia permitir que ele interrompesse suas falas. E poderia, mais do que lhe permitir, instigá-lo a vomitar suas teorias conspiratórias mais ensandecidas sobre a eleição passada. Poderia usar seu senso de humor em momentos críticos para irritá-lo e mostrar que ele não tem capacidade de atingi-la. E deveria ostentar os ataques pessoais como medalhas de honra. E toda vez que isso ocorrer, não importa o que ele disser, Kamala deveria responder com o seguinte refrão: eis a mesma cartilha velha e batida; meu foco é um novo rumo adiante.

2. Romper com as políticas do presidente Biden

Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes na história dos EUA, retirando-nos nas garras da inflação e de uma doença contagiosa e estabelecendo parâmetros de progresso legislativo mesmo em meio ao impasse político. Mas Biden não está na disputa. Para se firmar como uma candidata inovadora, Kamala deve romper claramente e decisivamente com Biden definindo uma série de prioridades políticas que deverão orientar sua presidência.

Aqui vai uma ideia: faça isso em um Estado indefinido, pouco após o debate. Em um comício, defina uma lista de políticas para o “novo rumo adiante” que detalhem por que você está rompendo com o presidente na função nesses assuntos e esclareça de que forma essa mudança beneficiará o povo americano. E depois desse comício, convoque uma coletiva de imprensa para falar sobre isso, para que os meios de comunicação parem de reclamar sobre falta de acesso. Não evite suas discordâncias em relação ao presidente — incorpore-as com respeito e honestidade.

Kamala romper com Biden mais explicitamente não seria um insulto ao legado do presidente, da mesma forma que a agenda política objetivamente mais progressista de Biden não insultou a de Obama. Em vez disso, o rompimento de Kamala mostraria mais agudamente que ela é apaixonada por seus próprios ideais e representa mudança em vez de mais do mesmo.

Kamala acena enquanto embarca no Air Force Two no Aeroporto Internacional de Pittsburgh. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

3. Demonstrar uma mentalidade clara de crescimento em relação às primárias democratas de 2020

O jogo de cintura político de Kamala ficará mais complicado até o Dia da Eleição. Ao mesmo tempo que tem de romper com Biden em relação a algumas políticas, Kamala tem um passivo inescapável: a campanha para indicação do Partido Democrata para a disputa presidencial de 2020, na qual ela e uma série de pré-candidatos aventaram posições mais exóticas dentro da legenda. Conforme mostrou a entrevista de Kamala à CNN, na semana passada, essa trama será citada consistentemente ao longo da campanha. É vital que ela responda a esses ataques sempre da mesma forma. A réplica pode ser simples: aprendi com o tempo que passei na Casa Branca. Minhas posições são essas. É pegar ou largar.

A boa notícia é que, fazendo justamente isso, Kamala demonstraria possuir um atributo que falta a Trump: mentalidade de crescimento. (Ele acaba de consumar uma retumbante mudança de posição em relação ao referendo sobre aborto na Flórida — apenas a mais recente de suas muitas reviravoltas a respeito de direitos reprodutivos.) Clinton afirmou famosamente, “Quando se sentem inseguras, as pessoas preferem alguém forte e equivocado do que alguém fraco e correto”. Após quase uma década lidando com um homem que considera a si mesmo absolutamente perfeito, uma líder capaz de admitir abertamente uma mudança em seu entendimento seria percebida por muitos eleitores como uma brisa primaveril.

Nos meus cerca de 40 anos em gabinetes de guerra eleitoral, depois de qualquer derrota ou vitória nas urnas, uma coisa nunca mudou: o som mais estrondoso na política é o de uma única página sendo virada para o capítulo seguinte. Neste novembro, nós voltaremos a retroceder, sucumbindo à política do medo e do ódio? Ou, em vez disso, faremos a coisa mais audaciosa que somos capazes e novamente viraremos a página para um novo capítulo da vida americana? Eu sei que Kamala Harris representa esse capítulo seguinte. Se ela permanecer renovada, em breve o povo americano também o fará./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Odeio dizer isso, mas Donald Trump continua o nome mais conhecido nos Estados Unidos. Desde que desceu aquela escada rolante dourada, em 2015, ele domina meios de telecomunicação e algoritmos. Amando-o ou odiando-o, as pessoas conhecem exatamente seu show.

É por isso que, apesar de todas as terríveis consequências de sua presidência, os índices de aprovação de Trump figuram ao redor de 45% há quase uma década. Suas políticas polarizadoras, a covid, os indiciamentos, seu vice e a cólera que ele distila nas redes sociais não importam, o juízo da opinião pública a respeito de Donald Trump já foi estabelecido.

E é esta precisamente a maior vantagem política da vice-presidente Kamala Harris nos próximos dois meses.

Desde os anos 90, a história política nos mostra que, quando um presidente incumbente e popular não disputa a reeleição, nós temos uma eleição transformadora de fato. Se Bill Clinton triunfou em 1992 com uma mensagem de mudança versus mais do mesmo, se Barack Obama venceu em 2008 atrevendo-se a propagar esperança e se até Trump se aproveitou desse sentimento em 2016, com uma promessa vazia de ressuscitar os Estados Unidos dos velhos e bons tempos, a eleição de 2024 será vencida por quem encarnar a novidade e cheirar mal. A coisa é bastante simples: o pastor do amanhã conquistará as ovelhas.

Mas outra coisa não é tão simples: nós temos uma vice-presidente incumbente concorrendo contra um ex-presidente numa eleição transformadora. Do Dia do Trabalho até o Dia da Eleição, para assegurar a vitória e enterrar a carreira política de Trump, há três imperativos que Kamala deve seguir para se afirmar como a candidata da renovação na eleição de novembro.

1. Ajudar Trump a prejudicar a si mesmo no(s) debate(s)

Os americanos adoram uma desgraça. Por isso se viciaram nas franquias “Dance Moms” e “Real Housewives”. Há pouco mais de dois meses, nós testemunhamos uma derrocada em tempo real, que ocasionou uma revolta humana contra a campanha de reeleição de um presidente na função dentro de seu próprio partido. Garanto que muitos eleitores estão salivando pelo segundo assalto. Mas desta vez a desgraça tem de acometer Trump, e cabe a Kamala desfraldá-la.

Sempre acreditei que uma boa piada vale mais que cem checagens de informação. De modo geral, Kamala tem divergido da maneira normal de incitar temores ao lidar com Trump; em vez de defini-lo como uma ameaça para os EUA, ela tem feito os eleitores dar risada e anuir afirmando que o ex-presidente e sua equipe “estão fora de si”. As pessoas riem quando pensam que uma política é capaz de entrar na mente de seu oponente — e gostam que ela o esteja chamando de estranho e desmiolado; e definindo uma imagem maior de Trump como um velho cansado. E já há alguma indicação de que a equipe de Kamala a está preparando justamente para isso.

Kamala Harris discursa em um comício eleitoral em Savannah, Geórgia, em 29 de agosto. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

No debate de 10 de setembro, Kamala deve fazer exatamente o que a campanha de Trump mais teme: deixar Trump ser Trump. Ela poderia permitir que ele interrompesse suas falas. E poderia, mais do que lhe permitir, instigá-lo a vomitar suas teorias conspiratórias mais ensandecidas sobre a eleição passada. Poderia usar seu senso de humor em momentos críticos para irritá-lo e mostrar que ele não tem capacidade de atingi-la. E deveria ostentar os ataques pessoais como medalhas de honra. E toda vez que isso ocorrer, não importa o que ele disser, Kamala deveria responder com o seguinte refrão: eis a mesma cartilha velha e batida; meu foco é um novo rumo adiante.

2. Romper com as políticas do presidente Biden

Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes na história dos EUA, retirando-nos nas garras da inflação e de uma doença contagiosa e estabelecendo parâmetros de progresso legislativo mesmo em meio ao impasse político. Mas Biden não está na disputa. Para se firmar como uma candidata inovadora, Kamala deve romper claramente e decisivamente com Biden definindo uma série de prioridades políticas que deverão orientar sua presidência.

Aqui vai uma ideia: faça isso em um Estado indefinido, pouco após o debate. Em um comício, defina uma lista de políticas para o “novo rumo adiante” que detalhem por que você está rompendo com o presidente na função nesses assuntos e esclareça de que forma essa mudança beneficiará o povo americano. E depois desse comício, convoque uma coletiva de imprensa para falar sobre isso, para que os meios de comunicação parem de reclamar sobre falta de acesso. Não evite suas discordâncias em relação ao presidente — incorpore-as com respeito e honestidade.

Kamala romper com Biden mais explicitamente não seria um insulto ao legado do presidente, da mesma forma que a agenda política objetivamente mais progressista de Biden não insultou a de Obama. Em vez disso, o rompimento de Kamala mostraria mais agudamente que ela é apaixonada por seus próprios ideais e representa mudança em vez de mais do mesmo.

Kamala acena enquanto embarca no Air Force Two no Aeroporto Internacional de Pittsburgh. Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin

3. Demonstrar uma mentalidade clara de crescimento em relação às primárias democratas de 2020

O jogo de cintura político de Kamala ficará mais complicado até o Dia da Eleição. Ao mesmo tempo que tem de romper com Biden em relação a algumas políticas, Kamala tem um passivo inescapável: a campanha para indicação do Partido Democrata para a disputa presidencial de 2020, na qual ela e uma série de pré-candidatos aventaram posições mais exóticas dentro da legenda. Conforme mostrou a entrevista de Kamala à CNN, na semana passada, essa trama será citada consistentemente ao longo da campanha. É vital que ela responda a esses ataques sempre da mesma forma. A réplica pode ser simples: aprendi com o tempo que passei na Casa Branca. Minhas posições são essas. É pegar ou largar.

A boa notícia é que, fazendo justamente isso, Kamala demonstraria possuir um atributo que falta a Trump: mentalidade de crescimento. (Ele acaba de consumar uma retumbante mudança de posição em relação ao referendo sobre aborto na Flórida — apenas a mais recente de suas muitas reviravoltas a respeito de direitos reprodutivos.) Clinton afirmou famosamente, “Quando se sentem inseguras, as pessoas preferem alguém forte e equivocado do que alguém fraco e correto”. Após quase uma década lidando com um homem que considera a si mesmo absolutamente perfeito, uma líder capaz de admitir abertamente uma mudança em seu entendimento seria percebida por muitos eleitores como uma brisa primaveril.

Nos meus cerca de 40 anos em gabinetes de guerra eleitoral, depois de qualquer derrota ou vitória nas urnas, uma coisa nunca mudou: o som mais estrondoso na política é o de uma única página sendo virada para o capítulo seguinte. Neste novembro, nós voltaremos a retroceder, sucumbindo à política do medo e do ódio? Ou, em vez disso, faremos a coisa mais audaciosa que somos capazes e novamente viraremos a página para um novo capítulo da vida americana? Eu sei que Kamala Harris representa esse capítulo seguinte. Se ela permanecer renovada, em breve o povo americano também o fará./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por James Carville*

Carville é veterano de campanhas presidenciais democratas, chefiando a campanha de Bill Clinton em 1992. É consultor do American Bridge, um super-PAC do Partido Democrata, e um dos apresentadores do podcast “Politics War Room”.

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