MOSCOU - A estrela pop do século XX da Rússia Alla Pugacheva declarou sua oposição à invasão da Ucrânia neste domingo, 18, emergindo como a celebridade mais importante a se manifestar contra a guerra enquanto o presidente Vladimir Putin enfrenta desafios crescentes dentro e fora do campo de batalha.
Pugacheva, que tem 73 anos, escreveu em um post no Instagram, onde tem 3,4 milhões de seguidores, que os russos estão morrendo na Ucrânia por “objetivos ilusórios”. A guerra, ela escreveu, está “transformando nosso país em um pária e piorando a vida de nossos cidadãos”.
A estrela pop trocou a Rússia por Israel depois que a guerra começou em fevereiro e retornou recentemente a Moscou, de acordo com notícias russas. Seu marido, o apresentador de televisão e comediante Maksim Galkin, tem se manifestado abertamente em oposição à guerra; mas Pugacheva, embora expressasse apoio ao marido, não havia comentado diretamente sobre a guerra antes de sua postagem no domingo.
Não houve reação imediata do Kremlin. Um porta-voz de Putin falou positivamente sobre Pugacheva este mês, observando que ela e o presidente russo “se conhecem e se encontraram mais de uma vez”.
Dezenas de grandes figuras culturais russas já criticaram a guerra, mas Pugacheva é especialmente popular entre uma ampla gama de russos, com fama que remonta à era soviética. Pugacheva é uma superestrela desde a década de 1970, e o New York Times em 2000 a descreveu como “a deusa do pop russo, Tina Turner de Moscou com um toque de Edith Piaf, cujas canções deram voz aos anseios de milhões”. Ela já vendeu mais de 250 milhões de discos, o que a colocaria entre os artistas musicais mais vendidos do mundo.
Nos anos de Putin, ela permaneceu um marco na televisão estatal; O Canal 1, estatal, ofereceu cobertura completa de seu aniversário de 70 anos em 2019, chamando-a de “prima donna do cenário nacional”. Putin concedeu-lhe uma Ordem de Mérito à Pátria em 2014.
Foi a repressão do Kremlin a Galkin, 46, seu quinto marido, que aparentemente precipitou a decisão de Pugacheva de se manifestar publicamente contra a guerra. O Ministério da Justiça russo declarou na sexta-feira Galkin um “agente estrangeiro”, uma designação legal que o Kremlin vem usando cada vez mais contra seus oponentes.
Pugacheva dirigiu-se ao Ministério da Justiça diretamente em seu post no domingo, declarando que agora ela mesma queria se tornar uma “agente estrangeira”.
“Peço para ser adicionada às fileiras de agentes estrangeiros do meu amado país”, escreveu ela. “Sou solidária com meu marido, uma pessoa honesta, respeitável e genuína que é um verdadeiro e incorruptível patriota da Rússia, que deseja à sua pátria prosperidade, vida pacífica, liberdade de expressão e o fim da morte de nossos homens por objetivos ilusórios que estão transformando nosso país em um pária e piorando a vida de nossos cidadãos”.
Em um sinal da importância política de Pugacheva, o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, descreveu este mês a estrela pop como ainda estando do lado do Kremlin. Embora Galkin tenha feito “declarações muito ruins”, Pugacheva não fez nenhum comentário que o Kremlin considerasse inaceitável, disse Peskov.
No domingo, um legislador sênior, Piotr Tolstoi, escreveu na plataforma de mensagens sociais Telegram que lamentava que Pugacheva tivesse “perdido o contato com a realidade”. “Ela não encontrará mais apoio entre o povo russo decente”, escreveu Tolstói. “Vamos vencer sem as músicas dela.”
Putin está enfrentando crescentes críticas dentro da Rússia de todo o espectro político depois que a Ucrânia derrotou as forças russas no nordeste da Ucrânia no início deste mês, forçando uma retirada embaraçosa. Apoiadores da guerra questionaram a forma como o Kremlin lidou com o conflito na televisão nacional, insistindo que a Rússia deveria lutar de forma mais agressiva; críticos opositores da guerra foram encorajados pelos reveses de Putin a pedir publicamente sua renúncia.
E em uma cúpula regional no Usbequistão na quinta e sexta-feira, Putin reconheceu em reuniões com os líderes da China e da Índia que ambos os países têm “preocupações” com a guerra. As críticas implícitas a Putin dos dois países mais populosos do mundo ressaltam que ele agora enfrenta talvez o momento mais desafiador dos últimos meses.