NOVA YORK - A Universidade de Columbia começou a suspender os estudantes que desafiaram o ultimato para acabar com o acampamento pró-palestinos no campus. Ao fim do prazo, encerrado na tarde desta segunda-feira, 29, às 14h (horário local, 15h em Brasília), o protesto continuava com cerca de 300 pessoas e 120 tendas montadas.
Após o impasse nas negociações com os líderes do movimento, a universidade pediu aos estudantes que desocupassem o campus voluntariamente. “O atual acampamento não autorizado e a perturbação no campus da Universidade de Columbia estão criando um ambiente pouco acolhedor para os membros da nossa comunidade”, dizia o aviso. “Por favor, reúna imediatamente seus pertences e deixe o acampamento”.
Aqueles que saíssem dentro do prazo e assinassem um documento se comprometendo em obedecer as normas da instituição e não quebrar nenhuma regra até o fim do próximo ano letivo poderiam terminar o semestre sem encarar punições pela participação no acampamento. O informe alertava ainda que, caso contrário, os estudantes seriam suspensos e perderiam o acesso ao campus.
“É importante que você saiba que a universidade já identificou muitos alunos no acampamento. Se você não se identificar ao sair e assinar o formulário agora, não poderá assinar e concluir o semestre em boas condições”, diz o aviso “Se você não sair até as 14 horas, será suspenso com a pendência de mais investigações.”
Preocupada com as cerimônias de graduação previstas para maio, a universidade parece tentar encerrar o acampamento, que já dura há quase duas semanas, sem acionar a Polícia de Nova York, como aconteceu no dia 18, quando cerca de 100 manifestantes foram detidos.
Desde então, os protestos pró-palestinos se espalharam pelas universidades americanas e o número total de prisões chegou a mil, segundo levantamento do Washington Post. Na Universidade do Texas, em Austin, a polícia usou spray de pimenta contra um grupo que tentou impedir a passagem do carro policial com manifestantes detidos. O governador Greg Abbott (republicano) publicou um vídeo da chegada das tropas e escreveu: “Nenhum acampamento será permitido”.
No caso de Columbia, a presidente de Columbia, Nemat Shafik, descartou acionar a polícia novamente. E ainda não está claro como a universidade pretende garantir que o acampamento seja desmontado diante da recusa dos estudantes.
“Pedimos à polícia de Nova York que liberasse um acampamento uma vez”, escreveu em nota. “Mas todos nós compartilhamos a opinião, com base em discussões dentro de nossa comunidade e com especialistas externos, de que trazer de volta a polícia de Nova York neste momento seria contraproducente, inflamando ainda mais o que está acontecendo no campus e atraindo milhares de pessoas à nossa porta”, acrescentou.
Mahmoud Khalil, líder da Columbia University Apartheid Divest, a coalizão de estudantes que organizou o protesto disse que o ultimato é mais uma “tática de intimidação” da universidade. Nas redes sociais, o grupo convocou uma mobilização para proteger o acampamento e desafiou: “NÃO SEREMOS MOVIDOS A NÃO SER PELA FORÇA”.
“Se a universidade não apresentar propostas reais e concretas que atendam às nossas demandas, não teremos outra opção a não ser aumentar a intensidade dos protestos no campus”, afirma o Columbia University Apartheid Divest.
Os protestos colocaram estudantes uns contra os outros. Em Columbia, os pró-palestinos exigem que a universidade condene a guerra em Gaza e rompa laços com universidades israelenses. Alguns estudantes judeus, do outro lado, apontam que há antissemitismo nas críticas a Israel e que não se sentem seguros.
Nesta segunda, enquanto o acampamento continuava montado, dois estudantes seguraram bandeiras israelenses em frente a uma biblioteca próxima. Um deles, Jonathan Lederer, estudante do segundo ano de Ciências da Computação, disse que não houve nenhuma discussão produtiva entre os manifestantes e os apoiadores de Israel.
“A maioria dos meus amigos judeus foi para casa e se sentiu totalmente insegura, totalmente indesejada”, disse. “A administração não fez nada para atender às solicitações deles, apenas às solicitações da multidão - as solicitações do acampamento. Por isso, acho que é importante que eles vejam que não vão nos afugentar.”
Uma ação coletiva em nome de estudantes judeus alega uma quebra de contrato por parte da Columbia, afirmando que a universidade não conseguiu manter um ambiente de aprendizado seguro, apesar das políticas e promessas./NY Times, W. Post e AP