Zoe Gordon tem 15 anos e neste sábado estará nas ruas de Washington para fazer história ao lado de centenas de milhares de estudantes que exigirão leis mais rigorosas sobre a venda de armas na Marcha por Nossas Vidas, programada para ocorrer em 837 cidades dos EUA e de quase 40 países.
A maior manifestação ocorrerá na capital americana, onde são esperadas 500 mil pessoas, número semelhante ao registrado na Marcha das Mulheres, em janeiro de 2017.
Sobrevivente do ataque a tiros na Flórida que deixou 17 mortos na escola secundária Marjory Stoneman Douglas, há cinco semanas, Zoe disse que participa do movimento em homenagem às vítimas do massacre. “Marcho porque estou viva e eles, não. Usarei minha voz para promover a deles, como teriam feito se estivessem aqui.”
Como muitos dos organizadores e participantes da marcha, Zoe acredita que é protagonista de um movimento sobre o qual estudantes do futuro lerão. “Nós vamos fazer história. Nós vamos provocar mudanças. Não vamos parar até que elas ocorram.” Mas os estudantes terão o desafio de manter a mobilização em um cenário no qual a cobertura de suas ações pela imprensa e a receptividade do público a sua mensagem tendem a diminuir.
Por enquanto, o Congresso americano se mostrou imune à pressão dos adolescentes e rejeitou aprovar qualquer restrição significativa ao comércio e ao porte de armas no país. Diante da reação ao ataque, a Assembleia Legislativa da Flórida aumentou a idade mínima para compra de armas, de 18 para 21 anos, e criou um período de espera de três dias para a entrega de armas a um comprador. As medidas estão longe das exigidas pelos estudantes, mas representaram um desafio à Associação Nacional do Rifle (NRA) em um dos Estados onde o lobby pró-armas é mais poderoso.
Uma das editoras do jornal da Marjory Stoneman Douglas, Rebecca Schneid, de 16 anos, disse que a marcha de hoje é o começo de um movimento que pode durar anos. “Não vamos parar. Vamos continuar a marchar e a pressionar os legisladores. Mais importante, vamos usar nosso voto para tirá-los de seus cargos. Vamos votar em pessoas que nos escutem”, afirmou, lembrando que os estudantes viverão mais que os políticos que comandam hoje.
Rebecca estava na aula de jornalismo quando o ataque ocorreu e se escondeu com outros 19 estudantes no local onde são guardados equipamentos fotográficos. “Foram duas horas de puro terror. Realmente achei que ia morrer.” Segundo a estudante, a crescente influência do movimento iniciado em sua escola aumentou sua convicção de que ela e seus colegas conseguirão realizar mudanças.
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As demandas dos adolescentes incluem a proibição de vendas de fuzis semiautomáticos e de cartuchos de munição com mais de dez balas, a elevação para 21 anos da idade mínima para compra de armas, a verificação de antecedentes em todas as transações e o aumento dos recursos destinados ao tratamento de problemas mentais.
Pesquisa NPR/Ipsos, divulgada no início do mês, mostrou que a maioria dos eleitores apoia as propostas. Entre os entrevistados, 70% disseram ser favoráveis ao veto à venda de fuzis semiautomáticos e cartuchos com mais de dez balas.
A checagem de antecedentes de todos os compradores de armas foi defendida por 94% – as transações feitas em feiras de armas não passam por verificação. A proposta do presidente Donald Trump de armar professores foi rejeitada por 59%.
“Nunca me senti insegura na minha escolar até que tudo aconteceu. Mas eu me sentirei insegura se meus professores tiverem armas, se houver mais armas ao meu redor”, observou Zoe.
Também estudante da Marjory Stoneman Douglas, o filho de brasileiros Demitri Hoth, de 18 anos, disse que o movimento continuará em outras marchas e nas redes sociais, um dos principais instrumentos de mobilização dos adolescentes.
Emma González, um das líderes da mobilização, tem 1,24 milhão de seguidores no Twitter. Na opinião de Demitri, será difícil mudar a cultura de armas da sociedade americana, mas será possível estabelecer limites. “Um AR-15 só serve para caçar outro ser humano.”