Cláudia TrevisanCorrespondente / Washington
Se a eleição presidencial dos EUA fosse realizada hoje, Donald Trump teria o menor porcentual dos votos de afro-americanos entre todos os candidatos à Casa Branca desde 1948. O bilionário ficaria abaixo até mesmo de John McCain e Mitt Romney, os republicanos que perderam a disputa para o primeiro presidente americano negro, Barack Obama.
De acordo com a média de pesquisas de opinião recentes, Trump tem no máximo 2% das intenções de voto entre os negros, que representam 12% do eleitorado dos EUA. O resultado coloca o republicano em quarto lugar nesse grupo eleitoral, atrás da democrata Hillary Clinton (que obtém 86%), da candidata do Partido Verde, Jill Stein, (5%) e do libertário Gary Johnson (4%).
Na sexta-feira, Trump iniciou uma ofensiva para tentar conquistar o voto afro-americano com um discurso em Dimondale, cidade do Michigan na qual os brancos representam 93% da população. "O que vocês têm a perder tentando algo novo como Trump?", afirmou diante de uma plateia majoritariamente branca, mas se dirigindo aos negros.
"Vocês vivem na pobreza, suas escolas não são boas, vocês não têm empregos, 58% de seus jovens estão desempregados. O que diabos vocês têm a perder?", insistiu o candidato, apresentando um retrato estereotipado e distorcido da realidade.
O porcentual de afro-americanos na pobreza é maior que o de brancos, mas muitos pertencem à classe média dos EUA. Além disso, há quase oito anos uma família negra ocupa a Casa Branca. O índice de desemprego entre os jovens afro-americanos também é superior à média, mas está em 19% na faixa etária de 16 a 24 anos, um terço do porcentual propagado por Trump.
O candidato desenhou um cenário ainda mais negativo em entrevista concedida no sábado à Fox News. Os negros "não têm seguro saúde, não têm educação, não tem nada", afirmou. "Uma catástrofe total."
Antes relegados ao subterrâneo da política americana, defensores da supremacia branca estão entre os mais estridentes entusiastas da candidatura de Trump, cuja principal base de apoio são homens brancos sem educação superior. O bilionário ataca com frequência o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
Suas dificuldades com o eleitorado negro têm raízes que antecedem a atual disputa presidencial. Em 2011, durante a campanha pela reeleição de Obama, Trump liderou o movimento birther, que colocava em dúvida o local de nascimento e a religião do presidente - insinuando que Obama teria nascido no Quênia e seria muçulmano.
A ofensiva recente não é a primeira em que Trump tenta melhorar sua posição junto ao eleitorado negro. Em evento realizado em junho, ele apontou para uma pessoa na plateia e gritou: "Olhem o meu afro-americano aqui. Olhem para ele". E dirigindo-se à pessoa: "Você não é o maior?"