EUA chegam às eleições de meio de mandato mais divididos do que na era Trump


Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às urnas

Por Renata Tranches
Atualização:

Se a eleição de Donald Trump para a Casa Branca acirrou a diferença ideológica na política dos Estados Unidos, sua saída não melhorou a situação. Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às eleições de meio de mandato, na próxima terça-feira, 8, do que estava na votação de 2016 e nos anos do governo republicano.

Pesquisas e analistas apontam que a polarização partidária tem sido um fator na vida política dos Estados Unidos há algumas décadas, mas nunca republicanos e democratas estiveram tão radicalizados. Militantes dos dois lados passaram a ver os rivais de forma negativa.

Uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em agosto mostrou que a hostilidade partidária entre republicanos e democratas vem crescendo significativamente desde 2016. Filiados em cada legenda descrevem os da outra cada vez mais como pessoas de mente mais fechada, desonestas, imorais e menos inteligentes em comparação a todos os americanos.

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Apoiadores de Trump protestam contra o Departamento de Justiça e o FBI em frente a mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/ EFE - 09/08/2022

Uma das mudanças mais marcantes de 2016 para cá, segundo o Pew Research, é em como os partidários veem o oponente como imorais. Há seis anos, cerca de metade dos republicanos (47%) e pouco mais de um terço dos democratas (35%) disseram que os do outro partido eram muito ou um pouco mais imorais do que outros americanos. Hoje, 72% dos republicanos consideram os democratas mais imorais, e 63% dos democratas dizem o mesmo sobre os republicanos.

O padrão, segundo a pesquisa, é semelhante a outros estereótipos partidários negativos: 72% dos republicanos e 64% dos democratas dizem que as pessoas do partido oposto são mais desonestas do que outros americanos. Menos da metade em cada partido disse isso há seis anos. Em meio a essa constatação, “guerra civil” e “violência política” começaram a ser termos recorrentes no noticiário.

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Retórica incendiária

Mas apesar da retórica incendiária de Donald Trump, sua vitória está mais para uma consequência do que a causa dessas divisões. Em um artigo publicado no ano passado pela revista Foreign Policy com outros dois colegas, o professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Davis James Adams, explica por que o ‘Fla-Flu’ partidário americano começou bem antes de Trump ser eleito. E por que não iria embora com ele.

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Nos anos 90, afirma, os EUA estavam entre as democracias ocidentais menos culturalmente polarizadas. Em 2016, ano em que Trump foi eleito, já tinham se tornado uma das mais polarizadas. “Nenhuma outra democracia ocidental experimentou um aumento tão acentuado nas divergências partidárias sobre questões de identidade nacional neste período de tempo”, escreveu Adams.

Um estudo realizado em 12 países democráticos desenvolvidos e publicado em 2020 pelo National Bureau of Economic Research reforça essa tese. O estudo, que analisou 149 pesquisas políticas conduzidas entre o fim dos anos 70 e 2020, descobriu que a polarização caiu em seis países nesse período e cresceu nos outros seis, com o aumento mais acirrado ocorrendo nos EUA.

Em entrevista ao Estadão, Adams explica que desacordos amargos sobre questões culturais, como o movimento Black Lives Matter, a controvertida Teoria Racial Crítica (relacionada ao marxismo e vista por críticos como ameaça ao modo de vida americano) e pedidos para retirar o financiamento da polícia se tornaram pontos centrais nos debates.

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Hostilidade partidária

Segundo o cientista político, em geral, três temas ajudam a explicar a hostilidade partidária: condições econômicas, leis eleitorais e disputas sobre questões culturais. Ele aborda isso em seu livro American Affective Polarization in Comparative Perspective, que compara a polarização nos EUA e em 19 nações ocidentais. Mas foi especialmente o último tema - questões culturais - que intensificou a polarização nos EUA nos últimos anos.

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Os dois lados se acusam de se comportar de maneira não democrática e isso piorou com a eleição de 2020, vencida por Joe Biden, que prometeu trabalhar para que o país voltasse a se unir. “Enquanto militantes republicanos acreditam que democratas roubaram a eleição presidencial de 2020, a maioria dos democratas acredita que o ex-presidente Trump tentou derrubar ilegalmente a vitória do presidente Biden”, afirma Adams.

Uma outra pesquisa que vem sendo conduzida há seis décadas pelo American National Election Studies (ANES) levanta os dados das opiniões políticas dos americanos, com os pesquisadores fazendo sempre as mesmas perguntas a cada ciclo. A última sondagem, divulgada em meados de setembro, mostra que os pontos de vista ideológicos dos partidários se aprofundaram nos dois partidos, ainda que mais fortemente entre os democratas.

Em 1994, aqueles que se declaravam “moderados” (30,2%) dentro do Partido Democrata superavam em cerca de quatro pontos os que se declaravam “liberais (mais à esquerda, na linguagem do espectro ideológico americano)” (25,7%). Em 2020, último ano analisado pela pesquisa, os “liberais” não só já tinham passado os “moderados” como os superavam em 30 pontos (53,1% a 23,1%).

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Já entre os republicanos, a diferença entre “moderados” e “conservadores” é bem mais discreta, mas porque a parcela dos partidários que se identifica como “conservadores” sempre superou a dos “moderados” em grande diferença: em 1994, a diferença era de 39 pontos (60,5% a 21,5%) e, em 2020, cerca de 53 pontos (69,5% a 15,9%).

A inclinação ideológica radical entre os republicanos fica mais evidente nas atuações legislativas. O deputado Jim Banks, presidente do Comitê de Estudos Republicanos - um grupo de membros conservadores da Câmara - chegou a enviar um memorando, em junho, aos colegas encorajando os legisladores a usarem a guerra cultural para atrair eleitores na campanha deste ano. Os republicanos buscam retomar a maioria do Congresso.

O papel de Trump

Ainda que não seja o responsável, Trump desempenha um papel relevante nesse cenário. Adams explica que, atualmente, muitos partidários republicanos acreditam que a operação do FBI e do Departamento de Justiça para recuperar documentos presidenciais levados por Trump para mansão em Mar-a-Lago é uma investigação não legítima ordenada pela administração Biden. Pela lei americana, os ex-presidentes não podem manter com eles, de forma privada, nenhum registro de sua presidência.

Ao mesmo tempo, os democratas acreditam que republicanos das legislaturas estaduais estão promulgando leis especificamente para privar seus eleitores de votar. “Essas crenças intensificaram a aversão mútua dos dois lados, pois eles temem que seus oponentes estejam minando ativamente a democracia”, afirma o cientista político.

Com uma grande composição de políticos da direita radical, eleitos em sua maioria pela associação ao ‘trumpismo’, os Legislativos de Estados de maioria republicana passaram a priorizar questões associadas aos mais conservadores. Projetos de lei ligados ao direito a portar armas, cerceamento ao voto e restrição e veto ao aborto - assuntos que impulsionam sua base atualmente - foram empurrando o partido ao extremo ideológico.

A tendência não dá sinais de se dissipar. Segundo o cientista político, pesquisas acadêmicas sugerem que muitos partidários polarizados preferem evitar relações sociais com seus adversários políticos. “Essas preferências podem levar mais e mais pessoas a se ‘auto-segregarem’ com seu partido, interagindo principalmente com aqueles que compartilham sua afiliação política”, afirma. “Isso pode ter consequências a longo prazo para nossa economia e para a coesão social da América.”

Se a eleição de Donald Trump para a Casa Branca acirrou a diferença ideológica na política dos Estados Unidos, sua saída não melhorou a situação. Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às eleições de meio de mandato, na próxima terça-feira, 8, do que estava na votação de 2016 e nos anos do governo republicano.

Pesquisas e analistas apontam que a polarização partidária tem sido um fator na vida política dos Estados Unidos há algumas décadas, mas nunca republicanos e democratas estiveram tão radicalizados. Militantes dos dois lados passaram a ver os rivais de forma negativa.

Uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em agosto mostrou que a hostilidade partidária entre republicanos e democratas vem crescendo significativamente desde 2016. Filiados em cada legenda descrevem os da outra cada vez mais como pessoas de mente mais fechada, desonestas, imorais e menos inteligentes em comparação a todos os americanos.

Apoiadores de Trump protestam contra o Departamento de Justiça e o FBI em frente a mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/ EFE - 09/08/2022

Uma das mudanças mais marcantes de 2016 para cá, segundo o Pew Research, é em como os partidários veem o oponente como imorais. Há seis anos, cerca de metade dos republicanos (47%) e pouco mais de um terço dos democratas (35%) disseram que os do outro partido eram muito ou um pouco mais imorais do que outros americanos. Hoje, 72% dos republicanos consideram os democratas mais imorais, e 63% dos democratas dizem o mesmo sobre os republicanos.

O padrão, segundo a pesquisa, é semelhante a outros estereótipos partidários negativos: 72% dos republicanos e 64% dos democratas dizem que as pessoas do partido oposto são mais desonestas do que outros americanos. Menos da metade em cada partido disse isso há seis anos. Em meio a essa constatação, “guerra civil” e “violência política” começaram a ser termos recorrentes no noticiário.

Retórica incendiária

Mas apesar da retórica incendiária de Donald Trump, sua vitória está mais para uma consequência do que a causa dessas divisões. Em um artigo publicado no ano passado pela revista Foreign Policy com outros dois colegas, o professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Davis James Adams, explica por que o ‘Fla-Flu’ partidário americano começou bem antes de Trump ser eleito. E por que não iria embora com ele.

Nos anos 90, afirma, os EUA estavam entre as democracias ocidentais menos culturalmente polarizadas. Em 2016, ano em que Trump foi eleito, já tinham se tornado uma das mais polarizadas. “Nenhuma outra democracia ocidental experimentou um aumento tão acentuado nas divergências partidárias sobre questões de identidade nacional neste período de tempo”, escreveu Adams.

Um estudo realizado em 12 países democráticos desenvolvidos e publicado em 2020 pelo National Bureau of Economic Research reforça essa tese. O estudo, que analisou 149 pesquisas políticas conduzidas entre o fim dos anos 70 e 2020, descobriu que a polarização caiu em seis países nesse período e cresceu nos outros seis, com o aumento mais acirrado ocorrendo nos EUA.

Em entrevista ao Estadão, Adams explica que desacordos amargos sobre questões culturais, como o movimento Black Lives Matter, a controvertida Teoria Racial Crítica (relacionada ao marxismo e vista por críticos como ameaça ao modo de vida americano) e pedidos para retirar o financiamento da polícia se tornaram pontos centrais nos debates.

Hostilidade partidária

Segundo o cientista político, em geral, três temas ajudam a explicar a hostilidade partidária: condições econômicas, leis eleitorais e disputas sobre questões culturais. Ele aborda isso em seu livro American Affective Polarization in Comparative Perspective, que compara a polarização nos EUA e em 19 nações ocidentais. Mas foi especialmente o último tema - questões culturais - que intensificou a polarização nos EUA nos últimos anos.

Os dois lados se acusam de se comportar de maneira não democrática e isso piorou com a eleição de 2020, vencida por Joe Biden, que prometeu trabalhar para que o país voltasse a se unir. “Enquanto militantes republicanos acreditam que democratas roubaram a eleição presidencial de 2020, a maioria dos democratas acredita que o ex-presidente Trump tentou derrubar ilegalmente a vitória do presidente Biden”, afirma Adams.

Uma outra pesquisa que vem sendo conduzida há seis décadas pelo American National Election Studies (ANES) levanta os dados das opiniões políticas dos americanos, com os pesquisadores fazendo sempre as mesmas perguntas a cada ciclo. A última sondagem, divulgada em meados de setembro, mostra que os pontos de vista ideológicos dos partidários se aprofundaram nos dois partidos, ainda que mais fortemente entre os democratas.

Em 1994, aqueles que se declaravam “moderados” (30,2%) dentro do Partido Democrata superavam em cerca de quatro pontos os que se declaravam “liberais (mais à esquerda, na linguagem do espectro ideológico americano)” (25,7%). Em 2020, último ano analisado pela pesquisa, os “liberais” não só já tinham passado os “moderados” como os superavam em 30 pontos (53,1% a 23,1%).

Já entre os republicanos, a diferença entre “moderados” e “conservadores” é bem mais discreta, mas porque a parcela dos partidários que se identifica como “conservadores” sempre superou a dos “moderados” em grande diferença: em 1994, a diferença era de 39 pontos (60,5% a 21,5%) e, em 2020, cerca de 53 pontos (69,5% a 15,9%).

A inclinação ideológica radical entre os republicanos fica mais evidente nas atuações legislativas. O deputado Jim Banks, presidente do Comitê de Estudos Republicanos - um grupo de membros conservadores da Câmara - chegou a enviar um memorando, em junho, aos colegas encorajando os legisladores a usarem a guerra cultural para atrair eleitores na campanha deste ano. Os republicanos buscam retomar a maioria do Congresso.

O papel de Trump

Ainda que não seja o responsável, Trump desempenha um papel relevante nesse cenário. Adams explica que, atualmente, muitos partidários republicanos acreditam que a operação do FBI e do Departamento de Justiça para recuperar documentos presidenciais levados por Trump para mansão em Mar-a-Lago é uma investigação não legítima ordenada pela administração Biden. Pela lei americana, os ex-presidentes não podem manter com eles, de forma privada, nenhum registro de sua presidência.

Ao mesmo tempo, os democratas acreditam que republicanos das legislaturas estaduais estão promulgando leis especificamente para privar seus eleitores de votar. “Essas crenças intensificaram a aversão mútua dos dois lados, pois eles temem que seus oponentes estejam minando ativamente a democracia”, afirma o cientista político.

Com uma grande composição de políticos da direita radical, eleitos em sua maioria pela associação ao ‘trumpismo’, os Legislativos de Estados de maioria republicana passaram a priorizar questões associadas aos mais conservadores. Projetos de lei ligados ao direito a portar armas, cerceamento ao voto e restrição e veto ao aborto - assuntos que impulsionam sua base atualmente - foram empurrando o partido ao extremo ideológico.

A tendência não dá sinais de se dissipar. Segundo o cientista político, pesquisas acadêmicas sugerem que muitos partidários polarizados preferem evitar relações sociais com seus adversários políticos. “Essas preferências podem levar mais e mais pessoas a se ‘auto-segregarem’ com seu partido, interagindo principalmente com aqueles que compartilham sua afiliação política”, afirma. “Isso pode ter consequências a longo prazo para nossa economia e para a coesão social da América.”

Se a eleição de Donald Trump para a Casa Branca acirrou a diferença ideológica na política dos Estados Unidos, sua saída não melhorou a situação. Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às eleições de meio de mandato, na próxima terça-feira, 8, do que estava na votação de 2016 e nos anos do governo republicano.

Pesquisas e analistas apontam que a polarização partidária tem sido um fator na vida política dos Estados Unidos há algumas décadas, mas nunca republicanos e democratas estiveram tão radicalizados. Militantes dos dois lados passaram a ver os rivais de forma negativa.

Uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em agosto mostrou que a hostilidade partidária entre republicanos e democratas vem crescendo significativamente desde 2016. Filiados em cada legenda descrevem os da outra cada vez mais como pessoas de mente mais fechada, desonestas, imorais e menos inteligentes em comparação a todos os americanos.

Apoiadores de Trump protestam contra o Departamento de Justiça e o FBI em frente a mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/ EFE - 09/08/2022

Uma das mudanças mais marcantes de 2016 para cá, segundo o Pew Research, é em como os partidários veem o oponente como imorais. Há seis anos, cerca de metade dos republicanos (47%) e pouco mais de um terço dos democratas (35%) disseram que os do outro partido eram muito ou um pouco mais imorais do que outros americanos. Hoje, 72% dos republicanos consideram os democratas mais imorais, e 63% dos democratas dizem o mesmo sobre os republicanos.

O padrão, segundo a pesquisa, é semelhante a outros estereótipos partidários negativos: 72% dos republicanos e 64% dos democratas dizem que as pessoas do partido oposto são mais desonestas do que outros americanos. Menos da metade em cada partido disse isso há seis anos. Em meio a essa constatação, “guerra civil” e “violência política” começaram a ser termos recorrentes no noticiário.

Retórica incendiária

Mas apesar da retórica incendiária de Donald Trump, sua vitória está mais para uma consequência do que a causa dessas divisões. Em um artigo publicado no ano passado pela revista Foreign Policy com outros dois colegas, o professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Davis James Adams, explica por que o ‘Fla-Flu’ partidário americano começou bem antes de Trump ser eleito. E por que não iria embora com ele.

Nos anos 90, afirma, os EUA estavam entre as democracias ocidentais menos culturalmente polarizadas. Em 2016, ano em que Trump foi eleito, já tinham se tornado uma das mais polarizadas. “Nenhuma outra democracia ocidental experimentou um aumento tão acentuado nas divergências partidárias sobre questões de identidade nacional neste período de tempo”, escreveu Adams.

Um estudo realizado em 12 países democráticos desenvolvidos e publicado em 2020 pelo National Bureau of Economic Research reforça essa tese. O estudo, que analisou 149 pesquisas políticas conduzidas entre o fim dos anos 70 e 2020, descobriu que a polarização caiu em seis países nesse período e cresceu nos outros seis, com o aumento mais acirrado ocorrendo nos EUA.

Em entrevista ao Estadão, Adams explica que desacordos amargos sobre questões culturais, como o movimento Black Lives Matter, a controvertida Teoria Racial Crítica (relacionada ao marxismo e vista por críticos como ameaça ao modo de vida americano) e pedidos para retirar o financiamento da polícia se tornaram pontos centrais nos debates.

Hostilidade partidária

Segundo o cientista político, em geral, três temas ajudam a explicar a hostilidade partidária: condições econômicas, leis eleitorais e disputas sobre questões culturais. Ele aborda isso em seu livro American Affective Polarization in Comparative Perspective, que compara a polarização nos EUA e em 19 nações ocidentais. Mas foi especialmente o último tema - questões culturais - que intensificou a polarização nos EUA nos últimos anos.

Os dois lados se acusam de se comportar de maneira não democrática e isso piorou com a eleição de 2020, vencida por Joe Biden, que prometeu trabalhar para que o país voltasse a se unir. “Enquanto militantes republicanos acreditam que democratas roubaram a eleição presidencial de 2020, a maioria dos democratas acredita que o ex-presidente Trump tentou derrubar ilegalmente a vitória do presidente Biden”, afirma Adams.

Uma outra pesquisa que vem sendo conduzida há seis décadas pelo American National Election Studies (ANES) levanta os dados das opiniões políticas dos americanos, com os pesquisadores fazendo sempre as mesmas perguntas a cada ciclo. A última sondagem, divulgada em meados de setembro, mostra que os pontos de vista ideológicos dos partidários se aprofundaram nos dois partidos, ainda que mais fortemente entre os democratas.

Em 1994, aqueles que se declaravam “moderados” (30,2%) dentro do Partido Democrata superavam em cerca de quatro pontos os que se declaravam “liberais (mais à esquerda, na linguagem do espectro ideológico americano)” (25,7%). Em 2020, último ano analisado pela pesquisa, os “liberais” não só já tinham passado os “moderados” como os superavam em 30 pontos (53,1% a 23,1%).

Já entre os republicanos, a diferença entre “moderados” e “conservadores” é bem mais discreta, mas porque a parcela dos partidários que se identifica como “conservadores” sempre superou a dos “moderados” em grande diferença: em 1994, a diferença era de 39 pontos (60,5% a 21,5%) e, em 2020, cerca de 53 pontos (69,5% a 15,9%).

A inclinação ideológica radical entre os republicanos fica mais evidente nas atuações legislativas. O deputado Jim Banks, presidente do Comitê de Estudos Republicanos - um grupo de membros conservadores da Câmara - chegou a enviar um memorando, em junho, aos colegas encorajando os legisladores a usarem a guerra cultural para atrair eleitores na campanha deste ano. Os republicanos buscam retomar a maioria do Congresso.

O papel de Trump

Ainda que não seja o responsável, Trump desempenha um papel relevante nesse cenário. Adams explica que, atualmente, muitos partidários republicanos acreditam que a operação do FBI e do Departamento de Justiça para recuperar documentos presidenciais levados por Trump para mansão em Mar-a-Lago é uma investigação não legítima ordenada pela administração Biden. Pela lei americana, os ex-presidentes não podem manter com eles, de forma privada, nenhum registro de sua presidência.

Ao mesmo tempo, os democratas acreditam que republicanos das legislaturas estaduais estão promulgando leis especificamente para privar seus eleitores de votar. “Essas crenças intensificaram a aversão mútua dos dois lados, pois eles temem que seus oponentes estejam minando ativamente a democracia”, afirma o cientista político.

Com uma grande composição de políticos da direita radical, eleitos em sua maioria pela associação ao ‘trumpismo’, os Legislativos de Estados de maioria republicana passaram a priorizar questões associadas aos mais conservadores. Projetos de lei ligados ao direito a portar armas, cerceamento ao voto e restrição e veto ao aborto - assuntos que impulsionam sua base atualmente - foram empurrando o partido ao extremo ideológico.

A tendência não dá sinais de se dissipar. Segundo o cientista político, pesquisas acadêmicas sugerem que muitos partidários polarizados preferem evitar relações sociais com seus adversários políticos. “Essas preferências podem levar mais e mais pessoas a se ‘auto-segregarem’ com seu partido, interagindo principalmente com aqueles que compartilham sua afiliação política”, afirma. “Isso pode ter consequências a longo prazo para nossa economia e para a coesão social da América.”

Se a eleição de Donald Trump para a Casa Branca acirrou a diferença ideológica na política dos Estados Unidos, sua saída não melhorou a situação. Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às eleições de meio de mandato, na próxima terça-feira, 8, do que estava na votação de 2016 e nos anos do governo republicano.

Pesquisas e analistas apontam que a polarização partidária tem sido um fator na vida política dos Estados Unidos há algumas décadas, mas nunca republicanos e democratas estiveram tão radicalizados. Militantes dos dois lados passaram a ver os rivais de forma negativa.

Uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em agosto mostrou que a hostilidade partidária entre republicanos e democratas vem crescendo significativamente desde 2016. Filiados em cada legenda descrevem os da outra cada vez mais como pessoas de mente mais fechada, desonestas, imorais e menos inteligentes em comparação a todos os americanos.

Apoiadores de Trump protestam contra o Departamento de Justiça e o FBI em frente a mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/ EFE - 09/08/2022

Uma das mudanças mais marcantes de 2016 para cá, segundo o Pew Research, é em como os partidários veem o oponente como imorais. Há seis anos, cerca de metade dos republicanos (47%) e pouco mais de um terço dos democratas (35%) disseram que os do outro partido eram muito ou um pouco mais imorais do que outros americanos. Hoje, 72% dos republicanos consideram os democratas mais imorais, e 63% dos democratas dizem o mesmo sobre os republicanos.

O padrão, segundo a pesquisa, é semelhante a outros estereótipos partidários negativos: 72% dos republicanos e 64% dos democratas dizem que as pessoas do partido oposto são mais desonestas do que outros americanos. Menos da metade em cada partido disse isso há seis anos. Em meio a essa constatação, “guerra civil” e “violência política” começaram a ser termos recorrentes no noticiário.

Retórica incendiária

Mas apesar da retórica incendiária de Donald Trump, sua vitória está mais para uma consequência do que a causa dessas divisões. Em um artigo publicado no ano passado pela revista Foreign Policy com outros dois colegas, o professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Davis James Adams, explica por que o ‘Fla-Flu’ partidário americano começou bem antes de Trump ser eleito. E por que não iria embora com ele.

Nos anos 90, afirma, os EUA estavam entre as democracias ocidentais menos culturalmente polarizadas. Em 2016, ano em que Trump foi eleito, já tinham se tornado uma das mais polarizadas. “Nenhuma outra democracia ocidental experimentou um aumento tão acentuado nas divergências partidárias sobre questões de identidade nacional neste período de tempo”, escreveu Adams.

Um estudo realizado em 12 países democráticos desenvolvidos e publicado em 2020 pelo National Bureau of Economic Research reforça essa tese. O estudo, que analisou 149 pesquisas políticas conduzidas entre o fim dos anos 70 e 2020, descobriu que a polarização caiu em seis países nesse período e cresceu nos outros seis, com o aumento mais acirrado ocorrendo nos EUA.

Em entrevista ao Estadão, Adams explica que desacordos amargos sobre questões culturais, como o movimento Black Lives Matter, a controvertida Teoria Racial Crítica (relacionada ao marxismo e vista por críticos como ameaça ao modo de vida americano) e pedidos para retirar o financiamento da polícia se tornaram pontos centrais nos debates.

Hostilidade partidária

Segundo o cientista político, em geral, três temas ajudam a explicar a hostilidade partidária: condições econômicas, leis eleitorais e disputas sobre questões culturais. Ele aborda isso em seu livro American Affective Polarization in Comparative Perspective, que compara a polarização nos EUA e em 19 nações ocidentais. Mas foi especialmente o último tema - questões culturais - que intensificou a polarização nos EUA nos últimos anos.

Os dois lados se acusam de se comportar de maneira não democrática e isso piorou com a eleição de 2020, vencida por Joe Biden, que prometeu trabalhar para que o país voltasse a se unir. “Enquanto militantes republicanos acreditam que democratas roubaram a eleição presidencial de 2020, a maioria dos democratas acredita que o ex-presidente Trump tentou derrubar ilegalmente a vitória do presidente Biden”, afirma Adams.

Uma outra pesquisa que vem sendo conduzida há seis décadas pelo American National Election Studies (ANES) levanta os dados das opiniões políticas dos americanos, com os pesquisadores fazendo sempre as mesmas perguntas a cada ciclo. A última sondagem, divulgada em meados de setembro, mostra que os pontos de vista ideológicos dos partidários se aprofundaram nos dois partidos, ainda que mais fortemente entre os democratas.

Em 1994, aqueles que se declaravam “moderados” (30,2%) dentro do Partido Democrata superavam em cerca de quatro pontos os que se declaravam “liberais (mais à esquerda, na linguagem do espectro ideológico americano)” (25,7%). Em 2020, último ano analisado pela pesquisa, os “liberais” não só já tinham passado os “moderados” como os superavam em 30 pontos (53,1% a 23,1%).

Já entre os republicanos, a diferença entre “moderados” e “conservadores” é bem mais discreta, mas porque a parcela dos partidários que se identifica como “conservadores” sempre superou a dos “moderados” em grande diferença: em 1994, a diferença era de 39 pontos (60,5% a 21,5%) e, em 2020, cerca de 53 pontos (69,5% a 15,9%).

A inclinação ideológica radical entre os republicanos fica mais evidente nas atuações legislativas. O deputado Jim Banks, presidente do Comitê de Estudos Republicanos - um grupo de membros conservadores da Câmara - chegou a enviar um memorando, em junho, aos colegas encorajando os legisladores a usarem a guerra cultural para atrair eleitores na campanha deste ano. Os republicanos buscam retomar a maioria do Congresso.

O papel de Trump

Ainda que não seja o responsável, Trump desempenha um papel relevante nesse cenário. Adams explica que, atualmente, muitos partidários republicanos acreditam que a operação do FBI e do Departamento de Justiça para recuperar documentos presidenciais levados por Trump para mansão em Mar-a-Lago é uma investigação não legítima ordenada pela administração Biden. Pela lei americana, os ex-presidentes não podem manter com eles, de forma privada, nenhum registro de sua presidência.

Ao mesmo tempo, os democratas acreditam que republicanos das legislaturas estaduais estão promulgando leis especificamente para privar seus eleitores de votar. “Essas crenças intensificaram a aversão mútua dos dois lados, pois eles temem que seus oponentes estejam minando ativamente a democracia”, afirma o cientista político.

Com uma grande composição de políticos da direita radical, eleitos em sua maioria pela associação ao ‘trumpismo’, os Legislativos de Estados de maioria republicana passaram a priorizar questões associadas aos mais conservadores. Projetos de lei ligados ao direito a portar armas, cerceamento ao voto e restrição e veto ao aborto - assuntos que impulsionam sua base atualmente - foram empurrando o partido ao extremo ideológico.

A tendência não dá sinais de se dissipar. Segundo o cientista político, pesquisas acadêmicas sugerem que muitos partidários polarizados preferem evitar relações sociais com seus adversários políticos. “Essas preferências podem levar mais e mais pessoas a se ‘auto-segregarem’ com seu partido, interagindo principalmente com aqueles que compartilham sua afiliação política”, afirma. “Isso pode ter consequências a longo prazo para nossa economia e para a coesão social da América.”

Se a eleição de Donald Trump para a Casa Branca acirrou a diferença ideológica na política dos Estados Unidos, sua saída não melhorou a situação. Alimentada por uma guerra cultural, a hostilidade partidária entre republicanos e democratas levará um país ainda mais dividido às eleições de meio de mandato, na próxima terça-feira, 8, do que estava na votação de 2016 e nos anos do governo republicano.

Pesquisas e analistas apontam que a polarização partidária tem sido um fator na vida política dos Estados Unidos há algumas décadas, mas nunca republicanos e democratas estiveram tão radicalizados. Militantes dos dois lados passaram a ver os rivais de forma negativa.

Uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em agosto mostrou que a hostilidade partidária entre republicanos e democratas vem crescendo significativamente desde 2016. Filiados em cada legenda descrevem os da outra cada vez mais como pessoas de mente mais fechada, desonestas, imorais e menos inteligentes em comparação a todos os americanos.

Apoiadores de Trump protestam contra o Departamento de Justiça e o FBI em frente a mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/ EFE - 09/08/2022

Uma das mudanças mais marcantes de 2016 para cá, segundo o Pew Research, é em como os partidários veem o oponente como imorais. Há seis anos, cerca de metade dos republicanos (47%) e pouco mais de um terço dos democratas (35%) disseram que os do outro partido eram muito ou um pouco mais imorais do que outros americanos. Hoje, 72% dos republicanos consideram os democratas mais imorais, e 63% dos democratas dizem o mesmo sobre os republicanos.

O padrão, segundo a pesquisa, é semelhante a outros estereótipos partidários negativos: 72% dos republicanos e 64% dos democratas dizem que as pessoas do partido oposto são mais desonestas do que outros americanos. Menos da metade em cada partido disse isso há seis anos. Em meio a essa constatação, “guerra civil” e “violência política” começaram a ser termos recorrentes no noticiário.

Retórica incendiária

Mas apesar da retórica incendiária de Donald Trump, sua vitória está mais para uma consequência do que a causa dessas divisões. Em um artigo publicado no ano passado pela revista Foreign Policy com outros dois colegas, o professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Davis James Adams, explica por que o ‘Fla-Flu’ partidário americano começou bem antes de Trump ser eleito. E por que não iria embora com ele.

Nos anos 90, afirma, os EUA estavam entre as democracias ocidentais menos culturalmente polarizadas. Em 2016, ano em que Trump foi eleito, já tinham se tornado uma das mais polarizadas. “Nenhuma outra democracia ocidental experimentou um aumento tão acentuado nas divergências partidárias sobre questões de identidade nacional neste período de tempo”, escreveu Adams.

Um estudo realizado em 12 países democráticos desenvolvidos e publicado em 2020 pelo National Bureau of Economic Research reforça essa tese. O estudo, que analisou 149 pesquisas políticas conduzidas entre o fim dos anos 70 e 2020, descobriu que a polarização caiu em seis países nesse período e cresceu nos outros seis, com o aumento mais acirrado ocorrendo nos EUA.

Em entrevista ao Estadão, Adams explica que desacordos amargos sobre questões culturais, como o movimento Black Lives Matter, a controvertida Teoria Racial Crítica (relacionada ao marxismo e vista por críticos como ameaça ao modo de vida americano) e pedidos para retirar o financiamento da polícia se tornaram pontos centrais nos debates.

Hostilidade partidária

Segundo o cientista político, em geral, três temas ajudam a explicar a hostilidade partidária: condições econômicas, leis eleitorais e disputas sobre questões culturais. Ele aborda isso em seu livro American Affective Polarization in Comparative Perspective, que compara a polarização nos EUA e em 19 nações ocidentais. Mas foi especialmente o último tema - questões culturais - que intensificou a polarização nos EUA nos últimos anos.

Os dois lados se acusam de se comportar de maneira não democrática e isso piorou com a eleição de 2020, vencida por Joe Biden, que prometeu trabalhar para que o país voltasse a se unir. “Enquanto militantes republicanos acreditam que democratas roubaram a eleição presidencial de 2020, a maioria dos democratas acredita que o ex-presidente Trump tentou derrubar ilegalmente a vitória do presidente Biden”, afirma Adams.

Uma outra pesquisa que vem sendo conduzida há seis décadas pelo American National Election Studies (ANES) levanta os dados das opiniões políticas dos americanos, com os pesquisadores fazendo sempre as mesmas perguntas a cada ciclo. A última sondagem, divulgada em meados de setembro, mostra que os pontos de vista ideológicos dos partidários se aprofundaram nos dois partidos, ainda que mais fortemente entre os democratas.

Em 1994, aqueles que se declaravam “moderados” (30,2%) dentro do Partido Democrata superavam em cerca de quatro pontos os que se declaravam “liberais (mais à esquerda, na linguagem do espectro ideológico americano)” (25,7%). Em 2020, último ano analisado pela pesquisa, os “liberais” não só já tinham passado os “moderados” como os superavam em 30 pontos (53,1% a 23,1%).

Já entre os republicanos, a diferença entre “moderados” e “conservadores” é bem mais discreta, mas porque a parcela dos partidários que se identifica como “conservadores” sempre superou a dos “moderados” em grande diferença: em 1994, a diferença era de 39 pontos (60,5% a 21,5%) e, em 2020, cerca de 53 pontos (69,5% a 15,9%).

A inclinação ideológica radical entre os republicanos fica mais evidente nas atuações legislativas. O deputado Jim Banks, presidente do Comitê de Estudos Republicanos - um grupo de membros conservadores da Câmara - chegou a enviar um memorando, em junho, aos colegas encorajando os legisladores a usarem a guerra cultural para atrair eleitores na campanha deste ano. Os republicanos buscam retomar a maioria do Congresso.

O papel de Trump

Ainda que não seja o responsável, Trump desempenha um papel relevante nesse cenário. Adams explica que, atualmente, muitos partidários republicanos acreditam que a operação do FBI e do Departamento de Justiça para recuperar documentos presidenciais levados por Trump para mansão em Mar-a-Lago é uma investigação não legítima ordenada pela administração Biden. Pela lei americana, os ex-presidentes não podem manter com eles, de forma privada, nenhum registro de sua presidência.

Ao mesmo tempo, os democratas acreditam que republicanos das legislaturas estaduais estão promulgando leis especificamente para privar seus eleitores de votar. “Essas crenças intensificaram a aversão mútua dos dois lados, pois eles temem que seus oponentes estejam minando ativamente a democracia”, afirma o cientista político.

Com uma grande composição de políticos da direita radical, eleitos em sua maioria pela associação ao ‘trumpismo’, os Legislativos de Estados de maioria republicana passaram a priorizar questões associadas aos mais conservadores. Projetos de lei ligados ao direito a portar armas, cerceamento ao voto e restrição e veto ao aborto - assuntos que impulsionam sua base atualmente - foram empurrando o partido ao extremo ideológico.

A tendência não dá sinais de se dissipar. Segundo o cientista político, pesquisas acadêmicas sugerem que muitos partidários polarizados preferem evitar relações sociais com seus adversários políticos. “Essas preferências podem levar mais e mais pessoas a se ‘auto-segregarem’ com seu partido, interagindo principalmente com aqueles que compartilham sua afiliação política”, afirma. “Isso pode ter consequências a longo prazo para nossa economia e para a coesão social da América.”

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