Os Estados Unidos e a Coreia do Sul chegaram em um acordo que deve dar a Seul pela primeira vez um papel central no planejamento estratégico para o uso de armas nucleares em qualquer conflito com a Coreia do Norte, em troca de um acordo de que o país asiático não buscará seu próprio arsenal de armas nucleares, disseram autoridades americanas.
A nova cooperação segue o modelo de como as nações da OTAN planejam um possível conflito nuclear, mas o presidente americano manterá a autoridade exclusiva para decidir sobre a alternativa nuclear. As autoridades disseram que tal decisão quase certamente viria apenas caso a Coreia do Norte ataque a Coreia do Sul com o uso de armas nucleares.
O acordo, que os dois lados estão chamando de Declaração de Washington, é uma peça central da visita de estado desta semana do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, que está nos Estados Unidos para se encontrar com o presidente americano, Joe Biden.
Na manhã de quarta-feira, John F. Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse: “Gostaria de alertar qualquer um para não pensar que houve um novo foco na centralidade das armas nucleares”, apesar do texto da nova declaração. “Temos compromissos de tratado com a Coreia do Sul na península e queremos ter certeza de que temos o maior número de opções”.
Pretensão de Seul de ter armas nucleares
O acordo costurado por Seul e Washington pretende reduzir as intenções da Coreia do Sul de construir uma armas nucleares. De acordo com pesquisas de opinião, o publico sul-coreano estaria inclinado a aceitar esta política, que também já foi sinalizada pelo presidente do país.
A administração de Joe Biden também caminha para reverter o compromisso de reduzir o papel das armas nucleares na estratégia de defesa americana. Há anos, os Estados Unidos vêm aprimorando suas opções de ataque não nuclear, melhorando a precisão e o poder das armas convencionais que podem atingir qualquer alvo no mundo em cerca de uma hora.
Saiba mais sobre as tensões envolvendo Coreia do Sul e Coreia do Norte
Mas Seul buscou uma garantia de Washington de que os Estados Unidos tentarão impedir um ataque nuclear norte-coreano a Coreia do Sul com uma resposta nuclear – mesmo que isso arrisque um ataque norte-coreano a uma cidade americana.
A Coreia do Sul é signatária do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que a proíbe de obter armas nucleares. Portanto, o compromisso de não construir suas próprias armas não é novo. Mas as nações podem se retirar do tratado, simplesmente notificando a ONU. Apenas uma nação o fez: a Coreia do Norte, no início dos anos 1990. Três países não assinaram o tratado e desenvolveram armas nucleares: Israel, Índia e Paquistão.
Escalada nas tensões com a Coreia do Norte
O tratado anunciado por Seul e Washington ocorre em um momento de escalada nas tensões no continente asiático. Em março, a Coreia do Norte disparou quatro mísseis balísticos intercontinentais após a realização de exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos.
Os treinamentos entre os americanos e os sul-coreanos foram os maiores em cinco anos, de acordo com o Exército sul-coreano.
No mês passado, autoridades da Coreia do Sul se reuniram pela primeira vez em 12 anos com líderes do Japão. A reunião foi o passo mais recente de um processo de reaproximação entre Seul e Tóquio, motivado pela agressividade cada vez maior da Coreia do Norte no Pacífico e da ascensão da China na região.
Washington busca aumentar presença na Ásia
Em meio ao pior momento das relações diplomáticas entre Washington e Pequim, os Estados Unidos buscam ampliar a presença e influencia na Ásia. Neste mês as Forças Armadas dos EUA começaram nas FIlipinas as maiores manobras de guerra da história da região do Indo-Pacífico. Em paralelo, os americanos tem ampliado o apoio a Taiwan, que tem apostado em drones militares para resistir ao acosso chinês.
O conflito entre os dois países também foi acentuado pela visita da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, aos Estados Unidos em abril. A política se reuniu com o presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, o republicano Kevin McCarthy no Estado da Califórnia.
Em resposta, Pequim realizou diversos exercícios militares em regiões próximas a Taiwan. A China considera a ilha com governo democrático e autônomo como uma província rebelde que faz parte de seu território, e se diz disposta a recuperá-la, inclusive pela força, se necessário.